Ao seu lado escrita por nanacfabreti


Capítulo 9
Sem medo




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 Entramos no colégio sem transparecer qualquer intimidade, o que foi bom, afinal Leo me esperava no fim do corredor, braços cruzados contra o peito como se me cobrasse explicações.

—Liv, tem um minuto? —Ele me perguntou ansioso.

Olhei para Ian, ele franziu a testa e foi para a sala de aula.

Fiquei sem saber o que fazer, não imaginava o que ele poderia estar pensando, tive vontade de deixar Leonardo para trás e correr atrás de Ian, mas sabia que ele não iria aprovar .

 — Oi Léo, pode falar. —Parei em sua frente um tanto irritada.

 — Lívia, eu não estou entendendo você, ultimamente eu nem a reconheço e agora anda para cima e para baixo com esse...com esse cara. —Ele estava meio alterado.

—Esse cara tem nome, Ian, e desde quando diz respeito a você com que eu ando ou deixo de andar?  —Perguntei ríspida.

 Leo me olhou como se eu acabasse de dizer a coisa mas terrível do mundo.

—É tão difícil entender como em tão pouco tempo as coisas tenham mudado tanto. —Ele baixou os olhos. —Depois daquele beijo tudo ficou diferente...

Senti meu rosto queimar, eu sabia que grande parcela da culpa por aquele beijo ter acontecido havia sido minha.

—Aquilo foi um erro...—Desviei meus olhos.—Mas não tem a ver com nossa situação atual, eu só tenho feito outras coisas e você também. —Tentei ser mais delicada uma vez que as cobranças de Leo vinham me tirando do sério.

—Liv, se tudo estivesse tão bem você não me evitaria como tem feito. —Ele respirou fundo.

Engoli seco, estava o evitando, mas não pelo beijo, aliás, no começo era mas depois tudo ficou bem resolvido, foi apenas um ato de afirmação própria, eu sabia bem a quem pertencia meu coração.

—Eu estou resolvendo coisas minhas, pessoais, não vejo onde está o drama. —Encolhi meus ombros parecendo ser natural.

Ele me encarou, eu estava desconfortável, era como se tentasse ler meus pensamentos.

—Bem, eu não vou perguntar quais são essas coisas que estão a ocupando tanto, mas...se precisar de alguma coisa, estarei aqui.

Ele conseguiu me tocar, cheguei a me arrepender por ter sido tão brusca.

—Obrigada. —Afaguei seu ombro. —Eu seu que ainda somos amigos.

Sem mais nada dizer ele seguiu para sua sala e eu fiz o mesmo, estava irritada comigo mesma, com a minha falta de tato em algumas circunstâncias.

No corredor uma aglomeração anormal, todos estavam alvoroçados diante de um cartaz na parede, fiquei curiosa também ,mas não quis me enfiar no meio daquele monte de gente.

—O que está havendo? —Perguntei para Julia que já estava sentada em seu lugar.

Ela deu um gritinho histérico.

—Acabaram de colar os cartazes da festa de apresentação dos cartões, vai ser uma festa a fantasia!

— Nossa, é verdade, eu havia me esquecido dessa festa. —Admiti, afinal, desde o episódio fatídico ocorrido com Ian, eu havia me afastado e preferi me abster em relação aos cartões de natal.

—Você vem, não é? —Julia indagou encarando-me.

Pensei um pouco.

—Não, sei, tenho que ver... —Fui breve.

Ela arqueou as sobrancelhas como se desaprovasse minha dúvida.

—Tem planos para hoje á tarde?—Ela voltou ao seu estado normal rapidamente.

—Eu...não sei, não programei nada em especial. —Menti sabendo que passaria a tarde com Ian, era tudo o que eu queria.

—Vem comigo até a loja de fantasias?Por favor... —Ela sibilou.

Eu sabia o quanto nossa amizade estava abalada,o quanto tudo estava estranho entre nós e Julia estava sempre tentando concertar as coisas, eu senti como se devesse dar alguma atenção á ela, pensei no que Leo havia me dito minutos antes.

—Claro, vamos. —Concordei.

Julia bateu palmas rápidas como se tivesse ganhado o melhor presente do mundo, me senti ainda pior.Realmente aquele dia não estava condizente com a noite maravilhosa que eu havia passado.Um turbilhão de sentimentos confusos e dolorosos.

Não consegui prestar a atenção em aula nenhuma, algo me dizia que Ian estava chateado, não comigo, mas com a situação em si, eu notava que ele tinha uma ponta de ciúmes quando  se referia a Leo, e tudo o que eu não queria era que algo estragasse todas as coisas boas que estavam acontecendo conosco.

Eu tinha tanto medo de perder Ian que só conseguiria voltar a respirar direito quando pudesse falar com ele , ver que tudo estava bem.

Faltavam alguns minutos para o intervalo, minhas mãos estavam geladas.

—Liv, você... posso ficar com você no intervalo? —Ela perguntou escolhendo as palavras.

Senti como se tivesse levado um soco no estomago.

—Eu, na verdade estou ajudando Ian a organizar umas coisas da igreja, na verdade é para a mãe dele...Sabe, ela me pediu e eu estou ajudando-o. —Tentei não gaguejar enquanto contava tamanha mentira.

Fui pega de surpresa e não pude usar minhas respostas secas naquela ocasião, aquilo foi tudo o que me veio em mente.

— Oh, tudo bem. —Ela arregalou os olhos.

Eu odiava não poder falar a verdade, aquilo tinha que ter um fim, eu sabia que estava me metendo em um ciclo vicioso de mentiras e que  não era nada saudável.

Quando o sinal anunciou o intervalo um misto de alivio e ansiedade me tomou por inteira, saí a procura de Ian, ele estava sentado no gramado onde conversamos pela primeira vez.

—Está tudo bem? —Foi a primeira coisa que consegui perguntar.

Ele não me encarou.

—Por que não estaria? —Ele fingiu indiferença mesmo demonstrando mágoa em sua voz.

Estremeci.

—Eu não sei, mas achei que poderia não ter gostado de me ver conversando com Léo. —
 Fui direta.

Ele me olhou.

—Eu tenho motivos para não gostar?Foi você mesma quem disse que sempre foram apenas amigos, ou não? —Ele praticamente intimou-me.

Imediatamente lembrei-me daquele beijo, praguejei-me em silencio, não sabia se mentia ou omitia.

  —Eu não gosto quando você fala dessa maneira, como se algo estivesse ameaçando-o. —
 Desvencilhei-me.

Ian fechou-se em uma expressão séria.

—Acha que não percebo a maneira que te olha? Além do mais, mesmo odiando admitir, ele seria uma escolha bem melhor para você.

Senti a raiva tomando conta de mim.

—Não venha novamente com auto piedade, sabe o quão irrelevante é essa discussão. —
 Respirei fundo. —Não preciso ficar reafirmando o que sinto.

Ele permaneceu quieto diante das minhas palavras, eu mal podia acreditar que estávamos nos desentendendo depois de uma noite tão perfeita.

—Vou com Julia até uma loja de fantasias mais tarde. —Quebrei o silencio.

—Eu não venho a essa festa, mas acho bom que você venha que se divirta com seus amigos. —
 Ele foi seco.

—Que droga! —Irritei-me ainda mais. —Eu não disse que vou a festa alguma, só que vou acompanhar uma amiga até uma loja de fantasias.

Ele balançou a cabeça como se estivesse notando o quão estúpido estava sendo comigo.

Antes que pudéssemos dizer mais alguma coisa o som estridente do sinal gritou por nosso retorno as salas de aula, não falamos mais nada, seguimos cada um a sua direção, eu com meu coração apertado, segurava-me para não chorar.

—Aconteceu alguma coisa , Liv? —Julia pareceu mesmo preocupada enquanto eu fingia estar procurando algo em um livro de história.

—Não, está tudo bem. — Evitei olhara para ela.

—Não que eu tenha ficado reparando, mas, parecia que você e Ian estavam discutindo. —
Ela foi cautelosa.

Quem não teria percebido?Nós nem tentamos disfarçar.

—Nós estamos divergindo em algumas coisas. —Fui breve.

—É por isso que estou evitando ser voluntária no que quer que seja, é sempre tão complicado! —Ela pareceu acreditar no que eu havia dito.

Antes de irmos embora combinamos que ela passaria em meu prédio por volta das três horas da tarde.Corri para o estacionamento do colégio, não me surpreendi ao ver que o carro de Ian não estava mais lá.

Resignada segui meu trajeto de volta para minha casa, uma esquina depois ouvi uma buzina, era ele.Abri a porta do carro e entrei, não estava disposta a tornar aquilo em uma guerra.

—Não achou que eu iria sozinho? —Ele perguntou já começando a dirigir.

Olhei para ele.

—Sinceramente achei sim, você parecia bastante irritado. —Admiti.

Ele não respondeu nada, também preferi silenciar, odiava estar brigando com Ian. Antes de descer abri o porta luvas do carro e peguei a camiseta que havia ganhado dele.

—Vai mesmo querer isso? —Ele pareceu estar querendo me provocar.

Lancei-lhe um olhar raivoso e desci sem falar uma palavra sequer, apesar de amá-lo de forma descabida eu não podia me submeter aos seus caprichos infundados.

Por mim não teríamos nem nos estranhado, Leo também não havia feito nada de mais, afinal. Ele sequer imaginava que Ian e eu estávamos namorando, isso graças a ele mesmo, que insistia em nos ocultar.

Confesso que a raiva aos poucos foi dando lugar ao medo, eu sabia o quanto Ian se inferiorizava por causa de sua doença, ele fazia questão de dizer isso o tempo todo,meu receio era que ele parasse para pensar e decidisse que deveria colocar um ponto final em nossa história.Essa teoria foi tomando forma enquanto Julia e eu seguíamos para a loja de fantasias, eu não podia simplesmente deixá-la sozinha e correr para falar com Ian, por isso eu tentava me livrar daqueles pensamentos terríveis e fazer o possível para ser uma boa companhia para minha amiga.

—Se lembra da última festa à fantasia que fomos? —Ela começou a rir enquanto passeava pelos corredores da loja.

—Claro que me lembro, você reclamou a noite toda da sua fantasia de joaninha. —Acabei rindo também.

—Aquela bola sobre minhas costas pesavam uma tonelada depois de uma hora!

Balancei a cabeça lembrando-me do fiasco daquela noite.

—Sabe bem que eu não estava muito melhor do que você, aquela fantasia de fada era no mínimo dois números a baixo do meu, levei quase a madrugada inteira para conseguir sair dela.

—Tem razão. —Julia levantou um dos dedos. —É por isso que desta vez eu vou estar perfeita...

Depois de muitas provas, Julia parecia estar decidida...

—Uau!Você está sexy com esta fantasia de marinheira... —Elogiei.

Ela deu mais uma olhada no espelho, parecia estar satisfeita.

—É exatamente isso que eu queria. —Julia sorriu. —Desta vez eu arraso.

Enquanto ela vestia-se, meus pensamentos voltaram para o mesmo lugar de costume, Ian. Mesmo chateada estava disposta a procurá-lo para que pudéssemos esclarecer as coisas.

—Vai ficar com essa mesmo?—Perguntei .

—Vou, mas...E você? Não vai escolher nada? —Ela indagou apreensiva.

Teria que mentir mais uma vez.

—Vou falar com meu pai, sei que ele tem uma viagem marcada para daqui alguns dias, quero ver se a data não vai coincidir.

Julia não escondeu sua decepção.

—Tudo bem, mas espero que possa ir. —Ela encolheu os ombros. —Hoje me senti como nos velhos tempos em que fazíamos tudo juntas.

Senti uma pontada em meu coração.

—Aos poucos as coisas se acertam. —Foi o melhor que eu pude dizer.]

Por todo o trajeto de volta, ensaiei o que falaria para Ian, temia ter que bater em sua porta e de repente encontrar sua mãe.De qualquer forma eu estava disposta a subir alguns andares.

 Quando a porta do elevador se abriu avistei Ian em pé próximo a porta do meu apartamento,caminhei em sua direção e ele me sorriu receptivo.

—Que bom que não é sua mãe, eu estava aqui imaginando o que dizer caso ela chegasse antes de você. —Ele se explicou meio sem jeito.

—Faz tempo que está aqui? —Perguntei morrendo de vontade de cair em seus braços.

— Não muito. —Ele cruzou os braços. —Fui ao meu médico e quando cheguei perguntei ao porteiro se você já tinha voltado.

—Você foi ao médico? —Fiquei curiosa.

Ian sorriu discretamente com o canto dos lábios.

—Lívia, precisamos conversar mas,não aqui. —Ele esticou o braço e tocou meu rosto.

—Eu o convidaria para entrar, no entanto minha mãe pode chegar a qualquer momento. 

—Se importa em subir ? Meus pais saíram e vão demorar, o apartamento está vazio.—Ele sugeriu desarmado.

Tanto ou mais do que ele eu estava querendo acertar as coisas.

—Vou guardar minha bolsa e então subimos. —Avisei já abrindo a porta.

No elevador permanecemos quietos, Ian olhava para mim a todo o tempo, eu estava louca para abraçá-lo.

Quando o elevador parou e a porta se abriu, fui a primeira a sair.Enquanto ele destrancava a porta meu coração começava a disparar, por algum motivo eu estava começando a ficar nervosa.

—Entre. —Ele disse.

Constrangida dei um passo a frente e corri os olhos pela sala extremamente requintada.Tudo ali era tão bonito quanto eu imaginava.

Ian trancou a porta e rapidamente virou-se para mim, antes que eu pudesse reagir me puxou contra seu peito e me abraçou com toda sua força.Por mais que eu estivesse tentando bancar a durona, era exatamente aquilo o que eu estava esperando.

—Me desculpe Lívia, estou envergonhado por ter agido de forma tão hostil. —Ele sussurrou em meu ouvido.

—Não se preocupe. —Respondi apertando meus braços em volta do seu corpo.

Ele se afastou por um instante, segurou o meu rosto e me beijou apaixonadamente.

Algum tempo depois, Ian sorriu e segurou uma das minhas mãos.

—Vem, quero que conheça meu refúgio. —Ele me guiou escada à cima.

—Lembra-se do que me disse?O quarto de uma pessoa diz muito sobre ela... —Repeti sua frase.

Ele sorriu.

—Estou disposto a isso. —Ele piscou para mim.

Ian entrou e depois eu fiz o mesmo, seu quarto era normal, uma cama grande, lençóis claros, aparelhos eletrônicos e uma guitarra vermelha pendurada na parede.

—Você toca? —Perguntei entusiasmada.

—Na verdade não, eu até fiz umas aulas mas, desisti, no fim, tornou-se um belo adorno em minha parede. —Ele riu meio tímido.

Balancei a cabeça e continuei procurando por algo mais íntimo.

—Nenhuma foto? —Indaguei sentindo falta de um porta retratos ou um painel.

—Na verdade eu não gosto muito de fotografias minhas, acho que não sou fotogênico.— Ele sentou-se sobre a cama.

—Quanta modéstia. —    Reclamei colocando-me ao seu lado. — Você é o tipo que sempre sai bem na foto.
 Ian passou a mão pelos cabelos, seu rosto estava sério.

—Eu não penso assim, mas...serei justo. —Ele levantou-se e abriu uma gaveta do guarda roupas, pegou uma caixa de madeira e voltou a se sentar.

—Aqui tem algumas fotos minhas, pode escolher uma se quiser, assim, ficamos quites.

Ele abriu a caixa e começou a espalhar as fotografias, eram muitas, algumas com seus pais, outras com amigos, ele só, e a que mais me chamou a atenção, Ian abraçado com uma garota, não era a loira que eu conhecia, mas era muito bonita também.

Tentei disfarçar mas não consegui evitar olhar para aquela foto, senti uma ponta de ciúmes.

—O que foi? —Ian questionou minha reação.

Balancei a cabeça.

—Nada, eu não deveria me surpreender em ver uma foto sua com alguma ex -namorada. —
Encolhi os ombros resignada.

Ian pegou a fotografia e começou a rir.

—Você está enganada, essa não é uma ex namorada, aliás, a única garota que me interessei em ficar com uma foto é essa aqui. —Ele ergueu seu travesseiro e mostrou meu retrato sob ele. –Esta aqui é  minha irmã.

—Nossa... essa é sua irmã? —Senti meu rosto queimar de vergonha.

Ian riu, era óbvio que havia notado o mal entendido.

—E então?Vai querer ficar com alguma? —Ele me pressionou.

Segurei para mim uma fotografia em que ele estava sorrindo, estava lindo como era pessoalmente.

—Essa, vou ficar com ela. —Avisei.

Ian guardou rapidamente as outras fotografias e colocou a caixa no chão, seus olhos brilhavam de um jeito diferente. Ao meu lado sua mão acariciou meu rosto.

—Como foi sua consulta?Estou curiosa. —Não contive mais minha ansiedade.

Ian estreitou os olhos e sorriu.

—Na verdade não foi bem uma consulta, mas sim uma conversa. —Ele segurou uma da minhas mãos. —Eu falei sobre nosso namoro, sobre suas perspectivas, sobre os meus medos...

—E...? —–Continuei apreensiva.

Ele silenciou, voltou a me olhar de forma diferente, um jeito que fazia meu coração acelerar.Naquele instante eu já não queria respostas, puxei-o para perto de mim e o beijei, Ian jogou seu corpo sobre o meu, eu estava entendendo o recado.

—Eu sabia que estava certa. —Sussurrei ofegante.

Ele se afastou e franziu a testa como se não estivesse me entendendo.

—O que está dizendo?

—Sobre a conversa com seu médico, ele disse que podemos ter uma vida normal, como todo casal, não disse? —Provoquei.

Ian colocou o dedo em riste.

—Sim, desde que sejamos muito cuidadosos. —Ele frisou.

—Vamos ser. —Afirmei com meus lábios trêmulos.

Ian parecia ter congelado assim que acabei de dizer minhas últimas palavras.

—Liv, isso não precisa acontecer agora...apesar do meu médico ter sido positivo, sinto calafrios só de pensar que posso contaminá-la. —Ele sentou-se novamente na cama.

Imediatamente percebi que ele havia me entendido mal, eu não estava desesperada e muito menos queria que minha primeira vez acontecesse daquela forma.

—Ian, eu sequer pensei em fazermos alguma coisa aqui... agora, eu só quis dizer que quando acontecer vamos estar cercados de todos os cuidados necessários. —Externei minhas reais intenções.

Ele fechou os olhos e balançou a cabeça.

—Me desculpe, eu só quero que entenda o quanto eu quero protegê-la de tudo isso.

—Eu sei. —Toquei seu rosto.—E quero que saiba também que eu entendi você hoje, de verdade, mas Leo e eu não temos nada, mesmo.

Sua expressão mudou.

—Bem, da sua parte não, e sério, você sequer precisaria estar me explicando isso. —Ian respirou fundo. — Você está comigo, sabe da minha doença, isso é a maior prova de amor que pode me dar, mas sinceramente, o filho do juiz não tem as mesmas intenções.

Não, eu estou certa de que ele não...

—Eu sou homem e percebo as coisas. —Ele me interrompeu. —Mas, não vamos falar mais sobre isso, ele vai superar.

Eu não ficaria gastando meu tempo tentando explicar minha relação com Leo, e como estávamos colocando as coisas em pratos limpos decidi tocar em outro assunto delicado.

  —Ian, tem outra coisa que está me incomodando, algo que, ao meu ver , é bem fácil de resolver. —Comecei escolhendo as palavras.

Ele me olhou com desconfiança.

—Liv, se for o que estou pensando... —Ele se armou.

—Ian, eu não vejo motivos para ficarmos nos escondendo, até quando vou ficar mentindo para minha mãe?E no colégio?Eu tenho certeza de que algumas pessoas já notaram que não somos apenas amigos. —Comecei a impor minha opinião.

Ele levantou-se e começou a andar de um lado para o outro.

 —Sabe o porquê dessa minha decisão. —Ele passou as mãos pelos cabelos em desespero. —Sabe que é apenas para protegê-la.

Levantei-me também.

—Não quero ficar mentindo, uma hora alguém vai descobrir e então vai ser pior. —Argumentei.

—Acha mesmo que sua mãe vai aceitar sem reservas?E que no colégio as pessoas vão tratá-la de forma normal? —Eles estava nervoso. —Eu não fico falando para você mas, não tem sido nada fácil, esses dias por exemplo, eu estava esperando o elevador, haviam duas mulheres que também precisavam subir mas se recusaram a ficar no mesmo espaço que eu, preferiram esperar por outro.

—Ian... –Comecei a falar.

—Liv, você é uma pessoa esclarecida mas, nem todo mundo é, a maioria das pessoas preferem ignorar o que desconhecem, preferem manter distancia do que acham que pode lhes oferecer perigo, alguns me veem como uma bomba atômica, eu não quero isso para você. —Ele sentou-se.—Não quero que receba o tratamento que eu venho tendo.

Eu já estava sem ar, entendia o que ele estava me dizendo mas não conseguia compreender onde tudo aquilo poderia nos levar.

—Como manteremos isso em sigilo?Por quanto tempo mais? —Indaguei com a voz embriagada.

—Eu estou disposto a ficar com você o tempo que você me quiser em sua vida, uma hora vamos conversar com sua mãe,com meus pais, só que isso pode esperar mais um pouco. —Ian parecia estar mais calmo. —Além do mais, não estamos tendo dificuldade para nos vermos, passamos grande parte do tempo juntos, não estamos sendo prejudicados em nada.

Respirei fundo, estava confusa.

—Hoje, quando a Julia perguntou o motivo pelo qual eu não iria à festa, eu tive que mentir, isso vem sendo rotineiro para mim. —Sussurrei.

Ian permaneceu em silencio, sua falta de resposta foi o bastante para me fazer enxergar que minhas cobranças estavam sendo cruéis, eu não deveria estar causando a ele mais motivos de preocupação, ao contrario, eu queria apenas fazê-lo feliz.

Eu o abracei, queria dizer que ele podia contar comigo, que eu estava disposta a esperar pelos momentos certos.

—Eu te amo e confio em você. —Resumi meus sentimentos.

Ian entendeu o que eu estava tentando dizer.

Os dias seguiam e nós estávamos conseguindo equilibrar as coisas, eu sempre inventava uma boa desculpa para sair à noite e no colégio ainda estávamos disfarçando bem.

Julia estava bem mais fácil depois do dia em que saímos para ver fantasias , ela estava tão empolgada com a proximidade da festa que só falava nisso, aliás, ela e mais da metade dos estudantes.

—Eu nem acredito que esta festa já é nesse final de semana, eu não aguento mais ouvir falarem nisso. —Ian reclamou no caminho de volta para casa.

Não respondi nada, apenas suspirei sem perceber.

—Você quer ir, não é? —Ele perguntou.

—Não, eu não participei da confecção dos cartões, então... —Respondi confusa, nem mesma eu sabia o que estava me chateando realmente.

Ian entrou com o carro no estacionamento do prédio, permaneceu pensativo.

—Liv, eu estive pensando em uma forma de recompensá-la,então ontem eu tive uma ideia e...

—Recompensa?Ideia?Onde quer chegar com isso? —Indaguei curiosa.

—À casa de praia da minha irmã,eu pensei que podíamos ir para lá na sexta a tarde, passaríamos a noite e no sábado pela manhã estaríamos de volta.O que acha? —Ele estava apreensivo.

Enquanto Ian descrevia seus planos eu já pensava em como eu pediria cobertura ao meu pai, eu estava vibrando em pensar num dia assim, só Ian e eu.

—É uma ideia incrível, eu mal posso esperar. —Vibrei agarrada ao seu pescoço.


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