Harry Potter e a Senhora do Tempo escrita por Mimis


Capítulo 19
Sonhos repetidos, novas conversas




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Era um lugar muito escuro, o cheiro era insuportável: uma mistura de madeira queimada, algo embolorado e suor fétido. Não tinha forças para levantar, então fazia força pra tentar distinguir algo na escuridão. Distinguiu alguns vultos que se mexiam rapidamente e sons confusos, um misto de risadas desagradáveis e gemidos urgentes. Tateou o chão em busca de sua varinha, mas encontrou uma massa de cabelos compridos e espessos que se mexia silenciosamente. Aproximou seu e sussurrou: “Hermione?”
— Harry... – era mais que um filete rouco de voz como resposta, tentando se sobrepor ao gemidos – tô...tô bem...cadê o Rony?
— O levaram. – ele disse, no mesmo sussurro urgente. – Mas está vivo, eu sei que está...
— E onde eles estão?
— Aqui, esperando por ele. Agora, me escute! Faça o que fizer, não se levante, deixe que..que... Está na hora de eu acabar com isso Hermione.
— Harry não!
Um barulho extremamente alto pôde ser ouvido à suas costas, calando qualquer conversa ou barulho. Era o som de enormes portas sendo abertas, iluminando com uma fraca luz bruxuleante o salão principal, onde Harry e Hermione estavam. Virando-se, entrecortados pela luz de fora, podia se ver duas silhuetas distintas: uma alta, esguia, com um longo manto segurando uma figura menor, curvada e frágil, mas mesmo assim decidida.
— Gina... – Harry sussurrou apenas para si mesmo, e fazendo uma força sobre-humana colocou-se de pé.
— Harry Potter, o Menino-Que-Sobreviveu. – Uma voz baixa mas clara foi-se ouvida do vulto, que caminhava agora lentamente. – Trouxe um presente para você.
De repente Harry se sentiu inexplicavelmente quente e confortável, apesar de perceber que estava suado, o coração batendo como se tivesse corrido uma maratona. Piscou várias vezes, tudo estranhamente fora de foco e então entendeu. Fora tudo um sonho.
Sentou na cama, recolocando os óculos que estavam na mesa de cabeceira e serviu-se de um pouco de água. Estava em seu quarto em Hogwarts, e novamente tivera sonhado com as horas finais da Grande Guerra. Se sentia fraco e abalado emocionalmente toda vez que sonhava com aqueles momentos, a imagem de pessoas queridas morrendo, a imagem de Gina, fundamental para tudo aquilo. Ela havia sido tão forte, tão corajosa, mas o preço pago fora tão alto...A morte era algo irreversível, ele já sabia. Fora assim com os pais, com Sirius, com Dumbledore, com Dobby, com ela.
Ao colocar o copo novamente na mesa de cabeceira, ele apanhou um pergaminho púrpura que recebera algumas semanas atrás, logo na primeira noite depois que voltara a Hogwarts. Releu novamente a carta, apesar de já ter lido-a inúmeras vezes: “Harry Potter, O que você faria se pudesse salvar uma vida importante em troca de outra vida? O seu tempo se aproxima. S.T.”
Desde quando lera pela primeira vez a carta, a primeira pessoa que veio em sua mente fora Gina, mesmo tendo várias pessoas importantes que havia perdido na vida – a começar pelos próprios pais. Mas ele se sentia extremamente culpado pelo sacrifício dela, e sempre que pensava naqueles momentos, imaginava como as coisas seriam diferentes se pudesse ter tido uma escolha. Lembrou-se da conversa que teve com Olho-Tonto, depois que Harry o procurou pessoalmente após as festas de finais de ano, em seu refúgio nas ilhas do norte, para falar sobre os acontecimentos e as cartas: “Sabe Potter, loucos são muito criativos, e sabem bem usar da criatividade. Isso me cheira a loucura sim, mas de alguém que sabe muito da sua vida e de quem convive com você. E isso não quer dizer que tenha convivido com você, conhecimento se adquire de muitas maneiras. Além do mais, você, a Granger e o Weasley fizeram o impossível, e há pessoas que os invejam e os culpam. Sempre levem em consideração o que as pessoas fazem quando os sentimentos são levados ao extremo. Não é hora de agir e sim de ficar atento.”
Harry olhou pela janela e viu os primeiros raios de sol surgirem, o céu ainda salpicado de estrelas. Encostou-se no travesseiro, e sorriu ao lembrar que era sábado, pensando nostálgico “O céu vai amanhecer sem nuvens, ótimas condições para o Quadribol...”

***********

— Céu limpo, ótimas condições para o Quadribol time! Creever, Brown e Thomas! Quero meus artilheiros fazendo aquelas jogadas que ensaiamos! Dhinker e Lers! Balaços intensos nos primeiros minutos, a ordem é confundi-los e assustá-los, 2 artilheiros são novos, e...Granger! Cuidado com o Culler, o cara é desonesto, mesmo sendo um Lufa-Lufa!
— Ok Sr. Weasley! 
— Vamos lá time! Somos os melhores, a taça é nossa esse ano, podem apostar!!!!
Sorridentes e motivados, o time da Grifinória saiu dos vestiários sob os costumeiros aplausos e vaias das outras casas. Se ganhassem da Lufa-Lufa, estariam na final, contra Sonserina. Nada era mais motivador para Melissa que ganhar dos sonserinos, o gostinho de ganhar da principal casa rival de Grifinória, e que sempre resultava em presentinhos de sua mãe e de seu tio Rony para todo o time, pois parecia que ganhar da Sonserina era tão ou mais saboroso para eles do que para o próprio time.
Mas havia, para Melissa, o “fator Malfoy” (conforme ela batizara essa estranha aproximação entre a amiga e Lionel). Era fato que ao voltar das festas, a garota tentara (e torcera) para encontrar o garoto a sós nos corredores do castelo, mas ela simplesmente não o via mais, e nas raras vezes em que se viam Lionel parecia fugir da garota. “Com certeza arrependido de ter se aproximado de mim aquele dia na biblioteca. Ah! Mas ele me paga por isso, fazer eu ficar pensado nele!”. E a situação perfeita para se vingar do garoto seria ganhando da Sonserina na final do campeonato entre casas.
O jogo contra Lufa-Lufa foi particularmente difícil. Apesar do time da Grifinória ser superior, Culler, o apanhador, era tão rápido quanto desleal, obrigando Melissa a usar todo o seu talento e esforço para apanhar o pomo. Assim, numa virada espetacular de placar, o time da Grifinória acabou por ganhar a partida.
Mais tarde, eufórico e o mais barulhento possível, o time saiu dos vestiários, já comentando sobre a festa que os grifinórios haviam preparado para eles na sala comunal. Estavam quase nas escadarias do castelo quando viram alguém vindo ao encontro deles eles, o sorriso aberto, equilibrando várias garrafas de cerveja amanteigada no ar.
— Parabéns time!
— Obrigada Prof.º Potter !
— Imagina, foi realmente uma partida fantástica! Aqui, peguem! - Ele ofereceu a cada um do time uma garrafa. Melissa pegou a dela, curiosa – Não sei se é permitido ou não um professor dar agrados aos alunos mas contudo... Sr. Weasley, o senhor é um ótimo capitão!
— Não é mérito apenas meu professor, todos são ótimos.
— Claro! Claro! Seus artilheiros são sincronizados e seus batedores certeiros, e você tem uma apanhadora extremamente talentosa, são poucas que jogam como a senhorita, Srta. Granger. – o professor concluiu, sorrindo ainda mais para a garota, que ficou surpresa com o elogio.
— O importante é que estamos na final professor! E que venha a Sonserina!
Rindo e brindando, o time se despediu do professor e seguiu para as portas do castelo. Quando estavam entrando, Melissa, ainda pensativa com os elogios do Prof.º Potter, teve uma ideia.
— Já encontro vocês na sala comunal! – Ela sussurrou para Matt e desceu novamente as escadas correndo, indo em direção às estufas. O encontrou entre os limites da cabana de Hagrid e o caminho para o campo de quadribol.
— Prof.º Potter!
Ele se virou, surpreso. Melissa, ainda com a garrafa de cerveja amanteigada nas mãos, parou e colocou as mãos nos joelhos para tomar fôlego. Ao olhar novamente para o professor, ela percebeu que ele a olhava temeroso, quase que preocupado.
— Aconteceu alguma coisa Srta. Granger?
— Não, não professor...Eu só queria lhe perguntar...Perguntar algumas coisas.
Ele definitivamente a olhou como se estivesse vendo um hipogrifo dançar balé.
— Pode perguntar. Seria alguma dúvida sobre alguma matéria ou...
— Não, é sobre...Bem, quadribol.
A feição do professor se desanuviou, e ele se encostou displicente numa árvore, conjurando uma garrafa de cerveja amanteigada pra ele.
— Ora, quadribol...Bom, eu jogava quando era um estudante e era, digamos...particularmente bom como apanhador.
— Bom? Ora professor, o senhor tem troféus com o seu nome! Fez história! Digo...Como apanhador...Não só como apanhador mas...
Ele sorriu ao ver o desconcerto da garota. Parecia nervoso, Melissa pensou. Ela mesma estava nervosa, pois a mãe sempre pintava o professor como um homem extremamente misterioso e até perigoso. Mas ela começara a perceber que a mãe poderia estar enganada.
— Mas...creio que a senhorita não veio até aqui apenas para me elogiar como um bom apanhador de time de colégio, não?
— É...acertou professor. Bom...O senhor estudou aqui em Hogwarts anos atrás, e conhece o Sr. Weasley, pai do Matt e da Anne do 3º ano e... – Ela respirou fundo, e ele percebeu que era um assunto mais sério – o senhor conheceu minha mãe, Hermione Granger, não conheceu?
A garota viu que o professor tomou o último gole de cerveja amanteigada e a encarou, seus olhos verdes faiscando por trás dos óculos de aro redondo. Nunca tinha o encarado daquela forma, e ela sentiu como se tivesse uma força que a impedia de desviar o olhar.
— Bom...Conheci sim. Estudamos juntos. Era uma aluna brilhante. Inteligente de um jeito que eu nunca pude imaginar. Era verdadeira, leal, amiga...
— Amiga?
— Sim... – Ele continuou, agora com um tom de voz mais decidido. – Eu, sua mãe e Ronald Wealsey fomos companheiros na Grifinória e éramos amigos sim. Sua mãe já nos tirou de muitas enrascadas, ajudou-nos nos deveres. – Melissa levantou as sobrancelhas, surpresa – e me ajudou muito durante a Grande Guerra.
— Nossa...Não sabia que vocês foram amigos.
— Fomos sim. Tanto que até hoje eu e o Sr. Weasley nos damos muito bem, sou um pouco mais íntimo de Matt e de Anne mas...antes que você me pergunte, eu e sua mãe nos desentendemos e preferimos educadamente nos afastar. Quando crescemos a vida nos mostra diversos caminhos, e cada um seguiu o seu.
Ele a olhou bondosamente e ela se sentiu estupidamente burra. Como poderia ter imaginado que ele contaria algo sobre sua intimidade?! Estava ali, diante de um professor fazendo perguntas como se fosse uma fã idiota ou uma intragável fofoqueira. Mesmo assim haviam muitas perguntas ainda a serem feitas e já que havia começado...
— Mas...Professor...Eu..é...fiquei sabendo que minha mãe e o Sr. Weasley eram...bem...íntimos de outro jeito...
O Prof.º Potter deu uma gostosa gargalhada, o que a fez se sentir ainda mais estúpida.
— Se eles dois tiveram um relacionamento? Bom, aquela época não era a mais tranquila para se namorar mas, sim, eles namoraram, um romance de juventude, eram bem próximos e talvez confundiram as coisas. Mas então a guerra terminou, eles perceberam que eram diferentes demais e então Rony conheceu uma trouxa adorável chamada Vivian e sua mãe...
Ele tropeçou nas últimas palavras. Estava com a cara novamente séria, mas ao perceber a expressão de intensa curiosidade na face da garota continuou, inseguro:
— Sua mãe conheceu um trouxa também...E se apaixonou...E eles tiveram você...
— Mas então você conheceu meu pai?
— Bom, nessa época nós já tínhamos nos separado. Digo...Deixamos de ser amigos, e então só fiquei sabendo da história por alto...
— Ah sim, claro. Me desculpe pelas perguntas professor, eu não devia ter feito isso. Minha mãe me mataria se soubesse...
— Imagina Srta. Granger... Mais alguma pergunta?
Ela parou por um instante e se pegou pensando nas cartas que andava recebendo. Mas chegou à conclusão que aquilo não deveria ser dito para algum adulto, quanto mais um professor. Mesmo assim ela viu que o rapaz a olhava atentamente, como se esperando algo.
— Mais nada professor. Obrigada pelas respostas e...desculpa mais uma vez. Preciso ir, sabe como é, comemoração na sala comunal...
Rapidamente e sem olhar pra trás ela subiu as escadas em direção as portas do castelo, meio arrependida, mas um pouco satisfeita com as respostas, principalmente com relação à mãe e à seu tio Rony, afinal pelo tom de voz do Prof.º Potter aquele assunto fora algo que acabou no passado. Mas, se ele e seu tio eram e continuam tão amigos, porque ele e sua mãe terminaram a amizade?
Estava tão absorta em seus pensamentos que, ao subir o primeiro lance de escadas e virar à direita em direção à sala comunal da Grifinória deu de cara com Lionel Malfoy.
— Granger! Precisamos conversar. – Ele disse, segurando sua mão, decidido – E tem que ser agora! 


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