Sangue nas Areias do Foguete escrita por Pierre Ro


Capítulo 22
Epílogo


Notas iniciais do capítulo

E então, chegamos a, definitivamente, o último capítulo que vocês verão de "Sangue nas Areias do Foguete".
Nesse epílogo, eu quis cortar o clima tenso e, talvez, macabro, e passar uma mensagem que acho ser importante. E acho que fechou com chave de ouro.

Espero que gostem! Boa leitura! ^^



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Seis meses depois...

            Com passos trêmulos e rápidos, ela caminhou do táxi que a conduziu até o portão de ferro da casa de Vinícius Dantas. Parou em frente e suspirou. Suas mãos suavam. Tudo o que havia planejado para os próximos instantes caiu em esquecimento, devido ao seu nervosismo. Engoliu a seco.

            Vestia uma blusa branca coberta por uma jaqueta verde, calça jeans e tênis branco.

— Vamos lá, Beatriz! – Ela dizia para si mesma. Passou a mão por seus cabelos, agora castanho-claros, para tentar se acalmar.

            Tomou coragem e tocou a campainha.

            Ninguém atendeu.

— Está bem... Vou tentar mais uma vez! – disse, e assim o fez. Quinze segundos se passaram e nada mudou. – Viu, não tem ninguém em casa. Volto depois!

— Já estou indo! – A voz de Vinícius era facilmente reconhecível pela moça, que se sentiu desconfortável em ter que encará-lo novamente. – Quem é?

            Entrou em pânico. Não queria dizer seu nome assim. Sentiu que ele chegara bem perto, do outro lado do portão. Percebeu que ele a avistou pelo olho mágico.

            Abriu a porta indignado.

— Beatriz? – Ele indagou, espantado – O que está fazendo aqui?

— Podemos conversar? – Ela perguntou, demonstrando mansidão. Ficou decepcionada com a reação tão negativa do rapaz, mas não desistiria tão fácil assim.

            Ela o observou. Surpresa com a sutil mudança em sua aparência, apesar de já tê-lo visto nas redes sociais.

— O que tem a dizer? – Ele questionou, com amargura.

— Por favor, Vinícius – ela respirou fundo – Você tem todo o direito de sentir raiva de mim. Mas eu preciso conversar com você.

            Ele cerrou os olhos e a fitou por alguns segundos.

— Está bem. – Bufou, dando de ombros. Em sua mente, perguntava-se se fez a escolha certa em ouvi-la.

— Posso entrar? – Ela pediu. O jovem pensou um pouco e assentiu. Abriu mais a porta e ela logo andou para dentro da casa.

            Vinícius a acompanhou.

            Educadamente, ela entrou na sala de estar. A televisão estava desligada e tudo estava bem arrumado e limpo.

            Ela analisou bem Vinícius que encostou a porta. Não parecia mais o mesmo garoto que conhecera no ano anterior. Ele havia mudado.

            Abandonou o cabelo bagunçado e o deixou bem curto nas laterais, aumentando o comprimento gradativamente em cima. Não possuía pelo algum no rosto. Seu corpo já não era mais tão magro também. Mantinha uma postura mais séria e mais madura. Vestia uma blusa azul listrada e bermuda jeans.

— Você está diferente. – Ela comentou, reparando nele.

            Ele deu uma risada irônica.

— Tive que mudar depois que entrei para o Exército – explicou, sentando-se no sofá e fazendo um gesto para que ela fizesse o mesmo.

— Oh, é mesmo! Você fez dezoito anos esse ano! – Ela assentiu, enquanto se sentava. – É soldado, né?

— Aluno do Núcleo de Preparação de Oficiais da Reserva – ele a corrigiu – Em outras palavras, um curso de formação para oficiais temporários. Eles dão essa oportunidade para quem cursa a faculdade em período noturno. Não é todo mundo que se forma e vira militar da ativa, mas acredito que poderá ser o meu caso. – Ele contou, enquanto Beatriz ouvia atentamente, admirada com o novo emprego do ex-colega de classe.

— Fico feliz por você! – Comentou – Espero que esteja contente também!

            Vinícius ficou desconsertado. Lembrou-se do que acontecera há seis meses. Não conseguia deixar de esquecer os erros que Beatriz havia cometido. Que poderia ter evitado o fim trágico de Alice.

— O que te traz aqui, Bia? – Ele falou, friamente.                                                

— Bem... – Ela pensou bastante, antes de falar. Respirou fundo e encarou o rapaz nos olhos – Quero te pedir perdão.

            Aquelas palavras chocaram o coração de Víni. Não esperava isso vindo logo de Beatriz. Não sabia o que dizer.

— Perdão? Confesso que estou surpreso em ouvir isso de você – admitiu. Porém, logo veio a sua mente os seus pensamentos que tinha sobre ela, e resolveu dizer. Virou-se para Bia, com os cotovelos apoiados nos joelhos, e as mãos juntas – Você não já pagou a sua pena? Quatro meses de detenção, multa e serviço comunitário obrigatório. Isso por alterar a cena do crime e se omitir ao saber que tinha um pai corrupto e estuprador. Parece que mesmo Louise tentando, há um sistema muito mais poderoso intercedendo para pessoas ricas como você. Coisa que uma mulher apenas não é capaz de quebrar para fazer justiça.

            Beatriz ouvia tudo aquilo mantendo o controle das lágrimas que queriam sair. Aquilo a magoava demais. Apertou os lábios, tentando contrair o seu desejo de chorar. Mas não conseguiu e logo seus olhos lacrimejaram. Sentia um vazio dentro de si.

— Por favor, não me culpe por ter saído da prisão. A pena foi paga. – Ela respondeu, de cabeça baixa. – Seja ela justa ou não.

— É claro que você não admitiria que é injusto – o rapaz apontou para ela – Seu irmão invadiu uma casa, participou dos estupros da Alice, escondeu muita coisa e ficou com sete meses de prisão e serviço comunitário! Seu pai tentou me matar e matou outra pessoa. Levou vinte anos de prisão. Provavelmente sairá antes por “bom comportamento”. Miguel e Camila, no entanto, receberam dezoito anos. Por que será?

            Beatriz prestava atenção em cada palavra. Dessa vez, encarava Vinícius de cabeça erguida. Era a sua vez de falar. Cruzou as pernas. Deixou mais uma lágrima cair.

— Reconheço que não foi justo. E eu sinto muito. De verdade. – Ela entrelaçou os dedos e olhou fixamente para o rapaz – Lamento tudo o que passou. Meu pai merece, sim, ser punido de forma mais severa!

— Claro que merece! – Ele concordou.

— Mas tenho que dizer que a coisa que mais me arrependo nesse mundo foi ser tão omissa. Saber das crueldades que ele fazia e não dizer nada. Pelo contrário! Tanta coisa seria diferente se eu... – Não conseguiu deixar escapar mais lágrimas. Perdeu o controle sobre o choro. – Como eu era tola! Preocupava-me com coisas tão banais... Eu praticamente me idolatrava! Desprezava algumas pessoas que, nossa! Enquanto eu estava morta por dentro! Sinto-me tão mal em lembrar...

— Olha – ele começou, notando a sinceridade nas palavras dela. Sentiu-se mal pelo julgamento que fazia sobre ela. – Eu também cometi erros. A “Alice” cometeu erros.

— Não julgo mais os erros dos outros. Tenho erros demais para consertar. – Ela respondeu, prontamente. Fez uma pausa, e continuou – Nas minhas primeiras semanas de prisão, eu mal dormia. Ficava me martirizando. Culpando-me sempre por todos os meus pecados. Cheguei a querer me ferir. Sabia que tinha uma parcela de culpa em todas as mortes! Todavia, conheci uma pessoa que me fez ver a verdade.

— Que verdade?

— A verdade é que eu já fui perdoada! Eu não preciso me culpar mais! Tudo isso, agora, não passa de lembranças tristes, de atitudes que ficaram para trás. Eu consegui perdoar a mim mesma. Tirei um peso enorme das minhas costas! Sinto-me incrivelmente melhor! Mais feliz! – Vinícius quase não piscava. Sabia que ela estava falando com sinceridade. Ela dizia tudo emocionada – Talvez a sua completa felicidade não chegou porque você ainda guarda rancor meu e de tantas outras pessoas.

— Olha, Bia... – Ele refletia, mexido com tal declaração, mas ainda magoado com tudo o que foi feito pela família dela. – Eu sinto muito, mas...

— É difícil, eu sei! Pode ser um absurdo para você fazer isso, mas eu te garanto que se você abrir seu coração, irá ter paz. Vai se privar disso? Quero que sinta o mesmo que eu sinto! Quero que enterre todas essas angústias como eu também fiz! E não, simplesmente, fingir que esqueceu. – Ela perguntou, e Vinícius ficou pensativo – Não precisa fazer isso sozinho também.

— Você se dispõe a me ajudar? – Ele perguntou, e uma lágrima caiu sobre seu rosto.

— Claro! Com certeza. – Ela fez que sim com a cabeça também.

— Você tem razão. – Admitiu, e continuou pensando consigo mesmo – Nunca fui religioso, sabe. Mas acredito que existe um Deus que pode me ajudar a segurar esse fardo.

— Claro! Eu também creio. E confio que Ele pode curar essas feridas.

            Ela arregalou os olhos. Surpresa com a fala dele. Sentiu-se feliz, finalmente.

— Exatamente! – Ela disse, tentando conter a emoção. Ficou de pé, e ele imediatamente fez o mesmo – Vinícius, por favor, perdoe-me por todo o mal que eu fiz você e a sua falecida irmã passar, mesmo que indiretamente.

            Vinícius engoliu sua saliva. Respirou fundo e reconheceu o que devia fazer.

— Sim, eu te perdoo. – Confessou, mas sentiu que, em seu coração, faltava-lhe ainda mais uma coisa – Perdoo seu pai, madrasta e seu irmão também.

            Ambos sorriram.

— Muito obrigada! – Ela agradeceu, mas queria demonstrar o afeto que começou a nutrir pelo rapaz. Meio envergonhada, estendeu as mãos e gaguejou – P-posso te... É...

            Ele percebeu e a puxou para um abraço. Bem apertado. Como Beatriz era mais baixa que ele, enquanto o abraçava, pode sentir o coração do rapaz batendo mais rápido do que o normal, assim como o dela também fazia.

— Eu que agradeço! – Ele disse, desfazendo o gesto fraternal.

            Com as mãos, ela secou seu rosto.

— Qualquer coisa, pode contar comigo! – Anunciou.

— E eu digo o mesmo!

            Ela caminhou de volta para o portão. Já estava pronta para ir embora.

— Até qualquer dia, Víni! – Disse, quando ele abriu a passagem. Vinícius sorriu. – Fica com Deus!

— Até, Bia! – Ele completou, indo fechar a porta, mas ela se lembrou de uma coisa.

— Ah, queria te dizer outra coisa! – Ela falou, e ele voltou-se novamente para a nova amiga, curioso – Você é muito bom com esse negócio de desvendar crimes. Mas deve ser algo que não queira mais ver por bastante tempo!

— Quem me dera! Resolver crimes é algo cotidiano para alguém do 10º Batalhão de Polícia do Exército.


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Notas finais do capítulo

E então? O que acharam?

Para quem achou que teve uma pegada mais religiosa, bem... Estou pensando em falar um pouco mais sobre religiosidade, fé e cristianismo e outros assuntos. Mostrando um ponto de vista que eu vejo muito pouco por aí. E é algo que acho importante e gosto muito de falar.

Nesse epílogo, eu queria muito falar sobre o perdão. Depois do que houve, esses personagens deviam ter sido bastante machucados. E uma coisa que eu acredito é que nada adianta ficarmos remoendo as mágoas. Sim. Perdoar é a melhor solução para esse tipo de situação e não há motivos para não o fazer.

Enfim, para finalizar, eu gostaria de agradecer, novamente, por TODO O APOIO que tive durante toda essa fic. E como já viram nesse epílogo, a jornada de Vinícius não parou! E o que acharam desse plano de fundo que teremos? Hahaha De qualquer forma, vai ser ótimo rever todos novamente lá ^^

Até mais! o/

Obs: Em breve, estarei migrando essa fic para o Wattpad.



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