Ao seu lado escrita por nanacfabreti


Capítulo 25
Nosso final feliz...


Notas iniciais do capítulo

Bem...tudo tem começo, meio e fim...e, a história de Ian e Livia, também....
Espero que gostem!!!



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5 anos depois...

Lívia estava em pé, parada em minha frente.Suas mãos tremiam e eu não queria que ela percebesse como eu estava nervoso.Ela segurava o envelope branco com o logotipo da clínica estampado em verde claro, parecia estar hesitante quanto abri-lo.

Se seu estava curioso?Claro que sim,afinal, dependendo do resultado que estava guardado ali, nossas vidas nunca mais seriam as mesmas.

Cruzei meus braços e me encostei no batente da porta,Lívia me olhou e depois de respirar fundo abriu o envelope e desdobrou o exame.Começou a ler o que estava escrito sem deixar transparecer nada em seu rosto.Em dado momento vi que seus olhos pararam em algum ponto daquele papel. Ela arregalou os olhos e sua expressão se transformou.

—E aí? –Cobri meu rosto. –Positivo ou negativo?

Lívia empalideceu, achei que ela fosse desmaiar.

—Positivo! –Ela afirmou se jogando em meus braços.

Nada do que senti naquele momento pode ser descrito com palavras.Nenhum sentimento pode ser usado para traduzir a emoção de ouvir que a mulher mais importante da sua vida, aquela pessoa que você ama mais que a si mesmo, está esperando um filho seu. Sobretudo, em uma situação como a nossa.

Nós dois permanecemos abraçados,chorávamos e ríamos ao mesmo tempo.Sabíamos que a possibilidade de uma gravidez na primeira tentativa de uma inseminação artificial era pequena e por isso nossa surpresa.

Um ano antes,Lívia e eu nos cadastramos em um programa de reprodução para sorodiscordantes. Quando soube que poderíamos ter um filho legítimo, sem que ela e nem o bebê corressem risco de contaminação, Lívia passou a pesquisar tudo a respeito e descobriu em Londres mesmo, um lugar que buscava casais como nós para fazer esse procedimento.

Embora eu achasse que éramos muito jovens, Lívia viu naquilo uma oportunidade imperdível e partiu dela a iniciativa de participarmos.Depois de muitos exames, conversas com psicólogos e um tempo de espera, fomos avisados que tínhamos sido selecionados.

—Vai avisar o seu pai? –Perguntei acariciando seus cabelos.

Livia ajeitou-se na cama e fixou seus olhos em algum ponto atrás da minha cabeça.

—Acho melhor esperarmos.Um ou dois meses para ver ser tudo vai correr bem...depois contamos para todos. –Ela sugeriu com um sorriso bobo os lábios.

—Sabe que muitos vão achar loucura, você acabou de se formar... só tem vinte e três anos...

—Ian... –Ela tocou meus lábios com seus dedos delicados, queria que eu me calasse. –Você está feliz, não está?

Beijei cada um daqueles dedos que eu amava, e gostaria de encontrar uma maneira de fazer com que ela entendesse que sim, eu me sentia o homem mais feliz do mundo.

—Acho que isso responde a sua pergunta. –Puxei-a para junto de mim e a beijei da maneira mais intensa que poderia ter feito.

—Acho que você pode fazer ainda melhor, Ian Sodier. –Ela desafiou-me, estava sem ar, mas Liv adorava me provocar e eu gostava de entrar em seus jogos.

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Eu parecia uma boba, não podia ver um espelho e já estava lá, virando-me de perfil e focando meus olhos em minha barriga.Não via a hora que ela começasse a crescer, que meu corpo começasse a mudar... Mas nada, um mês já havia se passado e minha barriga continuava lisa.

—Há pouco tempo atrás, você quase me matou quando eu sugeri que fôssemos até aquela chocolateria nova.Disse que não queria engordar ...

Estreitei meus olhos e joguei uma almofada em Ian.

—Isso é completamente diferente...Quero que nosso filho comece a dar sinais de que está aqui! –Apontei para meu ventre.

Ian riu, me pegou em seu colo e depois me colocou sobre a nossa cama.Carinhosamente ergueu minha blusa e começou a beijar minha barriga.

—Nosso filho está aqui...e mesmo com nossa discrição, eu acho que a Marla está desconfiada.

—Eu também acho...Ela me fez umas perguntas ontem quando saímos para almoçar...Acho que vou falar para ela.

—Acho que deveríamos contar a todos... –Ian deitou-se ao meu lado.

Eu não havia comentado com ninguém, nem mesmo com meu pai, embora, naquele dia mais cedo quando nos falamos ao telefone eu quase não me segurei.Era cada dia mais difícil manter segredo mas, estávamos de viagem marcada para o Brasil, dentro de quarenta e cinco dias estaríamos de volta, cinco anos depois.

Sim, o que era para ter sido uma viagem de um ou dois anos acabou se estendendo por cinco anos.Londres acabou se tornando nosso lar.

Ian retomou o tratamento, e embora não pudéssemos dizer que ele estava curado, com os tratamentos , o vírus em Ian havia se tornado indetectável nos exames de sangue e isso o tornou mais seguro.

Ele começou a trabalhar na empresa do marido de sua irmã, uma empreiteira de construção civil, acabou tomando gosto pela coisa e ingressou em uma faculdade de engenharia.Já eu, iniciei meu curso de inglês e resolvi me especializar na língua,tempos depois eu já estava dando aulas do idioma.

Quando começamos a ganhar nosso próprio dinheiro, decidimos alugar um apartamento só para nós, embora a temporada na casa de Marla tenha sido ótima.

Tudo foi acontecendo de forma natural, e com o apoio das pessoas certas, Ian e eu construímos aos poucos nosso futuro e tudo estava beirando a perfeição, não fosse minha história ainda não resolvida com minha mãe.

Por todos esses anos nós não tínhamos conseguido restabelecer contato.Ela não me procurou e eu, apesar de sempre dar um jeito de saber notícias sobre ela, não conseguia sequer pegar o telefone e fazer uma ligação.

O pior era que, somado ao fato da minha gravidez, e proximidade de meu retorno a cidade onde eu nasci, vivi e parti deixando para trás um monte de mágoas, minha mãe e todas as nossas desavenças estavam cada vez mais presentes em meus pensamentos.

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Lá estava ela novamente, em frente ao espelho, analisando seu corpo. As mãos acariciavam a barriga que agora já apresentava um volume visível, os seios também estavam maiores e Livia conseguia estar ainda mais bonita.

Ela não tinha percebido minha presença, estava distraída e eu só pensava em uma coisa:Mesmo acreditando que era impossível, eu a amava ainda mais do que antes, muito mais.

Aquela mulher que sorria encantadoramente porque sua barriga estava crescendo,fizera tanto por mim.Foram tantas as provas de amor dadas por ela desde que nos envolvemos e, a maior delas estava ali, transformando as curvas do seu corpo.

Lívia sempre foi delicada, pequena em tamanho, mas tão gigantesca em suas atitudes, tanto que sempre me intimidou. Seu jeito de se impor e de lutar tão arduamente pelo que queria, me fazia ter medo de um dia não atender suas expectativas.

Desde que nos mudamos para Londres, que dormíamos e acordávamos todos os dias juntos,perdi as contas das vezes em que despertei no meio da noite e fiquei olhando-a dormir. Eu tinha medo de que não fosse verdade e, custei a acreditar que ela tinha mesmo escolhido a mim.

Enquanto a observava acabei tendo uma ideia. Precisava retribuir, mesmo que um por cento a felicidade que ela me causava.

Estávamos a um dia de seu aniversário, e aquele parecia o momento perfeito para fazer o que eu queria.

—Seu irmão é mesmo louco! –Lívia reclamou para Marla enquanto trocava de casaco pela décima vez. –Roda gigante com esse frio!

Marla riu, e apesar de estarmos no final do inverno, naquela noite o vento soprava mais gélido.

—É uma despedida Liv, afinal, logo menos estarão em terras tupiniquins... –Minha irmã lançou-me um olhar de cumplicidade.

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Mesmo o clima não estando dos melhores, havia uma fila grande para a London Eye, e eu conseguia identificar muitas pessoas falando português. Seria nossa terceira vez ali, confesso que meu medo de altura não havia me abandonado.Aquela roda gigante tinha mais de cem metros e apesar das cabines serem fechadas, a ideia de ficar quase meia hora lá dentro não me agradava muito, mas Ian adorava e tínhamos boas memória relacionadas àquele brinquedo.

O vento correu frio e bateu em meu rosto me fazendo estremecer.Abracei Ian e assim que mudei de posição, notei logo atrás de nós um casal jovem, a garota exibia uma barriga linda, me senti aliviada por não ser a única grávida a subir naquela coisa.

—Está de quantos meses? –Perguntei quando ficamos mais próximas. –Eu estava assim, não podia ver uma barriguda e já estava puxando conversa.

— Entro no sexto mês semana que vem. –Ela sorriu para mim e foi simpatia a primeira vista. – E você?

— Três meses e duas semanas. –Falei e olhei para Ian, ele balançou a cabeça, achava graça quando eu falava daquela maneira.

— Elas contam até as horas da gravidez... –O rapaz com ela, falou a Ian.

—Sim, eu que o diga. –Ele beijou meu rosto.

—Eles não entendem. –Reclamei. – A propósito, sou Lívia e esse Ian.

— Samantha e, esse é meu esposo, Andrey.

—Moram aqui ou estão a passeio? –Ian indagou-os.

— Passeio. –Samantha respondeu trocando olhares de cumplicidade com o marido.

—Adoramos viajar. –Andrey sorriu.

Continuamos conversando e acabamos ficando na mesma cápsula, conosco haviam mais umas quinze pessoas. Ian me puxou para um canto que estava mais vazio.

— Posso aproveitar você um pouquinho? –Ele roubou-me um beijo.

—Claro que pode. –Repousei minha cabeça em seu peito.A roda já começava a subir e a vista da cidade era apaixonante.

Seu coração batia cada vez mais rápido.Ele colocava e tirava uma das mãos do bolso do casaco como se procurasse alguma coisa.

—O quê foi? –Perguntei encarando-o.

—Liv, se lembra de quando planejamos comemorar seu aniversário de dezoito anos aqui, nesse lugar?

—Claro que me lembro...Eu sonhava com isso. –Fechei meus olhos e me recordei daquele período difícil em que estávamos separados.

Ian correu a mão por meus cabelos e depois acariciou meu rosto com as costas de sua mão.Seus olhos estavam urgentes.

—Cinco anos depois aqui estamos nós... –Ele tirou uma caixinha azul clara do bolso e eu logo entendi. – Livia, quero pedi-la em casamento, quero propor que seja para sempre. –Ele ofereceu-me um anel de noivado.

Levei minhas mãos até a boca, eu realmente não esperava por aquilo, e com aquele turbilhão de emoções eu não seria a Lívia se não começasse a chorar.

—Achei que tivéssemos nos casado naquele dia na casa de praia da sua irmã, –estendi meu dedo para receber o anel. –mas eu aceito de novo e, quantas outras vezes você me pedir.Sempre será sim...

Nos beijamos longamente e apesar de termos sido muito discretos, as pessoas ali perceberam o que estava acontecendo e acabaram por nos aplaudir e nos felicitar.

—Eu te amo Liv. –Ian sussurrou em meu ouvido.

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Era estranho saber que em menos de uma hora estaríamos de volta a nossa cidade, que estaríamos revendo lugares, pessoas...cinco anos...eu sabia que nada seria como antes.

— Está tudo bem, meu amor? –Preocupei-me ao sentir as mãos de Lívia geladas.

—É estranho, ainda mais carregando essa surpresa comigo. –Ela passou as mãos pela barriga.

—Eu falei que deveríamos ter contado...imagine a reação do seu pai quando se deparar com você.

Fazia mais de seis meses desde a última visita de Jonas.Ele esteve em Londres ao menos duas vezes em cada ano que vivemos lá, e agora ele estava no aeroporto, nos esperando sem sequer imaginar que seria avô.

Quando cruzamos o portão de desembarque o avistamos em meio a muitas outras pessoas, no rosto a ansiedade de um pai que está morrendo de saudades da filha e, assim que colocou os olhos nela sua expressão se transformou.

Lívia correu até ele que a envolveu em seus braços tirando os pés da filha do chão,era como se ela fosse ainda uma menina. A sua menina.

—Que saudades filha! –Ele sorria externando o quanto estava feliz.

— Eu sei pai... eu sei o quanto senti sua falta.

—E você rapaz... –Jonas me abraçou também.

Fiquei surpreso por ele não ter reparado ainda no corpo de Lívia.

—Não avisou as meninas, não é? –Liv, indagou colocando-se bem em frente a ele.

—Não. Falei com Vanessa ontem e não deixei escapar...Vai poder surpreendê-las.

Livia e eu trocamos olhares, ela empinou ainda mais sua barriga tentado chamar a atenção de Jonas.

—E então pai, eu pareço bem? –Ela colocou as mãos na cintura.Usava uma calça escura e uma blusa clara, ambos colados ao corpo.

Jonas correu os olhos pela filha, primeiro focou no rosto e assim que percebeu o quanto ela estava diferente, levou as mãos á cabeça.

—Meu Deus Livia!Não vai me dizer que....

—Eu deveria ter trazido um charuto.Você vai ser avô! –Ela contou voltando para o meu lado.

Jonas empalideceu.

—Quero deixar bem claro que tudo foi feito de maneira muito prudente, sem riscos para Liv e para o bebê. –Adiantei-me nas explicações, não queria que Jonas pensasse nem por um segundo que eu pudesse ter sido inconsequente.

Ele franziu a testa, os lhos estavam marejados.Depois respirou fundo levando uma das mãos ao peito.

—Acha mesmo que eu pensaria isso?Eu sei como vocês são responsáveis, ou melhor, não nesse caso... –ele puxou a nós dois para um abraço triplo. –Eu na sei se meu coração aguenta esse tipo de emoção.

Estávamos seguindo direto para a casa dele, e durante o caminho explicamos como chegamos àquele ponto.Jonas estava tão feliz que não cabia em si.

—Eu não estou acreditando ainda!Minha Liv vai ser mãe...

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Meu quarto, minhas coisas estavam todas do mesmo jeito, parecia que o tempo não tinha passado.O cheiro da casa do meu pai também era o mesmo, maresia e especiarias,uma combinação que mexia com minhas memórias afetivas.

—Não me diga que fez aquele bolo indiano... –Perguntei animada, estava morta de fome.

—Não me diga que anda enjoando... –Ele retrucou já segurando um prato nas mãos.

—Livia enjoando? –Ian interveio. –Ela está comendo ainda mais...as batatas que o digam.

Ri fazendo uma careta pra ele.

—Precisa se alimentar direito Liv, já que não consome carne precisa procurar fonte de proteínas...

—Pai, eu estou bem. –Revirei meus olhos, ele estava repetindo tudo o que eu ouvia direto de Ian. –Nós, estamos bem.

—É um menino ou uma menina? –Ele de repente mudou o foco.

—Ainda não sabemos e acho que vamos descobrir só no dia do nascimento. –Comentei olhando para Ian, nós meio que concordávamos com isso.

Mais tarde,depois de eu já ter descansado, meu pai veio até meu quarto e eu já sabia sobre o que ele queria falar,era inevitável.

—Ela tem que saber que você está de volta, e mais, que vai ser avó...

Fechei meus olhos, milhares de coisas estavam consumindo meus pensamentos.

—Tenho medo de como ela possa se referir ao meu bebê e juro, eu estou tão feliz que não vou deixar que nada mude isso.

—Eu sei filha, só que não podemos ficar supondo coisas, Denise errou, mas merece uma chance de remissão...Talvez esse bebê seja o elo que vai unir você duas novamente.

Suspirei imaginando como seria se minha mãe realmente tivesse entendido minhas escolhas, e sinceramente eu estava disposta a perdoá-la.

—Teremos tempo pai...

No início da noite, pedi para ele ligar para Vanessa, quis que ele inventasse alguma coisa que fizesse ela e Júlia virem até sua casa, foi o que ele fez.Disse que Ian e eu estávamos pensando em voltar dentro de alguns meses e que precisava delas para preparar uma surpresa.O fato foi que ele fez direitinho e a vinda delas ficou combinada para o dia seguinte.

Fiquei ansiosa, estava morta de saudades afinal elas não cumpriram com o combinado, nenhuma delas fora me visitar.Nossa amizade, mesmo a distância, se manteve fiel, e no caso de Júlia, até melhor.

O namoro das duas causou a ela um amadurecimento extraordinário.Ela se tornou uma pessoa admirável e isso era muito significativo.O fato de eu ter ficado sabendo a verdade sobre seu namoro ou quase isso, com Leonardo, também favoreceu nossa reaproximação.Foi como tirar uma pedra do nosso caminho.

—Uma tarde só de garotas? –Ian franziu a testa. – Eu sempre quis participar de uma, sou louco para saber o que vocês conversam nessas reuniões.

—Esse é um segredo que os homens nunca vão descobrir... –Me encaixei em seu corpo.

—Hum...segredos femininos.O bom é que ficamos em pé de igualdade. –Ele divagou.

—O quê quer dizer com isso? –Sussurrei sentindo o fuso horário agindo em meu corpo.

—Nada...eu só estou pensando alto. –Ian também estava lutando contra o sono.

No dia seguinte ele saiu muito cedo,eu sabia que Ian , como eu, tinha seus assuntos mal resolvidos.A relação dele com seus pais também não era das melhores, com o pai ele falou algumas vezes por conta de venda de sua moto há anos atrás, e com a mãe também, apenas algumas ligações e uma vez quando eles voltaram a Londres.

 Ela até quis conversar comigo, mas eu não, se não estava pronta para procurar minha mãe, não via sentido em manter qualquer relação com a de Ian.

O horário em que as meninas ficaram de chegar estava próximo, e eu já estava pronta uma hora antes.Assim que ouvi barulho do motor de um carro parando, desci correndo até a entrada da casa.

Primeiro desceu a Julia, estava no lado do passageiro, os cabelos compridos agora eram quase louros, e mesmo sempre a vendo em fotos não era a mesma coisa.Vanessa era outra que estava diferente, os longos cabelos agora estavam na altura da nuca e bem pretos.Elas deram as mãos e quando eu abri o portão eu não sei qual delas esboçou a reação mais cética.

Julia corria os olhos por mim e não tirava as mãos da boca.Vanessa depois de dar um gritinho abraçou-me emocionada.

—Eu não acredito que você está aqui!Liv, eu não acredito! –Ela repetia incessantemente.

Comecei a rir.

—Quis fazer uma surpresa para vocês. –Caminhei até Júlia que ainda estava paralisada.

—Van, você reparou na barriga dela? –Ela apontou com os olhos arregalados.

Vanessa levou as mãos ao peito e sua expressão de surpresa estava idêntica a de Julia.

—Você está grávida Liv? –Vanessa parecia não acreditar.

—Quarto mês... –Dei de ombros. – Fizemos um inseminação artificial e aqui estamos nós.

Julia começou a chorar e depois pôs-e a acariciar minha barriga.

—Meu Deus Liv, eu nem sei o que dizer... Isso é maravilhoso! –Ela parecia encantada.

—Eu sei o quê dizer...Vou ser madrinha desse bebê. –Vanessa afirmou séria.

Júlia lançou-lhe um olhar repreensivo.

—Acho que a Liv pode decidir isso sem que seja influenciada, não acha?Mas, me lembro de uma conversa nossa há muito tempo atrás,tínhamos feito um pacto, seriamos madrinhas uma do filho da outra.Lembra?

Balancei a cabeça incrédula, algumas coisas nunca mudavam e, eu acabava de ver o quanto aquelas duas haviam me feito falta.

—Podemos ver isso depois, não acham?Agora vamos entrar, temos muito o quê conversar. –Coloquei cada um de meus braços em torno delas e as levei para dentro de casa.

Passamos a tarde inteira colocando a conversa em dia,elas fizeram questão de saber todos os detalhes da minha vida em Londres, da minha rotina, e do processo da inseminação que culminou na minha gravidez.

—Acho que podemos pensar e alguma coisa parecida quando quisermos ter nossos filhos? –Júlia olhou para Vanessa de forma carinhosa.

—Posso até imaginar vocês disputando qual das duas vai gerar o bebê.– Coloquei minhas mãos no rosto prevendo a confusão.

As duas acabaram rindo.

—E quanto tempo pretendem ficar aqui?

—Eu não sei Vanessa, tenho assuntos pendentes...

—Ela já sabe?

—Não e estou com medo de sua reação.Tenho certeza de que ela vai achar que eu sou soro-positivo e que vamos trazer ao mundo uma criança doente. –Externei a elas, as ideias que vinham me perturbando.

Júlia deixou seus olhos caírem e seu sorriso desapareceu no mesmo instante.

—Sinto tanta vergonha por um dia, ter sido preconceituosa e ignorante.

—Já conversamos sobre isso... –Quis fugir daquela conversa.Para mim tudo entre nós estava mais que resolvido.

—Fico pensando quando Léo vir você Liv, grávida... –Julia conjecturou enquanto pegava uma colherada do brigadeiro que eu tinha feito.

Leonardo era alguém em quem eu procurava não pensar, eu não sabia nada sobre que caminho ele tinha seguido, se estava namorando...Eu nunca perguntava por ele, e se eu tivesse que analisar as razões se tê-lo bloqueado assim da minha vida, um bom percentual era culpa.Eu não conseguia deixar de pensar que de alguma forma eu alimentei seus sentimentos por mim e talvez, bem lá no fundo eu sempre soubesse que ele gostava de mim, mais do que como amiga.

—Ele ficou por aqui mesmo? –Indaguei um tanto sem jeito.

—Na verdade ele ficou um tempo fora, parece que fez um mochilão pelos Estados Unidos, mas, no momento ele está aqui e em todas as vezes que nos encontramos –Julia olhou para Vanessa como se buscasse aprovação para o que ia dizer. – bem Liv, ele sempre pergunta por você, a impressão é de que ele não superou.

—É...tenho que admitir que ele parece não ter conseguido esquecer você. –Vanessa abraçou as pernas.

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Eu ainda não entendia qual a razão das garotas sempre darem um grito estridente antes de dizer uma frase referente a algo que as empolgava, mas tudo bem, eu já deveria estar acostumado, afinal, com minha irmã e com Lívia era a mesma coisa.

—Então fica combinado assim, no sábado, às cinco da tarde, quero pegar o sol se pondo, exatamente como foi da outra vez. –Comuniquei as duas que me olhavam como se fossem agentes do F.B.I. recebendo uma missão.

—Acho que vou morrer de ansiedade...mas Ian, fique tranqüilo, tudo vai sair perfeito! –Júlia bateu palmas algumas vezes, ela estava mesmo animada.

—Fico feliz em poder contar com vocês, foram as primeiras pessoas em que pensei.

—Eu acabaria com você Ian, se nos deixasse fora disso. –Vanessa esbravejou.

Bem, uma parte estava resolvida, agora tinha a mais difícil, só que tinha de ser feita.

No sábado de manhã tive que me esforçar para tentar me manter calmo e não deixar transparecer minha tensão.

— O que vamos fazer hoje? –Perguntei apenas para sentir como Lívia estava.

—As meninas querem ir a praia...e eu confesso que achei tentador, mas aí eu penso em você, nessa cama...

—Isso, me parece tentador. –Afirmei já com seus lábios nos meus. –Mas...o que acha de convidarmos elas para a casa da Marla?Elas nunca foram até lá e eu estou com saudades do nosso lugar.

—Incrível! –Lívia deu um gritinho(sim, como eu já havia dito antes...) –É uma ótima ideia.

—Então eu vou antes para dar uma arrumada em tudo, imagine como aquele lugar não deve estar... –Menti.

—Podemos ir juntos, agora!

—Não...Não quero que se esforce e muito menos que arrisque pegar uma alergia. –Argumentei rezando para que ela não insistisse.

—Tudo bem...Vou com elas mais tarde. –Livia concordou já pegando o telefone.

Quando cheguei a casa de praia, eu não teria feito melhor, aquelas duas eram mesmo muito empenhadas.A varanda da casa estava decorada com flores miúdas em todo o seu entorno e pequenos vasos faziam um caminho que levava a entrada da sala.

— Nem sei o que dizer...

—Não precisa...Estamos muito felizes por vocês. –Vanessa abraçou-me.

— E quanto ao outro assunto...? –Julia fez uma careta.

—A minha parte eu fiz, agora só nos resta esperar.

—Bom, vamos buscá-la então.

—Isso, Jonas já deve estar a caminho. –Concluí olhando para o relógio.

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—Vocês vão adorar aquele lugar, a praia é praticamente deserta... –Eu descrevia com empolgação a casa de Marla enquanto seguíamos para lá.

—Não vejo a hora de conhecermos esse paraíso. –Júlia olhou-me pelo retrovisor.

—Verdade, tenho certeza de que vai ser um final de semana inesquecível...–Vanessa afirmou já estacionando o carro.

Quando coloquei meus pés naquela areia clara, respirei fundo para sentir o cheiro da maresia, aquele era outro lugar que me deixava extasiada, eu só tinha memórias boas dali.

Estava ventando e fechei meus olhos para proteger-me da areia fina que vinha de encontro ao meu rosto.

—Não é lindo esse lugar? –Perguntei para as meninas que estavam logo a minha frente.

—Sem dúvidas... – Vanessa olhou para trás e ela estava estranha.

—Vamos Liv...Não quero perder tempo. –Julia começou a caminhar em direção a casa.

Fiquei um pouco para trás, queria contemplar aquela vista, mais uma vez a paisagem era digna de um cartão postal.Distrai-me deixando meus pensamentos passearem pelos lugares que eu adorava e então vi meu pai, caminhando em minha direção.

Fiz sombra com minhas mãos sobre meus olhos, eu não entendi o porquê de ele estar ali.

—Pai!? O quê faz aqui?

Ele sorriu para mim, parecia estar guardando um segredo.

—Vem...–Ele me entregou seu braço.

Caminhamos em direção a varanda daquela casa e meu coração parecia estar a frente de mim, meus batimentos me impediam de raciocinar, embora eu soubesse que  estava certa por estar nervosa.

—o quê...? –Comecei a falar mas não consegui terminar.

Ian estava parado na varanda,vestia calça clara e uma bata branca, os cabelos negros balançavam a medida que o vento passava por eles e seus olhos verdes reluziam contra o pôr do sol.

Vanessa e Julia estavam paradas ao lado dele, ambas tentavam impedir as lágrimas, em vão. Toda essa cena estava emoldurada por pequenas flores brancas, que decoravam o espaço fazendo com que aquela casa parecesse fazer parte de uma pintura.

—De todas as caminhadas que fiz com você, essa para mim é a mais importante filha... –Meu pai me disse,  e depois de beijar minha testa olhou para Ian.

Ele caminhou até mim e quando suas mãos me tocaram eu desabei, não tive como me segurar.

—Esse lugar foi onde Livia e eu trocamos alianças feitas de tinta de caneta, há um tempo atrás, mas, mesmo saindo já no primeiro contato com a água, o que elas simbolizaram ficará gravado para sempre em meu coração...E é por isso que hoje, eu quero entregar a você uma aliança de verdade, assim como é o meu amor .

Eu já não enxergava mais nada, estava tomada de emoção e foi difícil Ian conseguir colocar aquela aliança em meu dedo, eu tremia como se estivesse coberta de neve.Quando foi minha sua vez de colocar sua aliança,assim que estendeu sua mão, pude ver que ele estava como eu.

—Eu te amo Ian. –Afirmei enquanto secava suas lágrimas.

Ele me abraçou e eu fechei meus olhos,tentando me recompor.Quando os abri a situação que parecia estar sob controle foi elevada a outro nível.Minha mãe estava parada logo atrás de nós.Ela sorriu assim que nossos olhares se encontraram.

Eu não sabia o que fazer e assim que perceberam sua presença, todos voltaram-se para ela.

—Será que eu posso dar um abraço em você? –Ela começou a caminhar em minha direção e respirei fundo para conseguir me manter em pé.

Ian segurava minha mão e quando a soltou entendi o que ele queria dizer.Trocamos um rápido olhar e no mesmo instante eu já estava em seus braços.Ela chorava copiosamente e me pedia perdão.

Acho que esperei tanto por aquele momento que não acreditava que estava mesmo acontecendo.

—Por todos esses anos eu tentei encontrar um jeito de demonstrar meu arrependimento, por tudo o que fiz....Filha, se me deixar voltar para sua vida, eu prometo que não vai se arrepender, eu não vou decepcioná-la.

—Vamos ficar bem mãe... vamos ter tempo para colocar todas as coisas no lugar. – Voltei a abraçá-la.

—Liv, quando Ian me contou sobre sua gravidez, minha vontade foi de ir vê-la no mesmo instante, eu não imaginava que pudesse ficar tão feliz por você.–Ela olhou para Ian.–Por vocês.

Ele sorriu para ela, já havia a perdoado.

—Acho que agora entende que ele e eu...tinha que ser.

Ela estendeu as mãos e me olhou como se pedisse permissão para tocar minha barriga.Assenti com minha cabeça.

—Entendi muito antes...Só não queria aceitar...Você não poderia estar ao lado de alguém melhor.

E então passamos todo o resto do dia ali, comemorando nossa união, mas também comemorando a tolerância, a redenção e um novo começo.

—Marla pediu que eu desse isso a você. – Ian entregou-me um pequeno envelope.

"Não vamos poder estar aí para seu casamento, mas, essa casa é nosso presente.

Meu e do Brian.

Em breve estaremos aí para uma visita...

Te amo cunhada!

Marla"

—Ian, eu não acredito!

—Ela disse que nós temos feito melhor proveito...Pensei em aceitar, já que eu acho que você não vai querer voltar para Londres tão cedo...

Ian tinha razão, eu nunca antes me sentira tão em casa, como me senti naquele dia.

—Acha que conseguimos refazer nossa vida aqui?

—Refaço minha vida em qualquer lugar, desde que esteja com você... –Ian me beijou.

—Vou avisar todo mundo...Meu pai vai enlouquecer , ele já estava todo triste pensando em nossa partida.

Todos vibraram com a novidade,no entanto eu sabia que nem tudo seriam flores.

—Sabe que as pessoas que conhecem sua história, podem não entender essa gravidez... – Vanessa parecia preocupada.

—Eu sei Van, e estou pronta para isso.Eu vejo que o lugar certo para viver e para criar meu filho é aqui e eu não vou fugir do preconceito das pessoas, são elas  é que vão ter que deixar de tê-lo. Vou lutar por isso, sempre!

Vanessa sorriu e depois me abraçou.

—Tenho orgulho de ser sua amiga!

—Já eu, tenho sorte por ter uma amiga como você.

—Posso roubar ela um pouquinho? –Ian abraçou-me pelas costas.

—Claro que pode.Vou pegar alguma coisa para beber.

Caminhamos pela praia e nos sentamos naquele lugar que era nosso. Ajeitei-me em meio as pernas de Ian e recostei-me em seu corpo.Ficamos em silencio contemplando o reflexo da lua no mar.

—Eu nunca imaginei que pudesse ser tão feliz. –Ele beijou minha nuca delicadamente.

—Nem eu...Ainda mais com você...Ian Sodier, o bad boy da jaqueta de couro.Ri incrédula.

Senti seu corpo se mexendo, ele também ria.

— Eu? Bad boy? –Espero que nunca conte isso ao nosso filho...–Ele repousou suas mãos em minha barriga.

—Vou ter que contar...Ele vai ter de saber que o pai vivia em cima de uma moto, com cara de mau e um sorriso no canto dos lábios, arrasando os corações das garotas por onde passava...até que eu o fisguei para mim.

—Isso mesmo...você me fisgou, nisso concordamos.Me seduziu com seu jeito de garota indefesa quando na verdade sempre foi mais forte que uma leoa.

Virei meu corpo, queria olhar em seu rosto.

— Você me ensinou a ser forte...

Ele levantou uma das mãos discordando.

—Se existe alguém aqui que ensinou muitas lições para mim e para mais um monte de gente, foi você, Lívia Sodier, minha esposa.

Adorei ouvir meu nome com o seu sobrenome.Nada mais podia ser dito, aquele era nosso desfecho.Nos beijamos com a certeza de que aquele era o nosso felizes para sempre...


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Notas finais do capítulo

Hey, leitores do meu coração...para quem acompanhou essa história, eu só posso agradecer...espero que tenham gostado do desfecho e já vou avisando...futuramente teremos um one shot sobre eles, afinal, precisamos saber o sexo desse bebê...Mais uma vez muito obrigada e para quem gostou da minha escrita, dá uma espiada no meu perfil, tem outras histórias legais lá também...não me abandonem, sou carente!!!



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