Toská -Angústia escrita por Tia Lina


Capítulo 6
Foi um pedaço que se perdeu


Notas iniciais do capítulo

BoA leitura ^^



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Steve uniu ainda mais as sobrancelhas, quase transformando tudo numa coisa só enquanto processava a informação. Quando finalmente se deu conta do peso daquela sentença, ele arregalou os olhos.

— Seus pais...

— Há um ano. Estávamos fazendo uma viagem idiota. – Riu soprado, daquele jeito sem humor e meio dolorido. – Por algum motivo, mamãe achou uma excelente ideia visitar uma cidade próxima. Havia nevado à noite toda e as condições climáticas estavam insuportáveis, mas meu pai andava tão ocupado com o trabalho que não conseguiu negar o pedido dela. Nos enfiamos no carro e partimos. – Suspirou novamente. – Nós nunca chegamos.

— Eu sinto muito.

— Eu sei. – Sorriu um pouco, aproximando-se da cama. – Agradeço. Em nome deles também. – Sentou-se ao pé da mesma. – Meu pai morreu instantaneamente. Ele percebeu que o caminhão atingiria a minha mãe e virou o carro para tentar salvá-la. Não deu muito certo. – Fez uma careta. – Ela tentou resistir, mas havia muito sangue. Depois disso, eu só lembro de ter acordado no hospital uma semana depois do ocorrido.

— Cara, você ficou lá por um ano vivendo sozinho? O que aconteceu?

— Arrumei um emprego de meio período. – Deu de ombros. – Estudava muito e trabalhava arduamente, foi assim que consegui me virar por um ano. Isso e a indenização da empresa do caminhão que causou o acidente.

— Eu realmente sinto muito, Bucky. – E ele sentia mesmo. Sentia tanto que o coração estava apertado e ele só queria poder protege-lo de alguma maneira.

— Você quer saber o motivo do moletom e das luvas, certo?

— Eu não estava pensando exatamente nisso agora.

— Estava ontem. Eu aprendi a ler as pessoas, Stevie. – Bucky riu soprado.

Levantou-se e tirou uma das luvas, respirando profundamente antes de tirar a outra. Steve viu a mão esquerda do amigo, parecia algum tipo de metal, ele uniu as sobrancelhas sem entender. Então Bucky se despiu de seu moletom, exibindo a camisa de mangas cortadas branca que usava por baixo, junto ao braço de metal. Steve também notou que ele estava mesmo mais forte, talvez resultado do emprego de meio período. Por alguns minutos eles ficaram calados.

— Perdi o braço esquerdo na colisão.

— E te colocaram um braço de metal no lugar?

— Esse é o jeito da Rússia. – Riu soprado, e nenhuma de suas risadas tinha som de comédia mais. – É uma tecnologia meio esquisita, mas consigo movimentá-lo como se fosse parte de mim desde o nascimento. Eu não sei como isso funciona, mas funciona.

— E tá escondendo isso por que tá com vergonha?

— Eu pareço um maldito cyborg, Steve. – Revirou os olhos.

— Ah, até que é bonitinho. – O loiro zombou.

— Vai se foder, Steve Rogers. – Bucky riu, e a graça iluminou seu riso outra vez.

— Olha esse maldito palavreado, seu escroto. – Steve atirou seu travesseiro nele. Bucky riu soprado, segurando o mesmo com seu braço de metal. – Não dói movimentá-lo?

— No começo. – Deu de ombros. – Essa merda é pesada, mas com o tempo acabei me acostumando.

— Eu sinto muito. – Steve suspirou derrotado.

— Sabe, você não é exatamente culpado pelo acidente. – Bucky zombou.

— Por não ter sido útil quando você mais precisava, seu babaca. Eu tô falando sério, cara.

— Ei, cara, relaxa. – Bucky se levantou e se acomodou ao lado do amigo, encostando-se na cabeceira da cama, junto a ele. – Não é como se você não tivesse tentado me ligar esse tempo todo. – Fez uma careta involuntária.

— Por que deixou de me atender?

— Não sei. – Deu de ombros novamente. – Pensei que perceberia algo diferente em minha voz e eu tava meio que de coração partido, todo destruído por dentro. Eu não queria falar sobre o acidente com ninguém.

— E seus amigos na Rússia?

— Alguns colegas de turma e de trabalho, ninguém com quem eu verdadeiramente tenha criado algum tipo de vínculo. Depois da morte deles, eu me afastei de todo mundo, ficava isolado. Eu só precisava me acostumar com a minha nova vida e minhas responsabilidades.

— Você deveria ter me ligado, seu desalmado desgraçado. – Socou de leve o braço do amigo.

— E pra quê? Pra você se preocupar e não poder fazer mais nada além de se lamentar por não estar lá por mim? Você, por acaso, iria até a Rússia cuidar de mim? – Arqueou uma sobrancelha.

— Não, mas te mandaria vir pra cá, pra casa. Você sempre será bem vindo aqui.

— Sei disso, por isso voltei. – Bucky sorriu fraco. – Mas prefiro voltar pra minha própria casa mesmo, sabe, ela já é minha e eu terei que pagar as contas de qualquer forma. – Steve riu soprado, sem humor. – É, eu sei. A vida é um saco. – Bucky suspirou.

— Sou seu melhor amigo e o seu vizinho, minhas portas e janelas estarão sempre abertas para você.

— Obrigado, Stevie, eu realmente precisarei de você. – Havia dor na voz do moreno, uma dor que só pareceu aumentar quando ele disse. – Você é a única família que eu tenho agora, Rogers.

Steve sentiu o peso daquelas palavras e seu coração se partiu um pouco com aquilo. A família Barnes não era grande, Bucky perdeu os avós aos nove anos, ele ainda se lembrava daquela época. Por alguns dias, o amigo dormira em sua casa, até seus pais terem finalizado toda a burocracia do funeral e transporte dos corpos. Os pais de Bucky não eram de Nova York. E depois da perda, restaram apenas Bucky, seu pai e sua mãe. Era uma família relativamente pequena, mas eram muito unidos. Steve suspirou. Ele não conseguia sequer imaginar o tamanho da dor do amigo.

Ao seu lado, Bucky tentava decifrá-lo. Por algum motivo o loiro ficara calado, e ele aceitaria qualquer coisa, menos piedade. Principalmente vindo de alguém tão importante para si. Quando o ouviu suspirar, entendeu que aquilo não tinha nada a ver com pena. Bucky riu soprado, empurrando levemente o amigo com o ombro. Steve o encarou, trocando um singelo sorriso com o moreno.

— Desculpe, cara, eu me perdi em pensamentos.

— Vou te dar um olho roxo se estiver com pena de mim, Rogers. – Ele arqueou uma sobrancelha, dizendo em tom brincalhão.

— Não é isso. – Steve suspirou novamente. – Eu só tô tentando aceitar essa nova realidade. Desculpa, mas eu não consigo entender a extensão da sua dor. Eu queria muito poder ser útil, mas não tenho ideia do que fazer.

— Você só precisa estar aqui, Steve. Eu só preciso que você seja quem sempre foi, o meu melhor amigo. – Bucky sorriu levemente. – Não existe algo realmente grandioso que se possa fazer agora. A não ser que saiba como trazer pessoas do mundo dos mortos, nesse caso, eu vou ter que te pedir um favor. – Zombou.

— Como você consegue fazer piada disso? – Steve riu.

— Depois de um ano inteiro sozinho dentro de uma casa grande demais para uma pessoa só, a gente começa a assimilar as coisas e percebe que a vida não para só porque um pedaço da gente se perdeu. – Suspirou. – De que adianta ficar me lamentando toda vez que me lembrar? Sorrindo ou chorando, meus pais não vão voltar, Steve.

— Sinto falta deles. – O loiro suspirou também.

— Eu sei. – Bucky jogou seu peso em Steve, recostando-se nele, em busca de algum tipo de conforto ou mesmo força. – Eu também sinto. O tempo todo.


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Notas finais do capítulo

E olha o braço de metal aí, minha gente! ^^ É, eu sei, tá meio pra baixo demais Ç_Ç Mas a coisa vai melhorar, prometo ^^ Tá... ela vai melhorar um pouquinho só :S Também não posso prometer tanta coisa assim, neah? huahuahauhau

Obrigada pelo tempinho que se dedicou a esta história hoje e até o próximo ♥ Hasta e XoXo ;*

P.S.: Estou pensando em uma playlist pra essa história... O que acham dessa ideia?



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