Ao seu lado escrita por nanacfabreti


Capítulo 18
Feliz ano novo?




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—Filha... –Meu pai estava mais uma vez em meu quarto, um prato de comida em uma das mãos e a outra acariciando meus cabelos. –precisa comer alguma coisa.

—Eu sei, só não consigo. –Encolhi meus ombros, mesmo fazendo apenas dois dias que não nos víamos, a falta de Ian me consumia, e mesmo nos falando pelo telefone, a necessidade física era incontrolável.

Eu ficava agarrada a sua camiseta o tempo todo, aquilo era a coisa mais palpável que eu tinha dele, e sinceramente eu estava sem conseguir acreditar que conseguiria suportar aquilo.

Não bastasse o tamanho da tristeza que me assolava, minha mãe, sempre ela, havia feito um escândalo no dia seguinte da viagem de Ian.Ela jurava que eu voltaria para casa, achava que com o "problema eliminado", eu voltaria a ser sua filhinha querida, aquela que estava sempre dizendo sim aos seus comandos.

Ela não aceitava a minha decisão de passar um tempo longe daquele prédio, que só me fazia sentir ainda mais a falta do meu namorado.

Eu amargava cada minuto esperando o telefonema de Ian, e cada vez que meu celular tocava era como se minha vida voltasse a ter cor.

—Liv... –Ele falou meu nome como se fosse uma prece. –Como está sendo difícil ficar sem você.

Tentei engolir meu choro, da última vez que ele me telefonara, nós nem conseguimos conversar, eu apenas chorava.

—Acha que não sei...Ian, eu sabia que seria difícil, mas me enganei...esta sendo impossível. –Confessei sentindo uma dor sem tamanho crescendo ainda mais dentro de mim.

Ian ficou em silêncio, eu sabia que estava fazendo tudo errado, eu tinha que ao menos fingir que não estava morrendo a cada instante, mas não era tão boa atriz, simplesmente não dava.

—Liv, se isso não melhorar eu volto, juro, eu nem começo esse tratamento. –Ele estava firme do outro lado da linha.

Respirei fundo.

—Nem pense nisso Ian– segurei sua foto em minha mão e olhei para ela por alguns instantes. –nós vamos conseguir.

Ao menos era o que eu esperava...

Não podíamos prolongar por muito tempo nossas conversas, do contrário, nenhum dos dois conseguiria pagar as contas telefônicas.Quase uma semana havia se passado e realmente, o que estava conseguindo me manter sã, eram as lembranças daqueles dias tão perfeitos que passamos na casa de praia.

Estávamos na véspera do ano novo e fui acorda pelos berros dela, minha mãe, sete horas da manhã e ela já estava na casa do meu pai, gritando que não aceitaria passar o réveillon longe de mim.

— Eu vou ficar com meu pai, aqui. –Falei com a voz ainda rouca.

Ela me olhou dos pés a cabeça e depois focou em meu rosto.

—Já ficou o natal aqui– começou com um tom mais baixo –é justo que fique comigo hoje a noite.

Cruzei meus braços.

—Eu não fiquei aqui no natal ,eu passei todos aqueles dias com Ian, só nós dois num lugar paradisíaco. –Provoquei.

Ela começou a bufar,  acho que se pudesse partiria para cima de mim.

—Essa menina está acabando com a própria vida e você está colaborando Jonas! –Ela gritou assustando a nós dois. –Deixou que ela ficasse a sós com aquele rapaz...Não pensa no que pode ter acontecido?

Eu ri alto com sarcasmo, depois aproximei-me bem dela sabendo que estava mexendo com fogo.

—Fique calma mãe, todas as vezes que fizemos amor foi com preservativo... – Afirmei decidida a afrontá-la, só depois me lembrei que meu pai também escutou minha afirmação.

Não tenho como descrever como aquilo a afetou, eu não sei se ela acreditava mesmo que meu namoro com Ian resumia-se apenas a beijos, mas eu tinha conseguido, acabava de devolver aquele tapa que ela me dera semanas atrás... só que de um jeito mais original.

Ela ficou sem chão, procurou um lugar para se sentar, parecia não ter forças para permanecer em pé.Já meu pai dividia as atenções entre mim e ela, estarrecido talvez com o nível em que as coisas haviam chegado.

—Denise. –Ele aproximou-se dela. –Já chega! Isso acaba aqui,Lívia fica comigo e quando as aulas retornarem veremos como ficarão as coisas.

Ela se levantou e colocou o dedo em riste.

—Você é um péssimo pai, eu vou dar um jeito de provar a um juiz que você é má influência para nossa filha. –Ela o ameaçou.

Senti meu sangue ferver, eu não admitia que ela,nem ninguém falasse mal de meu pai.

—O único juiz que seria favorável a você é o Lemme, não é? –Parei em sua frente cuspindo cada palavra. – Pelo que tenho notado a relação de vocês não é estritamente profissional. –Joguei porque sabia que ela tinha sim um interesse pessoal nele.

De qualquer forma, independente do quanto de verdade tinha na minha afirmação, o fato é que aquilo acabou com qualquer resquício de controle que ainda restava a ela, mal pisquei e ela estava lá, mais uma vez com a mão preparada para me bater.

—Denise, você não vai ser louca de fazer isso! –Meu pai colocou-se entre nós.

—Não se importe pai, não é a primeira vez que ela se acha no direito de me bater, esses dias mesmo, por muito menos ela fez meu rosto queimar. –Contei,  queria mesmo desmascará-la, eu não me conformava em vê-la fazendo aquele papel de mãe cuidadosa sem ao menos pensar em como eu estava me sentindo.

—Denise... –Ele rosnou entre os dentes.

Ela jogou-se no sofá e escondeu o rosto com os braços.

—Essa menina está me enlouquecendo! –Ela começou a berrar em meio a um choro descontrolado. –Esse maldito rapaz acabou com a nossa família...Jonas, será que não enxerga o mal que ele tem feito a nossa filha?

—Saia da minha casa agora! –Ele esbravejou de uma forma que me surpreendeu. –Agora você só vem aqui se eu a convidá-la.Ouviu?

Minha mãe arregalou os olhos, não esperava por aquilo, meu pai sempre foi muito contido e controlado, e vê-lo perdendo a linha era um fato inédito.

— Isso não vai ficar assim... –Ela ainda ameaçou antes de sair.

Aquilo tinha sido mesmo muito forte, todas as coisa ditas por nós foram desnecessárias, e eu não me orgulhava de nada que havia acontecido ali.

—Devia ter me contato sobre essas agressões. –Foi sua vez de sentar.

—Algumas coisas doem muito mais que um tapa na cara, pai. –Afirmei magoada.

Ele apenas me olhou e balançou a cabeça concordando.

Ian me telefonaria em breve, em Londres, o ano novo chegaria cerca de três horas antes, e combinamos que nos falaríamos em ambas as passagens.

Sinceramente eu estava sem clima algum para comemoração, no entanto, ouvir sua voz me renovava de forma fantástica.A briga com minha mãe ainda ecoava em meus pensamentos, e eu esperava não deixar aquilo transparecer.

Um pouco depois das nove da noite meu telefone tocou.

—Ian, promete pra mim que ano que vem nós vamos comemorar um novo ano juntos? –Choraminguei antes mesmo que ele dissesse qualquer coisa.

Ouvi sua risada do outro lado da linha e foi o bastante para meu corpo reagir.

—Eu prometo Liv, eu juro, eu assino um termo de compromisso, eu faço o que você quiser...

—Não precisa –Sentei-me no chão do meu quarto encostada na cama – apenas suas palavras bastam, acredito em você...eu acho que eu nunca desejei tanto que o tempo passe depressa como tenho feito agora.

— Eu sei...agora imagine a mim, aqui, num país completamente diferente, onde as únicas pessoas que conheço são minha irmã e meu cunhado.

—Vai me dizer que não está fazendo turismo por aí? –Provoquei. –Londres é o máximo.

—Veja seu e-mail depois, mandei a foto de um lugar que quero ir quando você vier me visitar.

—Que lugar? –Fiquei curiosa, mas meu pai estava usando o computador.

—Depois você vê...agora ouça, vai começar a queima de fogos aqui! –Ian teve de falar mais alto, os estouros já se faziam presente, então, para ele 2011 estava oficialmente indo embora.

—Feliz ano novo meu amor. –Gritei para ele.

—Vai ser...embora honestamente, se eu tivesse que fazer um balanço, 2011 foi generoso comigo, ele me deu você. –Sua voz estava calma e eu pude imaginar perfeitamente como estaria seu olhar para mim se estivéssemos juntos.

Desligamos porque voltaríamos a nos falar dentro de poucas horas, corri até o quarto do meu pai onde o computador ficava.

—Deixa eu dar uma olhada no meu e-mail...é rápido.

Meu pai estava trabalhando, mas não hesitou em ceder seu lugar na cadeira para mim.

—Pode usar filha, eu vou aquecer nosso jantar. –Ele avisou enquanto alongava os braços. –E Ian como está?

—Longe de mais. –Resmunguei.

Ele balançou a cabeça, correu a mão por minhas costas e saiu.

Abri minha conta no e-mail e além do que Ian havia me enviado, tinha também um da minha mãe.Preferi ignorar, eu não queria saber o que estava escrito ali.

"Quero beijá-la nessa roda gigante" –Era assunto do e-mail em anexo, a foto da roda gigante de Londres, algo dez vezes maior do que a que fomos,no parque da cidade.

Sorri como boba me imaginando ali, com ele.

—Liv, você tem visita. –Meu pai interrompeu meus devaneios.

Franzi a testa, eu não acreditava que ela estaria de volta para acabar de vez com a minha paz.

—Não me diga que minha mãe foi convidada para o jantar? –Demonstrei toda a minha insatisfação.

—Não, não é sua mãe, é um rapaz, Leonardo. –Ele parecia também um pouco confuso.

"Que grande droga!" –Pensei.Leonardo estava no mesmo pacote que minha mãe, aquele de pessoas que eu não queria ver na última noite do ano.

—Não vou atendê-lo pai, não quero falar com ele. –Comecei a sussurrar. –Invente uma desculpa, ou seja honesto, diga que no momento eu odeio ele.

Meu pai arregalou os olhos, assustou-se com minha forma de falar.

—Sou péssimo nisso, nessa coisa de inventar, mas também não vou ter coragem de dar a ele esse seu recado.

Revirei meus olhos, era tudo o que me faltava, ter que falar com Leonardo.

—Certo, acho eu mesma posso dizer isso a ele. –Decidi já caminhando.

Ele estava do lado de fora, vestido todo de branco, segurava um ramalhete de rosas também brancas nas mãos.O olhar ansioso, fazia tempo que não nos víamos.

—Liv! –Ele sorriu como eu sorriria se estivesse vendo Ian. –Nossa, quanto tempo!

Permaneci séria.

— Sim, desde que você quase agrediu meu namorado. –Fui direta usando todo o meu sarcasmo.

Leo engoliu a seco, ele não esperava.

—Eu sei que fui um idiota e não sabe como me sinto envergonhado...Queria pedir desculpas para você. –Ele continuou segurando as flores.

—Não é a mim que deve desculpas, mas sim, a Ian. –Fui firme.

Ele balançou a cabeça, parecia estar começando a se irritar.

—Ele não está aqui, não é? Mas quando falar com ele, dê o recado. –Ele sorriu e eu senti que havia algo ali.

—Como sabe que Ian não está aqui? –Me aproximei dele e estreitei meus olhos. Eu estava entendendo tudo.

—Ele foi para Londres não é? –Ele ficou nervoso. –Todos estão sabendo.

Joguei minha cabeça para trás e ri deliberadamente.

—Minha mãe é mesmo incrível, quando eu acho que ela já não pode me surpreender mais, vem você– apontei para ele. –Agora é subordinado dela Leonardo?

Ele balançou a cabeça em negativa, depois soltou as flores deixando-as que caíssem no chão, próximas aos meus pés.

—Você está mesmo mudada Lívia, em nada se parece com a garota doce por quem eu – ele se interrompeu –quando voltar a ser a Livia de antes, pode me procurar, porque eu, desisto!

Respirei fundo.

—Feliz ano novo Leonardo e, manda um recado para minha mãe...Diga que a única que quer assinar o sobrenome Lemme é ela. –Falei já dando as costas, não esperei para ver se Leonardo tinha mais alguma coisa a me dizer.

Quando entrei meu pai estava na sala, sentado com os braços cruzados contra o peito.

—Sinto que perdi alguma parte dessa história.

Sentei-me ao seu lado, só então percebi que estava nervosa.

—Leonardo é filho do Juiz Lemme, e costumávamos ser amigos– comecei tentando achar uma forma de explicar aquela bagunça – minha mãe acha que é com ele que eu devo ficar, sei lá, pra mim ela tem uma queda por esse juiz.

—Esse juiz é casado? –Ele indagou com curiosidade, eu sabia que não era ciúmes.

—Não, os pais de Leonardo são divorciados há muito tempo. –Lembrei de quando a separação aconteceu, foi nessa época que Leo, Julia e eu nos tornamos mais unidos.Tínhamos tanto em comum, três filhos de pais separados, sem irmãos, então, contávamos uns com os outros.

—Liv, não devia ficar falando essas coisas assim , a esmo, por pior que sua mãe esteja sendo agora, isso envolve o trabalho dela.É coisa séria. –Ele me repreendeu com leveza.

Encolhi meus ombros como uma garotinha.

—Tudo bem pai, foi minha última maldade do ano, e se não me castigar, eu prometo que serei melhor ano que vem. –Satirizei a situação porque era só o que me restava.

Acabamos rindo, nós dois.

Quando Ian me ligou novamente era quase impossível falar com ele, os fogos de artifício e rojões não tiveram pausa por mais de quinze minutos.Fiquei observando o céu e descrevendo o que via para ele.Passamos uma hora inteira conversando, eu não falei sobre Leonardo, achei desnecessário,  mas quando me deitei finalmente para tentar dormir, a sensação de que aquela visita de Leonardo não havia sido apenas para um pedido de desculpas, se fez maior.

Algo me dizia que eu tinha que manter meus olhos bem abertos se tratando daquela dupla, minha mãe e Leonardo.


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