Ao seu lado escrita por nanacfabreti


Capítulo 21
Cartas na mesa


Notas iniciais do capítulo

Olá galerinha amada que acompanha a história de Livia e Ian, bem, esse capítulo é narrado por ela...Vanessa, porque nossa Liv...
Espero que gostem, eu gosto dela, essa garota é meio que meu alter ego...
Beijos gigantes e obrigada por lerem!!!



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Eu observava toda aquela cena como uma espectadora, sabe quando você assiste aquela série preferida, e a sua personagem favorita está sofrendo?Então, era como eu me sentia vendo a situação da Lívia, implorando para que a mãe a deixasse viajar, ali, de joelhos aos seus pés.Só que aquilo, não era uma série, era vida real.

Aquela mulher ganhou o meu ódio a primeira vista, tudo nela me incomodava, o ar de superioridade, a frieza e aquele jeito de advogada do diabo, sempre usando argumentos batidos, para justificar suas ações. Só no tempo em que fiquei ali a ouvi dizer a frase:"é para o bem da Lívia...", umas duzentas vezes.

Se não fosse seu pai ali, eu não me seguraria, olhava para aquela mulher, que em nada se parecia com um ser humano, ignorando os pedidos da filha, e a minha vontade era de voar no pescoço dela.

—Eu vou filha, eu vou pra lá, agora. –Seu pai baixou-se, ele tentava colocar a filha em pé, mas era em vão, Liv estava derrubada mesmo, e aquilo me partia o coração.

—Pai, Ian precisa de mim,sou eu quem tem que estar ao lado dele! –Ela começou a berrar.

—Denise... –Jonas gritou –faça alguma coisa pela sua filha.

Ela manteve-se em silêncio.

—Não vou deixar que fim da nossa filha seja esse. – Ela rosnou entre os dentes.

Livia cessou o seu choro e por um minuto não ouvia-se nada naquele ambiente, apenas o som dos eletrodomésticos, e dos veículos que passavam na rua.

Todos, Denise, Jonas e eu, aguardávamos o próximo ato de Liv.Então ,ela se levantou,sua respiração estava curta, chegou bem perto de sua mãe, que mesmo diante de tamanho drama permanecia ali, intacta, alinhada e com a maquiagem impecável.

—Eu-nunca-vou-te- perdoar! –Livia cuspiu pausadamente aquelas palavras.Seu tom era raivoso, assustador até, e havia tanta verdade ali que, se eu fosse aquela mulher, mudaria de idéia na hora. –Eu te odeio!Eu te odeio!Eu te odeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeio! –Seus gritos ecoaram por todo o apartamento e certamente para fora dele também.

Depois disso ela correu para seu quarto e, na sala nós três ainda tentávamos digerir o que acabava de acontecer.

Denise finalmente pareceu ser atingida, ela caiu no chão como se tivesse sido desmontada.

—Qual a parte de "O namorado da sua filha pode estar morrendo",você não entendeu? – Abaixei e sussurrei para ela, mantive minhas mãos nas costas do contrário elas teriam encontrado seu rosto.

Não esperei para ver o que ela me responderia, eu sabia que estava abusando, Denise podia me expulsar de seu apartamento, a hora que quisesse.

Segui para o quarto da Liv, ela estava em pé, de frente para o guarda roupas, segurava uma chave e um capacete.

—O que é isso? –Perguntei sem entender.

—Eu preciso sair daqui... –Ela soluçava.

—Liv, você precisa se acalmar, seu pai, ele vai dar um jeito. –Eu tentava encontrar as palavras certas para dizer.

Ela me abraçou, bem rapidamente.

—Nos conhecemos há tão pouco tempo e você já é uma das minhas pessoas preferidas no mundo.Você está no mesmo pacote do meu pai e do Ian. –Ela voltou a chorar e saiu do quarto, como um raio.

Eu fui atrás, aquela garota não podia ficar sozinha nem por um minuto. Na sala a discussão estava calorosa, os pais de Livia trocavam acusações, não dava para saber quem gritava mais alto. Livia passou por eles e tamanha era tensão que eles nem notaram, continuaram ali, berrando ofensas.

—A Liv acabou de sair. –Gritei para chamar a atenção.Eu já estava com a porta da sala aberta e não sabia se ela tinha pego o elevador ou seguido para a escada.

—Como saiu? –Jonas encarou-me.

Balancei a cabeça, não tínhamos tempo para conversas, precisávamos impedi-la.

—Vou pela escada. –Falei para seu pai. –Ela conhece alguém com moto por aqui?Liv saiu com um capacete.

Jonas arregalou os olhos e empalideceu no mesmo instante.

—Droga! –Ele começou a apertar o botão do elevador em desespero. –Ela não faria isso, ela nem sabe ligar uma moto....

—O que foi? –Me desesperei com seu desespero.

—Venha, ela deve ter ido ao estacionamento, a moto do Ian está lá. –Jonas me convidou.

Olhávamos os dois para o painel que mostrava em que andar estávamos, tensos ,eu sem saber ao certo a razão mas, o nervosismo se fazia crescente a cada instante.

—Que merda!Essa droga sempre é tão lenta assim? –Reclamei fazendo com que o pai de Liv olhasse para mim.–Me desculpe –cocei a cabeça–eu falo palavrão quando estou nervosa.

Jonas não me respondeu nada, ele mesmo devia estar querendo xingar o mundo.

Após um século inteiro ter se passado, chegamos ao estacionamento, ouvimos o motor de uma moto acelerando, era um barulho muito alto, que ecoava por todo o espaço tornando aquilo assustador.Jonas apressou-se indo em direção da onde vinha o barulho, e logo parou.

—Lívia ,não faça isso! –Ele gritou e eu me apavorei.

Era aquilo mesmo, Livia estava sobre uma moto grande, e pareceu nem ouvir o apelo do pai que permanecia gritando.

—O senhor disse que ela nem sabia ligar uma moto! –Queixei-me ao vê-la partir, Livia parecia saber o que estava fazendo.

Jonas estava pasmo,incrédulo com o que acabava de ver.

—Isso não está acontecendo... –Ele murmurou derrotado.

—Está sim seu Jonas, e temos que ir atrás dela, agora. –Coloquei-me em sua frente, precisava tira-lo do transe em que se encontrava.

Ele correu até um carro escuro e eu fui atrás.

—Vem, temos que impedir que algo ainda pior aconteça. –Ele me chamou com a voz tensa.

Não hesitei, em menos de um segundo eu já estava sentada no bando de passageiro, aquele homem estava a ponto de ter um infarto e não podia ficar sozinho mesmo.

Ele dirigia de forma automática, suas mãos ao volante estavam trêmulas, eu não podia dizer nada a ele, não tinha como ser otimista quando uma garota franzina estava em cima de uma moto que pesava pelo menos umas dez vezes mais do que ela, ainda com vários agravantes, estava descontrolada e ao que me constava, não era exatamente uma piloto profissional.As chances de uma tragédia acontecer eram imensas.

Se eu estava impacta, imaginava aquele coitado.

—Não é melhor ligarmos para a mãe da Liv? –Sugeri depois de termos dado algumas voltas pelo bairro, sem hesito. –Denise pode nos avisar caso ela retorne.

Ele pegou o celular e entregou a mim.

—Ligue por favor, não tenho a mínima condição de falar com a Denise agora. –Jonas estava com muita raiva.

Ao segundo toque ela atendeu.

—Jonas, o que está acontecendo? –Ela estava chorando.

—Sou eu, Vanessa, e estamos atrás da Liv. Ela saiu de moto descontrolada por sua culpa, sua vaca desalmada!Se acontecer alguma coisa com ela, a culpa será toda sua! –Isso era o que eu realmente queria dizer para ela.

—Sou eu, Vanessa, a Liv saiu de moto e estamos a sua procura...então, se ela voltar, nos avise. – Foi o que eu falei, infelizmente.

—Ai meu Deus! –Ela começou a chorar alto.

Desliguei o telefone.

— Se Livia sofrer um arranhão, eu não sei o sou capaz de fazer com a Denise. –Ele grunhiu.

Arregalei meus olhos, eu não queria estar na pele daquela mulher.

—Não tem algum lugar que ela possa ter ido, um lugar que se sinta segura? –Sugeri notando que não adiantaria ficar ali, andando em círculos.

Jonas parou por um instante e depois arfou.

—Claro, a casa de praia... –Ele deu um murro no volante. – Será que iria até lá?

—Vamos, ela deve mesmo ter ido pra lá. –Me lembrei de como ela falava com carinho do lugar, onde ela e Ian viveram seus melhores dias.

Tudo o que aconteceu depois pode ser descrito como cena de  um filme, daqueles que salta de suspense para terror assim, num estalar de dedos.

Jonas dirigia sem respeitar os sinais do trânsito, nem as placas e, por sorte não sofremos nenhum acidente.Denise não parava de ligar, estava desesperada.Eu atendia suas ligações e não fazia a mínima questão de tentar acalmá-la.

Entramos na estrada que levava a praia, estávamos em silêncio, eu podia ouvir meus próprios batimentos, descompassados.Andamos alguns poucos quilômetros antes de nos depararmos com a mais terrível das cenas que eu, Vanessa Verdinni, já havia presenciado.

A moto que Lívia pilotava estava caída no acostamento, uns vinte metros a frente, duas ambulâncias.Haviam agentes de transito sinalizando o desvio, uma faixa da pista estava interditada.Olhei para o pai da Lívia e sua expressão, assim que começou a entender o que estava acontecendo, foi algo que me marcou e se tornou inesquecível.

Ele parou o carro e correu de encontro as ambulâncias, fiz o mesmo. Minha cabeça latejava e meu coração batia em todos os pontos do meu corpo, foi tudo muito rápido, mas parecia estar acontecendo em câmera lenta.Por entre os paramédicos e bombeiros que faziam uma espécie de cerca humana, dava para vê-la, sobre uma maca, na verdade, enquanto eu me aproximava consegui ver parte de sua perna, reconheci a calça jeans clara.

Confesso que naquele momento, onde meu medo estava se concretizando, reduzi minha velocidade, parecia que se eu não a visse, então, aquele acidente não seria real...Só que as coisas não funcionavam assim.

Jonas se infiltrou por entre aquelas pessoas que rodeavam Lívia, dois homens o seguraram, ele gritava o nome da filha, e aquilo foi outra das cenas mais tristes que já tinha visto.Um homem que há minutos parecia tão forte estava ali, sentado no chão de uma avenida porque não tinha forças sequer de se manter em pé.

Ele chorava copiosamente, um dos socorristas conversava com Jonas, embora eu estivesse com medo de tudo aquilo ali, ele só tinha a mim no momento,e eu precisava demonstrar isso.Abaixei-me perto dele, e ainda pude ver quando colocaram Livia dentro da ambulância.

A pena direita da calça estava cortada até a altura da coxa, isso expunha sua canela banhada de sangue, o braço direito também estava em carne viva, não pude ver seu rosto, mas sabia que ela estava desacordada.

—Para onde ela está sendo levada? –Perguntei ao homem que falava com Jonas.

—Para o hospital municipal.

Balancei a cabeça de forma positiva.

—Eu vou junto na ambulância, quero ficar com a minha filha! –Ele se levantou com minha ajuda.

—O senhor pode ir na outra ambulância,sua filha está em uma UTI móvel, é melhor que seja acompanhada apenas pelos especialistas.

Jonas não relutou, estava em estado de choque.

— E o carro dele? –Preocupei-me sem saber o que eu faria.

—Posso pedir para que um dos bombeiros leve-o até o hospital.

—Eu posso ir com ele na ambulância? —Não queria deixá-lo sozinho.

O socorrista fez que sim com a cabeça.

Corri até o carro e peguei o celular de Jonas, haviam dezenas de chamadas perdidas, e ele voltou a tocar.Senti vontade de dar a fatídica notícia a ela da forma que ela merecia, mas

Denise era mãe e pela primeira vez senti pena dela.Ela estava ferrada, de todas as formas.

—A mãe da garota acidentada está ligando, eu não sei como dizer a ela.Você pode fazer? –Estendi o telefone a um dos paramédicos.

Ele pegou o parelho da minha mão, então segui para a ambulância que nos levaria ao hospital.A com Lívia já havia partido.

— Pedi para alguém mais indicado dar a notícia para a mãe da Liv. – Murmurei enquanto tocava o   ombro de Jonas.

Ele concordou com a cabeça, os olhos estavam fixos em algum ponto do chão,perdidos ali como se esperassem uma explicação para o que estava acontecendo. Ele não chorava mais, seu rosto estava liso, sem expressão alguma.

Pensei em meu pai, meu coração ficou ainda mais apertado.Prometi a mim mesma que quando chegasse em casa diria a ele o quanto o amava.A dor que aquele homem estava sentindo transcendia todo e qualquer outro sentimento.

O homem ao qual eu havia passado a missão de falar com Denise,curvou-se para dentro do carro em que estávamos e me devolveu o parelho.

—Tem alguém com essa mulher?

—Não,acho que não. –Encolhi meus ombros.

Jonas manteve-se da mesma forma, intacto.

—Ela ficou muito nervosa... –Ele me encarou, e seu olhar passava mais tristeza do que certamente ele gostaria.

Eu não podia dizer nada, respirei fundo, toda aquela situação me causava arrepios. Eu não conseguia tirar da minha cabeça a cena de Livia naquela maca e, embora soubesse da gravidade daquele acidente, não me permitia pensar no pior.

—Vai ficar tudo bem... Liv é uma das pessoas mais fortes que já conheci.

Ele finalmente desviou seus olhos para mim.

—Eu sempre soube de sua valentia, mas ultimamente eu vinha me surpreendendo com ela, –começou a fungar– as coisas não precisavam ter sido assim,Deus,veja o resultado da intolerância. –Ele desabou a chorar, e eu também.

Hospitais não eram meu lugar preferido, naquele dia descobri que ambulâncias também não.De qualquer forma, estava ali pela Livia.Assim que chegamos, Jonas foi recebido por um médico, meia idade, no rosto estampava um sorrido do tipo: "eu não tenho boas notícias mas estou fingindo que sim",ele encaminhou o pai de Livia até uma sala reservada, eu fiquei ali, naquela sala de espera, fria, em todos os sentidos.

Aproveitei que estava sozinha e liguei para minha casa, expliquei a minha mãe o que estava acontecendo e avisei que ficaria naquele hospital o tempo que fosse necessário.Ainda falava com ela quando avistei Denise acompanhada do Leonardo.Ela caminhava amparada por ele e quando me viu acelerou os passos.

Minha vontade foi de sair correndo, eu não queria ter que falar com ela, e, por outro lado, nem podia imaginar como Jonas reagiria ao encontrá-la...

Não precisei nem perder meu tempo imaginando, os dois chegaram naquela sala de espera praticamente ao mesmo tempo.

Denise berrava desesperada que queria ver a filha, Jonas ficou paralisado, fechou as mãos e a boca também,ele não dizia nada, apenas deixava a ex-mulher fazer seu escândalo.

Leonardo colocou-se ao meu lado, nós dois observávamos a cena, estarrecidos.Ao menos eu, estava.

—Acabou? –Ele então começou.Sua voz estava baixa, ele parecia estar tentando não perder o controle.

Denise tinha acabado de se sentar e ainda chorava de forma descontrolada.

—Como a Liv está? –Aproximei-me dele, eu precisava saber.

—Ela está passando por exames, sabe-se que ela teve uma fratura grave na perna direita e vai ter que passar por uma cirurgia...

—Eu exijo ver minha filha –Denise se levantou. –Agora!

Jonas cerrou os pulsos, franziu a testa e deu um passo a frente, eles estavam a menos de 10 centímetros de distancia.

—Cale a sua boca Denise. –Falou entre os dentes. –Isso tudo é culpa sua...Nossa filha está nessa, graças a você, se tivesse a deixado fazer aquela maldita viagem, a essa hora tudo estaria bem.

Ela arregalou os olhos, voltou a chorar baixinho.O que tinha acabado de ouvir era muito forte, mas não deixava de ser verdade.

Eu não parava de pensar na Livia, mas havia Ian também.Diante daquela tragédia seu estado de saúde acabou ficando em segundo plano,mas não deveria.Quando Lívia despertasse, e eu tinha certeza de que isso aconteceria, seria a primeira coisa que ela iria querer saber.

Todos naquela sala estavam no limite, achei melhor não tocar naquele assunto no momento, embora minha mente não sossegasse.Normalmente quem está de fora , assistindo uma situação, acaba tendo uma visão mais ampla das coisas, eu era essa pessoa.

De todos os defeitos que eu tinha, um deles não era a abnegação,ao contrário, eu era desconfiada,persistente,sempre queria extrair o máximo das coisas e isso me tornava uma pessoa muito observadora.

Como o tempo naquele lugar parecia passar muito devagar, usei isso a meu favor, comecei a juntar algumas peças que pareciam não se encaixar. Tudo bem que eu não estava por dentro da história de Livia e Ian há muito tempo, mas eu sabia de um bom tanto de coisas, e a historia da falta de contato de Ian, depois, ter sido justamente a mãe de Livia a receber a notícia do seu coma, bem quando Jonas decidiu que iria para Londres...Para mim tinha algo muito errado ali,e eu pretendia descobrir.

Coloquei em prática o que aprendi nas minhas séries preferidas da televisão, me sentindo uma integrante do CSI, comecei a bolar um plano.

—Seu Jonas, eu sei que esse não é momento, mas,na correria acabei deixando minha bolsa no apartamento, então...será que eu poderia ir mais tarde até lá?

—Claro. –Ele balançou a cabeça. –Inclusive Vanessa, pode ir para sua casa, seus pais devem estar morrendo de preocupação, eu pago um táxi pra você.

—Não, tudo bem. Eu vou ficar até sabermos notícias,depois eu vou. –Voltei a me sentar, dessa vez bem perto do Leonardo.

—Eu não acredito que isso está acontecendo com a Livia, isso parece um pesadelo.

—É, só que no seu caso, seria bom se ela perdesse a memória. Lívia estava muito puta da vida com você. –Blefei.

Ele arqueou as sobrancelhas e se voltou para mim.

—O quê?Nós havíamos nos acertado, estava tudo bem entre nós.

—Ela soube que você atendeu uma ligação do Ian no celular dela. –Continuei mentindo, fazia parte do meu plano.

Leonardo pareceu surpreso, ele balançou a cabeça curvou a boca para baixo, estava pensativo.

—Eu não fiz isso, eu jamais atenderia o celular dela.

"Merda" –pensei.Ele parecia sincero.Então,ou era um bom ator ,ou minha primeira teoria acabava de se esvair.

—Bom, de qualquer forma... –Comecei a sair da conversa, porém, me interrompi ao ver o médico colocando-se em nossa frente.

—Como está minha filha? –Denise e Jonas perguntaram ao mesmo tempo.

Leonardo e eu também nos levantamos e ficamos os quatro, em torno do médico, escutando atentos a tudo o que ele explicava.

—Então ela está fora de perigo? – Denise levou a mão ao peito.

—É cedo para qualquer conclusão, e embora o capacete tenha a protegido, ela bateu a cabeça com muita força, e a ressonância comprovou um inchaço no cérebro, nada extremante preocupante, mas temos que esperar e ver como isso vai evoluir ou regredir.

Sabendo que só nos restava esperar, decidi dar meu segundo passo.Jonas me entregou as chaves do apartamento  sem a menor desconfiança e Denise, que deveria estar sendo corroída pela culpa, parecia alheia a tudo.Seu estado me ajudava, do contrario, ainda mais se tratando de alguém como ela, minhas reais intenções poderiam ser descobertas.

Entrei naquele apartamento sentindo a adrenalina correndo em minhas veias.O que eu pretendia fazer não era de todo errado, mas não era certo também.Fiquei imaginando o sermão que meus pais me passariam se soubessem. Minha mãe seria a primeira a dizer que não foi assim que me educou.

Me peguei caminhando na ponta dos pés e sem respirar, como se alguém pudesse me dar um flagrante a qualquer instante.Sabia que ninguém chegaria, só não conseguia agir normalmente ali.

No quarto de Lívia fui direto até seu computador, ele estava ligado e a conta do e-mail estava aberta.Dei uma olhada, alguém da família de Ian poderia ter entrado em contato, ou mesmo ele.Nada.Tirando um e-mail promocional das Lojas Americanas, tudo ali continuava igual.

Respirei fundo, precisava tomar coragem e ir para o covil de Denise, seria lá onde eu encontraria as respostas que procurava.Ela só precisava ter deixado seu sua conta de e-mail aberta também, do contrario,  todo o meu plano seria inútil, eu não entendia nada além do necessário se tratando de informática, também não conhecia nenhum hacker.

Antes de sair do quarto da Livia, dei uma olhada em seu painel de fotos, precisava de encorajamento para continuar minha investigação.

Abri a porta cuidadosamente, a impressão que eu tinha, era que Denise apareceria atrás de mim me perguntando o que eu fazia ali.A coisa era tão grave, que ela estava entrando para o grupo de coisas que me causavam pesadelos, e como a Livia diria, no mesmo pacote dos palhaços e das bonecas que falam.

Seu notebook estava sobre a cama, fechado,me aproximei e vi que uma luz piscava em sua lateral, ao menos estava ligado.Fiz uma dancinha para comemorar.

Olhei ao meu redor, era apenas um quarto, como os outros, uma coisa que me chamou a atenção foi um porta retratos sobre o criado mudo, nele uma foto de Denise e Lívia, as duas sorriam, pareciam mesmo felizes.Não dava para entender como ela pôde deixar as coisas chegarem aquele ponto.

Com o coração acelerado e as mãos tremendo, sentei-me em sua cama e coloquei o notebook em meu colo, cruzei meus dedos e então levantei a tela.

Ao primeiro toque no teclado as imagens se fizeram presentes, lá estavam eles, e-mails e mais e-mails,prontos para serem lidos.

Senti vontade de dar uma espiada na vida pessoal de Denise. Será que ela tinha mesmo um rolo com o pai do Leonardo, como a Liv desconfiava?Era tentador, mas eu não podia perder tempo com isso.Precisava mesmo saber se ela estava mantendo contato com os pais de Ian.

—Droga! –Praguejei-me.Eu precisava de nomes para fazer a pesquisa e ganhar tempo.

Ian.Digitei na barra de pesquisas, claro, ele era assunto principal e para minha surpresa...lá estavam eles, três resultados.Denise tinha trocado um e-mail com Isis, esse era o nome da outra cobra, e dois, com o próprio Ian.

Confesso que meu coração disparou ao saber que em minutos eu saberia a verdade dos fatos.Resolvi começar pelo enviado a Ian, era de dias atrás, um texto enorme.

Comecei a ler aquilo e senti meu estômago revirar já nas primeiras linhas.Cada palavra, cada frase escrita por Denise era carregada de uma maldade disfarçada, era cheia de segundas intenções e pior, ela sabia mesmo como trabalhar o psicológico de alguém.Eu estava estarrecida, e mesmo tendo uma péssima impressão daquela mulher, ver do que ela era capaz me dava medo.

Tive que esperar um tempo até seguir para os próximos e-mails, cada um deles preenchia os buracos daquela história.Tudo começava a fazer todo o sentido e, minhas teorias estavam certas enfim.

Eu deveria ter me sentindo feliz com meu êxito,só não conseguia.Era muito triste, era deprimente na verdade .Senti pena de Ian e Livia, e pena de suas mães por serem tão ignorantes, por acharem que o que fizeram podia ser classificado como amor.

Encaminhei aqueles e-mails para o meu, depois fui para o computador da Livia,precisava começar a agir, e também, estava ansiosa para voltar ao hospital.

Acompanhei atenta cada folha sendo impressa enquanto pensava que Denise teria muito a explicar.Algo me dizia que ela iria gostar ainda menos de mim depois daquele dia...


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Notas finais do capítulo

#VanessaMeRepresenta



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