Sangue nas Areias do Foguete escrita por Pierre Ro


Capítulo 17
"Do jeito que está, o povo não merece!"


Notas iniciais do capítulo

Pessoal, me desculpe pela demora. Eu juro que não é minha culpa. Eu estudo em internato durante a semana e só vou para casa nos finais de semana. Então, durante a semana, fico contando apenas com a internet do 3G, que não é suficiente para postar os capítulos ou responder os comentários.
Por isso, hoje eu estou programando um capítulo para quarta-feira o/
Esse capítulo está cheio de informações novas! E estamos já na reta final da fic! *-*
Boa leitura! Vejo vocês nos comentários!



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— O que aconteceu aqui, Edson? – Questionava Louise, engolindo a seco. O vento era forte para aquela hora do dia. Como seu cabelo estava solto, a detetive, por vezes, tinha que ficar ajeitando seus fios encaracolados para que esses não atrapalhassem sua vista.

— O Senhor Pedro – disse, apontando para um homem que estava lá perto – ele é pescador. Hoje, quando lançou a rede, ao invés de agarrar peixes, agarrou ele. Hugo Torres. Dessa forma. Com essas feridas sangrando, azul de inchaço e praticamente sem roupa.

— Assassinado. Claro! – Vinícius exclamou, tremendo. Sentia quase a mesma coisa que quando descobriu a morte de Alice. Lembrou-se do dia anterior, quando seu amigo o acordou avisando sobre a morte dela – O senhor viu alguém por perto? Alguém que poderia ter feito isso? – Perguntou ele, em meio ao choro, olhando para o velho. Ele apenas fez que não com a cabeça.

            Sem se importar com as pessoas ao seu redor, Vinícius se ajoelhou perto do corpo e deixou as lágrimas rolarem. Ele era seu melhor amigo. E, agora, estava morto. Louise via tudo com pena. Agachou-se e o abraçou, confortando-o desse momento tão delicado. Ficaram assim por cerca de cinco minutos, quando ele enxugou suas lágrimas e se levantou.  

— De qualquer forma, vou descobrir quem foi. – Afirmou, determinado.

— É assim que se fala! – Falou a mulher, pondo sua mão sobre o ombro do rapaz.

— Edson, sei que ainda precisa fazer uma autópsia mais detalhada, mas tem algo a dizer? – Questionou o rapaz, determinado.

— Ele não morreu com essas feridas. Muito menos afogado. Isso eu posso garantir. Mas, antes, veja seu pescoço. Está marcado e seu rosto meio azulado. Porém, não tão marcado. Pela minha experiência, diria que foi morto estrangulado ontem. Entre 15 horas às 17 horas. Porém, vou poder precisar mais depois.

— Entendi. Mas, o que seriam essas feridas?

— Provavelmente causadas pelas pedras do mar. Talvez queriam criar a impressão de que entrou na água e morreu afogado, mas as marcas, apesar de fracas, não mentem. Fora a cara dele!

— Só de pensar que terá que interrogar todo mundo de novo... – Comentou o rapaz, pondo a mão na cabeça.

— Ah, isso não vai ser necessário. Não vês? Essa é uma grande pista do crime da Alice.

— Acho que estou te entendendo. Aliás, ontem só houveram quatro pessoas que saíram durante esse horário. A família Drummond! – informou ele.

— Mas, e se ele foi morto nesse horário, porém trazido para a água à noite? – Sugeriu a mulher.

— Isso seria inverossímil. Veja – ele apontou para a praia do Foguete, que podia ser vista de lá, à direita deles – A correnteza está puxando para a nossa direita. Se tivessem jogado ele de lá, ele pararia em outro lugar, não aqui. Ele foi trazido de lá. – Falou, indicando a esquerda deles.

— Bem pensado! – O rapaz exclamou.

— E agora, Louise?

— Agora, iremos checar as pistas que Hugo deixou para você. Depois, falaremos com Rodrigo. Tudo pode acontecer.

— Ok. Suspeita de algo já?

— Sim. Essa morte nos diz muitas coisas... Principalmente, que o medo de ser preso é muito grande entre esses que conviveram contigo. E que seu amigo é muito descuidado.

— Entendo. Então, o que faremos agora?

— Procuraremos por provas. Vamos, Vinícius! Vamos encerrar com esse caso! – Falou, andando apressadamente até seu carro. Meio desnorteado ainda, ele a seguiu.

            Entraram no veículo, mas não o ligaram.

— A sua mochila. Vamos ver logo o que tem nela. – Ela disse.

            O rapaz logo entendeu. Pegou o objeto no banco de trás e trouxe para o banco do carona. Com cuidado, abriu o zíper e retirou, de lá, uma bolsa de pano com alguns pertences.

            Meio desconfiado, ele nem olhou o que tinha, apenas enfiou a mão e, utilizando o tato, segurou em um objeto e o tirou. Era o celular do próprio Hugo. Vinícius estranhou, mas preferiu checar seu conteúdo. Notou, então, que existia uma pasta de fotos intitulado como “PROVAS ALICE”. Rapidamente, abriu o documento para ver seu conteúdo. Encontrou, então, imagens de diversas conversas entre “Bijuu4” e “Allieda”, oriundas do celular da Beatriz. Ele se lembrou que era aquele o nome que Alice Ferreira usava para se falar anonimamente com Beatriz.

            “Ele vasculhou bem então” Pensou Vinícius, do amigo.

— Então, ele fuçou até no celular da Bia! Apesar de ser ilegal, será bem útil! – Exclamou Louise.           

            Colocando a mão de novo na bolsa, ele apanhou uma sacola plástica, onde existia, embolada, uma cueca branca manchada com pingos de sangue. Ele fez cara de nojo, e Louise riu.

— Como ele deixou uma coisa dessas aqui? – Dizia ele.

— Excelente! Mais uma prova que precisamos! O que mais tem aí?

            Ele foi ver novamente, e puxou quatro potes cilíndricos, cada um continha amostras fios não muito longos de cabelo. Um dos potes, continha os fios mais grossos e escuros. O outro, no entanto era fino, porém, um pouco mais claro, castanho, e o outro, também fino, só que mais claro ainda, visivelmente pintado artificialmente. O último era bem escuro, e mais extenso e fino. O primeiro tinha a tampa da cor azul. O segundo, rosa. O terceiro, vermelho. E o quarto, branco, sendo que este continha a letra “H” escrita com caneta permanente.

            Vinícius e Louise se entreolharam.

— Ele é mais esperto do que imaginávamos! – Exclamou o rapaz.

— Sim. Se for o que pensamos, é a prova que precisamos para incriminar quem matou Alice!

— Mas, não houve aquele problema com as máquinas?

— Para descobrir o DNA, sim. Mas como exame toxicológico, pode ser feito sim!

— Excelente! E em quanto tempo estará pronto?

— Teoricamente, três dias. Mas enviarei imediatamente esse material para a análise. Se for feito com pressa, acredito que pode estar pronto amanhã mesmo! – ela explicou, empolgada com tal descobrimento – Há mais alguma coisa na bolsa?

            Vinícius pôs a mão lá novamente. Olhou seu conteúdo, mas não havia mais nada lá. Sabendo disso, Louise ligou o veículo e dirigiu em direção à Delegacia.

 – Bom! Então, Hugo pensava da mesma forma que a gente – comentava o rapaz.

— Sim. Porém, algo me intriga...

— O fato de ele não ter prosseguido – disse Vinícius – Quero dizer, não me intriga mais. Já que ele está morto agora.

            Trocando de olhares entre a estrada com seu ex-aluno, a detetive se surpreendia cada vez mais com a capacidade de dedução dele. Verdadeiramente, nascia para aquilo.

— Exatamente!

— Está tudo muito bem claro na minha mente! Porém, precisamos de provas. E já sei quem pode nos ajudar com isso.

— Quem?

— Camila Barbosa. Quero saber como estão as pesquisas dela.

— Também estou curiosa.

            Como Louise havia dito, eles passaram no laboratório e deixaram os fios de cabelo coletados por Hugo. Logo assim que fizeram, voltaram para a casa de praia de Rodrigo Drummond.

            Chegaram lá perto, mas estranharam. Além dos carros de polícia dos subordinados de Louise Ferguson, estavam cerca de mais outros cinco automóveis de emissoras de TV e jornais.

Estacionaram lá perto, e desceram. Ao entrar na casa, notaram a presença de diversas pessoas estranhas. Logo na entrada, o governador estava rodeado de jornalistas. Ele vestia sua camisa social com uma calça jeans, e óculos escuros. Parecia não estar com muita paciência, mas dava atenção a eles.

Aproximaram-se, para ouvir a entrevista.

— O que o senhor tem a dizer sobre o assassinato, senhor governador? – Perguntava uma jornalista, que era seguida por um homem que segurava a câmera e outro uma lâmpada.

— Ah, uma barbaridade. Porém, vocês me conhecem. Criminosos menos perigosos que esse, já são punidos com severidade no meu governo. Agora, um caso grave desses acontecendo na minha casa, será tratado com mais rigor ainda. Aliás, já avisei isso para a detetive. Exijo que o culpado seja pego! A justiça será feita, pois o povo conta com isso! – Concluiu.

— E ficamos sabendo que outro rapaz foi morto esta manhã. Qual a opinião sobre isso? – Ela perguntou novamente, ele pensou um pouco, e respondeu.

— Minha opinião mantêm. E isso me preocupa. Pois, se crimes como esses acontecem embaixo do meu nariz, vejo, de perto, o quanto a Segurança do Rio de Janeiro precisa ser melhorada. Sem dúvidas, quanto a isso, tivemos uma evolução no meu governo. Porém, após essa experiência traumática, se o povo permitir meu segundo mandato, prometo reforçar ainda mais a segurança do trabalhador carioca e fluminense. Melhorando as condições de trabalho dos nossos policiais e admitindo apenas os melhores, é claro. Pois do jeito que está, o povo não merece!

— E já pensaste na possibilidade de estarem ameaçando a sua vida? Ontem foi uma garota desconhecida, hoje foi um pobre estudante, amanhã poderá ser outro! Inclusive o senhor! Não podemos estar tratando de um assassino em série?

— Isso me preocupa muito sim. Mas tentem me entender. Eles não podem sair daqui até a investigação ser concluída. É muito fácil para mim fugir e só aparecer para falar com a Polícia. Porém. Mas, e esses estudantes? Eles veem em mim como um líder, ou melhor, como um pai que os faz se sentir seguros. E é assim que quero ser visto por eles e por todos os trabalhadores de bem do Rio de Janeiro. Como um pai que quer dar aos meus filhos o que são deles por direito! Saneamento básico, educação, saúde, transporte e, principalmente, a segurança. Pois a vida das nossas pessoas é o bem mais importante para mim – ele respondeu, olhando para a câmera.

— Muito obrigada, senhor governador – agradeceu a jornalista, voltando-se, então, para a câmera – Continuaremos acompanhando o caso da jovem Alice Ferreira, morta na Praia do Foguete, em Cabo Frio. Saiba mais detalhes sobre o caso a seguir – Terminou, olhando fixamente para frente. 

— Corta! – Gritou o homem-câmera.

            Louise ficou com os braços cruzados durante o tempo todo. Sua expressão demonstrava desprezo, indignação e nojo.

— Como tem cara de pau em falar isso? – Indagava-se Vinícius.

— Você ouviu? “Melhorando as condições de trabalho dos nossos policiais e admitindo somente os melhores, é claro. Pois do jeito que está, o povo não merece!” Ele falou mal de mim. Como se eu fosse incompetente! – Desabafava a detetive.

— Não acredito que esteja falando de você, como profissional – comentou o garoto – Ele dizia sobre sua cor e gênero. Certas coisas, ele é parecidíssimo com o filho. Machista e racista.

— Entendo. Enfim, é melhor eu fingir que não ouvi isso e continuar com meu trabalho – falou ela, e se dirigiu até o interior da casa.

— Ah, olha lá! A detetive do caso! – Rodrigo apontou, e outra jornalista, que estava por perto, logo olharam para ela e se aproximaram.

— Senhora detetive, pode ter uma palavrinha conosco? – perguntava ela, com seu câmera logo atrás.

            Ela fingiu que não tinha ouvido e deu de ombros. Porém, um outro jornalista de outra emissora vinha atrás querendo o mesmo. A mulher suspirou, parou e, sendo simpática, aceitou ser entrevistada.

— Ok. Mas tem que ser rápido – exigiu ela.

— Seremos. Está ligada a câmera, Tobias? – dizia ela, empolgada. O homem assentiu e ela se virou para Louise – Então, senhora detetive, o que tem a dizer sobre o caso?

— Foi algo horrível, realmente. Está sendo complicado, devido às dificuldades que a Delegacia enfrenta, graças à falta de verba vinda do governo estadual, que impossibilita o uso de máquinas que facilitariam nosso trabalho de análise, ou a compra de equipamentos para nossos agentes que precisam colher provas usando seus próprios aparelhos, sem falar no atraso do pagamento de nossos funcionários, é claro! Porém, podem estar certos de que, mesmo com tudo isso, acharemos o assassino. Mais cedo do que imaginam – falou, em resposta.

Ela se atreveu a olhar para a reação de Rodrigo. Ele lhe a fitava com ódio, mas não se importou. Voltou sua atenção à jornalista, então.

— Mas a senhora tem mesmo certeza de que conseguirá prender o verdadeiro culpado? – Ela questionou.

— Com certeza. Quando encontrarmos todas as provas, diremos quem é o assassino e ele será devidamente preso – respondeu normalmente, apesar de ter estranhado a pergunta.

— A senhora está certa disso? E se pegarem a pessoa errada? Não seria mais prudente chamar reforços para que isso não aconteça e uma injustiça seja feita?

            Louise franziu o cenho. “Como não pude ter percebido isso logo de cara?” Pensou ela. Estava diante de mais um caso de racismo contra ela mesma. Ficou em silêncio, indignada com a insistência da jornalista de pele branca, que desconfiava da capacidade de ela executar um serviço tão importante. Apesar de se sentir ofendida, levantou a cabeça, e respondeu:

— Eu dou a minha palavra de que o assassino será desmascarado e preso! – Terminou, voltando-se para a sala de estar e, lá, entrando. Ignorando os pedidos da mulher em continuar a entrevista.

            Sem querer, deixou uma lágrima cair de seu olho. Viu Vinícius ao seu lado, que também notou o descaso da jornalista com sua capacidade em fazer cumprir a lei somente por ser negra. Logo ela, que batalhou tanto, superou tantos desafios, para trabalhar com seu maior sonho. A atividade que mais a fazia se sentir bem. Tudo diminuído pela sua cor.

            Comovido, Vinícius se aproximou e enxugou aquela lágrima. Ela sorriu com a atitude do garoto, e os dois se abraçaram. De repente, o sentimento de paz e felicidade tomou lugar da amargura pelo preconceito.

— Vamos provar para eles o quanto estão errados! – Falou ele, e os dois sorriram.


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Notas finais do capítulo

E aí? Acertaram quem disse o título do capítulo? Essa nem foi difícil, né kkkkk

Enfim, como eu já disse, a fic está acabando. No capítulo 20, tudo é resolvido. Só haverá mais um ou dois extras.

Mas enfim, estou curioso para saber o que estão achando da história. Quais teorias possuem. Se acham que falhei em determinado ponto. Por favor, podem me dizer. Isso ajuda muito!



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