Aquela era uma bela manhã de um dia que parecia mais brilhante do que de costume. O ar estava puro e o céu azul e limpo. Patrícia inspirou profundamente e depois deixou o ar sair suavemente como uma espécie de exercício matinal, sentada a janela de um ônibus de viagem.

Algumas das turmas de sua escola organizaram uma excursão para a praia durante um feriado prolongado, que ate ai não tem nada de especial. O que a deixava realmente empolgada com a idéia, era que esta excursão estava sendo realizada em pareceria com outros colégios, e isso poderia aumentar as chances de conseguir um namorado, já que pensa em se exibir para os meninos que talvez nunca a tivessem visto na vida.

Patrícia se sacudia e mexia seus pés para cima e para baixo, escorando seu cotovelo na janela e olhando com um sorriso abobalhado para os ônibus das outras escolas, que estavam todos estacionados próximos uns dos outros. Ela parecia uma criança impaciente.

No corredor do ônibus, Leandro andava despercebido quando se deparou com Patrícia sentada sozinha. Com a cabeça no mundo da lua, ela ainda não tinha percebido sua presença.

—Bom dia Patrícia... Será que posso me sentar ao seu lado? _Ele perguntou um pouco acanhado, enquanto apontava para o acento

Patrícia se virou para ele com a cabeça nas nuvens, e deixou escapar espontaneamente, ainda com o sorriso bobo no rosto e o brilho nos olhos:

—Claro! Fique a vontade _Apos cair à ficha de quão idiota ela parecia, se envergonhou e virou novamente o rosto para a janela

—Nossa, você esta de bom humor hoje _Ele sorriu enquanto se acomodava na cadeira

—Claro hoje é um dia especial, afinal vou poder conhecer... Digo nos vamos todos conhecer a praia! _Ela corrigiu sua frase às pressas.

—Então nunca foi à praia? _Ele perguntou naturalmente

Ela pensou brevemente e durante este tempo eles ficaram se encarando em silencio

—Talvez... _Ela respondeu com voz arrastada e insegura. Isso foi tudo que conseguiu dizer depois de tudo. Certamente que não era a resposta mais adequada.

—Talvez?

—Eu disse talvez então é talvez! _Ela elevou tom de sua voz falando com seriedade

Leandro ficou um pouco sem graça e sem saber o que falar a partir dali, então ele desviou o olhar, e o silencio tomou conta do ambiente.

Enquanto isso nos assentos posteriores, quem estava sentado sozinho era Eric, que distraído com seu celular em mãos, repentinamente percebeu uma aura poderosa e perigosa se aproximar. Um calafrio tomou conta de suas emoções após ouvir sua voz:

—Eric... posso me sentar com você? _Sabrina surgiu sorrateiramente e perguntou ao mesmo tempo em que já se sentava

—Porque pergunta se já se sentou antes da resposta? _Ele já olhou para ela fechando a cara

—Eu fiquei com medo de você dizer “não”! _Ela sorriu cobrindo a boca com os dedos

—Então pra que perguntou?!! _Ele gritou dentro do ônibus fazendo todos olharem para eles. Envergonhado ele cobriu seu rosto se abaixando um pouco atrás dos assentos.

—Gritando assim logo de manhã... Não precisa ficar tão feliz em viajar comigo _Ela falou sorrindo e balançando sua cabeça com as mãos nas bochechas

—Ora essa... Não fique se achando, é obvio que iria preferir viajar sozinho! E você não devia estar no ônibus da sua classe? _Falou ajeitando os óculos

—Sim, os ônibus foram separados por turmas, mas ninguém nuca disse se eu podia ou não, viajar com outra turma _Ela respondeu com um sorriso

—Você se esforça pra me irritar não é mesmo?

—Não diria isso... Esta ansioso para me ver de biquíni? _Ela falou baixinho em seu ouvido

—Mas o que!!!... _Eric não conseguiu nem completar sua frase. Ele pulou para longe dela pregando o rosto no vidro da janela, apos sentir seus cabelos arrepiarem

—Comprei um especialmente para esta ocasião, do tipo que você adora! _Ela falou enquanto abraçava sua bagagem com força, e os olhos cheios de amor

—C-como assim do tipo que eu gosto? Não tem como você saber de algo assim! _Ele gaguejava enquanto se esforçava para falar

—Hihihi... Saiba que eu conheço seu fetiche por roupas de banho femininas!

—GAHHHH ! _Ele berrou se levantando da cadeira e batendo a cabeça na parte superior do ônibus. Todos olharam para ele e riram apontando o dedo. Envergonhado cobriu o rosto do mesmo jeito de antes.

—Sabe... No dia em que eu me mudei, eu fui ate sua casa pare te ver, mas você não estava lá. Eu tinha pensado em ir embora, mas sua mãe insistiu que eu entrasse. Eu fui ate seu quarto e lá encontrei algumas revistas de biquínis.

—V-Você não pode vasculhar meu quarto assim, isso é crime!! _Ele cobria seu rosto, mas manteve o alto tom de sua voz

—Uma coisa interessante que reparei nas revistas, é que alguns modelos estavam marcados com caneta... _Repentinamente ela começou amostrar um sorriso sádico, como se estivesse o ameaçando

Eric engoliu seco e sentiu sua espinha congelar. em silencio não conseguia tirar as palavras entaladas na garganta, e só conseguia escutar ela falar obedientemente.

—... E eu reparei que todos marcados, tinha muito em comum. A partir daí conclui que aquele era o tipo que te agrada... Hihihi. _Sabrina deu uma risadinha safada e foi aos poucos aproximando seu rosto do de Eric

Paralisado, suas canelas não paravam de tremer, sem reação apenas olhava fixamente nos olhos de Sabrina enquanto seu rosto vinha se aproximando. O suor começou a escorrer por seu rosto. A aquela altura parecia que ela tentava beijá-lo no meio de todos, pelo menos foi o que ele pensou.

Eric lentamente fechou os olhos enquanto a tremedeira se tornava mais intensa. Colado na janela do ônibus, já não tinha para onde fugir. Sabrina se aproximou mais e mais, virou um pouco a cabeça e cochichou em seu ouvido:

—Tem certeza que não esta ansioso para me ver de biquíni?

—AHHHHH! _Ele se levantou com mais vigor e bateu a cabeça com mais força ainda. Não se sabia se seu rosto estava vermelho de fúria ou de vergonha. Mais uma vez os alunos no ônibus voltaram a rir dele.

—Alguém ai gostaria de trocar de lugar comigo? _Eric esfregou sua cabeça dolorida com o impacto

Alguns alunos cogitaram trocar com ele, pois olhavam para Sabrina e ficavam encantados com sua beleza divina, porem sem que Eric percebesse ela fechou a cara e encarou os outros alunos de forma tão assustadora que era possível enxergar uma forca refletida em seus olhos vermelhos, o que afugentou  todos que estavam interessados na troca.

Como ninguém disse nada, ele se sentou novamente e suspirou fundo.

—Que peninha, ninguém quis trocar de lugar, eles não querem interferir no nosso amor _Ela voltou a sorrir gentilmente para ele

—Aff. Apenas cale a boca ate chegarmos, esta bem... Não fale comigo! _Irritado se virou para a janela.

Depois de algumas horas de viagem finalmente eles puderam apreciar uma bela vista do oceano. O clima estava agradável e a praia cheia de banhistas se bronzeando, crianças correndo em todas as direções e o mar formando as mais belas ondas.

Após se trocarem, todos foram em direção ao mar. Patrícia observando atentamente o movimento, caminhava lentamente e espiava discretamente as redondezas, no mesmo intuito de sempre:

Ver se algum garoto a olha de forma diferente, ou algum corajoso venha ate ela a fim de conhecê-la. Porem como sempre acontece, ninguém olha pra ela do jeito que espera. Todos estavam mais preocupados em se banhar no oceano.

Ela suspirou fundo e se dirigiu ao mar. molhou a pontinha do dedo do pé na água gelada e se arrepiou completamente. Após juntar coragem suficiente colocou os dois pés e entrou no mar ate uma profundidade aonde a água mal chegava a seus joelhos. caminhando como se estivesse desfilando em uma passarela jogando seus longos cabelos que balançavam ao vento. Ela colocou as mãos no quadril e continuou a olhar a sua volta, e não conseguia mais ver os alunos das outras escolas, apenas crianças em todas as partes. Ela suspirou mais uma vez enquanto observava as ondas vindo e indo. Distraída se assustou ao sentir alguém cutucar seu ombro de leve.

—Oh... Leandro _Ela falou com um olhar tedioso. E reparando também que ele sempre sabia onde ela estava e sempre chegava de maneira silenciosa.

—Ei Eric disse que sabe de um restaurante ótimo, bem perto daqui, quer ir dar uma olhada?

Patrícia olhou em volta mais uma vez e percebeu que todas as expectativas que tinha para esta excursão aos poucos se esvaiam, não restando muito mais o que fazer.

—Certo vamos lá!

Patrícia deu um passo, e estranhamente caiu nos braços de Leandro, como se tivesse perdido o equilíbrio.

—Aiii! _Ela gritou

Leandro a segurou firme e se envergonhou ao tocar em sua pele suave. Ao olhar em seu rosto percebeu sua expressão dolorosa e logo perguntou preocupado:

—O que aconteceu?!! _Ele falou com vigor

—Eu pisei em algo pontudo, e machuquei meu pé _Falou gemendo de dor

—Isso é perigoso, se eu não estivesse aqui, você poderia ter se afogado!

—Leandro... Não tem como eu me afogar aqui... _Ela falou olhando para a água que nem mesmo tocava em seus joelhos.

Mas ela ficou feliz em conseguir sentir a preocupação que transmitia através das palavras. pela primeira vez, ela começou a ver Leandro de uma forma diferente...

—Se você não consegue andar eu te carrego! _Falou com firmeza e excesso de confiança

Patrícia ainda abraçada com ele sentiu seu rosto corar, ficando com vergonha de ser carregada por um homem. Apesar de nunca ter o olhado desta forma, naquele dia percebeu que havia algo de diferente em como o enxergava. Ela sutilmente desviou seu olhar e tentava tirar as palavras entaladas na garganta. Queria dizer sim, mas não conseguia, e se esforçava para isso.

Leandro logo se abaixou a sua frente e sinalizou para que ela subisse. Patrícia ficou um pouco acanhada e lentamente subiu em suas costas. Ela conseguiu sentir seu calor, e perceber o quanto seus ombros eram largos. Ela estava se sentindo quente por dentro e estranhamente feliz, e não conseguia entender o motivo, só queria que aquele momento durasse por mais algum tempo.

Ela queria que o momento durasse, mas isso antes de perceber que estava durando demais. Após voltar sua atenção para ele, percebeu que já fazia um tempo que eles não saiam do lugar. Olhado para baixo percebeu que ele apertava os dentes com força e seus joelhos vagarosamente flexionavam enquanto tremiam incessantemente.

Patrícia estava feliz com a atitude dele antes, mas agora ele parecia patético, e fazendo-a sentir vergonha alheia.

—Leandro, não me diga que sou pesada para você... _Patrícia falou indiferente

—Não! Não tem como uma garota magra como você ser pesada haha _Ele se desesperou e tentou amenizar a situação como pode

Ela realmente era magra, e Leandro incrivelmente fraco, mesmo sendo um homem. Em alguns segundos Patrícia que tinha ficado feliz com a atitude de Leandro, mudou completamente seu pensamento.

—Leandro me coloque no chão

—O que? Eu consigo não se preocupe _Falou com a voz tremula, e o suor correndo pelo rosto

—Agora!! _Ela insiste

Leandro sem escolha faz sua vontade. Depois de descer, Patrícia se apoiou em seu ombro e foi mancando ate a terra firme. Leandro não disse uma palavra durante todo o caminho, sentindo se envergonhado, nem mesmo conseguia olhar no rosto de Patrícia....

E assim foi o primeiro dia da excursão