Toská -Angústia escrita por Tia Lina


Capítulo 14
Desencontros


Notas iniciais do capítulo

BoA leitura ^^



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Bucky estava de mau humor.

Não era algo muito difícil de acontecer, mas aquela era a primeira vez desde que regressara que ele ficava daquele jeito tão insuportável. Ao menos, aquela era a primeira vez que ele se permitia extravasar em público e por tanto tempo e Natasha atribuía isso ao fato de que Steve não dera à caras na escola naquela manhã. Enquanto o grupo de amigos estava espalhado na cafeteria, a ruiva ignorou a atmosfera sombria envolta do Barnes - que dizia “afaste-se” - e se aproximou, sentando-se naquela mesma árvore que era local de encontro de todos desde que a amizade com Steve havia começado.

— Não quero conversa, Romanoff. – Foi a primeira coisa que saiu da boca do Barnes antes mesmo da ruiva se acomodar.

— Até onde a Constituição americana me garanta, tenho liberdade para ir e vir e permanecer em qualquer lugar em solo Norte americano. – Disse calmamente, recostando-se no troco e fechando os olhos. – Eu escolhi esta árvore, se estiver incomodado, pode procurar outro lugar.

— Corta esse papinho, você tem algo pra dizer.

— E por que acha isso?

— Porque você sempre tem algo a dizer. Você é a rainha dos dizeres. – Bufou impaciente, arrancando um tufo de grama do chão e jogando longe.

— Eu só queria me certificar de que não mataria ninguém hoje com essa sua aura escura. – Soltou um gracejo, mas não ouviu nenhuma reclamação de volta. Natasha uniu as sobrancelhas e abriu os olhos, observando a figura calada de Bucky ao seu lado. – O que aconteceu, James?

— Não me chame assim. – Disse num fio sombrio de voz.

— O que aconteceu? É algo com Steve?

— Nem tudo é sobre Steve. – Suspirou, também se recostando na árvore.

— Tudo o que vem dessa expressão irritadiça na sua cara é sobre Steve. – Ela revirou os olhos, voltando a fechar os olhos. – É porque ele não veio hoje? Por que Rogers faltou?

— Ao que tudo indica, Banner e aquele idiota do Stark arrastaram Steve pra alguma coisa estúpida envolvendo algum dos experimentos de merda desses dois babacas metidos a cientistas.

— E seu mau humor nada tem a ver com Steve, certo? – Ironizou, olhando-o com uma das sobrancelhas arqueadas e seu típico sorriso de canto.

— Natasha, você poderia economizar minha saliva e só ir se foder de vez, não acha? – Barnes abusou do sarcasmo no seu tom de voz.

— Feira de ciências. – Disse simplesmente, ignorando o comentário ácido do outro. Bucky uniu as sobrancelhas.

— O que?

— É isso o que Stark, Banner e Rogers estão fazendo juntos. – Suspirou. – A feira de ciências do centro industrial de Manhattan, Banner e Stark participam todo ano, eles só resolveram incluir Steve dessa vez.

— E por quê?

— Eu não sei. – Deu de ombros. – Acho que Stark gosta de Steve, ou algo do tipo.

— Como assim? – Bucky uniu as sobrancelhas.

— Calma aí, ele não quer te roubar nada, ele só acha que Steve é um cara legal. Quer ser amigo dele, eu acho.

— Stark não parece alguém muito bom para se manter por perto.

— Você diz isso só porque tá com ciúmes. – Sorriu de canto novamente.

— Grande novidade. – Revirou os olhos.

— Mudando de assunto... E sobre as aulas de karatê? Agora aceitou?

— Não é como se eu não quisesse que ele aprendesse a se defender. – Suspirou, arrancando mais um tufo de grama, mas, desta vez, começou a parti-las aos poucos. – Eu acredito e confio no potencial de Stevie, apoio que ele aprenda a se defender e tudo mais... – suspirou novamente – Eu só não sei se ele tem maturidade suficiente para usar isso somente para se defender e não para se meter em mais encrenca. Estamos falando de Steve, afinal das contas.

— Encrenca é o segundo nome do Rogers. – Riu soprado. – Não importa como seja, ele sempre vai arrumar algumas brigas por aí.

— Ele é um delinquente idiota. – Barnes também riu soprado. – E você é uma enxerida de merda. – Riu soprado novamente.

— Eu estava somente relaxando encostada numa árvore, você que é o fofoqueiro. – Natasha sorriu de leve, fechando os olhos outra vez.

Não era como se fossem melhores amigos, mas aqueles dois aprenderam a conviver daquela maneira, como se fossem cão e gato. No geral, não passavam muito tempo discutindo, Bucky atribuía isso ao fato de Natasha ser exatamente o tipo de pessoa que se metia no assunto principalmente quando não era chamada só porque a pauta era sobre um de seus amigos. Como ele próprio não era exatamente o tipo fácil de ser humano para se lidar, não conseguia culpar a russa. Instinto era instinto afinal.

Naquela tarde ele não acompanharia Steve na aula, como vinha acontecendo há quase dois meses. No começo, Bucky foi deixando de comparecer por pensar que aquilo atrapalharia o crescimento pessoal do loiro, então ele finalmente conseguiu um emprego de meio período em uma das lojas do Starbucks da região do Brooklyn. E enquanto as horas passavam vagarosamente, Bucky brincava de vestir um mínimo sorriso gentil para atender cada um dos clientes.

Ele sabia que aquele sorriso não era necessário ou mesmo real, mas decidiu que seria melhor vesti-lo mais vezes a partir de agora, principalmente porque o verão estava próximo e logo ele não aguentaria mais o moletom e as luvas. Claro que um sorriso não desviaria a atenção que seu braço de metal ganharia, mas Bucky era meio esperançoso em alguns momentos e preferia acreditar naquilo para se confortar.

Seu turno estava quase acabando quando ouviu a porta se abrir novamente. Seu sorriso forçado ganhou uma nova proporção quando aqueles olhos de safira encontraram os seus. Ele não conseguia se acostumar com a vida que aquele olhar e aquele sorriso carregavam, não conseguia se acostumar com o quanto seu dia parecia um pouco mais leve quando ele aparecia ou com o bem que lhe fazia tê-lo por perto. Por mais idiota que aquilo soasse, não deixava se ser verdade. Bucky repreendeu seu instinto natural de revirar os olhos ao concluir que se parecia cada vez mais com um adolescente desesperadamente apaixonado. Logo ele, que jurara não soar daquela maneira tão estúpida.

Steve carregava sua mochila enquanto caminhava na direção do amigo com um sorriso que mal cabia nos lábios. A aula fora mais proveitosa do que imaginava e logo estaria preparado para seu primeiro exame de mudança de faixa, mas não era somente aquilo que pintara aquele sorriso idiota em seu rosto. Recostou-se ao balcão, apoiando as mãos no mesmo antes de começar a falar.

— Tenho uma novidade. – O sorriso pareceu aumentar.

— Por favor, não me diz que arranjou outra briga. – Bucky conteve um pouco o sorriso, cruzando os braços.

— Quase. – Riu soprado. – Sensei Kazunori me disse que posso fazer o próximo exame de faixa que tiver, isso não é legal?

— Claro que é, Stevie! – Bucky esticou-se, conseguindo alcançar os cabelos do amigo, bagunçando-os. – Parabéns, seu delinquente, enfim uma boa notícia que envolva brigas vindo de você. – O moreno continuava a bagunçar seus cabelos.

— Tem outra coisa também. – Bucky parou o movimentar, mas manteve a mão sobre a cabeça do loiro, mantendo também o sorriso nos lábios.

— E o que é?

— Vou sair com Peggy no sábado.

O sorriso do outro esmoreceu conforme ele afastava a mão do outro. Bucky pegou um dos panos que tinha no bolso do avental e começou a passa-lo displicentemente sobre o balcão enquanto falava.

— Eu não sabia que estavam envolvidos, você esqueceu de me contar, Stevie, que falta de tato não dizer as coisas ao seu melhor amigo. – Encarou-o com uma falsa expressão de tristeza, sorrindo um pouco em seguida. – Desde quando?

— Eu não sei. – Deu de ombros. – Ela é uma garota legal e sempre me ajuda quando eu preciso. Sei lá, ela só é legal demais e eu meio que acho que sinto algo por ela.

— Desde quando? – Perguntou meio indiferente.

— Talvez desde que nos falamos pela primeira vez, não sei ao certo. Ela tem um dos sorrisos mais bonitos que já vi e luta muito bem, foi algo que meio que surgiu como admiração.

— Olha lá, não está confundindo as coisas, não é? – Sorriu de leve, guardando o pano e se recostando no balcão de mãos cruzadas. – Lembra da Jennifer Aniston? Você virou tão fã dessa mulher que jurava que estava apaixonado. – Riu.

— É diferente, Buck, dessa vez é sério. – Steve não conseguia parar de sorrir.

— E foi você quem a chamou pra sair? – Bucky soava verdadeiramente interessado.

— Mais ou menos. – Coçou a nuca. – Eu disse que queria assistir ao novo filme da Mulher Maravilha e ela me disse que também queria, então eu disse “por que não vamos juntos?” e ela entendeu como um encontro. – Suspirou. – Eu não sei se isso conta como um de verdade, sabe? Eu não disse nada a ela.

— Cara, relaxa um pouco. – Bucky sorriu amistosamente. – Vai dar tudo certo. Vai acontecer do jeito como tiver que acontecer.

— Eu acho que preciso de ajuda.

— Com o quê? Roupas? Sabe... Eu não sou exatamente um fashionista, só uso moletom e jeans. – Fez uma careta involuntária. – Talvez Sam ou Natasha...

— Não, vou pedir ajuda ao Stark nesse quesito. – Garantiu o loiro, fazendo Bucky unir as sobrancelhas.

— Por que ao Stark?

— Ele entende dessas coisas. – Deu de ombros. – Eu queria sua ajuda pra outra coisa. – Coçou a nuca outra vez.

— E o que seria? – Bucky arqueou uma sobrancelha.

— Você já saiu com garotas outras vezes lá na Rússia, certo?

— Certo. – Não era exatamente uma verdade, mas Bucky não deixara de ter alguns rolos na Rússia.

— Eu queria saber o que devo fazer para que ela goste de mim. – Assumiu enquanto olhava para qualquer outro ponto que não fosse as esmeraldas do amigo.

— Ah, Stevie, isso soou tão bonitinho que eu poderia te comer inteiro em uma só mordida agora mesmo. – Bucky disse divertidamente. – Claro que te ajudo nisso, meu bombonzinho, também estou aqui pra isso.

— Valeu, Buck. – Steve voltou a encará-lo, ignorando o comentário anterior. – Te espero hoje no meu quarto. Deixarei a janela destrancada.

— Estarei lá. – Bucky piscou. – Agora preciso voltar ao trabalho, antes que meu chefe venha me importunar.

— Claro, vou te deixar em paz. – Steve se desencostou do balcão. – Até mais tarde, Buck.

— Até mais, Stevie. – Bucky acenou sorrindo.

Seu sorriso morreu assim que o loiro deixou o ambiente. Foda-se o verão, Bucky não era obrigado a fingir aquela felicidade estúpida que não sentia.


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Notas finais do capítulo

Não tentarei nem me defender, só desviarei das pedras mesmo.

Obrigada pela companhia e até breve ♥ XoXo ;*



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