Na manhã daquele dia Eric abre seus olhos ao ouvir o berro exagerado de sua mãe invadindo seu quarto...

—Já comprou o presente de sua prima?!! _Gritou de forma agressiva

—Hã? _Ele deixou escapar como se estivesse bêbado, ainda enrolado nas cobertas

Meio atordoado, ele balança sua cabeça sem conseguir assimilar direito do que ela estava falando, ainda em meio sono. Ele espichou seu braço ate a escrivaninha ao lado da cama, bateu a mão sobre ela repetidas vezes tentando alcançar seus óculos. Sua mãe percebendo que mal abria os olhos apanhou os primeiro e o entregou. Eric ajeitou os óculos no rosto e bocejou alto. Apos estar totalmente acordado, perguntou novamente ainda na cama:

—O que você disse?_Eric esfregou os olhos por baixo dos óculos

—O aniversario de sua prima, está próximo... Você já comprou o presente dela? _Falou irritada

—Não! _Ele respondeu despreocupado sem peso na consciência

—Então trate de ir comprar algo pra ela _Falou elevando mais sua voz 

Eric pulou da cama meio tonto, e se arrastou na velocidade de uma lesma ate o banheiro. Pouco depois de lavar seu rosto e tomar café da manhã caminhou ate o lado de fora. Quando os raios solares alcançaram seus olhos, ele os cobriu com a mão, antes de começar a resmungar:

—Droga! Agora tem mais essa! _Esfregou a cabeleira com força

Eric espreguiçou com vigor e depois se soltou como se já tivesse gastado toda a energia que tinha. Não fazia idéia do que comprar para sua prima... Mais perdido que surdo em bingo ficava aborrecido apenas de estar ali andando em círculos, sem ir a lugar algum. Ate que inesperadamente seus pensamentos foram interrompidos por uma tranqüila voz feminina vinda por trás:

—Não fique assim! Se não sabe o que comprar para sua prima, eu posso ajudar...

—Ah claro! Eu fico grato...

Agradeceu por impulso sem ao menos saber quem era; apesar de levemente notar que esta voz era familiar. Ao se virar para trás e ver quem era, soluçou alto com a surpresa deixando os óculos escorregarem por seu nariz.

—Coco! Mas como?!! _Apontou o dedo para ela berrando inconformado

Sabrina cobriu a boca com a ponta dos dedos e deu uma risadinha, permanecendo em silencio

—Como sabia que eu tinha que comprar um presente para minha prima? Melhor... Como sabia que eu estava perdido sobre isso? _Ele gritava no meio da rua fazendo gestos exorbitantes como se fosse um mímico, chamando a atenção de todos que passavam por eles.

—Hum... Quer mesmo que eu diga? _Sabrina sorriu radiante

—Pensando bem, acho que não! Você vai falar coisas sem nexo como “corações conectados” ou algo do tipo_ Eric cruzou os braços e reduziu um pouco o tom de sua voz quando percebeu as pessoas aos arredores rindo dele. O mais importante era que mesmo que parecesse irritado não pensou em recusar a ajuda, já que queria acabar com isso o mais rápido que puder.

—Certo então! Se você puder me ajudar eu agradeço _Ele falou bem tímido desviando parcialmente o olhar.

Enquanto passeava pelas ruas tomadas por pessoas, por ser dia dos namorados, memórias do passado surgiam à mente de Sabrina, que não perdeu a oportunidade para comentar com Eric:

—Andar juntos assim não te lembra do passado? _Falou caminhando ao lado de Eric

Eric virou para ela com rispidez trazendo a resposta na ponta da língua, porem perdeu as palavras em um tique, e virou o olhar de volta a rua. Envergonhado ao perceber que alguns dos botões da camisa de Sabrina estavam abertos, mostrando sutilmente um pouco de seus seios.

—Claro que não... _Foi tudo que conseguiu responder a ela, após se perder em seu decote

—Há há, você não mudou nada depois de todos estes anos _Ela riu percebendo que Eric ficou envergonhado, afinal sua provocação tinha funcionado

...

—Eu não posso dizer o mesmo de você... _Ele abriu a boca depois de vários segundos andando em silencio, sem olhar diretamente pra ela

—Era a única menina do grupo e se parecia muito com um menino, mas agora... _Ele interrompeu a si mesmo, como se tivesse falado o que não devia.

—Eu mudei? Como? _Ela inclinou a parte superior de seu corpo para o lado de Eric aproximando seus rostos, o provocando mais.

 Já que tinha começado a falar Eric não poderia parar agora. Ainda sem olhar pra ela acrescentou:

—Bem olhando para você agora eu diria que se tornou uma mulher! Seu cabelo cresceu, seu rosto está mais delicado, e seu... _Ele travou a fala como da ultima vez, quando seus olhos se prenderam novamente em seu decote. Apertou o passo, deixando a para trás em um instante.

—Como eu disse você não mudou nadinha! _Ela gritou animada depois de ter ficado para trás.

Sabrina se esforçou para acompanhar Eric, que dava passos largos. Ela andava lado a lado com ele o encarando fixamente nos olhos e sorrindo como se tivesse algo importante para falar, mas não dizia absolutamente nada, deixando Eric o tempo todo na expectativa, se irritando a cada segundo de silencio... Ate se inflamar ao ponto de explodir:

—O QUEEE?!!! PORQUE ESTA ME OLHANDO ASSIM? _Depois de fazer mais barulho que os carros, freou repentinamente para recobrar o fôlego!

—Ha ha, não parece que estamos juntos andando assim pela cidade em pleno dia dos namorados? _Ela manteve seu bom humor e sorriu para Eric que estava ofegante. Todas as reações que arrancava dele já eram esperadas, já que o conhecia tão bem ao ponto de manipulá-lo como queira

Eric engoliu seco, e só a respondeu depois de recuperar parte do ar.

—Não fique fantasiando coisas desnecessárias... arf arf... Você é apenas uma amiga de infância na qual tenho alguns traumas... _Eric respirava fundo com a mão no peito

—Traumas? Há há há diz isso só por eu dar uns tapinhas em vocês quando criança? Ora um tapinha não dói certo? Ainda mais se tratando de uma menina! _Sabrina riu de maneira debochada

—Tapinha uma ova! Eram socos muito bem dados, ainda carrego as marcas no corpo. Quando disse que você parecia um menino era por esse motivo também, você era a mais forte de nos!

—há há há... Não era minha culpa se vocês eram meninos fracotes.

Eric serrou os dentes e fechou o punho. O que quer que pense em fazer, desistiu ao perceber que estavam parados em frente a uma loja de bijuterias. Comprar o presente o mais rápido possível era a prioridade afinal.

Eric entrou correndo o olhar morto nas mercadorias. A loja era pequena, mas em todas as paredes havia bijuterias de todos os gostos penduradas como se fossem decoração, dando um toque único. Sabrina que vinha logo após ele, já examinava os itens com mais seriedade, pegando em alguns para checar o material. Logo a dona da loja, uma senhora de idade veio ate eles para atendê-los.

—Sejam bem vindos! Tem algo especifico que procuram? _Ela falou para eles simpaticamente

—Não! Qualquer coisa que uma garota e o meu bolso gostem! _Eric falou de um jeito largado com as mãos nos bolsos da bermuda. não se importava muito em que compraria.

—Ho! Por acaso é um presente para a sua namorada? _Ela falou sorrindo prendendo o olhar em Sabrina, que no momento estava de costas para eles, examinando cuidadosamente as mercadorias.

Eric ao perceber para onde a senhora direcionava o olhar se agitou, e desmentiu sacudindo as mãos de forma exagerada! A dona da loja riu dele pensando que era apenas tímido. Ela se virou e começou a procurar algo abaixo do balcão. Enquanto isso Eric se mantém no lugar com as mãos de volta aos bolsos. Distraído com as moscas voando pela loja, foi surpreendido por Sabrina que gritou vibrantemente:

—Eric! O que acha deste?!!

Virou-se para ele com um colar pendurado em seu pescoço. Uma corrente cromada com uma pedra vermelha reluzente que lembrava muito um rubi em uma armação em forma de flor. Eric ficou hipnotizado por alguns segundos, antes de sacudir a cabeça e voltar a si.

—Não sei se minha prima vai gostar... Isso parece caro! _Resmungou com simplicidade

—Hum... Quem sabe? Eu adorei! _Sabrina falou tocando suavemente a pedra em seu pescoço.

Eric novamente se perdeu observando Sabrina. O interesse dela no colar era evidente, nunca na via tinha presenciado tal brilho em seus olhos.

—Achei!!! _A dona da loja gritou trazendo Eric de volta a terra

Ele se assustou como se tivesse sido pego fazendo algo que não devia. Virou-se para a senhora que caminhou em sua direção com uma caixa extremamente pequena em mãos. Ela a abriu na frente de Eric e mostrou uma pulseira dourada. Eric observou brevemente e viu que ela não era lá grande coisa, concluindo que este objeto era barato!

Sabrina veio ate eles, após retirar o colar e colocá-lo no lugar. Ela olhou para dentro da caixa e pegou a pulseira que era ridiculamente leve, apos sacudi-la um pouco, girar nos dedos, cheirar e a colocar de volta na caixa, teve uma conclusão diferente:

—Hum... Não sei se sua prima vai gostar disso! _O que na verdade quis dizer foi que aquele presente tinha qualidade precária e que ia passar vergonha se desse de presente para alguém.

—Ninguém te perguntou! Eu vou comprar este mesmo! _Falou com firmeza em cada palavra, mesmo que ele mesmo havia pedido que Sabrina o ajudasse

Após saírem da loja, Eric andava com passos leves como se tivesse se livrado de algo pesado em suas costas. Sentia-se feliz por comprar o que precisava na primeira loja que encontrou... Sabrina espreguiçou-se após sair da loja e olhou Eric nos olhos:

—Então já fiz o que me pediu... Não tem nada pra me dizer?

—Obrigado pela ajuda! _Surpreendentemente ele agradeceu sem resistência, pegando Sabrina desprevenida... Ela esperava ter que forçar um pouco mais para ouvir isso dele, mas foi obediente desta vez como um cachorrinho bem treinado

—Hum... Que inesperado tirar isso de você tão facilmente, então já vou indo _Ela se virou para seguir seu rumo, mas Eric gritou a interceptando:

—Coco, espere!!! _Chamou mais uma vez a atenção das pessoas que passavam pela avenida movimentada.

—Hum?! _Em silencio, ela ficou parada a certa distancia

—Eu quero te agradecer adequadamente, então... O... Que ...  O QUE ACHA DE EU TE PAGAR UM LANCHE?!! _As palavras entaladas na garganta saíram depois de muita luta... Envergonhado mantinha a cabeça abaixada. Sabrina mais uma vez se surpreendeu com Eric

O lanche que Eric falou era um pastel e um copo de suco, visto que ainda pensava em economizar dinheiro, mas para Sabrina estava tudo bem, afinal aquilo a deixava feliz.

Em uma praça local eles tinham um dos bancos só pra eles. No dia dos namorados, era normal aquela cena ser algo romântico, se não estivessem sentados cada um em uma das extremidades do banco, criando certa distancia entre eles, e comerem sem ao menos olharem um na cara do outro. Após acabar seu lanche Sabrina se levanta, mais uma vez se despedindo de Eric:

—Obrigada por hoje, foi muito divertido! _Ela sorriu mais uma vez

Eric ainda sentado começou a ficar corado... Sabrina observou em silencio tentando entender o que estava acontecendo de errado com ele hoje.

Eric suspirou profundamente, e da sacola que carregava o presente de sua prima retirou outra caixa, apontou a para Sabrina estendendo sua mão em silencio, direcionando o olhar para o chão.

Sabrina ficou muda por alguns segundos, ates de perguntar:

—Para mim? _Apontou para ela mesma

—E-e a-apenas um presente d-de agradecimento, então p-pegue logo e vá e-embora! _Ele falou com muita dificuldade, gaguejando o tempo inteiro sentindo as orelhas esquentarem

Sabrina pegou a caixa com delicadeza e se sentou ao lado de Eric para abri-la. Ao tirar da caixa era ele: o colar que tinha se apaixonado. Empolgada se levantou do banco em um salto e imediatamente o colocou no pescoço. Esta ação foi tão inesperada que ate mesmo Sabrina ficou sem palavras. Pensou bastante e escolheu bem suas próximas palavras:

—Há Eric... Que amor... Obrigada _Falou empolgada com o coração cheio

—Não fique felizinha! É apenas um jeito normal de te agradecer pela ajuda. _Eric falou com as mãos tremulas, dizendo ser uma maneira simples de agradecer, mesmo que o colar tenha levado todo o seu dinheiro.

Sabrina sorriu com o rosto corado, e ao se afastar vários metros de Eric ela o chama mais uma vez:

—Eric!!!

Ele levanta a cabeça e olha para ela do outro lado da rua

—Feliz dia dos namorados!!! _Ela gritou transmitindo todos os seus sentimentos...

—Vai logo pra casa!!! _Eric resmungou se levantando por impulso com o rosto vermelho

Depois de Sabrina sumir de sua visão, sentou novamente no banco e suspirou profundamente, resmungando bem baixinho para si mesmo, ainda envergonhado:

—Feliz dia dos namorados pra você também... Coco...

Ele sorriu