Sangue nas Areias do Foguete escrita por Pierre Ro


Capítulo 20
"O caso está encerrado"


Notas iniciais do capítulo

Olá!! Então, finalmente chegamos ao nosso último capítulo!
Sim! O mais esperado de todos! Onde todas as suas dúvidas serão esclarecidas e o mistério decifrado...
... Ou não! Hahaha
Enfim, não vou enrolar vocês. Boa leitura! o/



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            A tensão preenchia todo o espaço interno da casa de praia do governador. Rodrigo Drummond recebeu os detetives, antipático como sempre. Além de sua família, todos os alunos da escola, Miguel, Susana, Jorge e Marlon Fletwood, estavam na sala, esperando ansiosos pela chegada da polícia para que o caso fosse esclarecido.

— Víni! – Micaela exclamou, ao ver sua paixão platônica se aproximar. Correu até ele e o abraçou – Como você está? Fiquei sabendo do acidente de ontem.

— Não foi acidente – ele disse, sem muita emoção – Mas estou bem. Graças a Deus. Obrigado!

            Louise respirava fundo na frente de toda aquela gente. Deu trabalho, mas felizmente conseguiu reunir todos os suspeitos de terem cometido o crime na sala de estar da casa de praia de Rodrigo.

            Ao seu lado, ela olhava para Vinícius, que já conectava o computador na imensa tela de TV, abrindo uma apresentação de slides que fizeram especialmente para aquela ocasião. Contava em seu relógio a hora em que o resto da sua equipe de policiais iriam chegar.

            Deu oito horas e trinta. Paula, Edson, Ulisses e Louise conversaram e acharam melhor começar logo.

— Enfim, vocês sabem o porquê de estarmos aqui. Para discutirmos sobre o assassinato de Alice Ferreira. Morta há dois dias. Aqui em Cabo Frio. – Ela fez uma pausa, fitando cada um. A atenção em suas palavras era unânime entre todos que estavam ali. – Crime este que circunstanciou em mais outras duas mortes, de Hugo Torres e Daniel Costa. Crimes tão diferentes, mas de certa forma, totalmente conectados. Para chegar na conclusão de todos eles, vou começar pela morte de Hugo.

            O silêncio era absoluto. Rodrigo Drummond engoliu a seco. Sua pele suava de preocupação.

— Após Alice ter sido morta, começaram as investigações sobre o mistério de seu assassino. O assunto era polêmico. Afinal, ela era uma pessoa muito querida pela maioria. Quando foi morta de forma tão brutal, muita gente ficou curiosa e resolveu dar seu palpite sobre quem foi o assassino. Uma dessas pessoas foi Hugo. Um rapaz calmo e inteligentíssimo. Seu amigo teve a suposta irmã morta e então, ele resolveu ajudar nas investigações. Porém... – Passou o próximo slide, que continha a imagem de ele morto, conforme foi encontrado, na praia – Acabou pagando um preço alto por isso.

— Então foi uma queima de arquivos? – Interviu Beatriz.

— Exatamente! Esse motivo bate corretamente com todos os acontecimentos. Pelo menos, uma tentativa de queima de arquivos.

— Se o Hugo descobriu quem matou Alice, então, achando o seu assassino, pegamos o da Alice também. Correto? – Emily perguntou.

— Não necessariamente – Foi Camila que disse, dessa vez – Mas realmente é muito provável.

— Bem, não sabemos se o Hugo realmente chegou a conclusão de quem matou Alice. Mas ele descobriu uma prova muito valiosa para a investigação.

— Mas como vocês sabem disso? – Fernando Minene, que até então ficava em silêncio, indagou.

— Vimos as provas que, antes de morrer, ele tinha recolhido e nenhuma delas podia incriminar efetivamente alguém. Porém, podia explicar alguns acontecimentos do crime. Acredito que seja alguma mídia. Mas não sou capaz de afirmar, ainda... De qualquer forma, alguém o surpreendeu no meio dessa descoberta.

— Como assim? – A professora de literatura perguntou.

— Alguém o pegou nessa descoberta e precisou utilizar uma forma rápida de fazê-lo ficar de boca fechada. Ou seja, estrangulando-o e o jogando no mar. – Ela focou a imagem de Hugo no seu pescoço, mostrando as provas do crime.

— Que horror! – Taís tapou o rosto com as mãos.

— Realmente – Louise concordou – Essa foi a primeira parte deste crime. A outra foi quando o assassino o escondeu, levou-o ao monte, ao Leste, e o jogou no mar. Tudo isso mostra que Hugo realmente tinha informações muito perigosas para alguém, que com medo de que descubram, o matou.

— Mas quem fez isso? – Camila questionou, curiosa.

— Primeiramente, pensei no lugar e horário em que Hugo foi realmente morto. Pelos especialistas, foi anteontem, entre três e cinco da noite. E levado para a água de madrugada. Nessa hora, ele ainda investigava o caso de Alice. Mas não dava bobeira. Ia de quarto em quarto procurar por pistas. Porém, fazia isto trancado. Não chegou a sair de casa vivo depois disso. Certamente o assassino o matou enquanto ele vasculhava algo. E se levar em conta todas as pistas que ele coletou, entre elas, coletas de cabelo, roupas e mensagens do celular, ele revistou três dos quatro quartos do segundo andar.

— Então foi um deles? – Indagava-se Beatriz.

            Então, Louise se lembrou de uma conversa no passado.

****

— Onde foi Rodrigo? – Perguntou a detetive.

— Saiu faz tempo. Disse que vai dormir fora de novo. Já que não pode nos expulsar – Vinícius respondeu.

— Realmente, não pode. Só espero que não façam uma festa de novo... – ela comentou – Aliás, sabem onde está Hugo?

— Não. Eu mando mensagem, mas ele não atende. Ele queria ajudar na investigação também. Junto comigo. Da última vez que o vi, estava trancado no quarto das meninas. Mas não acho que fazia obscenidades, e sim procurava por pistas. Inclusive, tem umas coisas preciso falar contigo, Lou.

****

— Não quis dizer isso. De qualquer forma, ele trancava a porta por dentro. Nem mesmo eles poderiam abrir a porta do quarto. Exceto quem tinha a chave.            Que eram Miguel Cordeiro, Alice Ferreira, Susana Moura, Emily e Rodrigo Drummond. Descartei a possibilidade de os dois últimos terem feito isso, pois se parar para pensar, não havia sentido eles matarem e não excluírem imediatamente a tal prova, partindo do princípio que há alguém escondendo as evidências! Susana não teria a força suficiente para estrangular Hugo. A chave de Alice foi recolhida pela minha equipe. Sendo assim...

            Todos viraram seus rostos para Miguel. Espantados com tal revelação. Ele, por sua vez, suava frio. Querendo apenas um lugar para se esconder.

— Quem queria, a qualquer custo, esconder suas relações com Alice? Quem é hábil e forte o suficiente para pensar rápido e matar Hugo? Quem possui tanto interesse que o plano de vingança da namorada dê certo? Juntem essas perguntas e teremos a resposta!

— É mentira! Não fiz isso! – Ele se levantou, com os olhos já lacrimejando, apontando para a detetive.

— Ah, não? Então deixa-me ver... Você e Alice eram amantes, cúmplices do mesmo plano para se vingar de Rodrigo. Possuía uma prova valiosa que eu suspeito o que seja: a câmera de Alice. Que ainda não foi achada, mas será, em breve.

            Contarei, então, toda a história: Alice e Miguel vieram para cá com um único objetivo: encontrar provas suficientes para colocar Rodrigo Drummond na cadeia. Tentaram entrar em contato com alguém próximo a ele. Conseguiram. Tentaram arrumar um emprego perto. Conseguiram. Tentaram, então, um motivo para chegarem bem perto de seu alvo. E conseguiram vir nesta viagem. Pisando em ovos, foram avançando cada vez mais em seu plano de vingança. Como uma fera felina que, sorrateiramente, vai se aproximando da sua presa até encontrar o momento certo para atacar. Viram a oportunidade perfeita para encontrar provas convincentes dos crimes de Rodrigo quando este estava fora por uma noite. Miguel é biólogo. Conhecia substâncias eficazes para deixar todos atordoados. Foi o que fizeram nas bebidas. Alice, ainda, possuía o contato de Marlon Fletwood, que nutria um profundo sentimento por ela. Apoiada nesse fato, pediu para que ele organizasse outra festa em outro lugar próximo e os chame mais tarde. Assim aconteceu. Quando encontrou o momento certo, foi ao quarto de Rodrigo Drummond procurar por mais provas, mas lá também apareceram Christian e Isabela. Então, ela saiu de lá e foi para o quarto ao lado. O de Beatriz. Lá, ela procurou por coisas que incriminassem Rodrigo, e achou um netbook do governador. Então, utilizando os conhecimentos adquiridos no passado, conseguiu entrar no sistema e achar provas convincentes. Mas só isso não bastava para ela. Pegou sua câmera e a escondeu no quarto, gravando o que sabia que aconteceria mais tarde. Pois queria mais ainda!

— Meu Deus! – Isabela exclamou.

— E você, Miguel, sabia de tudo. No fim, ela morreu, mas cenas foram gravadas. Porém, não era interessante para você que ficássemos sabendo de tudo no momento. Certo?

            Os olhos do rapaz ficavam arregalados o tempo todo. Sabia que ia para a cadeia. Afinal, Louise estava certa.

— Sim – abaixou a cabeça por um tempo, mas em seguida levantou – Porém, fiz isso em um ato de desespero. Naquela noite, fiquei responsável em deixar vocês distraídos. Quando voltamos para casa, notei que Alice não estava, mas não pensei que tinha morrido. Voltei a dormir. Quando acordei, logo subi no terceiro andar para procurar pela câmera. Encontrei e a guardei comigo. Ainda estava disposto a continuar o plano de vingança. Porém, sabia que apenas aquele vídeo, além de ser insuficiente, poderia ser ruim para mim. Eu era o suspeito número um de vocês!

            Quando vi Hugo fuçando minhas coisas, enlouqueci-me. Além de ele revelar que eu e ela éramos cúmplices, provavelmente a culpa pela morte dela cairia em mim. Fora que também suspeitava que poderia ter sido ele o criminoso! Enfurecido, abri a porta com a chave que tinha e rapidamente dei um golpe fatal. Minutos depois, arrependi-me. Havia matado uma pessoa! Rapidamente, escondi-lhe embaixo da cama. Isso era umas quatro e quarenta da tarde. Quando ninguém via, tratei de escondê-lo em uma moita perto da casa. E depois, quando Rodrigo chegou, por volta das oito horas da noite, coloquei o cadáver no carro dele.

            Todos se espantaram com a última parte.

— Esses argumentos são inconsistentes! Como assim você não sabia quem era o assassino se estava com a câmera que gravou tudo? – Emily esbravejou.

— Calma, Emily! – Beatriz implorava – Deixa ela terminar!

— Mas é claro! Porque foi ele quem matou! – Rodrigo afirmou.

— Também não vejo lógica nisso, Miguel! – Taís Pontes, com raiva, gritou – Como pode?

— Continuando... – Louise interrompeu – Os únicos que saíram de carro pela noite foi a família Drummond. Miguel tentou criar um álibi para ele, por ter ficado em casa, e colocar a culpa em outro. E nosso “querido” governador – fez sinal de aspas na última parte, ironicamente – não se pronunciou e preferiu jogar o corpo do rapaz no mar. Sem chance alguma de um enterro digno. Tirou-lhe a roupa e colocou uma sunga. Tentou fazer como se parecesse um acidente em que ele tenha se afogado no mar. Porém, fracassou na escolha do lugar para jogá-lo, que não fazia sentido. É ou não é verdade?

— Como? – Rodrigo gaguejava – O assassino aqui é ele! Estão me culpando? – Ele apontava para Miguel.

— Assassino de duas pessoas ainda! – Christian acusava o estagiário.

— Por que não confessa logo que também matou Alice? – Camila questionou, julgando-o – Pois já sei o que aconteceu. Quando todos estavam distraídos, você subiu o terceiro andar e encontrou Alice na sua glória. Exigiu, então, que ela fizesse relações contigo. Porém, ela não queria mais, pois na verdade, só tinha te chamado para ajudá-la no plano. Quando conseguiu, te jogou fora, e você como é mau perdedor, não aceitou. Apelou para a força. E depois, matou-a e lhe jogou pela janela! É, ou não é verdade isso?

— Não! Não é verdade! – Ele implorava. – Eu jamais seria capaz de fazer algo assim! Conheci Alice no Ensino Médio, nós dois nos amávamos! Demais! Ela sempre quis se vingar de todo o mal que Rodrigo a fez! Tanto que, quando ele virou prefeito da cidade, trocou de nome para, um dia, voltar e realizar seu desejo! Eu a ajudei e apoiei em tudo! Inclusive em um dia, na choppada da universidade de Christian... Nós o filmamos invadindo uma casa de velhinhos, que na verdade, eram os avós de Vinícius! Tudo para colocar os culpados atrás das grades! A gente planejou sumir daqui assim que conseguíssemos as provas. Porém, infelizmente, aconteceu esse assassinato!

— Bem, isso é algo interessante, que iremos verificar, com certeza. Ele não sairá impune! – Louise continuava – Mas sei que ele não matou Alice.

            Todos se espantaram com tal afirmação.

— Sei disso porque, depois de Alice ter achado as provas, mais alguém entrou na sala. E não foi ele.

— Foi Beatriz Drummond! – Miguel afirmou, e imediatamente todos voltaram seus olhares para a loira, que já lacrimejava em seu canto. – Agora que estão me julgando, eu caguei para vocês! Falo mesmo!

— Exatamente! – Vinícius se pronunciou – Após ter conseguido os arquivos, Alice armou sua câmera e chamou, pelo celular, Beatriz lá. Afinal, queria ainda mais provas. As duas eram amigas íntimas pelo aplicativo “KnowNow” – Passou um slide com as imagens das conversas entre elas – Só para deixar claro, “Allieda” é Alice e “Bijuu4” é a Bia.

            Após um ou dois minutos, os prints deixaram inúmeros comentários sobre a moça.

— Sua vadia! – Rodrigo xingou, puxando a menina pelos cabelos, enquanto ela implorava para parar – Você ficava de conversinha com ela? Ficava de sacanagem com ela? Não criei você para ser assim!

— Pai, está machucando! – Ela chorava de dor. Ficou de joelhos, enquanto Rodrigo berrava em seu ouvido. Todos viam aquilo aflitos.

— É para machucar mesmo! Isso é vagabundagem! É coisa de piranha sapatona! Devia receber uma surra!

— Assim como fazia com as meninas que estuprava em cativeiro? – Gritou, sem pudor algum.

            Ele arregalou os olhos e arqueou as sobrancelhas. Seus batimentos cardíacos aceleraram. Tomou-se pela raiva. Espalmou a mão e esbofeteou a filha no rosto. Fazendo-a cair no chão.

            Ele arfava forte. Observava as pessoas ao seu redor. Pela primeira vez em anos, não sabia o que fazer ou dizer. Engoliu a seco.

            Beatriz levantou a cabeça e, com as mãos, tirou os fios loiros sobre a face. Fitando o pai em seguida.

— Você é louca, Bia! Dizer algo assim? – Christian exclamava alto, mas ela não tirava os olhos da cara de Rodrigo.

— Sabem o que é isso? – Ela falava, levantando-se devagar, e estendendo seu dedo indicador para o pai – Desespero... Medo... Ódio... De mim. Sua própria filha. Aquela que sempre foi sua última prioridade. Para quê, né? Preocupar-se com a filha? Você tem esquemas de corrupção que irão te encher de mais dinheiro ainda. Isso é muito mais importante. Eu era apenas uma figurante em sua campanha eleitoral. Aquela que seria o exemplo de mulher direita. A mulher que não tem opinião própria, nem mesmo respeito. Foi isso que você me ensinou! Você contribui para esse mundo ser esse lixo que é. Eu fui apenas mais uma das vidas que você destruiu. E quanto as outras?

— Só pode ter enlouquecido! Fala isso porque sabe que matou Alice e quer, agora, colocar a culpa em mim! Não consigo suportar tanta ingratidão! Você não é mais filha!

            Ela jogou sua cabeça para trás, e relaxou seu corpo. E a sala toda foi preenchida por sua gargalhada.

— Agora quer se fazer de santo? Pois para mim já basta! Cansei de tanta falsidade! – Ela já estava em pé, falando furiosamente para o pai o que realmente sentia. – Vou contar a verdade...

— Beatriz! – Sabrina Findlay exclamou, angustiada com a cena que via.

— Não dá mais, Sabrina! Não dá! Realmente, eu caí na armadilha da Alice. Ela me chamou no celular e eu, bêbada, fui. Chegando lá, ela me pediu desculpas, e não me lembro como, começou a falar sobre as coisas que conversávamos. Uma dessas coisas era o que eu dizia sobre você. Eu afirmei tudo. Falei que você era um psicopata, corrupto e preconceituoso. Ela me fez falar até do cativeiro que você fazia para crianças. Porém, depois, a ficha caiu e voltei a sentir raiva do que ela fez. Brigamos. Peguei a cadeira que estava perto e arremessei contra a cabeça dela. E então, me vi com uma mulher inconsciente perto de mim. Realmente achei que estava morta. Fiquei desesperada. Fui chamar Sabrina e Calista para me ajudar com esse problema.

— Não! – Calista contestou.

— Está tudo gravado no vídeo, garota! – Miguel disse.

— Chamei as duas para lá. Foi quando colocamos a cadeira no lugar e, juntas, colocamos o corpo na cama. Estancamos o sangue e também limpamos qualquer impressão digital que podíamos ter deixado. Sabrina, a mais sóbria da gente, viu que ela ainda estava viva. Pensamos que, com sorte, ela acordaria sem se lembrar do que havia acontecido. Descemos de volta para a festa. E foi isso!

— Isso explica, também, os papéis sujos de sangue e esmalte rosa. Foi devido a adulteração da cena! – Ulisses acrescentou.

— Sobre a questão do acesso aos cômodos. Alice tinha as chaves. Ela mesma abriu a porta do quarto da Beatriz, e a deixou aberta para a jovem entrar. Esta, por sua vez, não se preocupou em trancar, o que tornou possível a entrada de outra pessoa posteriormente. – Informou a detetive Paula.

— Mas não pode ser verdade! – Rodrigo argumentou – Você matou uma mulher e não quer dizer! Foi isso!

— Não. Não foi. É a mais pura verdade! – Calista afirmou.

— Não pode ter sido isso! – Camila protestou – E o sêmen encontrado? O que poderia ter acontecido?

— Calma – Louise pediu – Ela diz a verdade. Miguel, você ainda está com a gravação? – Ele assentiu. – Pois então, assistiremos ela toda.

            Sem demora, ele pegou a câmera e trouxe para Vinícius. Em poucos minutos e conteúdo foi revelado na tela.

            Após Alice colocar o objeto na parede, bem escondido, a câmera mostrou a discussão entre as duas da forma que Bia descreveu, às meia noite e vinte. E então, o golpe com a cadeira seguido de toda a alteração da cena, às meia noite e cinquenta.

            Todavia, após as meninas saírem do quarto. A câmera também captou o momento em que Alice acordou. Às duas e dez da manhã. Ela se levantou e a primeira coisa que viu foi o netbook que continha todas as provas contra Rodrigo. Respirou aliviada quando viu que tudo estava intacto. Logo depois, viu a câmera e, cheia de empolgação, foi pegá-la para examinar o conteúdo. Quando enfim, desligou-a. A porta permaneceu fechada o tempo todo, porém, não estava trancada.

— Então ela morreu após duas da manhã! – Susana refletiu.

— Sendo assim – Vinícius argumentou – Bia, Calista ou Sabrina a mataria só uma hora depois de terem adulterado a cena do crime? Todos sabem que, às duas e dez, elas já estavam na outra festa, criando seu álibi, que dessa vez, era verdadeiro.

 – Isso só retoma a culpa para Miguel Cordeiro! – Camila exclamou, determinada – Após tudo, ele voltou lá e a forçou ter relações. Depois, matou-a e jogou pela janela. Arrastando-a até a moita depois.

— Isso está errado! – Miguel protestou.

— Realmente, ele seria a pessoa mais certa para ter relações com ela – Louise afirmou – Mas não foi o que aconteceu.

— Primeiramente, por tudo o que sabemos de Alice, ela não é o tipo de mulher que enganaria a pessoa a esse ponto. – Vinícius a defendeu – E mesmo se fosse, não seria boba para revelar suas verdadeiras intenções antes mesmo de se vingar de Rodrigo. Seria burrice! E mesmo se ela quisesse transar com ele, jamais fariam no quarto de Beatriz. Como vimos no vídeo, após conferir todo seu material, estava empolgada, queria sair de lá logo para finalmente entregar as provas para a polícia e se vingar.

— Pensamos muito sobre isso – informou a detetive – Até achar, na bolsa de Hugo, a solução para esse problema. – Ela passou o próximo slide, onde tinha a imagem de uma sunga branca. E ao lado, estava a imagem amplificada, mostrando marcas de sangue.– Essa cueca foi encontrada em um dos pertences dos rapazes.

            Todos ficaram se olhando. Curiosos.

            De repente, uma cena do passado veio à mente de Micaela.

****

— Vem, Tomas! Só falta você! – Gritou Caio Bastos.

            O rapaz negro corou de vergonha. Seria extremamente constrangedor para ele. Com a cabeça, fez que não. E manteve uma postura séria. No entanto, nem Caio nem os outros respeitaram tal decisão.

— Ah, Tomas! Você vem sim! – Exclamou Alice que, com a ajuda de Calista e Renan, também puxaram Tomas pelo braço e o levaram para o centro da sala.

            Tomas não quis fazer força. Não havia bebido nada além de um copo de refrigerante. Não queria aquilo.

— Eu não quero ficar aqui! – Logo após pronunciar tais palavras, Caio puxou sua bermuda jeans para baixo, deixando aparecer sua cueca amarela.

            Tomas não soube o que falar nem fazer após tanta vergonha. Enquanto todo mundo ria, ele levantou novamente sua roupa íntima.

****

— Espera aí... – Micaela observou bem, e virou a cabeça – Na noite do crime, quando Caio arreou as calças do Tomas, a cueca dele pareceu amarela, porém, também lembro que a luz, naquele momento, estava amarela! A luz causou essa impressão. Essa cueca quem usou foi o Tomas! Ele encheu a cara de vodca depois que saiu daqui e não o vimos depois. Foi ele!

            E então, todos os olhares se voltaram para Tomas.

— Não! Não é possível que estejam desconfiando de mim, é? – Ele perguntou, confuso – Por que eu ia querer matar Alice?

— Porque estava furioso por ter sido ela uma das pessoas que te puxaram para a pista de dança. Esmurrou o Caio por causa disso. Podia muito bem ter feito coisa pior com Alice. Afinal, estava bêbado – Micaela argumentou, furiosa.

— Não! Pelo amor de Deus! Eu não fiz isso!

— Então nega que tenha feito relações com Alice? – Vinícius perguntou e ele gelou.

— Sim!

— Você não é muito bom em mentir, Tomas – Vinícius falou – A cueca está com o seu nome. E bom, é muito fácil para a gente provar que o sangue realmente é da Alice.

            Ele suava frio, olhando para todos os lados, em uma busca falha de encontrar uma saída para sua situação delicada.

— Eu juro para vocês que não a matei! – Ele afirmou com convicção.

— Mas teve relações com ela? – Louise, autoritária, falou firmemente.

            Ele engoliu a seco.

— Está bem. Tive sim. O esperma é meu.

            Todos observavam o andar da conversa chocados. Jamais imaginariam que ele faria algo assim.

— Então, é isso. – Emily falou, com as sobrancelhas arqueadas.

— Não! Eu não matei Alice! – Ela exclamou.

— Como assim? – Renan esbravejou, irritado – Você a estuprou, mas não a matou?

— Eu não estuprei ninguém! – Ele gritou.

— Ah, então vocês transaram com a total permissão dela? – Calista disse, indignada.

— Por que essa possibilidade não existe para vocês?

— Porque sabemos que não é real. Fala logo a verdade! – Camila exclamava.

— Eu não... Eu não a estuprei! Muito menos matei alguém!

— Falso! – Sabrina xingou.

— Chega! – Louise resolveu intervir – Ele realmente não a matou. Eu vi a câmera da frente da casa e ele veio às duas e vinte e três. Nesse momento, ela estava morta já. E não fazia muito tempo.

— Mas ele disse que teve relações com ela! – Taís argumentou, confusa – E ele chegou depois de ela estar morta! Só se...

— Exatamente! – Louise afirmou, deixando o rapaz completamente desconfortável. –Considerei todo o contexto da noite e os depoimentos sobre suas atitudes estranhas. Aí apareceu a cueca manchada de sangue. E então, foi só ligar tudo isso à conversa que tive com ele no início – Ela então se lembrou do seu interrogatório com Tomas, e o descreveu para o pessoal:

****

— Sir Fagundes, alguns alunos dizem que tens hábitos estranhos. Possui algum segredo ilegal? – Perguntou, e ele ficou assustado.

— Eu sou quieto. Minha rotina é ir para o colégio. Ir ao trabalho da minha mãe, no hospital. E ir pra casa. Não saio de casa nos finais de semana. Só quando minha mãe trabalha, que vou para lá. Quero fazer enfermagem ou medicina, sabe. Mas poucos acreditam no meu sonho...

****

— Todos esses anos indo para o hospital, não era pela sua grande paixão pela medicina, e sim pelo seu tesão por mortos! Tomas pratica a necrofilia! – Ela afirmou, e as pessoas se chocaram.

— Que nojo! – Esbravejou Fernando. – Como consegue, cara?

— Agora... Só para ver se estou certo – falava Vinícius – Você chegou às duas e vinte e três na casa e encontrou Alice morta em frente à janela de Beatriz. Vendo a oportunidade perfeita, arrastou-a para um lugar mais escondido, na praia, e teve sua relação com ela lá. Em seguida, colocou as calças e voltou para a casa, como se nada tivesse acontecido. Correto?

— Sim – ele assentiu, de cabeça baixa. – Ela parecia ter caído lá fazia poucos minutos.

— Acho que podemos prosseguir, então. – Ele informou e Louise concordou.

— Sendo assim, podemos dizer que entre às duas e dez e duas e vinte e três, alguém entrou no quarto, golpeou lhe na cabeça e a jogou pela janela. – A detetive informou.

— Agora... Quem? – Vinícius fazia o questionamento. A atenção toda foi voltada para si. Não podia ouvir mais nada além dele. – Certamente, alguém que acompanhou Alice durante toda a execução do plano escondido. Como aquela metáfora: O leão que vagarosamente vai avançando sobre a sua presa, esperando para dar o bote. E então, quando ele finalmente ataca, um caçador que se camuflava no terreno lhe dá um tiro, matando-o. Alice é o leão. Rodrigo é a presa. O caçador é a pessoa que stalkeava Alice o tempo todo, sem ela perceber.

****

“– Oh, essa aqui é a Camila. Camila, essa é a minha irmã, Alice!

— Prazer! – Cumprimentou ela, com um abraço mais rápido.

— Nossa, seu rosto não me é estranho! – Comentou Camila, franzindo as sobrancelhas para a sua cunhada.

— Sério? Alguns dizem que eu me pareço com a Sophie Charlotte, imagina? – Falou, brincando.

— Talvez um pouco, mas vamos! Nossos pais estão esperando”

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— Espera! – Protestou Miguel – Sendo assim, Marlon Fletwood também se tornaria um suspeito, né? Ele também a perseguiu!

— Marlon foi a minha primeira suspeita sim. Mas ele queria apenas se relacionar com Alice. Se ele realmente quisesse chegar perto das provas contra Rodrigo, não iria começar a conversar com a sua futura vítima. Fora que os fatos não bateriam! Até porque, ele estava realmente bêbado! Não conseguiria chegar em uma casa onde nunca pisou, entrar no exato cômodo que Alice estava e acertá-la com um pé de cabra!

— É. Tem razão! – Ele assentiu.

— Continuando... É alguém que, na noite do crime, não foi vista ingerindo bebida alguma, já que sabia dos planos de Alice. – fez uma pausa, e se lembrou de uma das provas que tinha – Hugo, antes de morrer, deixou para nós quatro frascos com coletas de DNA. Fios de cabelo... Quatro potes cilíndricos, contendo fios não muito longos de cabelo. Um dos fios era mais grosso, bem preto. Era o de Miguel. O outro era fino, porém, um pouco mais claro, o de Camila. E o outro, também fino, só que mais claro ainda, visivelmente pintado artificialmente, de Alice. O último era mais extenso e fino, dele mesmo. O primeiro tinha a tampa da cor azul. O segundo, rosa. O terceiro, vermelho. E o quarto, branco, sendo que este continha a letra “H” escrita com caneta permanente. Ele fez isso pois suspeitava da identidade do assassino, mas precisava de provas mais concretas. E então, coletou essas amostras para um futuro teste toxicológico e provar que nem Camila, nem Miguel e nem Alice beberam naquela noite, mas ele sim.

****

“Perto do bar de bebidas, Vinícius conversava mais com Camila, sua ex-namorada.

— Não vai beber nada? – Perguntou ela, com um copo de água na mão.

— Não sei, tenho receio de ficar bêbado como esses aí... E veja você, que só está na água!”

— Ah, não seja por isso. Miguel! – chamou.

— Diga, Camila! – respondeu o estagiário.

— Pode me ver dois coquetéis de frutas, por favor?

— Claro! Com álcool? – Disse ele, com um sorriso, e Camila fez que sim. Em dois minutos entregou o pedido para eles. Vinícius bebeu um pouco e gostou. Ela observou e riu.

— É bom mesmo. Você está gostando da festa?

— Claro. Eu também não sou de ficar bebendo coisas alcóolicas, sabe... Meus rins agradecem. Mas, vez ou outra, não vejo problema... É só dosar.

****

— Alguém aqui lembra de uma coisa que o Rodrigo ficou reclamando no dia posterior do crime? – Vinícius, perguntou, esboçando um sorriso malicioso.

****

— Onde foram os outros? – Perguntou a detetive ao político.

— Saíram para comer. Aquele bando de merda... – respondeu, rude. Louise se manteve indiferente. – Olha ali! Conseguiram encharcar minha planta de drink!

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— Além disso, é alguém que matou Alice e em seguida, jogou a janela. E como suspeitei, quem mexe com sangue... Se suja! Assim como o Tomas, teve mais gente que trocou de roupa!

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“Vinícius se virou para Camila. Ela havia caprichado na maquiagem. Vestia uma blusa branca e uma saia preta. Estava bastante bela. Ele pensou em ir lá, mas mudou de ideia logo assim que Christian chegou primeiro. “Assim está melhor. Eles se merecem” ele imaginou.”

“O tempo foi passando. Às duas horas e cinquenta da manhã, Camila foi pegar um refrigerante quando sentiu puxarem sua blusa amarela. Virou-se para trás. Era Vinícius.

— Camila – ele começou – você viu a Alice? Faz tempo que não a vejo.

— Não faço ideia. Deve estar por aí! – Ela disse e riu, voltando a beber.”

****

— É alguém, também, que possui ótimos conhecimentos de informática. Como a nossa monitora de informática: Camila Barbosa!

            A garota abaixou a cabeça e juntou os braços, sem graça.

— Como chegaram a essa conclusão? – Perguntou ela, serenamente.

— Todos sabemos que você hackeia como ninguém. Deve ter sido fácil para você monitorar cada passo de Alice. Chegou até a pedir um drink com álcool, mas logo descartou quando eu não vi, pois sabia que algo aconteceria naquela noite. E então, quando viu a oportunidade certa, assassinou ela. De forma estranhamente rápida conseguiu provas muito concretas sobre a relação de Miguel e a vítima.  E então, fingiu nos ajudar na investigação, mas na verdade, só queria nos atrapalhar e criar álibis falsos para determinadas pessoas e culpar pessoas inocentes.

— Mas por que ela faria isso, Vinícius? – Beatriz perguntou, surpresa demais.

— Também me perguntei sobre isso, sendo que a resposta estava muito na cara. Por causa do dinheiro. Camila sempre foi uma pessoa que almejava o luxo. Queria dinheiro fácil a qualquer custo. Foi esse o motivo pelo qual terminei com ela. Ela é egocêntrica. Mas não imaginava que era tanto a ponto de matar.

****

"–  Eu já fui uma vez para Búzios. Mas é claro que prefiro Paris. Mil vezes! –  Disse Camila, a jovem que estava sentada ao lado de Vinícius.

—  Mas você nunca foi para lá, Camila. Como você sabe? – Foi a vez de Taís Pontes perguntar. Uma garota única. Conhecida por ser bastante inteligente. No entanto, sua inteligência era esquecida, já que sempre foi excluída de boa parte das pessoas por estar muito acima do peso e ser negra.  

— Ah, pelas fotos que vejo já dá para afirmar isso – respondeu ela, rindo da própria resposta, deitando sua cabeça nos ombros de Vini. – Além do mais, um dia eu irei!"

 Aliás, conhecerei toda a Europa! Podem apostar!"

****

— Vini... – Susana, impressionada, argumentava – Mas como ela ganharia dinheiro matando Alice?

— Veja bem, Alice tinha provas muito valiosas comprovando vários crimes de Rodrigo e até mesmo de Christian e Beatriz! Pense no que Rodrigo faria para manter essas provas em um lugar seguro? Quando Micaela apareceu com os cheques que achou de Emily, só me deu mais certeza! Camila a matou para ter material suficiente para chantagear Rodrigo! – ele fez uma pausa para respirar – Lembram-se de como ela falou com nosso governador na manhã após a morte de Alice?

****

“– C-como assim morreu? – Gaguejou Vinícius.

— Está lá fora. Morta e ensanguentada. Assassinada.

            Praticamente todos viraram seus olhos chocados e revoltados para Rodrigo. E em seguida, para Vinícius.

— Velho escroto e imundo! – Xingou Camila. Furiosa. Sua fala causou espanto nos outros, que sempre queriam falar aquilo, mas não tinham coragem.

            Rodrigo se irou, queria agredir aquela moça imediatamente. Cerrou seus punhos.

— Olha, garota, eu sou uma autoridade e você está me desacatando! – Apontou o dedo para ela e berrou.

— É mesmo? E o que mais? – Debochou dele, ousada e com a cabeça quente. Ficaram assustados com a atitude. Porém, deixaram aquilo – Arrombado de merda!”

****

— Tanta audácia tinha um motivo: a ausência de medo. A confiança. Afinal, ela tinha Rodrigo nas mãos. Até agora.

— Bem. Para quê ficar negando? É verdade. – Ela falou normalmente, sem demonstrar nenhum sentimento – Tudo começou quando vi a face dela. Lembrei que já tinha visto em algum lugar. E realmente tinha! Em uma manchete de jornal na internet, dizendo sobre uma garota que, há quinze anos atrás, perdeu os pais em uma tragédia. Era bem mais nova, é claro, mas alguns traços marcaram bastante. Curiosa, pesquisei sobre ela na Deep Web. Sem ninguém saber, consegui ter controle remoto sobre o celular de Alice e descobri suas conversas com a Bia e o Miguel. Foi fácil deduzir suas intenções. Vi, então, a oportunidade perfeita para chantagear o governador e conseguir dinheiro suficiente para ir embora daqui e viver a vida dos meus sonhos.

            Quando notei que estavam organizando a festa para pegar mais provas contra Rodrigo, decidi que era a hora. Peguei o pé de cabra que tinha visto e, exatamente às duas e quinze, entrei no quarto. Ela estava fechando o netbook. Não perdi tempo e lhe acertei na cabeça antes que pudesse reagir. Acho que bati mais umas duas ou três vezes... Rapidamente, a lancei pela janela às duas e vinte. Fui, então, pegar o computador que lá estava. Tinha todos os arquivos e mensagens do computador do governador, além de muito conteúdo que Alice coletou antes! Guardei e escondi bem no meu quarto. Obviamente, não ia deixar o corpo lá, iria esconder e jogar no mar assim que todos sumissem. Porém, quando cheguei lá, já havia sumido! Foi um alívio, para falar a verdade. Depois, bastou-me pegar o pé de cabra e jogar lá perto. E antes que eu me esqueça: Alice não deixou cartão de memória nenhum para você. Aquilo estava no celular dela. Obviamente, consegui ver o conteúdo usando meus conhecimentos. Como não era nada demais, resolvi deixar com você. Pensando em ser, essa, uma forma de tirar as suspeitas sobre mim. Fiz isso várias vezes. Talvez meu erro tenha sido fazer demais. De qualquer forma, que fique claro que ela só pensava em te contar alguma coisa depois de tudo ter acontecido. Ah, outro erro meu foi ter deixado a câmera lá! Ela estava escondida, é claro!

            A sala foi tomada, ainda por alguns segundos de silêncio. Os convidados e os policias que ali estavam ficaram de boca aberta com tanta complexidade do caso.

— Então, acho que acabamos por aqui. Essa víbora já foi descoberta. Correto? – Rodrigo Drummond sugeriu, mas Louise lhe lançou um olhar reprovador.

— Não. Não acabamos aqui. E o que dizer sobre a morte de Daniel? Outra queima de arquivos.

— Quanto a isso, eu não tenho nada a ver! – Falou a assassina, levantando as mãos.

— Realmente, Camila não tem conhecimento para tirar o freio de um carro. Sabemos disso. Mesmo assim, isso não é um crime do estilo dela. Muito menos de Miguel, que só matou por impulso, no calor do momento. Quem planejou esse crime foi Rodrigo Drummond! – A detetive afirmou – Lembram do “lanchinho” que nos foi oferecido durante nossa investigação? Adivinhem? Drogas capazes de trazer alucinações. O motivo? A chantagem já havia começado, mas não sabiam quem estava fazendo. A primeira suspeita foi Vinícius. E por isso, arquitetou o plano para nos tirar do pé dele. Mas felizmente não deu certo.

— Como podem falar uma asneira dessas? – Rodrigo disse.

— Não é asneira. Quando escapamos da morte, logo lembrei de uma fala de Emily, quando a interrogamos:

****

— Quero que diga tudo o que sabe sobre os crimes. – Informou, deixando um silêncio perturbador no ar.

— Vocês já não sabem? Hein, Vinícius? Já não têm provas mais que suficientes? Já terá o que quer. Não sei onde mais quer chegar com esse joguinho? – Ela falava, olhando freneticamente para o rapaz, espantado com aquelas palavras.

— Sabemos. Por isso mesmo queremos te ajudar a não cair como Rodrigo cairá. – Afirmou o rapaz.

****

— Perguntei-me qual joguinho ela se referia. Foi quando pensei: A chantagem já começou! Ou você vai negar?

— Se ele não afirmar, eu afirmo – falou Camila, convicta – Mandei um e-mail para ele dizendo para já ir se preparando para me dar o dinheiro. Eu queria cinco milhões para ficar calada.

— Você já caiu, Rodrigo. Assuma! – Vinícius exigiu, franzindo o cenho para ele.

            O governador já não conseguia mais sustentar as suas palavras e se via desesperado.

— Jamais! Eu vou sair daqui! Tudo isso não passa de mentiras! Vocês não vão conseguir estragar a minha carreira! – Levantou-se, puxou sua esposa pelo braço, e saiu pela porta. Porém, fazendo uma força maior, ela se soltou.

— Eu não vou com você! – Ela berrou, lacrimejando.

— O que é isso? – Ele indagou, indignado.

— Estou cansada das suas mentiras! Dos seus crimes! – Desabafou. – Não preciso de mais sofrimento para a minha vida!

— Sendo assim, eu vou sozinho! – Ele se virou, e andou até a porta.

— O senhor não vai a lugar algum! – disse uma senhora negra vestindo um vestido roxo e uma jaqueta jeans, acompanhada de mais dois homens com a pele um pouco mais clara que a dela, que abriam a porta naquele exato momento.

— O que é isso? A senzala se voltou contra a Casa Grande? – Debochou rindo.

— Senhor Rodrigo Drummond, o senhor está preso por injúria racial! E em poucas horas será feita a ordem de prisão por tentativa de homicídio, corrupção ativa e passiva, desvio de dinheiro, lavagem de dinheiro, sonegação de impostos, violência contra a mulher, entre outros. E ainda farei uma pesquisa minuciosa para ter mais provas sobre sequestro, estupro e assassinato também! Seus filhos e esposa também não ficarão de fora! – Louise anunciou.

— Está louca! Só pode! – Disse, virando-se para ela.

— Sim. Louca por justiça. Pode ter certeza que irei até o fim para isso. Farei questão de ser a promotora desse caso!

— É mesmo? Pois vou contratar o melhor advogado do Brasil para te ver cair.

— Pode até conseguir o melhor advogado do Brasil, senhor Drummond – Foi a senhora negra que falou, dessa vez, em uma voz mansa e reprovadora – Mas nem mesmo o melhor advogado do mundo vai ser suficiente para que eu, a juíza do caso, acredite em sua inocência.

            Ele ficou perplexo. Olhava ao seu redor. Todos estavam o recriminando.

— Não é possível! Não podia esperar menos de pestes como vocês! Miseráveis! – Ele se descontrolou, e berrou para todos. Seu rosto estava vermelho de raiva.

— Para quê perder o controle emocional, senhor governador – debochou Camila – É só a cadeia!

— Não! Não! Não! Não! – Ele resmungava, não aceitando a situação – Isso não vai ser verdade, sabe por quê? Porque o povo me ama! Seus trouxas! Vou falar que é tudo mentira, criar uma obra qualquer, e eles vão acreditar!

— É mesmo? Então por que você não diz isso para eles agora? – Vinícius perguntou.

            Ele arqueou as sobrancelhas. Confuso.

— Como assim, garoto? – Ele se aproximava de Vinícius.

— Fale! Mas por que essa cara? – Ele repetiu, ironicamente. – Sorria, Senhor Drummond, o senhor está sendo filmado!

            Os olhos azuis de Rodrigo se arregalaram. Ele não falava mais nada. Nada mais saía de sua boca.

— É o quê? – falou, depois de muita dificuldade.

— Não viu as câmeras na TV e na estante? – Louise perguntou, cruzando os braços em um ar vitorioso – Tudo aqui está sendo gravado e transmitido ao vivo para nosso canal no YouTube. E depois de gravado, irá para a TV aberta.

— Malditos! Miseráveis! Eu não vou me render!

— E não precisa – A senhora exclamou, satisfeita – Louise Ferguson, meus parabéns pelo excelente trabalho! Senhor Tomas Fagundes, Camila Barbosa, Calista Oliveira, Sabrina Findlay, Miguel Cordeiro, Jorge Rodrigues, Rodrigo, Emily, Christian e Beatriz Drummond, vocês serão levados para a prisão agora.

            Vinícius suspirou aliviado. Finalmente, a justiça havia começado a fazer efeito. Rapidamente, mais policiais vieram, algemando cada um dos criminosos e levando para as viaturas policiais.

— E então, Víni... – Louise colocou a mão sobre o seu ombro – E agora?

— Agora, vou começar minha faculdade de Direito. Quero seguir seus passos! É isso o que eu quero fazer para a minha vida: Justiça!

            Com um sorriso cheio de orgulho, eles se abraçaram.

— Quanto aos outros – disse novamente a juíza – Podem arrumar suas malas e retornarem às suas casas! O caso está encerrado.


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam? Surpresos com os assassinos? E com o fim que Rodrigo teve? Por favor, podem falar sinceramente.
Apesar de estar com coração partido por terminar essa fic que me diverti tanto escrevendo, estou feliz por vê-la, finalmente, concluída.
Para quem gostou, informo que penso em uma continuação. Mas dessa vez, veremos apenas o Vinícius novamente. Talvez um ou outro tenha uma participação, mas não será significante. De todo o modo, vou usar o que aprendi em SNADF nesse projeto e, consequentemente, garanto que será melhor.
Devo postar, também, mais dois capítulos extras. Então, não recomendo deixar de acompanhar.
Enfim, é isso. Vejo vocês nos comentários! o/



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