Pati zero escrita por Gannimedes


Capítulo 10
Rebeca de novo!




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Um cenário comum para um dos grandes mercados da cidade. Lojas e mais lojas que vendiam de todos os tipos de artefatos, enfileiradas que se estendiam ate onde os olhos não podiam mais ver, formando corredores largos com uma grande concentração de pessoas, indo para lá e apara cá.

Entre eles situava Rebeca que estava a procura de algo muito especifico. Ela mesma o intitulava como “raro”, “precioso” e “tesouro”, sabe... coisas do tipo. Em seu bolso carregava notas que ansiava entregar a quem possuísse tal artefato. Se espremendo entre as pessoas para passar nos corredores congestionados, o empurra empurra deixava a impressão de sempre estar indo na contra mão, e o tamanho de seus seios encurtava ainda mais o pouco espaço que sobrava.

Logo atrás dela, vinha Patrícia alternando sua atenção entre seguir sua irmã e olhar a tela de seu celular. Estando ali não por vontade própria, foi obrigada pelos pais, para cuidar de Rebeca. Eles ainda a enxergavam como uma criancinha que precisa se vigiada de perto, enquanto que Patrícia que era apenas um ano mais velha, curiosamente já era visada como adulta.

Rebeca corria os olhos rapidamente em todas as lojas procurando o que lhe interessa, gradativamente foi acelerando o passo confiante de que Patrícia a estivesse acompanhando. Por fim, em algum momento resolve olhar para trás e conferir que ela estivesse a sua escolta, o que não aconteceu. Rebeca parou de andar no mesmo instante, espichou o pescoço ficando na ponta dos pés inclinando-se de um lado para o outro, tentando ver se Patrícia estava por perto. Ela cruzou os braços, abaixou à cabeça e fechou seus olhos por um breve momento, para colocar as idéias no lugar

(O que fazer primeiro agora? Completar minha missão ou encontrar minha irmã?)

Rebeca não se preocupava de ficar perdida, pois era esperta e sabia como pegar o ônibus de volta para casa, sua preocupação era de Patrícia chegar em casa sem ela, e ser punida pelos pais.

—Já sei!_ Gritou repentinamente espantando algumas pessoas

(Quanto mais rápido completar minha missão, mais rápido poderei procurar por minha irmã!)

Pensou pela primeira vez em priorizar algo acima da irmã que tanto admira... Às pressas começou a checar freneticamente as lojas, gastando apenas o tempo necessário. Por fim chegou a uma espécie de cruzamento onde havia um pouco mais de espaço para respirar, e pode correr um pouco mais rápido, que distraída se chocou com robustez em alguém. Rebeca foi arremessada com a força da colisão, fechando seus olhos, apenas pode sentir algo a puxando pelo braço antes que sua cara encontrasse com o chão. Abrindo os olhos, notou um rosto familiar:

—Leandro? _exclamou surpresa

—Rebeca, que coincidência encontrar com você aqui!_ ele sorri ainda segurando seu braço

Rebeca energicamente se curva para Leandro, desculpando sinceramente

—Me desculpe por bater em você, eu estava distraída

—Não precisa disso... Não tem problema nenhum _ Ele passa a mão no cabelo um pouco sem jeito

—Eu estava procurando por alguma loja que vendesse um artefato raro, e acabei me perdendo da minha irmã. Então eu preciso comprar logo e ir procurá-la _Ela fala bem alto sempre se movimentando muito. Sem se dar conta acabou descrevendo toda a situação em que estava sem que ele perguntasse nada

—Patrícia também esta aqui? _Se surpreendeu com o coração acelerado

—Siiiiim _Ela sorri acenando varias vezes com a cabeça

—Bem... Se quiser eu posso ajudar a encontrá-la, basta ligar para ela e... _Ele tirava o celular do bolso enquanto falava pra ela

—Espera! _Rebeca berrou fazendo gestos com as mãos

—Antes disso, se puder me ajudar a encontrar o que procuro...

Leandro ainda com o celular em mãos pensou em silencio por um breve momento, antes de encontrar as palavras:

—Isso é mais importante que sua irmã? Ela deve estar preocupada.

—Hum... Você gosta da minha irmã?

Ela instintivamente pergunta... Tão naturalmente quanto respirar. Foi tão repentino que ele soluçou alto, e fez um verdadeiro malabarismo para não deixar cair o celular.

—N-não você entendeu tudo errado, ela apenas me ajuda nos estudos!_Respondeu sem se dar conta que gritava, sentindo suas pernas bambearem

—Achei que tinha algo entre vocês, que pena... Você é tão bonito_ Mantendo a seriedade ela se afastou um pouco dele juntando as mãos nas costas.

O silencio tomou conta da situação, eventualmente o assunto morreria em seguida, porem mesmo com o rosto corado de vergonha, Leandro viu uma boa oportunidade para saber um pouco mais sobre Patrícia, reunindo das profundezas de si um pouco mais de forças para fazer mais algumas perguntas:

—Não acho que a Patrícia goste de mim... Bem, corrigindo: eu não sei se ela gosta ou não de mim, eu tento entende-la, mas não consigo _Ele fala cabisbaixo

Rebeca percebeu o quão chateado ficou ao falar sobre Patrícia... Alem disso em sua visão qualquer homem que se aproxima de sua irmã, tem algum interesse amoroso. Não muito diferente do que patrícia pensa dela mesma.

—Acho que ela gosta de você do jeito dela, então não se preocupe.

Leandro ergueu novamente a cabeça, mudou seu olhar para algo mais surpreso, mas não teve a oportunidade de dizer nada. Foi abafado pelo bom humor de Rebeca que volta a falar desnecessariamente alto:

—Já perdemos muito tempo, vai me ajudar? _Ela colou o rosto em Leandro, que afasta um pouco se inclinando para trás

—S-sim... _Respondeu começando a perder o equilíbrio

Sem aviso Rebeca agarrou firme sua mão, entrelaçando seus dedos. Leandro se assustou engolindo as palavras. Queria perguntar o que foi isso tão repentino, mas só saiam grunhidos.

—Isso é para evitar nos perder _Se adiantou abrindo um sorriso, antes de arrastá-lo para o mar de pessoas.

A mão de Rebeca... Mesmo o segurando com firmeza sentia que era suave, delicado, lisa a palma de sua mão era...

—Você olha para a esquerda e eu para a direita_ Gritou Rebeca para que ele pudesse ouvir

Foi o que fez, enquanto se espremiam entre as pessoas, mesmo sem fazer idéia do que estava procurando. Fixando os olhos nas lojas que passavam por ele rapidamente, sua boca se abre para perguntar, contudo antes das palavras, sentiu um poderoso puxão em sua mão. Ele guardou a língua dentro da boca e se virou para ela, que apontava para uma loja. Lendo o letreiro percebia-se que se tratava de uma loja de jogos eletrônicos.

Eles foram ate o balcão, onde havia muitos jogos a mostra, para os clientes se sentirem a vontade e olhar. Rebeca folheava os jogos e Leandro bem do seu lado fazia o mesmo, ainda sem saber o que procura.

—Então... Seu tesouro é um jogo certo? Qual o nome?

—Herói zero_ Respondeu sem perder o foco

Leandro por ter certo conhecimento em jogos, já sabia do que se tratava. Pelo visto Rebeca é uma garota que gosta de colecionar vídeo-games antigos. O jogo que procura se trata de uma edição limitada e muito antiga, fazendo dele valiosamente raro. Através de pesquisas e mais pesquisas ela concluiu que o ultimo exemplar devia estar em sua cidade, sabendo disso já tinha visitado todos os grandes mercados. Aquele seria o ultimo e se não o encontrasse ali, já teria chegado às mãos de um colecionador.

O ouvido do gordo dono da loja cresceu quando escutou aquele nome. Ele começou a assobiar chamando a atenção deles. No fundo sabia que tal fita era valiosa, só não tinha total certeza do quanto.

—Que pena garotinha! Esse jogo que você falou acabou de sair.

—Você tinha?! Quem comprou? Pra onde ele foi?_ Berrou surpresa prensando com força suas mãos contra o balcão.

—Hum... Eu não me lembro bem... _O gordo balconista coçava a cabeça se fazendo de bobo

Rebeca sem pensar muito no assunto enfiou a mão no bolso e retirou uma nota para ficar abanando na frente dele.

—Acho que isso pode refrescar sua memória _Ela falou impaciente

O balconista deu um “bote” e tirou a nota das mãos dela com a boca, em seguida limpou em sua camisa soada, e a examinou para ter certeza de que era verdadeira.

—Não sei se vai querer se encontrar com ele. Era um cara estranho fantasiado de morte, mesmo não estando no carnaval nem próximo de algum festival de animes, sei lá... Acho que foi em direção a praça de alimentação:

Rebeca subitamente agarra Leandro pela mão da mesma forma que antes, e sem dar tempo para ficar envergonhado, foi arrastado para o meio da multidão novamente, desta vez Leandro se preocupando apenas em se manter de pé com ela o puxando a toda velocidade. O verdadeiro mistério era imaginar de onde veio tanta força.

Chegando ate a praça de alimentação, não foi difícil encontrar o homem suspeito, claro, havia muitas pessoas andando para lá e para cá, contudo nenhuma delas se atrevia a dividir o oxigênio com ele, se afastando as pressas. Estava sentado em uma comprida cadeira, completamente à vontade sem ninguém do seu lado. Usava um grande, sobretudo preto com um capuz que ocultava seu rosto, em mãos carregava uma foice feita de plástico que tinha o dobro de sua altura.

Leandro também ficou receoso de se aproximar, mas foi arrastado por Rebeca que ainda não tinha liberado sua mão.

—Você... Acabou de comprar uma fita chamada “Herói zero” certo? _Ela falou ofegante

—Hum... Comprei?... Comprei!... Fuuuu... _O homem fantasiado falou pausadamente suspirando profundo

—Eu a compro de você!_ Rebeca fala com energia dando um passo fundo em sua direção

—Hum... Eu troco com você... Se me der outra fita que estou à procura..._Mais uma vez fala entre pausas

—Qual?!! _Ela pergunta ficando cada segundo mais impaciente

—“Ataque dos corvos” _ Ele falou com a língua entre dentes

Rebeca em silencio deu uma rápida olhada para Leandro, que respirou fundo, estendeu sua mão, e se preparou para outra viagem turbulenta.

Diferente de “Herói zero”, a fita “ataque dos corvos” não tinha nada de especial. Sem pensar muito no porque de querer trocar nesta fita, Rebeca procurou qualquer banca de jogos, que provavelmente a encontraria.

Ela foi há primeira loja que conseguiu avistar e conseguiu comprá-la com êxito, em seguida voltando a todo vapor para a praça de alimentação, com a fita em uma mão e Leandro na outra, que a esta altura já estava sentindo enjôo.

Rebeca chegou ofegante ate o homem suspeito, que ainda estava sentado na mesma cadeira.  mostrou a fita que tinha acabado de comprar com uma das mãos, e a outra se apoiando em seus joelhos.

—Eu trouxe sua fita_ Rebeca gasta o pouco de fôlego que restava

Ele inclinou-se para frente aproximando seu rosto e deu uma boa olhada de perto, bateu palmas e se levantou vagarosamente da cadeira. De pé passava facilmente de dois metros de altura, fazendo uma sombra que cobria os dois. Ele enfiou a mão em uma de suas largas mangas e retirou a fita tão aclamada. Os olhos de Rebeca cintilavam ao encarar o que lutou tanto para conseguir. Se emocionou porem durou por pouco tempo antes das próximas palavras do homem estranho.

—Então quanto vai pagar nela? _O Homem falou

—Pagar? Você disse que ia trocar! _Rebeca já começa a enlouquecer

—Você ouviu errado... Eu disse que iria vender se você me desse a fita que pedi.

Rebeca começou a morder os lábios com força, e lagrimas de angustia começaram a escorrer por seu delicado rosto. Presenciar aquela cena de perto deixava Leandro inquieto. Desta vez foi ele que pegou em sua mão, porem de uma forma mais gentil.

—Rebeca, você chegou tão perto, não desista agora. _Leandro falou tentando animá-La

—É que... Eu não tenho mais dinheiro... E ainda tenho que guardar uma parte para a passagem do ônibus _Rebeca solta à mão de Leandro para enxugar as lagrimas, como uma criança após quebrar seu brinquedo preferido

—Vamos lá, eu te ajudo a pagar, ok? _Ele sorri

—São 850 pilas! _o homem estendendo sua comprida mão.

—O QUE??!!! Ta de sacanagem? Mesmo com todo o dinheiro que tenho não será o suficiente_ Leandro se irrita

—Já percebi que vocês não tem certo... Então com licença... _O homem enfiou a fita novamente em sua manga e se retirou do local. Rebeca muito chateada se sentou onde ele estava sentado e desabou em lagrimas. Leandro se abaixou a sua frente, pegou a fita que Rebeca tinha deixado cair, sorriu para ela:

—Não fique assim, pelo menos você ainda pode jogar ataque dos corvos quando chegar em casa_ Ele falou acariciando gentilmente sua cabeça

Rebeca ergueu sua cabeça e seus rostos se aproximaram. Ela o olhou nos olhos soluçando e percebeu o quanto estava tentando para fazê-la se sentir melhor... Como sempre ele não é muito bom e ajudar as pessoas, mas sua intenção é sempre a melhor possível.

—Leandro... Você é um amor... _falou pausadamente entre soluços

Sorrateiramente rebeca beija-o na bochecha. Leandro deu um pulo, e já estando abaixado bateu a bunda no chão ao cair sentado, corando ate as orelhas. Ele ficou um bom tempo gaguejando sem conseguir dizer uma palavra. Rebeca cobre a boca com a mão e da uma risadinha...

—Obrigada... _Ela sorri com as bochechas vermelhas

Após um tempo para se recuperar, Rebeca ligou para sua irmã e elas se reencontraram na portaria, de frente para a rua. Patrícia ficou muito surpresa por ver Leandro que parecia a perseguir, como Sabrina faz com Eric. Porem desta vez não tinha direito de ficar brava com ele, depois de Rebeca ter contado toda a historia. Já era tarde e não tinham muito tempo para conversarem. Rebeca apressadinha se aproximou dele e falou baixinho em seu ouvido antes de sair correndo na frente:

—Você pode ir lá em casa de vez em quando para jogarmos vídeo-games juntos

Leandro volta a corar, e rebeca com um sorriso travesso sai andando olhando para ele, deixando os dois. Patrícia se vira para ir, mas acaba se lembrando... Então volta ate Leandro:

—Obrigada de verdade por cuidar de Rebeca... _Ela sorri

Diferente de todos os dias, seu sorriso tinha algo de diferente... Era um sorriso sincero e resplandecente, mostrando que realmente estava grata. Leandro concluiu que para presenciar este sorriso, tudo valeu à pena. Eles se encararam em silencio por algum tempo, Patrícia parecia estar em outro mundo e Leandro tentava imaginar o que se passava em sua mente o olhando tão fixamente.

—Irmã o que foi? Vem logo, eu quero jogar ataque dos corvos! _Rebeca gritou do outro lado da avenida trazendo Patrícia de volta ao planeta terra

—Já estou indo!!! _Ela grita de volta e da mais uma olhada para Leandro, antes de se retirar agradecendo mais uma vez.

Leandro suspira profundamente, já nem se lembrava mais o que tinha ido comprar. Novamente no interior do mercado vagando, por habito coloca a mão no bolso de sua blusa e sente algo estranho. Ao retirar, ele tinha em mãos a fita que pertencia a Rebeca...

—Ataque dos corvos... _Ele leu se apavorando

—Rebeca não vai jogar Herói zero nem ataque dos corvos...


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