O plano estava montado. Na segunda pela manhã eu iria começar minha incursão pelos garotos mais descolados que conhecia. E que se compreenda muito bem o que significa descolado. Aqueles que tem notas bem acima da média. Que não usam drogas. Que se vestem bem e falam melhor ainda. Seria de alguém assim que Richard sentiria ciúmes. Era óbvio.

Ninguém no estilo de Frederic Wiliam Price lll levaria alguém como Richard a se sentir ameaçado. Ele poderia ser muito atraente, as garotas poderiam fazer fila para ficar com ele. Ele poderia ser um dos astros do time de hóquei, em todos os sentidos. Mas jamais seria oponente a altura para Richard.

Só que, para minha surpresa, e obvia constatação, a vida não é como eu planejo, e sempre arruma um jeito de me provar isso. Na segunda bem cedo, quando estacionei meu carro na vaga de sempre vi Jéssica recostada no próprio carro junto de Morgana. Elas logo me informaram que Savana não viria, estava com febre por causa de uma gripe inoportuna. A dupla esta com uma lista de artimanhas a serem utilizadas para levar a cabo meu plano. Não quis dizer nada, mas já estava com meus planos devidamente montados. Ao menos até receber uma mensagem de texto. Era de Richard. Assim que vi que o recado era dele parei de caminhar. Elas continuaram por mais alguns passos e no fim pararam também, quando perceberam que não as acompanhava.

— Vamos logo Lizzie! - Morgana chamou acomodando a manta no lugar. O frio estava chegando com força total.

— É ele! - falei com as mãos trêmulas. Mais de quinze dias depois de ter pedido um tempo, ele finalmente voltava a falar comigo. Com certeza fora a ficada com Brenda que abrira seus olhos para o que estava perdendo.

As garotas deram meia volta e se colocaram ao meu lado com aquele olhar de expectativa.

— O que ele diz? - Jéssica perguntou.

— Ainda não li. - confessei, estava com medo de saber o que era.

— Leia logo! - Morgana pediu quase em tom de ordem.

Encarei o celular. Sim, era uma mensagem dele. Não longa. Pedia para conversarmos no intervalo, entre a primeira e a segunda aula, perto do meu armário.

Assim que ouviram o recado minhas amigas pularam como bobas ao meu lado. Elas se sentiam tão feliz quanto eu. Li novamente o pequeno texto pensando que teria de esperar por uma aula inteira. Seria torturante! Como conseguiria aguentar?

Então Gabriel surgiu e chamou por Morgana. Ela me lançou um olhar alegre, desejou boa sorte e caminhou em direção ao namorado. Jéssica e eu seguimos pelo corredor de árvores até entrarmos pela porta central. A multidão de jovens caminhava de um lado para o outro agitada. Um grupo de animadoras passou por nós. Haveria em breve um jogo de Hóquei e elas já estavam enlouquecidas com o fato. De longe avistei Fred conversando com seus amigos. Tive vontade de mudar de direção, me sentia constrangida depois do que fiz na festa. Ele não me viu, e acabei seguindo pelo mesmo trajeto não queria confessar a Jéssica que me sentia estranha com relação a ele.

Passamos firmes, como se ele não estivesse ali, entretanto ouvi sua voz comentando sobre o próximo jogo, sobre os adversários. Eu nunca, nunca, nunca fui nem me interessei em ir a um jogo de hóquei. Mas Morgana e Savana vão de vez em quando e sempre voltam contando sobre a atuação de Frederic. Ele é um ótimo jogador, não se preocupa em se colocar em uma posição de perigo ou de se machucar, apenas cumpre muito bem a função dele. Todos devem ter ao menos uma característica boa. Pensei. A dele deve ser essa. Doar-se pelo time. Ou quem sabe ele queria uma bolsa em... bobagem, a família dele tinha dinheiro e prestigio suficiente para que o filho fizesse o que quisesse. Não precisava se preocupar com bolsas esportivas... e por que eu estava pensando nisso? Por que diabos estava pensando em Frederic? Meu foco naquele momento deveria ser Richard e nosso encontro no intervalo da primeira para a segunda hora de aula.

Uma aula torturante. Diga-se de passagem.

Quando o sinal finalmente tocou sai como uma flecha certeira em direção ao ponto de encontro. Richard ainda não estava lá, demorou mais do que eu esperava para aparecer. E quando surgiu não estava só. Trazia aquela acéfala com ele. Não pude acreditar. O que ele queria? Jogar na minha cara que estava namorando outra? Isso eu já sabia. Sabia desde a festa. Desde a maldita festa em que beijei... e lá estava ele também, Fred, como se tivéssemos marcado um encontro de casais.

Richard largou a mão da garota e se aproximou apertando a alça da mochila com a mão, lindo em seus jeans bem cortados. Camiseta cinza e jaqueta preta.

— Oi Lizzie... - falou daquele jeito que faz meu coração se derreter.

— O que você quer? - perguntei ignorando meu coração e seus anseios por Richard e de me agarrar as suas pernas pedindo, pedindo não, implorando que voltasse comigo. Em vez disso, segurei firme a raiva que brotou há poucos segundos com a imagem do meu ex segurando a mão daquela garota. Como ele tinha coragem de trazê-la para uma conversa que era só nossa?

Ele me encarou sério. Estava surpreso? Não esperava? Ótimo! Ainda faria muitas coisas surpreendentes. Ele que me esperasse. Ajustei o caderno no braço e falei:

— Estou esperando. Você demorou. Tenho aula agora.

— Lizzie, eu sei que nós não temos nos falado muito e...

Não temos nos falado porque você tem me evitado. Pensei em falar mas não falei. Essa frase me irritou ainda mais.

— O que você quer Richard? - perguntei entre dentes.

Ele suspirou como se sentisse mal ali. Ótimo, fique constrangido. Pensei, ele continuou:

— Apesar de não sermos mais namorados ainda me preocupo com você... - soltei uma gargalhada raivosa vendo a acéfala passar as mãos pelos cabelos longos, dourados e perfeitos a espera do “meu” namorado.

— Não vejo motivos para se preocupar Rich. - mentira - Estou muito bem. - outra mentira.

Ele remexeu na alça da mochila. Eu conhecia aquele gesto. Ele estava incomodado.

— Me disseram que você e Fred estavam se beijando...

O que estava ouvindo? Era isso mesmo minha gente? Ele estava querendo dizer que se preocupava com o fato de estar me envolvendo com um esportista idiota quando ele estava fazendo a mesma coisa?

Hipócrita!

— Sim, nós nos beijamos... - confirmei erguendo o queixo — E acho que isso não é da sua conta. - um novo ímpeto me fez pronunciar as palavras fatídicas: - E se era apenas isso que o perturbava? Fique tranquilo. Eu sei me cuidar. Se me der licença, Fred está me esperando.

Frederic estava parado perto do armário dele só há alguns passos de nós. Não tive dúvidas, caminhei até ele firme, como se o jogador estivesse mesmo a minha espera e quando me aproximei fui tomada por uma coragem totalmente desconhecida, segurei o braço dele. Fred, que trancava o armário naquele segundo me olhou surpreso, aproveitei o momento e colei meus lábios nos dele.

Só esperava que ele tivesse a mesma reação da noite da festa. E não me enganei.

Sem titubear. Sem hesitação, imediatamente Fred retribuiu o beijo, como se esperasse por ele. Senti a mão quente na minha cintura me ajustando ao corpo alto e atlético. Os sons de vozes sumiram. E um tambor passou a bater na minha cabeça enquanto os fartos lábios masculinos sugavam os meus.

O sinal nos separou. Ele não me largou totalmente. Ficou me olhando muito, muito, muito perto. Nossos narizes quase se encontrando.

— Você precisa me esclarecer uma coisa...

Pronunciei um han han, era a única coisa capaz de sair de meus lábios naquele momento, e ele continuou:

— Você vai continuar a fazer isso Beth...?

Sorri vendo Richard ainda no mesmo lugar. Dentro de mim algo maligno se instalou. Agi como nunca na vida.

— E você Frederic? O que pensaria se eu continuasse a beijá-lo a qualquer momento. Sem prévio aviso? Vai reclamar?

Ele sorriu aquele sorriso torto sem desviar os olhos dos meus.

— Não! Nunca reclamo de um bom beijo... e você beija bem Beth...

Ampliei meu sorriso em resposta ao comentário dele. Fred desceu os lábios pelo meu pescoço, um longo e estranho arrepio eletrizante preencheu meus sentidos. Enrosquei os dedos nos cabelos dele puxando a cabeça para cima, afastando-a de mim. Ele gemeu de leve e novamente o beijei. Desta vez rapidamente.

— Nos vemos no almoço? - perguntei sem saber de onde estava tirando a ideia de que ele prontamente aceitaria.

— Se for para novos beijos aceitarei o convite.

Confirmei:

— Será para novos beijos. - com o canto do olho vi Rich e a loira sumirem no corredor enquanto era liberada dos braços fortes.

Fred logo respondeu a minha afirmação:

— Preciso conversar algumas coisas com o time, mas vejo você na sua mesa.

Ele iria até minha mesa? Era mesmo verdade? Aquilo era inacreditável! Frederic William Pierce lll e eu. Tão ou mais improvável do que Richard e sua animadora acéfala.

Caminhei até a sala de aula com dois sentimentos totalmente opostos brigando dentro de mim. Um deles era êxtase, uma sensação de alegria, igual aquele sentimento que a gente tem quando acorda depois de um sonho bom. E uma profunda e desagradável decepção pelo comportamento do meu ex. Entretanto ainda tentava justificá-lo. Richard estava confuso, estava perdido. Mas logo isso mudaria. Tão logo ele percebesse que aquela garota era fútil demais para ele. E principalmente, que Fred e eu estávamos... estávamos nos entendendo.

Fred e eu... loucura!