MORGANA

O vestido caía como uma luva. Estava perfeito, do jeitinho que planejei. Cada milímetro do tecido deslizando pelas minha curvas. Brad ficaria louco assim que me visse ingressar pela nave. Através do espelho encarei Lízzie e Savana. Jess, como sempre, ficara presa em mais uma daquelas intermináveis reuniões.

— O que acharam?

— Você está linda! Linda mesmo! - Lízzie falou saindo da cadeira e parando ao meu lado.

— Brad vai adorar! - Savana repetiu meu pensamento em voz alta.

— Acho que vai mesmo não é?– pisquei satisfeita.

Lízzie riu antes de comentar:

— Vocês não se emendam!

Me movi para ver se o efeito seria o que eu imaginara. E era ainda melhor. Salientava o que deveria ser salientado com precisão quase milimétrica. Amei!

— Só tenho uma reclamação a fazer. - Savana falou com um muxoxo infantil, também ficando em pé e parando ao lado de Lízzie.

— Sobre os vestidos das madrinhas? - perguntei já sabendo que esse era o assunto. Elas só falava nisso.

— Claro Morgana! Você sabe que azul royal não é uma cor que me favoreça e pretende nos obrigar a usar um vestido dessa cor.

Ela caminhou e parou diante de mim com ar de coitada. De infeliz sofredora. Essa expressão era nova. Pensei ajeitando meu cabelo para trás.

— Estava pensando em arrumar um novo afair no seu casamento. Talvez um dos padrinhos. E agora vou ficar chupando o dedo. Tudo por causa da cor do vestido.

Ela continuaria a reclamar até que eu alterasse a cor do vestido. Essa era a intenção. Mas Savana já deveria saber que não farei isso.

— Lízzie e Jess não reclamaram. - tentei - Então você é voto mais que vencido.

Nós nunca perdemos a mania de votar tudo.

As mãos de Savana pararam na cintura em tom de desafio.

— Claro que elas não reclamariam. A Lizzie vai acompanhada do namorido e a Jess não pensa em nada além de trabalhar.

— Péra lá! - ouvi Lízzie salientar – Não é por isso que não estou reclamando. Simplesmente porque é o casamento da Morgana e é ela quem deve decidir.

— Falou a certinha diplomática! - Savana fez um muxoxo novamente, nem parece uma mulher adulta. - Se a senhora não lembra dona Elizabeth Gillies, refrescarei sua melhora. Se não fosse pelo meu voto, você nunca teria ficado com o gostoso do Fred, e acabaria com um daqueles nerds ridículos que a Jess estava a fim de lhe empurrar.

— Quem empurrou o quê?

Ouvi Jess ingressar no cômodo carregando o telefone na mão direita e uma pasta na esquerda.

— Nada não Jess! São as eternas reclamações de Savana.

Lízzie falou e eu aproveitei a deixa enquanto Savana estava quieta, sem oferecer alguma resposta atravessada:

— Como estou? Meu vestido esta bonito?

Ela me olhou da cabeça aos pés com aquele ar que apenas a Jess tem. E eu me perguntei porque ainda pergunto a opinião dela. Depois de todo esse tempo, já deveria saber que...

— Você está linda! - ela me calou com um comentário inusitado: – Esse vestido é você Morgana. Brad vai amar!

— Serio? - perguntei desejando dar um abraço apertado em minha amiga.

— Muito sério.– ela reforçou com ar tranquilo.

— Bem, já que o assunto vestido de noiva está resolvido. - Savana interrompeu – Agora, Jess, você não concorda comigo que a cor do vestido das madrinhas não combina com nenhuma de nós?

Definitivamente, a palavra desistir não existe no dicionário de Savana. Liz e eu suspiramos.

— Nesse aspecto você é voto vencido Savana. - Lízzie se intrometeu voltando a sentar e cruzando as pernas. - Nem adianta reclamar.

Savana encarou as duas, apertou aqueles olhos sempre sapecas antes de falar:

— Agora vai ser assim? Duas contra uma?

— Não, duas não. Três. Porque a principal interessada é a noiva. - Jess também se sentou – E neste caso a opinião da noiva vale por dois então são quatro a um.

A única coisa que ouvi de Savana foi um longo e desesperançoso suspiro.

— Agora só me resta a Liz... quando você casar promete que vai escolher uma cor melhor?

— Que cor você vai querer Savana?

Por alguns segundos nós não compreendemos o que aquela pergunta queria dizer. Afinal Liz e Fred moravam juntos há tanto tempo que já pareciam casados. Pulei do pedestal sem me preocupar com o vestido.

— Não a cre di to! Ele fez o pedido?

— Fez!

Ela ergueu a mão, e virou um anel que até aquele momento estivera escondido. Tive vontade de me auto socar, estava tão entretida com meu vestido que não prestara atenção aquele anel diferente na mão de minha amiga.

Nós gritamos em uníssono. Liz riu alto. Ela parecia muito feliz.

— Quando?

— Por que você não nos contou?

Lizzie sorriu diante da profusão de perguntas, jogou a cabeça para trás fazendo suspense.

— Conta logo! - Savana insistiu.

— Foi romântico?– perguntei. Ela sempre fala que Fred não é romântico no sentido literal da palavra.

Finalmente Lízzie explicou:

— Tão romântico quanto Frederic William Price lll consegue ser... - um sorriso deslumbrado escapou dos lábios dela - No final de semana. Depois do último jogo. Nós não fomos para a festa, ele me arrastou direto para um resort, estávamos aproveitando o sol quando ele me disse: Este é um bom lugar para a nossa lua de mel... ou você prefere outro lugar Beth?

— E o que você disse? - perguntei agitada.

— Que gostava daquele lugar, mas que poderíamos ver outras opções.

Quase caí para trás em desolamento total.

— Sério que você disse isso? Só isso? Você não disse sim? Ele não se ajoelhou? - Savana também estava decepcionada.

Lizzie riu alto. Ela estava mesmo muito feliz.

— Vocês ainda não aprenderam que entre o Fred e eu é assim?

Nos calamos. Já era hora de aprendermos a lidar com aqueles dois e com o modo como eles levavam a relação deles.

Jess se inclinou na cadeira. Lá vinha uma daquela suas perguntas, aquelas nas quais ninguém nunca pensava, mas que ela sempre fazia.

— Lizzie... por acaso, se você um dia tiver um filho vai colocar nele o nome de Frederic William Price lV?

— Talvez... - ela disse baixinho, há alguns meses Liz me confessara que adorava o som do nome do Fred. Talvez estivesse acostumada a usá-lo com tanta frequência que acabou gostando - Mas não gostaria de chamar meu filho de William como Madeleine faz...

Nós rimos juntas.

Eu voltei para o pedestal. Savana fez mais alguns comentários inapropriados. E passamos mais alguns minutos ali, aproveitando nossos agora raros momentos juntas. Falando bobagem, contando coisas, programando outros encontros.

LÍZZIE.

Voltei para o meu apartamento que estava em perfeito e maravilhoso silêncio como sempre. Cruzei pela sala vazia. Ingressei no corredor, larguei a pasta no atelier e a bolsa sobre a cama no quarto. Tirei os sapatos enquanto lembrava do encontro de minutos atrás. Em como minha vida seguiu seu rumo mesmo com todos com os percalços. Em como as meninas e eu mantivemos nossa amizade segura e firme, mesmo que não nos vejamos tanto quanto gostaríamos.

Cada uma com suas particularidades.

Savana e seu eterno espírito ativo. Seu temperamento divertido e pervertido. Mal consegue se ater a algo mais profundo do que um afair. Depois de Tom foram tantos que nem sei o nome de todos.

Morgana... Ela ama Brad, sim, ela o ama. Mas, ela também amou Gabriel, que ficou para trás logo no primeiro ano de faculdade. E também amou Jonas, que foi para a África trabalhar como veterinário em uma reserva. Nenhum dos dois ofereceu a segurança que ela queria. E agora, que ela tem o cara seguro. Não sei se o sentimento é o mesmo. Só espero que sim. Espero e desejo que ela seja muito feliz. Porque merece.

Já a nossa Jess. Depois do universitário. Como era mesmo o nome dele? Não lembro mais. Acho que teve um namoro rápido e fim. Ela é casada com o trabalho. Ela vive para o trabalho. Ela respira trabalho. E é aparentemente feliz assim.

E eu...

Vi com o canto do olho, jogada num canto do cômodo, a mochila dele. Fred já estava em casa pensei com o coração batendo feliz. As roupas se espalhavam pelo chão formando uma trilha. Meias. Calça. Camiseta. Cueca. Sorri.

— Fred... - chamei.

— Vem... - ele respondeu – Pensei que ia chegar mais cedo.

Entrei no banheiro e ele estava de molho na banheira. A cabeça inclinada para trás, recostada na beirada do granito. O vapor da água quente preenchendo o ambiente.

— Não foi possível. - expliquei sem explicar. Ele conhece Morgana muito bem. Não precisa de muitos detalhes.

— Como foi o encontro? A mesma loucura de sempre?

— A mesma.

Ele piscou para mim. Lá vinha um comentário alterando o foco da conversa.

— Estou mantendo a água quente. - informou enquanto eu soltava o zíper da saia.

— Vou entrar para conferir.

Ele sorriu e fechou os olhos estendendo relaxadamente os braços pela lateral da banheira.

— Não confia em mim? - retrucou.

— Se estiver fria você vai ter que me aquecer. - avisei puxando as meias para baixo.

— Farei isso com muito prazer.

Abriu os olhos e me encarou, já estava acostumada ao olhar dele sobre o meu corpo. Daquele jeito meigo e sem julgamentos. Caminhei com lentidão até a banheira. Coloquei um pé. Depois o outro. Ele passou as mãos pelas minhas pernas subindo lentamente até a bunda.

— Adoro quando você faz isso. - falou em tom abafado, quase rouco.

Com os lábios entreabertos. Me aconcheguei ao corpo dele, passando as mãos pelo peito, subindo pelos ombros fortes de toda aquela malhação. Sentando sobre as pernas firmes. Ele afagou minhas nádegas.

— A água está com a temperatura boa. - sussurrei com os lábios colados aos dele. Fred esticou aquele sorriso debochado e maroto.

— Pois é... mas tenho a impressão de que vai esquentar um pouco mais agora...

Seus lábios sugaram a pele do meu pescoço produzindo um arrepio gostoso da ponta do pé até a raiz dos cabelos. Fechei os olhos e enrolei meus dedos nos fios curtos. Sentindo a barba por fazer deslizar contra a pele do pescoço, indo lentamente para cima até que seus lábios cobriram os meus. Encerrando de vez o assunto.