Estávamos caminhando sem rumo e em silêncio, apenas apreciando a companhia um do outro. Ah, como era delicioso sentir suas mãos entrelaçadas às minhas. Victor me sorriu, puxando-me para dentro de seus braços, tão perto, tão desejável. Seus lábios iam se aproximando dos meus, até que ele começou a se transformar em um borrão à minhas vistas e pude ouvir um barulho ao longe.

O despertador me trouxe de volta a realidade, fazendo com que eu me lembrasse de que dia era. Seria hoje! O dia de nossa mudança. Nossa, como os dias voaram desde que receberá a notícia.

A uma semana atrás meus pais me chamaram para ter uma séria conversa. Vários assuntos se passaram por minha mente, mas nem em um milhão de anos imaginei que o chefe de meu pai o tinha promovido a administrador de sua nova filial na cidade de Bristol e que a partir de então teríamos que nos mudar para lá.

Eu simplesmente dei as costas a eles e me tranquei no quarto, de onde só saia para fazer minhas higienes e pegar algo na cozinha para comer. Passei o resto da semana sem ir ao colégio, não suportava a ideia de ter que abandonar as garotas, as aulas de canto e dança... O Victor. Meu coração se rasgava a cada vez que eu me lembrava de que ao partir não o veria mais. Não poderia abraça-lo, beija-lo. 

Ontem a noite minhas amigas e ele vieram se despedir. Elas, assim como eu, choravam e me abraçavam.

— Você tem que prometer que virá nos visitar sempre que puder Gabi

— Eu juro que vou fazer o possível, espero que vocês também me visitem suas vacas - E se abraçaram mais uma vez.

Quando Victor foi se despedir Gabriella se permitiu chorar em seu ombro, fez juras de amor eterno e disse que gostaria de manter o namoro, mesmo que estivessem distantes um do outro.

— Tudo bem, nós podemos continuar namorando. Vou sentir muito sua falta Gabi. - A garota não entendia, mas havia certa frieza nas palavras do amado, mas resolveu deixar isso para lá, já tinha muito com o que se preocupar naquela noite.

Sem sair da cama, pegou o celular no criado mudo ao lado. Haviam várias mensagens de suas amigas, colegas das aulas de canto e dança, porém o que mais a incomodou foi não ver nenhuma mensagem de seu namorado.

"Ele deve estar triste demais e prefere não sofrer com mais uma despedida"

Deu uma rápida olhada em suas redes sociais e resolveu sair da cama, indo direto em direção ao banheiro. Fez suas higienes matinais, tomou um longo banho e saiu enrolada em uma toalha fofa. Vestiu as roupas que havia separado para a viagem: um shorts jeans despojado, uma camiseta com os dizeres "Basic Bitch" e seu tênis Adidas favorito. Não se deu ao trabalho de maquiar-se, iria apenas colocar um óculos de sol e pronto.

Desceu para a cozinha onde encontrou seus pais sorridentes tomando café.

— Bom dia filha - disseram juntos

— Bom dia - respondeu ao se sentar já trazendo para perto de si sua tigela de cereal.

— Todas as suas coisas estão arrumadas, filha? - a mãe de Gabriella, dona Judite, olhava animada para a filha enquanto bebericava seu café

— Sim - respondeu unicamente. Desde que soube da mudança, Gabriella tratava seus pais de maneira fria, somente mantendo um certo diálogo quando eles lhe perguntavam algo. Eles sabiam que logo essa raiva que ela sentia passaria, até lá preferiam não questionar a garota.

Por uns dez minutos um silêncio se manteve na mesa do café, até que o pai de Gabriella, senhor Thomaz, resolveu falar

— Segunda-feira mesmo você começa a estudar na nova escola. Pelo que soube é a melhor da região e quando viram suas notas não exitaram em lhe conceder uma bolsa. - Apesar de poderem arcar com as despesas do colégio, os pais da menina insistiram para que uma bolsa lhe fosse concedida. Isso a estimularia a se esforçar ainda mais em seus estudos. Gabriella sonhava em se tornar médica e para isso se dedicava com empenho em seus estudos, sempre com notas máximas. Era o orgulho de seus pais.

— Bom - disse Judite - vou lavar e guardar esse resto de louça nas caixas e se estiverem prontos podemos ir, logo o caminhão de mudanças vai chegar.

Gabriella se levantou da mesa indo em direção ao quarto. Entrou, apanhou a mochila, o notebook, o celular e os fones de ouvido. Pronto, tinha em mãos os únicos pertences que não haviam sido embalados nas grandes caixas.

Meia hora depois o caminhão havia chegado e já estava se preparando para partir. A família fitou a casa, já com nostalgia e algumas lágrimas nos olhos. Entraram no carro e começaram a rodar pela estrada. Gabriella estava afundada em pensamentos com seus fones no volume máximo. Tudo o que mais queria era ter visto Victor, ter lhe dado um último beijo, pois não saberia quando o veria novamente.

"Vida nova lá vou eu"