Ao seu lado escrita por nanacfabreti


Capítulo 20
Começo do fim




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Eu estava cansada, cansada de lutar , de ser redundante,de ficar frisando sempre as mesmas coisas, essas que estavam me causando um desgaste incomum.

—Eu vou te deixar falar Leonardo. –Sentei-me na cama, bem de frente para ele. –Fale, explique-se, desculpe-se, mas depois disso, eu exijo que me deixe em paz.

—Tudo bem–Ele ajeitou-se na poltrona, parecia ter muito a dizer. –É tudo o que quero, que me ouça, e se depois não quiser mesmo mais falar comigo, eu juro que vou respeitar.

Respirei fundo, desejava que aquilo fosse mesmo verdade.

—Eu sei que errei com você Liv, e isso foi desde o meu envolvimento com a Júlia. –Ele começou, estava com os olhos fixos em mim. –A verdade é que eu sempre gostei de você, e para mim não era só amizade, então eu comecei a sair com a Júlia,pra ver se você ficava com ciúmes.

"Que ótimo!" –Pensei. Era o que todos e diziam, e no fundo eu já sabia, mas preferia ignorar.

—Nossa, essa história só piora. –Reclamei. –Usou a garota? Você sim, sabia que ela era apaixonada por você. –Coloquei o dedo em riste.

Ele baixou a cabeça, estava envergonhado.

—Eu sabia, mas não achava que chegaria tão longe.Você conhece a Júlia, ela já estava escolhendo o nome dos nossos filhos, aí eu tive que falar a verdade para ela.

Levei as mãos à boca.

—Você não disse para ela que...

—Falei. –Ele balançou a cabeça assentindo. –Eu tive que ser sincero, disse para ela que era completamente apaixonado por você.

—Nossa!Isso explica tanta coisa. –Lembrei do quanto Júlia tinha ciúmes quando se tratava do Leonardo e eu.

—Liv,aquele dia em que nos beijamos –ele voltou a fixar seus olhos nos meus– foi como a realização de um sonho, eu jurava que para você também tinha sido, e que ficaríamos juntos. –Ele encolheu os ombros.

Leonardo tinha me desarmado,eu não sabia o que dizer sem parecer tão cruel quanto  vinha sendo,  internamente me praguejava,aquele beijo nunca me pareceu tão sem cabimento quanto naquele momento.

—Se eu soubesse como você se sentia sobre mim, teria sido mais cautelosa. –Tentei me desculpar.

Leonardo levantou-se.

—A Verdade Liv, é que se Ian não tivesse entrado em sua vida, ocupando tanto espaço, talvez tivéssemos uma chance.

Fechei meus olhos para colocar meus pensamentos em ordem.

—A verdade é que Ian chegou e ocupou todo o espaço,e por mais que muitos achem que ele me usa como uma tábua de salvação,é totalmente o contrário, Ian é minha luz, minha redenção, ele é uma parte de mim. –Expliquei tentando não ofendê-lo. –Você me entende?

Ele lançou-me um olhar de sofrimento, e certamente ele estava so mesmo, mas eu também estava, não por ele, mas pela falta que Ian me fazia e por todos os meus outros problemas e, isso já era o bastante.Por mais que soasse egoísta, Leonardo tinha que lidar com seus fantasmas e com suas dores, afinal, eu mesma estava fazendo isso.

—Eu a entendo –ele caminhou até a porta –mais do que você imagina e saiba que se precisar de mim, eu ainda estarei disposto a te ajudar – Ele afirmou antes de sair.

Eu nada respondi, só esperava que aquele fosse mesmo nosso desfecho.Ainda pude ouvi-lo aos sussurros na sala  com minha mãe,  não me preocupei em tentar saber o teor da conversa.

Ian me ligaria a qualquer momento, foi então que dei falta do meu celular, eu não o largava e quando fui tomar banho jurava que o levara para o banheiro.Me pus a procurar e nada, desesperada, imaginado que ele podia já ter me ligado enquanto eu lavava roupa suja com o Léo, disquei para tentar ouvir seu toque.

—Droga,droga e droga! –Eu já estava em completo desespero, nem sinal do bendito telefone.Sem saber o que fazer, acabei ligando do fixo, embora Denise tivesse deixado claro que não queria que eu fizesse ligações internacionais daquele telefone.

Para me deixar ainda pior, nada, somente caixa postal,e aquela altura eu já estava imaginando um monte de coisas ruins, pensei que  Ian teria me ligado e Léo atendido, ou que minha mãe teria desaparecido com meu telefone como resposta aos acontecimentos anteriores.Qualquer que fosse a hipótese, ambas eram muito ruins, e mesmo em contragosto, eu me preparava para indagá-la, eu precisava do meu telefone.

Antes que eu passasse pela porta do meu quarto, minha visão periférica identificou algo caído atrás da poltrona, a mesma que Léo ocupava pouco tempo atrás.Era o próprio, lá estava meu telefone dividido em duas partes, era como se tivesse sido arremessado, ou mesmo, como se a bateria tivesse sido retirada propositalmente.

Uma chamada perdida, a tela acusou assim que consegui religá-lo. Ian tinha mesmo me telefonado e ao menos eu sabia que Léo  não tinha atendido ele.

Eu estava nervosa, meu coração disparado e mesmo insistindo nas ligações, nada.Deixei uma mensagem , eu estava preocupada, e me senti uma burra por nunca ter pedido o numero da casa de sua irmã.

Esperei por mais de uma hora, olhando para aquele aparelho como se ele fosse uma espécie de portal mágico, bastava que ele tocasse e eu reencontraria minha paz.

Já passavam de onze da noite quando resolvi subir alguns andares, estava disposta a falar com os pais de Ian, eles podiam me dar o telefone de Marla.

Toquei o interfone, estava anestesiada, sabia que não era querida por nenhum deles, mas, se pudesse escolher alguém para me atender, seria o pai de Ian, a meu ver ,ele era menos algoz.

"Graças a Deus!" –Pensei, quando ele apareceu na porta.Seu rosto estampava confusão,  saiu do apartamento fechando a porta em suas costas.

—Boa noite...eu, não estou conseguindo falar com o Ian no celular, queria o telefone da sua filha. –Disparei sem tempo nem vontade de dar voltas.

Ele tirou os óculos e esfregou os olhos, depois baixou a cabeça.

— Falei com Marla há pouco, Ian não estava muito bem, então espere até amanhã, ou espere até que ele ligue para você. –Disse seco.

—Como assim, ele não estava bem? –Desesperei-me. – Me fala isso e acha mesmo que eu vou ficar de braços cruzados esperando que ele me ligue?

—Que outra alternativa você tem? –Ele franziu a testa como se estivesse alheio ao que eu sentia por seu filho.

—Eu não entendo como todos vocês podem ser tão cruéis. –comecei a chorar – Qual o problema de Ian ser amado?O que tem de tão ruim nisso?

Ele cruzou os braços enquanto balançava a cabeça negativamente.

—Acredite. –Ele tocou meu ombro. –Essa relação de vocês não me incomoda, eu sei o quanto isso faz bem ao meu filho, mas vocês estão romantizado de mais as coisas e a realidade é bem menos bonita, assim como minha esposa, sua mãe é absolutamente contra esse namoro; vá por mim, é melhor não levar isso a diante.

Quanta perda de tempo, eu estava sozinha mesmo, me sentia como se me afogasse e ninguém pudesse me salvar.Eu queria gritar mas, quem me ouviria?

Voltei para meu apartamento revoltada,com tudo.Com a vida, com minha mãe, com os pais de Ian, então comecei a chorar, como uma criança.liguei para meu pai em menos de vinte minutos ele já estava lá.

—O que está acontecendo? –Minha mãe acordou com o barulho da porta.

—Pai, por favor, eu preciso fazer essa viagem logo. –Eu implorava em seus braços,aos prantos. –Ian está precisando de mim.

—Que viagem? –Ela gritou. –Não está achando que vou permitir que se despenque para Londres atrás daquele rapaz?

—Ela vai. –Ele avisou com a voz ponderada. –Eles são namorados, ele precisa do apoio dela.

—Jonas, nossa filha é uma criança, ela nunca saiu da cidade sozinha. –Ela andava de um lado para o outro da sala. –Acha que vou deixar que ela vá para outro país para bancar a enfermeira?

—Daqui a pouco sou maior de idade e então vou poder fazer o que quiser. –Argumentei agarrando-me a idéia de que ela pudesse reconsiderar. –Por que não me deixa ir antes?Não se importa mesmo em como eu estou sofrendo, mãe?

Ela ficou me olhando por um tempo, achei que estivesse pensando, e juro, se ela permitisse minha viagem  eu estava disposta a apagar toda a mágoa e todo o rancor que estavam dentro de mim.

—Vocês podem achar que eu não tenho sentimentos, e que estou agindo dessa maneira por maldade, mas não, no futuro Liv, você mai me agradecer por eu não ter deixado você arrasar com sua vida.É como eu já disse antes, isso não tem como acabar bem, Ian tem uma doença sem cura e cedo ou tarde ele vai...

Me levantei como um raio e parei em sua frente encarando-a.

—Não termine essa frase! –Gritei. –Você é cruel, fria, e tudo o que está conseguindo é que eu a odeie, sim, porque nesse momento, olhando assim pra você, eu só consigo sentir ódio de você,mãe.

—Pois que seja assim,Lívia. –Ela sorriu com sarcasmo. –Eu a amo, e vou fazer o que for necessário para mantê-la segura, e garanto uma coisa, você não vai para Londres. –Ela finalizou dando as costas para mim.

Aquela ameaça pareceu-me mais uma promessa, eu sinceramente senti medo, ela parecia mesmo disposta a qualquer coisa para impedir meu namoro.

—Parece que virou um cabo de guerra pai. –Sentei-se ao seu lado no sofá. –É como se minha mãe quisesse provar quem é que manda, chega a ser doentio.

Ele estava pensativo, assistiu toda a cena sem dizer uma palavra sequer.

—Estou preocupado com sua mãe...Realmente ela parece doente. –Ele me abraçou. –Eu não a reconheço.

Amanhecemos no sofá, meu pai e eu, esgotamos nossas teorias madrugada a dentro e ele tentava me acalmar por todo o tempo.As cinco da manhã meu telefone tocou, eu estava numa espécie de cochilo.

—Ian, meu amor! Quer me matar de preocupação?

—Meu pai me ligou Lívia, disse que você foi até seu apartamento. –Ele estava estranho.

—Claro, eu liguei um  milhão de vezes para você! –Argumentei.

—Eu te liguei ontem como combinamos, mas você não atendeu...

—Eu estava no banho. –Preferi omitir a parte da conversa com Léo, e sobre o estranho sumiço do meu telefone.

—Ah, estava no banho?Foi só isso? –Ian usava um tom inédito para mim.

—Ian, seu pai me disse que você não estava bem, eu quase surtei aqui, não tem idéia de como fiquei preocupada. –Mudei de assunto, tínhamos coisas mais importantes para falar.

Ele ficou em silencio por alguns segundos, segundos que pareceram horas.

—Eu já estou melhor agora, mas preciso descansar.

—Eu também estou exausta, nem vou conseguir ir para o colégio,eu não dormi. –Confessei sentindo meu corpo reagindo.

—Eu não queria que tivesse ficado assim, eu sinto muito. –Ian estava seco. –Ligo para você depois e Liv, não procure meus pais, por favor.

Ele desligou e eu que achava que aquele telefonema me traria alívio, sofri o efeito contrário, a forma com que Ian falou comigo me deixou ainda pior, ele estava distante e parecia estar me ligando por obrigação.Sem contar seu ultimo pedido, ele parecia não ter gostado nada de eu ter ido até seu apartamento, isso me fez pensar se era esse o motivo de sua indiferença.

Cada vez mais fundo.Era como eu estava naquele momento e como se não bastasse, tive de ouvir um outro sermão de minha mãe, por conta da minha falta a aula naquele dia, ela falou tanta coisa que em certo momento eu bloqueei, suas palavras passavam direito pelos meus ouvidos sem que eu absorvesse nada.

—Estava na cara ,não é Liv?–Vanessa riu quando contei sobre a conversa que tive com Leó.

Ela saiu do colégio e foi até meu apartamento, estávamos na sala conversando dessa vez sem minha mãe para nos incomodar.

—Até eu que cheguei agora,já tinha percebido que esse cara é totalmente apaixonado por você.

—Bom, parece que ele entendeu  que nada vai acontecer entre nós dois, mas isso é de menos, eu estou mesmo preocupada é com Ian, ele foi muito frio comigo hoje. –Desabafei sentindo meu coração pesar dentro de mim.

—Não deve estar sendo nada fácil para ele, e esse tratamento deve ser pesado, deve mexer até com o psicológico da pessoa.

—Nossa, se eu pudesse estaria lá agora!

—Desculpa Liv, mas sua mãe é uma baita de uma vadia controladora. –Vanessa afirmou com indignação. – O que custava te deixar fazer essa viagem um pouco antes, era só assinar uma droga de autorização e pronto.

—Nem me fale, eu não me conformo com o que está acontecendo. –Reclamei.

Vanessa abraçou as pernas e sorriu com leveza.

—Agradeço os pais que tenho, eles são totalmente compreensivos e nunca se opuseram a minha maneira de pensar, muito menos ás minhas escolhas de relacionamento.

—Que bom. O respeito é algo tão importante em qualquer relacionamento, só que minha mãe parece ter se esquecido disso...Ela tem tanto medo de me perder que não percebeu ainda que é exatamente o que está acontecendo.

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Naquele dia eu não desgrudei do meu telefone, até mesmo ao banheiro eu o levava. A medida que as horas passavam, minha angustia aumentava.Eu não conseguia comer, tinha um nó em minha garganta, crescendo a cada instante.

Acabei adormecendo a certa altura da noite,  de madrugada acordei assustada, olhei para o celular e nada, Ian não havia mesmo me ligado.

Três da manhã, lá seriam perto das seis, eu iria acordá-lo, mas, não dava para ficar sem ter notícias.

—Oi Lívia .–Ele atendeu com voz de sono após umas cinco chamadas.

—Ian, eu fiquei esperando você me ligar o dia todo, a noite , e nada.Como acha que eu fico me sentindo com essa falta de contato? –Cobrei sussurrando, não queria que minha mãe acordasse.

—Me desculpe, mas esses medicamentos tem me deixado indisposto e sonolento.

—Estou começando a me perguntar se isso está valendo a pena Ian...Antes você estava bem, o coquetel já nem estava te causando efeitos colaterais e agora você está assim, mal quase todos os dias. –Comecei a expor meus martírios a ele, eu tinha passado o dia todo pensando nisso.

Ian suspirou.

—Essa é minha vida Liv, estou doente e tentando mudar isso, tenho que pagar o preço. –Ele pareceu-me muito desanimado.

—Você está estranho comigo. – Afirmei chorosa.

—Eu só não estou passando por uma fase boa, tenho presenciado coisas que não são legais de ser ver e, bem, eu não quero preocupá-la.

—Logo eu vou estar com você...Aí tudo vai melhorar. –Prometi sentindo um frio correr por minhas costas.

Ian silenciou, parecia até que não tinha ouvido o que eu acabava de dizer.

—Liv, prometa uma coisa para mim. –Ele finalmente voltou a falar. –Você vai voltar a viver sua vida, dedique-se aos seus estudos, saia com suas amigas, e não fique presa em seu quarto esperando que eu ligue, tudo que fizer contrário a isso está errado.

Não posso explicar como recebi essas palavras, elas doeram em minha alma, era como se Ian estivesse me liberando e eu não estava gostando nada do teor daquela conversa.

—O que quer dizer com isso? –Indaguei sentindo medo de sua resposta.

—Nada de mais, só que o doente aqui sou eu, você não precisa apertar o botão pause,por minha causa.

—Ian, eu espero que sejam os remédios que estão fazendo você me dizer essas coisas. –Senti o calor das  lágrimas em meu rosto. –Eu vou deixar você descansar...Nos falamos depois, e lembre-se que eu amo você.

—Fique bem liv, eu também te amo. –Ele desligou rapidamente.

Nem preciso dizer que chorei até o dia amanhecer e se pudesse, não iria para o colégio novamente.Não consegui me concentrar em nada, me senti vã.Nem mesmo Vanessa pôde me animar.

Caminhava distraída, meus pensamentos estavam descoordenados e então, quando virei a esquina avistei os pais de Ian entrando em um táxi, o motorista colocava a ultima mala dentro do carro e aquilo me despertou.Estariam eles indo para Londres?

Acelerei meus passos, na verdade corri ,mas não cheguei a tempo, o carro já tinha partido.

—Sabe se os Sodiers foram viajar? –Perguntei desesperada ao porteiro, ele era um dos mais antigos e sabia de toda a minha história com Ian.

Ele olhou para os lados precavendo-se de que não havia mais ninguém ali, além de nós.

—Eu não gosto de fofoca, mas eles saíram desesperados daqui, levaram um monte de malas e parece que vão demorar. –Ele segredava a mim como se fosse um repórter dando um furo de reportagem.

—Eles foram para Londres? –Estava desesperada.

—Isso, foram pra lá mesmo. –Ele balançava a cabeça positivamente.

—Meu Deus!Será que aconteceu alguma coisa com Ian? –Estava prestes a surtar, peguei meu telefone e liguei para ele.Cada toque de chamada fazia meus batimentos aumentarem, cinco, seis,sete,e então a voz eletrônica da caixa postal.

—Eles deixaram algum telefone de contato com você? –Indaguei esperançosa.

—Não, mas a mulher não estava com uma cara muito boa não.

Nem sei como consegui entrar naquele elevador e apertar o botão do meu andar.Não sei como consegui respirar.Meu corpo tremia, meus joelhos pareciam ter vida própria.

Precisava me acalmar para pensar em alguma solução, não conseguia, telefonei para o meu pai e contei tudo a ele.E por mais que tentasse disfarçar,senti a preocupação em sua voz.

Minha mãe certamente tinha o telefone particular da mãe de Ian, elas estavam intimas ultimamente.Engoli todo o meu orgulho e liguei para ela.

—O que a faz pensar que eu tenho o celular dela?

—Mãe, é serio, os pais de Ian viajaram para Londres,e eu não consigo falar com ele, estou morrendo de preocupação. –Implorei .

—Eu não tenho mesmo, a vezes que falei com ela foram pessoalmente ou no telefone fixo.

—Claro. –Assenti.– Mesmo se tivesse não me falaria...

—Liv, –ela começou a falar e eu desliguei sem querer ouvir.

Passei a tarde toda tentando falar com Ian, meu pai permaneceu comigo por todo o tempo, e achou bom que eu mandasse um e-mail para ele também.

No fim do dia, sem sabermos mais o que fazer ele teve uma idéia, ele iria ligar na clinica de Londres, meu pai falava inglês fluente e para mim, parecia uma luz no fim do túnel.

Pesquisei na internet, mas diferente do que eu imaginava, não existiam muitas informações sobre o Alternative Institut Group, consegui um telefone depois de passear por vários sites e reportagens.

Ansiosa, observava atenta a conversa do meu pai ao telefone, e mesmo sem entender nada do que ele estava dizendo, não consegui sair do seu lado.

—E então pai, conseguiu alguma coisa?

Ele se fechou numa expressão de tristeza, e eu quase perdi meus sentidos.

—Eles se recusam a dar qualquer informação sobre pacientes, vai contra a ética deles. –Ele bufou. –E filha, eu expliquei, insisti até,mas nada feito.

Eu não sabia mais o que fazer, estava de mãos atadas, tudo o que me restava era esperar,e aquele foi um dos piores dias da minha vida,  milhares de pensamentos negativos surgiam em minha cabeça e em alguns momentos eu chegava a sentir uma falta de ar real.Perdi as contas de quantas vezes chorei nos ombros do meu pai.

No fim da tarde minha mãe chegou e ela assustou-se com o meu estado.

—Denise, você não tem mesmo nenhum contato dos pais de Ian? –Eu ouvi quando meu pai discretamente perguntou a ela.

—Claro que não Jonas. –Ela saiu encerrando o assunto.

Mais tentativas e nada, eu havia ligado tanto para Ian, que depois de um tempo as chamadas caiam  diretamente na caixa postal, sem contar nos e-mails, eu já tinha perdido as contas de quantos enviara.

Dessa forma o dia amanheceu, e sem notícias sobre Ian, aos poucos eu já estava começando a acreditar que algo ruim pudesse ter acontecido com ele.

—Pai, eu não agüento mais isso. –Voltei a chorar, era a única coisa que me aliviava um pouco. –Eu acho que vou enlouquecer.

—Ai,Liv...–ele acariciava meus cabelos–eu não sei o que fazer para te ajudar filha, eu estou de mãos atadas.

—Tome esse suco, do contrario acabará em um hospital. –Minha mãe ofereceu-me o copo.

Nada descia em minha garganta, mas mesmo assim tentei empurrar, eu estava realmente mal, meu corpo estava tão cansado quanto minha mente.

Certamente ela havia colocado algum tipo de relaxante naquele suco, do contrário eu não teria adormecido.Eu estava ciente de tudo o que estava acontecendo, ouvia perfeitamente as vozes que se fundiam com sonhos desconexos,mas eu conseguia separar o que era real.

Meu pai insistia que minha mãe me deixasse viajar, sim, ele também como eu,só via essa solução.

—Eu vou com ela, garanto que a trago de volta. –Ele argumentava.

—Não Jonas, nem perca seu tempo.Veja como nossa filha está, uma garota que deveria estar se preocupando com que o vai usar na formatura, assim, precisando de calmantes para dormir porque o namorado doente sumiu, ou sei lá o quê.

Eu queria me intrometer na conversa, usar os meus argumentos,mas eu não conseguia me mover, era como se estivesse petrificada, meu corpo pesava toneladas, apenas meu cérebro funcionava.Acabei apagando novamente.

—Filha, acorde. –A voz do meu pai me despertou e demorei um pouco para entender o  porquê de meu  coração estar doendo daquela forma.

—Alguma notícia, pai? –Sentei-me num pulo, estava em minha cama.

Ele apenas balançou a cabeça negativamente, estava acabado também, certamente não havia dormido  e sequer mudara de roupa.

—Que horas são? –Perguntei confusa. –Por quanto tempo eu dormi?

—Já é de manhã.

Isso significava que eu estava oficialmente há mais de 24 hora sem notícias de Ian.

—Meu Deus, eu não acredito que estou passando por isso. –Sussurrei para mim mesma.

Corri para checar meus e-mails, nada, nenhuma resposta.

Aquilo parecia um pesadelo cruel e assustador.

—Eu conversei com o porteiro e ele me disse que o pai de Ian é diretor de uma concessionária.Consegui o endereço, vou até lá ver se consigo alguma informação.

—Eu vou junto. –Coloquei-me em pé e senti minha cabeça girar.

—Liv, você precisa se alimentar, eu volto rápido, além do mais, vai que ele se comunica, é melhor ficar aqui. –Ele me convenceu.

Estava na sala porque não conseguia fica muito tempo no mesmo lugar, minha mãe estava pendurava no telefone, não tinha ido trabalhar.Já haviam passado algumas horas desde que meu pai tinha saído e então o interfone tocou, Vanessa estava em meu prédio,pedi para que ela subisse.

—Liv, o que houve? –Ela me abraçou com carinho.

—Estou vivendo o pior momento da minha vida, Ian não me dá notícias e seus pais foram para Londres sem maiores explicações. –Voltei a chorar e meus olhos queimaram, estavam sensíveis.

—Que droga! –Ela praguejou. – Vou ficar aqui com você, vamos pensar em alguma coisa.

Estava tentando ligar novamente quando meu pai voltou.

—E então?Alguma coisa?

—Eu queria dizer que sim–Ele sentou-se –Eles são muito discretos, pelo que notei, as pessoas nem sabem sobre a doença de Ian, ao menos ninguém lá deixou transparecer nada.

Respirei fundo, precisava deixar algum ar entrar em meus pulmões.

—Caramba, eu juro que se tivesse um visto, eu mesma iria para Londres atrás desse cara. –Vanessa quebrou o silêncio.

Minha mãe que estava em pé próxima a nós, lançou-lhe um olhar repreensivo.

—Eu vou até lá. –Meu pai afirmou olhando para Denise. –Liv, se não tivermos notícias até o fim da tarde eu vou, pego um vôo noturno e vou até Londres saber o que está acontecendo.

Minha mãe ficou pálida, devia estar morrendo de raiva.

—Falam como se Londres fosse ali. –Ela reclamou dando as costas para nós.

Vanessa revirou os olhos.

—Podia deixar a Lívia ir junto. –Ela reverberou.

Eu nada disse, já sabia qual seria a resposta.

Ficamos os três sentados na sala,em silêncio, nada podia ser dito.Ouvimos quando o celular da minha mãe tocou e não demos importância.Ela estava em seu quarto e depois de alguns minutos voltou a sala.

—Era a mãe de Ian no telefone. –Ela começou a falar meio sem jeito.

Me coloquei ao seu lado na velocidade da luz.

—O que ela disse? –Meu pai se antecipou.

—Ian passou muito mal ontem e está em coma. –Ela escolheu cada palavra com cuidado.

Perdi meu chão naquele instante,meu choque foi tão grande que eu sequer conseguia chorar.Comecei a sentir enjôo e no banheiro vomitei o pouco que havia em meu estômago, Vanessa veio atrás de mim, e foi ela quem me ajudou a voltar para a sala.

Meu pai estava enchendo minha mãe de perguntas e ela só responda que não sabia.Ele arrancou o celular de sua mão e começou a mexer no aparelho.

—Deve ter identificado a ligação... –Ele reclamou

—Estou dizendo que não identificou...pode olhar. –Ela argumentou.

—Eu preciso ir até lá mãe, pelo amor de Deus. –Caí de joelhos aos seus pés. –Eu suplico mãe, se me deixar ir,eu faço tudo o que você quiser depois disso.Tem a minha palavra.


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