Não demorou muitos dias para que Pandora respondesse minha carta, o que me deixou muito mais tranquila.

Hey, Cooper

Me desculpe pelo sumiço, não sabia se seria uma boa ideia nos correspondermos, mas eu acabei esquecendo da sua paranoia. Eu não esperava ter que ficar tanto tempo aqui, mas acho que em breve poderei voltar, finalmente a queimadura começou a cicatrizar, nem acredito, achei que iria ficar com aquela coisa horrível no braço.

Meus pais quase não saem do hospital, é ótimo porque minha única companhia aqui, além deles, são uns loucos e as enfermeiras. Não vou mentir, é até divertido, mas sinto falta de todos que convivo.

Estou um pouco – na verdade muito – preocupada com os N.O.M.s, o professor Slughorn tem me mandado boa parte dos exercícios das aulas que estou perdendo, mas sinto que não são nem metade do que está sendo passado, espero voltar a tempo de me preparar para os exames.

Mas me conte sobre você. Como estão as coisas por aí? Está longe de confusão? E o tal de Remus, alguma novidade? Espero que esteja se comportando, Liv.

Estou com saudades, garota. Espero te ver em breve.

Pandora.

Reli a carta duas vezes, só então notei o quanto sentia falta da minha melhor amiga, do jeito que ela falava e de conversar cara a cara com ela. Mal sabia eu, naquele momento, que ainda teria que esperar muito para vê-la novamente.

Sim, porque ela ficou fora por mais um mês.

UM MÊS.

Pelo menos continuamos nos comunicando por cartas, mas não era nem de longe a mesma coisa. No dia que ela chegaria, eu estava prestes a ter um ataque, era um domingo ensolarado e eu estava no pátio do castelo com Remus, aguardando a loira passar pelos portões de Hogwarts.

Lupin estava sentado num muro baixo, lendo um livro de História da Magia enquanto eu andava ansiosamente de um lado para o outro.

— Vai acabar abrindo um buraco no chão... – ele comentou sem desviar-se da leitura.

— Oh! – parei e o encarei, colocando as mãos na cintura – Me desculpe se eu estou ansiosa para rever minha melhor amiga que passou dois meses num hospital!

— Andar de um lado para o outro não vai fazê-la chegar mais rápido. – ele ergueu o olhar por cima do livro – E você tem certeza que ela virá de trem?

— Sim, ela me disse. Inclusive Hagrid saiu ainda há pouco para a estação de Hogsmeade para buscá-la.

— Ok, então. – Remus voltou a atenção para o livro.

— E onde estão os outros? – questionei – Um milagre que não tenham vindo atrás de nós...

— Devem estar pensando que estamos nos agarrando por aí, não querem atrapalhar.

— É, faz sentid... AH! Ela está chegando. – gritei ao avistar a carruagem se aproximando pela ponte.

Remus saltou do muro em que estava, eu praticamente estava explodindo de ansiedade por dentro.

Hagrid desceu da carruagem e ajudou Pandora, em seguida tirou sua bagagem também. Ela agradeceu sorridente, seus cabelos estavam um pouco mais compridos e desalinhados, ela também parecia mais magra e pálida.

O Guarda Caça foi levando as malas dela de volta para o castelo quando a loira me avistou e veio correndo até mim.

— Liv, Liv, Liv! – ela me abraçou com força – Por Merlin! Que saudades!

— Nem me fale! – gargalhei sem motivo aparente – Como você está?

A afastei, a segurando pelos ombros, ela tinha olheiras e parecia bem cansada.

— Feliz, eu não estava mais aguentando aquele hospital! Saudades da comida de Hogwarts e do espaço aberto... Nossa, parecia que estava piorando lá dentro.

— Ah! – a abracei novamente – Não faça mais isso, por favor.

— Certo, tentarei ficar longe de ataques de Comensais da Morte, prometo. – ela me tranquilizou rindo – Então... Oh, olá.

— Olá! – Remus a cumprimentou com seu habitual sorriso adorável – Que bom que está bem e de volta, acho que você sabe o quanto é difícil lidar com a Olivia enquanto ela está surtando por alguma coisa.

— Com certeza. – ela assentiu freneticamente – Eu sinto muito por você ter tido que aturar isso.

— Ei! Eu ainda estou aqui. – protestei – Vocês são péssimos!

— Só porque estamos sendo sinceros? – ele ergueu uma sobrancelha.

— Nada a ver! – empurrei seu ombro e me virei para Pandora – E quanto a senhorita, acho bom parar de me xingar ou vai ter que pedir ajuda aos seus coleguinhas de casa para estudar tudo que perdeu.

— Mil perdões, pessoa mais preciosa da minha vida! – ela agarrou meu braço, fingindo arrependimento – Tenha piedade de mim!

— Idiota. – revirei os olhos rindo.

Nós três ficamos conversando por um bom tempo, precisei colocar Pandora a par de tudo que tinha acontecido nos últimos dois meses na escola. Para minha alegria, ela e Remus se deram muito bem, se ele ainda tinha alguma desconfiança em relação à ela, parecia ter ido embora naquele momento.

— Então... – Pandora deu um sorriso maligno, olhando de Remus para mim – Vocês estão... Namorando?

— Er... – nós nos olhamos, sem saber ao certo o que responder – Não sei, acho que ainda não...

— Não queremos rotular. – Remus olhou para ela e deu de ombros.

— Ótimo, gosto assim. – ela sorriu orgulhosa – Apenas diversão, certo?

— Pode-se dizer que sim. – concordei.

— Bom, eu acho que temos que nos separar agora... – Pandora disse quando chegamos à entrada do castelo – Nos vemos na biblioteca depois?

— Sim.

— Ok, então. Até mais, Liv. E foi bom te conhecer melhor, Remus. – ela me abraçou e deu uma piscada para o Lupin.

— Igualmente. – ele assentiu e ela se foi pelo corredor oposto ao que seguimos.

—---

Os dois meses seguintes passaram mais rápidos do que eu esperava. Me ocupei tanto ajudando Pandora, nas fugas nas noites de lua cheia, nos meus próprios estudos e tentando me divertir com os garotos pelo menos uma vez por semana para não surtar, mas não adiantou tanto assim, um dia antes do início dos N.O.Ms eu parecia prestes a ter um ataque.

— O dia está tão lindo hoje... Vamos para os jardins, Liv. – Sirius puxou o livro de Poções da minha mão.

— Não! Ficou louco? – puxei o livro de volta – Não é possível que vocês não vão estudar nem mesmo um dia antes!

— Nós estudamos um pouco durante a semana, o Remus está trancado na biblioteca, nem sei onde o Peter se meteu... – ele se jogou na poltrona próxima a que eu estava – E o James está fingindo ter dificuldades em Poções para a Lily ajudá-lo.

— E ela realmente está ajudando? Achei que ela estava ignorando ele essa semana. – ri levemente.

— Não, isso foi semana passada. – ele fingiu estar pensativo e acabou rindo também – Você sabe como eles são...

— Sei...

Os ânimos na Sala Comunal estavam criando uma tensão tão grande que dava para sentir no ar, o que estava deixando Sirius ainda mais inquieto, uma vez que não havia nenhuma garota para dar atenção à ele pois todas estavam ocupadas demais pensando em seus futuros.

Naquela mesma noite nós conhecemos os examinadores durante o jantar, eles estavam bem animados conversando com o diretor, não pareciam muito aterrorizantes.

Os primeiros exames do dia seguinte foram de feitiços, durante o café da manhã todos do quinto e sétimo ano, que prestariam seus N.I.E.M.s, estavam quietos e ansiosos.

— Ei... – Remus chamou minha atenção enquanto eu repassava uma lista de feitiços mentalmente – Fica calma, vai se sair bem.

Eu apenas suspirei e assenti, não sabia exatamente o que responder.

Depois do café da manhã, ficamos aguardando no saguão até que nos chamaram, o salão principal estava parecendo uma enorme sala de provas. Estava tão nervosa que sentei na primeira cadeira que encontrei, ficando distante dos meus amigos.

Quando a professora McGonagall entregou os exames e mandou que começássemos, abri a prova subitamente e uma onda de calma passou por mim quando li as perguntas rapidamente, eu sabia a maioria delas.

Respirei fundo e comecei a responder, terminei mais rápido do que esperava e quando a professora recolheu os testes, saí da sala parecendo ter tirado um peso das costas, só esperava que as provas seguintes fossem daquele mesmo jeito.

— E então, Olivia? – James foi o primeiro a aparecer – Espero que seu nervosismo não tenha te atrapalhado, o teste foi incrivelmente fácil.

— Foi mesmo. Acho que saí bem. – assenti concordando com ele – E você?

— Foi moleza. – ele deu de ombros.

Nós aguardamos Sirius, Peter e Remus saírem para irmos almoçar, as mesas das casas já estavam em seus devidos lugares quando retornamos ao salão principal.

De tarde houve o exame prático, os alunos eram chamados em grupos por ordem alfabética e não retornavam para a sala onde estávamos, Sirius foi o primeiro a entrar de nós, estava um pouco nervoso, como qualquer pessoa normal deveria estar.

Quando fui chamada, levantei tão depressa que acabei nem respondendo ao “boa sorte” que os garotos me desejaram. Passei pelo professor Flitwick, que indicou que eu fosse até a professora Marchbanks. Ela parecia simpática, até.

— Olivia Cooper, certo? – me perguntou e eu assenti – Vamos lá, pode começar fazendo esse prato rodopiar?

Feitiços eram tranquilos para mim, consegui fazer tudo que ela me pediu, inclusive fazer o feitiço de crescimento em um filhote de gato, o deixando do tamanho de um tigre jovem.

Naquela noite, depois que todos os alunos conversaram sobre como seus testes foram e estudaram para a matéria do dia seguinte, Poções, fomos dormir.

Acabei sonhando que era perseguida por pratos rodopiantes e tigres alados, só para constar.

A prova de Poções foi fácil, mas errei detalhes bobos em algumas questões, a prática não foi muito melhor, deixei passar algumas bobagens que me descontariam bons pontos.

Herbologia foi no dia seguinte, não foi minha matéria favorita, na verdade a única pessoa que parecia verdadeiramente satisfeito era Frank Longbottom. O exame prático consistia em cuidar dos gerânios dentados, alguns alunos levaram mordidas, mas nada muito grave.

Porém, no dia do exame de Defesa Contra as Artes das Trevas as coisas saíram um pouco do controle.

Para começar, as provas estavam deixando Sirius e James ainda mais entediados, uma vez que não tinham muito o que fazer além de estudar. A lua cheia estava se aproximando, então Remus estava sentindo os efeitos da época e isso o deixava indisposto, ele estava começando a se preocupar mais com os exames.

A prova teórica foi muito tranquila, fiquei sentada no final da classe e saí primeiro ao fim dela, dando de cara com Pandora assim que passei pela porta, ela apenas me chamou para conversar no jardim, numa parte mais reservada onde não nos notariam.

— Então, como estão sendo seus exames? – perguntei ao sentarmos num banco de cimento que havia próximo à uma árvore.

— Ótimos, nem sei como te agradecer por toda ajuda, tenho certeza que estaria me dando muito mal se não fosse por você. – ela balançou a cabeça negativamente.

— Não foi nada, você sempre me ajuda com Poções e História da Magia... Estamos quites.

— Pode-se dizer que sim. – ela riu levemente – Sabe, aconteceu uma coisa estranha ontem...

— O quê? – questionei curiosa.

— Sabe uma das garotas que te atacou, a Lucy? – ela indagou e eu fiquei tensa, já fazia ideia do que ela iria me falar.

— Sim, o que ela fez? – perguntei entredentes.

— Nada, só... Eu estou com a impressão que toda vez que ela me olha, está planejando alguma coisa. Tenho certeza que estava fofocando de mim para suas amiguinhas ontem. – Pandora falou displicente – Não que eu ligue, afinal passei dois meses fora, era de se esperar que falassem...

— Pan. – a interrompi – Acho que sei porque ela está se comportando assim...

Eu tinha escolhido privar Pandora da preocupação, mas não podia esconder dela, então contei tudo que aconteceu no dia em que Lucy Selwyn descobriu sobre nossa amizade.

— Você a ameaçou!? – ela colocou as mãos na cabeça, desacreditada – Você é suicida ou o quê?

— Ela ameaçou você!

— Por Merlin, Liv! – Pandora me encarou irritada.

Mas antes que ela continuasse o sermão, um aglomerado de pessoas barulhentas no meio do jardim nos chamou atenção. Nós fomos rapidamente em direção à multidão, mas bastou que eu visse Severus Snape se erguendo de cabeça para baixo no meio de todos para entender o que se passava.

— Ah, não, James... – murmurei tentando passar por pelos outros.

Quando consegui ver o que estava acontecendo, Lily berrava para um James com sangue respingado nas vestes colocar o Snape no chão enquanto outros riam, incluindo Sirius e Peter. O Black aproveitou quando James derrubou o garoto no chão para petrifica-lo, fazendo cair de cara na grama como uma tábua.

Eu já estava me preparando para dar um grito em Sirius quando a Evans puxou sua própria varinha e ameaçou ele e James.

— Ah, Evans, não me obrigue a azarar você. – o Potter pediu seriamente.

— Então desfaça o feitiço nele! – ela revidou, seus olhos faiscavam de raiva.

James obedeceu à contra gosto, murmurando o contrafeitiço de má vontade.

— Pronto. – ele falou enquanto Snape se levantava sem jeito – Você tem de que a Evans esteja aqui, Ranhoso...

— Eu não preciso da ajuda de uma Sangue Ruim imunda como ela! – Severus ralhou, parecendo arrependido no mesmo segundo em que as palavras saíram de sua boca.

Não só Lily, como a maioria dos presentes, ficaram chocados. Eu não estava exatamente surpresa, nunca fui com a cara dele.

Então se iniciou uma nova discussão, dessa vez entre Lily e Snape, com James se intrometendo e levando mais uma resposta irada da Evans, que saiu marchando depressa para longe do Potter depois de gritar que ele lhe dava náuseas.

Acompanhei a garota com o olhar, ela sumiu no meio dos alunos, só então notei que Remus estava em pé, olhando tudo de longe. Aquilo era uma das poucas coisas que eu não gostava nele, o fato de que ele não expunha sua opinião quando discordava dos amigos.

Mais um lampejo foi visto e Snape estava novamente no ar, James o sustentava com um olhar furioso.

— Quem quer me ver tirar as cuecas do Ranhoso?

— James, não! – decidi intervir e fui até ele – Já chega, vai acabar com problemas sérios...

— Deixa ele, Cooper. – Sirius veio até mim e apontou o garoto desesperado suspenso no ar – Ele merece.

— Calado, Black! – me pus na frente do Potter – Sabe por que a Lily não quer saber de você? Porque acha que você é igualzinho a essa coisa pendurada aqui atrás! Que tal provar que pode ser melhor?

James me encarou por alguns segundos, então revirou os olhos e largou o Snape no chão. Ele não chegou a me dizer nada, mas vi que ele ponderou e pensou no que eu havia lhe dito.

Assim que ele saiu, Sirius e Peter o acompanharam e a multidão se dispersou. Pandora trocou um olhar comigo que dizia “conversamos depois” e foi junto dos outros alunos. Dei uma última olhada em Snape e ele já estava de pé, andando rapidamente de cabeça baixa em direção ao castelo.

Fui em direção à Remus, ele estava com o livro de Transfiguração na mão, nossa prova do dia seguinte, me olhava ansioso. Assim que me aproximei, ele abaixou o olhar e disse:

— Ainda bem que você foi lá pará-los.

— É, alguém tem assumir o controle. – cruzei os braços – Alguém tem que ter coragem de impedir seus amigos de fazerem bobagens.

— Eu não...

— Eu sei, Remus. Você gosta demais deles para repreendê-los por serem babacas. – ergui uma sobrancelha – E isso meio que te faz tão idiota quanto eles.

— Acho que mereço essa... – ele suspirou e me encarou.

— Merece. – soltei um suspiro e balancei a cabeça negativamente, por mais que discordasse dele, não conseguia ficar irritada por muito tempo – Anda, me dá esse livro aí, vamos revisar.

O empurrei em direção à uma árvore próxima e ele me deu seu meio sorriso adorável e o livro que carregava.