Harry Potter e a Senhora do Tempo escrita por Mimis


Capítulo 22
Professor versus ex-professor




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— Então você anda recebendo cartas misteriosas há vários meses?

—Sim.

— E elas não tem remetente, sua coruja não conseguiu encontrar o autor, elas estão aparecendo de forma cada vez mais estranha, aparentemente não tem sentido algum e agora você acha que elas estão relacionadas com as cartas misteriosas de Azkaban que meu pai comentou?

— Isso resume bem a história toda.

Andando lado a lado, Melissa e Lionel estavam voltando da cozinha através do longo corredor que percorram horas atrás, embora de um jeito bem diferente do jeito anterior: eles conversavam baixo, seus braços ocasionalmente se tocando, embora a garota tinha quase certeza que de propósito da parte dele. Nas últimas 2 horas, ela havia explicado a Lionel tudo o que envolvia as cartas misteriosas e suas tentativas frustradas de saber a origem delas. Mesmo Matt e Anne sabendo de toda a história, e apesar do sentimento de medo que assombrava seus pensamentos depois de ter lido a carta que o Sr. Malfoy enviara ao filho, era com Lionel que se sentia mais reconfortada agora, pois ele a ouvia de modo respeitoso e sério, sem as especulações fantasiosas do amigo ou as certezas irritantes da amiga. Essa sensação de conforto que vinha do garoto era uma das coisas que antes a confundiam, mas que agora cada vez mais faziam sentido.

Chegaram na porta que dava acesso ao corredor do castelo por onde entraram. Lionel se virou para ela de repente, tomando um susto.

— Mas e aquela memória que você disse que recebeu?

— O que é que tem?

— Você a viu?

Ela mordeu o lábio inferior, pensativa.

— Não. Tem uma penseira em casa, mas imagina a cara da minha mãe se eu mandasse uma carta pra ela falando da minha súbita vontade de ir pra casa usar a penseira dela pra ver uma memória que apareceu do nada.

— Eu também não acho a mais inteligente das ideias, mas foi você quem disse que ia contar tudo a ela.

— E vou! Mas algo me diz que preciso ver o que tem nessa memória antes.

— Certo, então veja oras!

— Claro gênio! Espera que eu despeje o conteúdo do vidrinho na privada e coloque minha cabeça nela ou você acha que devo pedir uma penseira pelo correio-coruja?

Lionel deu um sorriso sarcástico que fez ela fechar a cara.

— Embora eu considere a primeira opção, creio que não era nisso que andei pensando. Sabe, o prof.º Potter tem uma penseira na sala dele porque eu a vi quando fui cumprir uma detenção.

— Claro Malfoy! Vou lá agora pedir a penseira do Prof.º Potter emprestado...

Agora o garoto riu com gosto, e Melissa sentiu uma louca vontade de rir com ele, embora continuasse com cara de ofendida.

— Não Granger.  O Prof.º Potter estará fora o resto do fim de semana, saiu logo no começo da tarde, eu ouvi a Prof.ª Mcgonagall dizer ao Prof.º Longbotton enquanto estava te procurando hoje. Portanto, é só você ir até lá e resolver isso.

— Você quer que eu invada a sala de um professor e use a penseira dele?

— Eu não quero, você quer.

— Francamente Lionel Malfoy!

Delicadamente ele se aproximou dela, e quando estava a poucos centímetros do rosto da garota, ele desviou e cochichou em seu ouvido com uma voz rouca e sedosa:

— Você está com medo Melissa Granger.

Melissa pôde sentir os pelos do seu braço se arrepiando, não sabia se pela provocação ou se pela voz rouca do rapaz.  Ainda alterada pela aproximação dele, ela virou o rosto, encarando os olhos amendoados de Lionel que brilhavam intensamente, um sorriso malicioso brincando nos lábios dele:

— Me espere daqui a 10 minutos na frente da sala do Prof.º Potter.

Apressadamente, ela girou a maçaneta de madeira e saiu silenciosamente pela porta. Quando acabara de passar por ela, ouviu uma voz vinda de dentro:

— Ei, e quem disse que vou com você Granger?

Sorrindo, ela retrocedeu e colocou a cabeça pra dentro do corredor.

— Porque? Tá com medo Malfoy?

E saiu correndo rumo a Sala Comunal.
 

 ***********************
 

Qualquer um que olhava para aquele casarão diria que nenhuma alma viva morava ali há anos. O telhado caindo aos pedaços, as paredes sujas e descascadas, o jardim mais parecendo um matagal, com a sebe muito mais alta que o normal, tudo remetia a abandono e desolação.

Indiferente ao estado do lugar, Harry andou apressado pelo estreito caminho no jardim mal cuidado, a varinha em punho para iluminar seus passos, tomando cuidado com uma ou duas azarações de aviso que vinham das aparentes inofensivas margaridas e begônias de um canteiro de flores ao fundo do terreno, sinal de que alguém não queria que estranhos entrassem na propriedade. Após desviar-se da última azaração, chegou a varanda de madeira infestada de cupins que circundava a casa, bem de frente para a porta de entrada, e não pôde deixar de sorrir. “Quem diria que um dia viria visitá-lo...” o rapaz pensou, enquanto executava um complexo feitiço para destrancar a porta da casa em que seus pais haviam sido mortos por Voldemort.

Ao entrar, reparara que por dentro ela estava com um aspecto pior do que por fora: quase todos os móveis destruídos, e os que sobraram estavam quebrados e puídos, uma mistura de poeira e sujeira cobria todo o chão como um grosso tapete, e, como já havia visitado a casa algumas vezes, sabia que grande parte do 2º andar estava totalmente desabada, não havendo o mínimo sinal de alguém morando por ali. Por alguns instantes Harry pensou nos pais, em Voldemort, em si mesmo sobrevivendo à morte, e seu coração bateu mais forte, como sempre fazia quando revisitava essas memórias. Porém, como aprendera a “domá-las”, respirou fundo e focando no que precisava fazer, caminhou o mais silenciosamente que pôde em direção a sala de jantar no cômodo ao lado.

Ao entrar na sala de jantar, pôde observar que ela parecia mais bagunçada que a sala de visitas, não havendo nenhum móvel inteiro, exceto por duas cadeiras simples de madeira escura, uma de frente pra outra, bem no centro da sala. Sorriu tristemente ao lembrar da última vez que estivera ali, uma mistura de vários sentimentos que sentira na última ocasião. Calculou mais ou menos quantos passos teria que dar do lugar em que estava até a cadeira mais próxima, apagou a varinha e caminhou muito lentamente até lá na escuridão total, sentando-se e colocando a sua varinha cuidadosamente em cima das pernas. Então, com toda a concentração que conseguira arranjar começou a murmurar um feitiço extremamente complexo, numa língua morta que ele nem se lembrava qual, mas que sabia de cor. De repente, a escuridão da noite pareceu se intensificar mais, ele começara a sentir uma brisa morna ao seu redor, suas mãos pareceram colar nos braços da cadeira, e então Harry percebeu que, mesmo sendo apenas a segunda vez que executara aquele feitiço, tinha dado certo, pois sentira a respiração calma e profunda de alguém a sua frente.  E logo ao terminar de pronunciar o feitiço, pôde ouvir uma voz familiar.

— Sempre executando feitiços de maneira patética Potter. Mas com certeza não esperaria outra coisa do senhor, mesmo depois de tantos anos.

— Boa noite para você também Snape.

— O que devo a honra do Eleito vir me visitar? Lições extras de Poções?

Harry parou por um instante, a desagradável sensação de estar perto do ex-professor invadindo seu corpo. Mesmo ele tendo se sacrificado pela Ordem, lutando contra Voldemort no final, salvando a vida de muitos, inclusive a dele, a confissão do amor que Snape sentia por sua mãe e por fim o fato de se dispor a ajudar Hermione e Melissa num momento crucial levaram Harry a ter várias dívidas de gratidão com o antigo professor, além de constatar a total lealdade dele com a Ordem, com Dumbledore e até com ele próprio, fazendo com que Harry tenha acobertado a suposta morte de Snape  e cedendo a antiga casa dos Potters em Godric Hollows para Snape morar, se bem que “morar” não era o termo exato para alguém que não estava nem morto nem propriamente vivo. Apenas ele sabia exatamente do destino de Snape, e guardara sozinho esse segredo durante anos, não contando nem para Rony e Hermione. Mesmo assim, não gostava realmente do ex-professor, mesmo eles estando do mesmo lado Era nítido que Snape sempre o tratava como nos tempos de Hogwarts: do pior jeito possível.

— Duvido que você não saiba o porque da minha visita.

— Ela então lhe contou da minha visita? Pensei que ela não falasse com você, que te odiasse.

Harry suspirou audivelmente. Como sempre, era uma diversão Snape tentar tirá-lo do sério. Principalmente quando se tratava de Hermione.

— Ela não me odeia... Mas isso não vem ao caso. Quero saber porque você a procurou. Porque arriscar o pescoço para falar com Hermione, alguém por quem você nunca teve afeição alguma? E que diabos de aviso foi aquele Snape!

Mesmo no escuro Harry vislumbrou o sorriso desdenhoso de Snape, emoldurados por aqueles cabelos oleosos que sabia que estavam ficando acinzentados. Teve vontade de estuporá-lo, mas o encantamento o impedia de mover as mãos. Contrariado, esperou a resposta de Snape, que com certeza estava adorando torturá-lo com o silêncio.

— Bem Potter... – Ele por fim começou, a voz exalando cinismo – Como eu sei que o mínimo de instrução você possui pode concluir que quando disse a Srta. Granger lhe dizer para não quebrar o voto isso quer dizer para você não quebrar o voto.

— Escuta aqui Snape, você sabe muito bem que não te procuraria se não fosse algo realmente sério. Você esteve aqui, escondido no porão durante anos, depois de fazer esse maldito feitiço onde não posso dizer nem a minha...

— Potter! O aviso primário! – Snape o interrompeu, com uma nota de preocupação no tom de voz. Harry, exasperado, parou uns segundos se policiando, e depois continuou, com o mesmo tom raivoso de antes.

— O aviso primário foi dado hoje, algumas horas atrás. Em todo caso, tirando esse encantamento monstruoso que você colocou em mim, eu estava muito bem, até começarem essas mortes! Amigos meus foram assassinados! Estou recebendo cartas estranhíssimas! E agora você sai do seu exílio, para falar com Hermione sobre o maldito voto! Alguma coisa você deve saber! E você vai me dizer!

— Primeiro Potter: tentei alertar vocês mesmo saber que você havia recebido o aviso primário, isso prova que tenho razão. Tanto você quando a garota podem morrer, você sabia dos riscos e insistiu, agora aprenda a carregar esse fardo. Segundo: eu sei que algo está para acontecer, tenho contatos em Azkaban e em outros lugares que você nem sonha, sei das mortes, sei que alguém quer chegar até você e seus amiguinhos, mas não sei quem. Se uma guerra está pra surgir, dessa vez não tomarei partido. Só sei que você deve continuar seguindo as promessas do passado para proteger quem você ama.

— Mas, isso não faz sentido. O que o voto tem a ver com as mortes?

— O único auror formado aqui é você Potter. Além do mais, você é professor de Defesa contra as Artes das Trevas, deve naturalmente saber muito sobre Artes das Trevas.

Harry permaneceu em silêncio, fazendo uma força descomunal para descolar as mãos e alcançar a varinha.

— Se era só isso que veio fazer, pode ir embora. Não espere que eu lhe convide para um chá com biscoitos...

Ele sentiu o ar novamente ser envolto por uma brisa morna indicando que Snape estava indo embora, porém fez-se uma luz no cérebro de Harry.

— Snape! Espere! Você disse Azkaban! E se Draco souber de alguma coisa?

Mesmo sem ver nada, Harry percebeu que Snape parara no meio do encantamento. Houve alguns segundos de silêncio seguido de um fiapo de voz do ex-professor como resposta:

— Porque não vai visitar seu velho inimigo Potter? Se bem que eu creio que ele tenha se mudado, afinal Azkaban não é o melhor lugar para morar..

Ansioso Harry esperou Snape terminar o encantamento e saiu apressadamente do casarão dos Potters. Praticamente correu por entre os jardins até chegar no perímetro onde poderia aparatar.

Já era madrugada quando aparatou no átrio do Ministério da Magia, a essa hora totalmente vazio, exceto pelo vigia, que espantou-se ao vê-lo.

— Por Merlim, Harry Potter! Aconteceu alguma coisa?

— Calma, Menphis! Está tudo bem. – Ele começou, tentando acalmar o bruxo, mas pela cara dele estava tudo menos bem encontrar Harry Potter ofegante às duas da madrugada no ministério. – Preciso ir até minha antiga sala, mas fique calmo...

Ignorando as perguntas do bruxo Menphis, ele se dirigiu apressadamente até sua antiga sala no departamento dos Aurores, e rapidamente apanhou um punhado de pó de flu, colocando sua cabeça na lareira. Em seguida falou em alto e bom som: “Prisão de Azkaban”

Sentiu sua cabeça rodar em meio a fuligem esverdeada até conseguir distinguir uma pequenina sala com apenas uma mesa de madeira velha e grades na janela. Porém estava vazia.

— Hupét! Stoneheart! – gritou, mas ninguém respondera. Tentou chamar novamente pelos bruxos do ministério que ficavam de ronda durante a noite na prisão. Apenas na terceira tentativa um bruxo miudinho e com pálpebras caídas e cabelos pretos curtos apareceu na sala, com uma expressão de terror e espanto no rosto. Ao ver Harry na lareira, tropeçou no piso irregular da sala, seu rosto ficando a centímetros do de Harry.

— V..Você já sabe? – ele disse, sua voz era fina e transparecia temor.

— Sei? Sei do que Stoneheart?

— Da fuga Sr. Potter! Draco Malfoy acabou de fugir! Simplesmente aparatou na frente de 50 presos!   


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