Enquanto Steve verificava o relatório do trabalho, Sam organizava as etapas das reações químicas sobre a bancada que dividiam no laboratório. Para aquele projeto sobre reações, escolheram uma simples cristalização na casca de ovo, o que rendeu uma tarde toda dos jovens se dedicando a assoprar o conteúdo de ovos e terminarem o dia com uma pequena guerra de gemas e claras. Obviamente Sam não ficara muito contente, uma vez que Steve era bem mais rápido que ele.

O último estágio ainda estava no Becker, cheio da mistura azulada, aguardando o momento certo para ser revelado. Sam manuseou-o com cuidado para verificar o nível de cristalização enquanto Steve fazia uma nova anotação. No mesmo momento em que os dois estavam entretidos com suas cascas de ovos cristalizadas, Stark e Banner exibiam com muito orgulho o motor movido à água que passaram as últimas semanas construindo. É claro que aquele projeto era digno de um conceito A+, era digno, inclusive, de algum prêmio importante, contudo, Steve estava tão orgulhoso de seu próprio esforço que não se daria ao trabalho de invejar a dupla de super dotados de sua turma.

— Casca de ovos cristalizadas com Alúmen de Potássio? Grande ideia, Rogers, fiz um trabalho parecido na terceira série, meu primeiro prêmio na feira de ciências. – Stark sorria orgulhosamente.

— Legal, Stark. – Comentou entediado, ainda anotando algo em seu relatório.

— Você poderia ter aceito a minha ajuda para o projeto, sabe? Não te custaria nada, eu sou um cara legal e...

— Stark, na boa? Chega. – Steve o encarou seriamente, abaixando o tom de voz em seguida. – Tudo bem, eu entendo que, de alguma maneira, a sua consciência tá pesada por ter chamado o babaca do Dylan pra tua festa. Eu já saquei isso, beleza? Não precisa ficar se forçando a vir falar comigo só porque tá arrependido, eu não tô culpando você por nada. A casa era sua, a festa era sua, eu era tão convidado quanto ele, nós nos desentendemos, brigamos, eu levei a pior, fui parar no hospital, me recuperei e virei a página. É água debaixo da ponte, desapega, mas que saco! – Bufou.

— Esse é o seu problema, Rogers, você tá sempre achando que os demais te procuram só porque se sentem arrependidos, ou culpados, ou em dívida. Parou pra pensar que nos conhecemos desde a oitava série e nunca trocamos mais que um “bom dia” totalmente formal? Parou pra pensar que, talvez, e somente talvez, você ter ido à minha festa tenha sido motivo suficiente para me aproximar de você e tentar ter algum tipo de amizade? Você pensa demais, Rogers. – Apontou para o relatório dele. – E Alúmen de Potássio está grafado errado em todas as dezessete vezes, quem redigiu esse texto, pelo amor de Deus?

Steve não o respondeu, apenas encarou Sam com uma sobrancelha arqueada. Stark também olhou para o garoto, soltando uma negação zombeteira antes de finalmente regressar à sua própria bancada. O loiro tomou sua cadeira e buscou o nome correto no Google o mais rápido que pôde, tentando também ser rápido ao corrigir o relatório antes que o sinal soasse. Inquieto ao seu lado, Sam se aproximou do loiro e sussurrou.

— Stark quer ser eu amigo, aproveite porque não é todo dia que isso acontece.

— Eu já tenho amigos suficientes, Sam, não preciso de mais um.

— Cara, para de ser mesquinho, aceita a amizade do cara.

— O que ele tá me oferecendo não é amizade, é uma oportunidade pra limpar a consciência pesada dele. – Suspirou, finalizando as correções e finalmente encarando o amigo. – Ele poderia ter dado um passo para conquistar minha amizade em qualquer momento desses quatro anos, chegar até mim justamente depois que me envolvi em uma briga na casa dele me diz muito sobre o tipo de pessoa que ele é. Muito obrigado, mas eu passo.

— Alguém já te disse o quão mesquinho e babaca você é hoje? – Ele revirou os olhos, voltando à sua posição quando o sinal finalmente soou.

Como previsto, a droga do motor de Banner e Stark ganhara não somente a maior parcela da atenção do professor, mas também a maior nota. As pobres cascas cristalizadas dos dois receberam um B-, o que não era de todo ruim, contudo, não era exatamente o que o Rogers tinha em mente quando se dedicou à pesquisa. Depois de todos os projetos terem sido avaliados, a aula tendeu para um discurso inspirador sobre como os alunos deveriam se espelhar em trabalhos como o de um motor sustentável e como a Browning se sentia orgulhosa com seus alunos dotados.

Steve bocejou muito entre um elogio e outro, o que dificultou a vida de Sam, uma vez que o rapaz precisou se concentrar muito para não gargalhar do tédio do amigo. Assim que o sinal tocou, Steve foi o primeiro a se levantar com suas coisas e sair daquele ambiente, ele tinha certeza que sua cabeça explodiria se precisasse ouvir mais uma vez sobre como projetos como aquele mudavam o mundo. Ainda longe dos armários, avistou Natasha e Clint encostados num armário qualquer, ao lado do armário de Bucky, que buscava algo dentro do mesmo. Riu soprado e se apressou.

Seus armários ficavam no mesmo corredor, mas separados por algumas portas, em direções paralelas. Bucky era o 17 enquanto Steve era o 25. Ainda meio frustrado e irritado, o Rogers abriu o armário sem cuidado, atirando alguns materiais dentro do mesmo e retirando seu livro de Biologia de lá. Acenou para os amigos quando passou por eles, recebendo um sorriso de canto por parte de Bucky. Steve riu soprado quando estava afastado, ele sabia que aquele sorriso significava que o Barnes estava enfrentando um interrogatório interminável da Romanoff. Ele não seria maluco de se intrometer nos assuntos da ruiva.

Estava quase na porta da sala quando sentiu uma mão segurar-lhe pelo ombro. Sorriu educadamente ao encontrar os olhos gentis de Pepper sobre si, mas precisou segurar um suspiro quando avistou seu acompanhante.

— Deixe-me tentar uma última vez, Rogers, depois disso eu desisto de você. – Stark mantinha um dos braços posicionados no ombro da namorada.

— O que combinamos, Tony? – Pepper usou de seu tom caloroso. – Você não está negociando com um dos vendedores das suas engenhocas, estamos conversando com um colega de turma. – Pepper suspirou, voltando a sorrir polidamente para Steve. – Perdoe-me, os modos de Tony não são sempre os melhores, ele é um idiota. – Revirou os olhos. – Tony se sente culpado pelo que houve na festa e gostaria de compensá-lo sim, mas há algo mais. – Estendeu-lhe um panfleto que ele sequer notara que ela segurava. – Faz muito tempo que queremos nos aproximar, ele só estava tentando usar essa briga como uma desculpa. Perdoe-nos pelos métodos rudes dele, eu juro que Tony não é assim tão mesquinho. – Pepper parou por um momento, rindo soprado. – Tá, ele é sim bem mesquinho, mas tem algum coração, só precisamos olhar atentamente.

— E o que é isso? – Ele leu o panfleto, mas não entendeu o propósito daquilo.

— Minha última tentativa. – Stark se pronunciou. – Se não aceitar essa sugestão, eu juro que paro de tentar me desculpar pela briga.

— E o que exatamente isso significa? – Arqueou uma sobrancelha.

— Não está óbvio? – Stark também arqueou uma sobrancelha. – São aulas de karatê e defesa pessoal, pensei que seria uma boa ideia se começasse a frequentar algo do tipo, para poder se defender melhor na próxima vez que seu instinto vingativo decidir atacar novamente. Acredito que essas aulas possam fazer alguma diferença na sua vida.

— Você está sugerindo que comece a lutar?

— Não, meu bem, lutar, não. – Ele debochou. – Se defender melhor, é isso que estou sugerindo. Este instrutor treinou alguns dos seguranças de meu pai, sei que ele é bom e pode te ensinar alguns truques interessantes. É pegar ou largar.

— Se eu me matricular nisso aqui, você promete que para de me perseguir pela escola oferecendo ajuda?

— Prometo.

— Então está ótimo. – Sorriu educadamente. – Aceitarei a vaga e me matricularei hoje mesmo nessas aulas. Satisfeito agora, Stark?

— Estaria mais satisfeito se tivesse aceito minha ajuda para o seu projeto de Química. B-, Rogers? Você tem mais potencial que isso! – Sorriu debochado, fazendo-o rir soprado.

— Ok, Stark, deixarei anotado, na próxima vez eu te mando uma mensagem de S.O.S. – Steve se despediu, entrando em sua aula.