Ao seu lado escrita por nanacfabreti


Capítulo 10
Inesquecível




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Era quarta-feira, eu tinha tecnicamente um dia para armar meu plano, com minha mãe não seria tão difícil, era só dizer que ficaria com meu pai, mas se ela ligasse confirmando, ou mesmo se ele resolvesse passar em minha casa, eu consequentemente seria pega na mentira.

Meu pai era mais maleável, sabia que eu estava namorando, mas apear de sua mente aberta, eu não poderia dizer que queria passar uma noite a sós com Ian, acho que pai nenhum gostaria de ouvir algo assim, mesmo eu sabendo que provavelmente nada aconteceria, ele nunca acreditaria nisso.

—Mãe, na sexta vou para a casa do meu pai, tem um grupo da escola que está combinando de fazer um luau na praia, é perto, então eu vou dar uma passada por lá também. —Comecei a pôr meu plano em prática. —Tudo bem?

Ela terminou de mastigar e me olhou com um certo ar de desconfiança.

—Não vai ter uma festa no colégio? —Ela questionou.

Tomei um gole de suco para ganhar tempo.

—Sim, mas é no sábado. —Esclareci.

—Quem vai? —Ela olhou fixamente para mim.

Ela era advogada, farejava uma mentira de longe.

—Não sei ao certo, e na verdade não combinei nada, só vou aparecer por que vou estar por perto. —Falei olhando em seus olhos, sabia que isso passava mais convicção.

Ela voltou a comer.

—Leonardo vai? —Ela perguntou com um falso desinteresse.

Revirei os olhos bastante irritada.

—Não sei. —Levantei retirando meu prato da mesa.

Olhei para ela com o canto dos olhos e notei um sorrisinho em seus lábios, era nítido que ela acreditava que Leonardo e eu estávamos tendo alguma coisa, só não entendia baseada em que.

Na quinta liguei para meu pai e avisei que ficaria em sua casa,sem maiores detalhes, até lá pensaria em como faria para meus planos darem certo.

A noite Ian e eu combinamos que sairíamos para jantar, fui até a garagem do prédio e ele já me esperava lá.

—Agimos como se estivéssemos fazendo a coisa errada. —Reclamei enquanto colocava o cinto de segurança.

—Você não perde a chance de reclamar. —Ele riu.

—Não sabe o malabarismo que estou tendo que fazer para podermos ficar juntos amanhã. —Continuei.

Ian me encarou sério.

  —Lívia, se for para complicar as coisas para você, nós mudamos os planos, fazemos outra coisa. —Ele ponderou.

—Não. —Adiantei-me. —Não mudo nosso final de semana dos sonhos, por nada!

Ian sorriu.

—Para onde quer ir?

—Que tal irmos ao shopping, adoro as pizzarias de lá. —Provoquei.

—Sério?Quer comer pizza? —Ele balançou a cabeça.

—Sério. Mas não precisa ser no shopping, sei que lá haverão muitos conhecidos. —Assenti.

Seu rosto estampava novamente um ar de insatisfação, isso não durou por muito tempo.

—Já sei onde vou levá-la. —Ele voltou a sorrir. —Garanto que vai adorar a pizza de lá.

Ian dirigiu por mais de vinte minutos, eu não reconhecia os lugares por onde estávamos passando, quando chegamos a uma travessa cheia de carros estacionados, ele também parou.

— Chegamos. —Ele avisou-me.

Olhei ao redor, eu não conseguia avistar nenhum restaurante.

—Onde estamos? —Quis saber.

—Ali. –Ele apontou na direção de um pequeno grupo de pessoas paradas em frente a um amplo sobrado. —Aquela é uma das melhores pizzarias da cidade.

—É tão discreto, parece mais uma casa. —Observei.

 

Descemos e caminhamos pela rua, alguns metros antes o cheiro de tempero já se mostrava bem convidativo.

—Boa noite. —O metre sorriu com gentileza. —Tem reserva?

—Não,mas podemos aguardar, precisamos de dois lugares —Ian negociou.

—Tudo bem, venham comigo. —Ele caminhou para dentro do salão.

Era realmente um lugar muito bonito, logo na entrada havia uma fonte com querubins,a luz era baixa e vasinhos com flores decoravam as mesas.

Um lugar extremamente romântico.

Nos sentamos ao lado um do outro em uma mesa perto da parede, Ian segurou minhas mãos.

—O que achou? —Ele pareceu-me apreensivo.

—É um lugar lindo, adorável eu diria. —Elogiei prestando a atenção no soul que tocava ao fundo.

—Vai apreciar ainda mais quando comer a pizza daqui. —Ian abriu um dos cardápios.

Enquanto líamos as opções, notei um senhor a algumas mesas de distancia que não parava de olhar em nossa direção. Ele estava acompanhado de uma mulher de meia idade e uma jovem garota que parecia ser um pouco mais nova do que eu.

—Vou deixar que escolha, confio em você. —Acariciei seu rosto retomando meu foco, Ian.

—Nesse caso não vou arriscar, vou pedir o que conheço. —Ele riu já chamando o garçom.

Enquanto Ian fazia o pedido, discretamente olhei em direção à mesa onde o senhor estava, eu me sentia observada e de forma constrangedora pude ver que ele ainda mantinha olhos em nós.

Comecei a puxar seu rosto em minha memória, pensei que pudesse ser algum amigo do meu pai, um ex- professor, mas, definitivamente eu não o conhecia.

—O que foi? —Ian perguntou-me.

Balancei a cabeça e mudei minha posição para ocultar o homem com minhas costas.

—Tem um senhor em nossa direção, ele não para de olhar para nós. —Sussurrei.

De forma discreta Ian correu os olhos pelo salão, de repente sua expressão mudou.

—É o doutor Roberto, meu médico. —Ele avisou enquanto o cumprimentava com um aceno.

—Oh, eu não poderia imaginar. —Acenei contida também.

Enquanto Ian virava-se novamente para mim, seu médico levantou-se e caminhou em nossa direção.

—Boa noite. Ele estendeu sua mão  e me cumprimentou.

—Esta é Lívia, minha namorada. —Ian apresentou-me.

Foi a primeira vez que ele se referia daquela forma sobre mim para outra pessoa, senti-me satisfeita.

—Não sabe como fico feliz em vê-lo aqui com a sua namorada. —Ele sorriu largamente. —Lívia, você faz muito bem a ele.

—É só o que eu desejo. —Declarei olhando para meu amor.

Ian parecia estar um pouco constrangido, mesmo assim sorriu para mim.

—Bem doutor, eu nem preciso dizer nada, acho que canso o senhor de tanto falar sobre ela.

O médico riu mais alto.

—Tem razão, esse rapaz parece um disco riscado. —Ele segurou uma das mãos de Ian. —Agora deixe-me voltar , uma bela pizza me espera,e Lívia, quando quiser, apareça em meu consultório para conversar ou esclarecer qualquer dúvida.

—Pode deixar, eu irei. —Fui breve imaginando o quanto meu rosto deveria estar vermelho.

—O que foi? —Ian perguntou-me assim que deu médico  se afastou.

—Ai...eu estou morrendo de vergonha. —Ri nervosa.

—Do quê? —Ele não estava me entendendo.

—Ian, ele conhece nossa intimidade... —Escolhi as palavras.

Ele  balançou a cabeça achando graça do meu constrangimento.

—Fique tranquila, ela sabe que nós não... —Ian intimidou-se.

—Certo, mas sabe que pretendemos. —Mexi nos talheres que estavam sobre a mesa tentando me distrair.

—Liv, ele é um médico, está acostumado com esse tipo de coisa, para ele não é nenhuma novidade. —Ele ainda ria.

—Tudo bem, vamos mudar de assunto. —Fui direta.

Ian pareceu entender meu constrangimento, imediatamente nossa conversa tomou um novo rumo.Antes das dez horas da noite eu estava em meu quarto arrumando minhas coisas.Estava ansiosa, um pouco por estar mentindo para meus pais, outra parte por saber que teria um dia especial com Ian.Não estava criando expectativas, nem planejando nada, mas estava ciente de que naquelas circunstâncias, tudo poderia acontecer.

Antes de ir dormir conversei rapidamente com minha mãe, ela estava na sala, a mesa e o chão cobertos de papéis, coisa que não era novidade.

—Muito trabalho? —Perguntei já sabendo a resposta.

—Para variar... —Ela respirou fundo. —Sabe que foi até bom você decidir que vai ficar com seu pai, amanhã eu não tenho hora para voltar.

Senti um frio na barriga.

—Eu avisei que vou encontrar uns amigos na praia,não avisei? —Falei novamente como se aquilo reduzisse um pouco a culpa que eu estava sentindo.

—Sim Liv, mas lembre-se, muito cuidado, nada de bebidas e tudo mais que já se cansou de ouvir.—Minha mãe parecia exausta demais para repetir seu sermão.

—Certo, vou dormir agora. —Beijei seu rosto ainda sentindo o grande peso da minha mentira.

—Ligo para saber de você. —Ela avisou antes que eu desaparecesse da sala.

Deite-me e peguei a foto de Ian, pensar nele, sentir meu coração acelerando só de estar olhando sua imagem impressa em um papel me  redimia.

Meu estado tornava tudo tão intenso, eu sentia tudo o que as musicas mais românticas costumavam falar, coisas que antes eu achava que existiam apenas nos livros ou em filmes, pareciam se encaixar perfeitamente em minha vida.

No que dependesse de mim, eu voltaria naquele mesmo instante e diria tudo aquilo à minha mãe, eu tinha bons argumentos e a meu ver, a doença de Ian era algo tão pequeno diante de do nosso amor, mas eu não faria nada sem antes consultá-lo,entretanto, eu sabia que não conseguiria esconder por muito mais tempo nosso namoro.

—E então, está preparada? —Ian brincou enquanto saíamos do estacionamento do prédio.

Balancei a cabeça.

—Fala como se estivéssemos preparando um golpe de estado. —Satirizei.

Iam riu com o canto dos lábios.

—Minha mãe pareceu-me desconfiada, fez um monte de perguntas, quis saber se eu estava indo sozinho para lá.

—Disse para onde está indo? —Assustei-me.

—Claro.

—E se ela resolver ir para lá?Se quiser checar com quem você está, o que está fazendo? —Me desesperei com a hipótese.

—Calma. —Ele ficou sério. —Minha mãe não é desse tipo, ainda mais agora que sou um caso perdido.

—Não gosto quando você fala assim. —Repreendi-o.

—Livia, só estou tentando explicar que ela não vai aparecer de surpresa, longe disso. —Ele tentou consertar as coisas.

Silenciei, estava começando a me sentir nervosa.

—Não quero ficar muito tempo na casa do meu pai, no máximo em uma hora você vem me buscar. —Avisei procurando uma estação de rádio que me agradasse. —Se ficar muito tempo com ele vou acabar falando a verdade, não consigo mentir para o meu pai.

Ian me olhou.

—Minha proposta é termos um dia divertido, sem preocupações, se for para criar problemas para você, nem vamos. —Ele começou a dizer com calma. —Ou,podemos perfeitamente ficar até anoitecer e depois voltamos.

—Você tem razão. —Assenti. —Estou dando importância de mais para uma coisa simples, eu já estou mais calma, e nem pense que quero desistir dos nossos planos. Não sabe como estive ansiosa por esse dia.

Ian acariciou minhas mãos, me senti uma tola por quase ter estragado tudo.

Preferi que ele não descesse, era melhor evitar questionamentos. Saí com minha mochila de roupas, para todos os efeitos, meus planos eram de ficar por lá mesmo.

—Liv. —Meu pai veio me abraçar.

—Nossa, parece até que faz tempo que não nos vemos. —Reclamei por mania.

Ele riu.

—Onde está o seu... —Ele procurava a palavra certa para se referir a Ian.

—Quer saber de Ian. —Ajudei-o.

Ele ficou sem jeito e sentou-se em sua poltrona.

—Isso,Ian...Onde ele está?

—Ele estava com pressa, apenas fez o favor de me trazer aqui. —Inventei.

—Estavam de carro? —Ele indagou sério.

Sentei-me em sua frente.

—Depois de sua intimação, Ian aposentou sua moto. Comentei o fato verídico.

—Sua mãe já sabe?

Arregalei os olhos fingindo naturalidade.

—Sobre Ian? —Tentei ganhar tempo.

—Sobre seu namoro, sobre o quão séria está sua relação com esse rapaz. —Ele foi mais do que direto ao ponto.

Engoli seco, mas também não deveria esperar menos daquele homem grisalho, que esperava muitas respostas para sua pergunta singular.Meu pai era inteligente de mais, vivido e experiente, sem contar seu sexto sentido que as vezes me assustava.

—Não contei à ela que estou namorando. —Respondi bem menos do que ele queria ouvir de mim.

—Sua mãe não é boba e, mesmo que fosse, notaria que você está diferente, apaixonada até onde pode. —Ele respirou fundo. —Se ela não a confrontou ainda é porque está esperando que você tome a iniciativa e diga à ela.

Por mais estanho que pudesse parecer, manter uma conversa sobre relacionamento com meu pai era bem menos difícil do que com minha mãe. Ela havia se tornado uma pessoa durona desde a sua separação, seu instinto super protetor havia aflorado de forma exagerada e, eu só conseguia vê-la cedendo quando se tratava de Leo.

—Vou conversar com ela. —Afirmei depois de uma breve pausa.

Ele arqueou as sobrancelhas.

—Faça isso, estou certo de que ela vai gostar desse rapaz, sei que pode soar precipitado, mas ele me passou uma boa impressão. —Ele disse visivelmente escolhendo as palavras.

Preferi nada responder, apenas sorri enquanto sentia uma espécie de apreensão dentro de mim. Algo me dizia que aquele era um ótimo momento para citar a doença de Ian, por outro lado, aquilo podia estragar todos os nossos planos, eu nem imaginava qual seria a reação do meu pai.

Sabia que estava apenas colocando um problema em espera, prorrogando algo que cedo ou tarde teria de ser resolvido. Eu estava optando por tarde .

Já não era novidade meu coração acelerar quando eu via Ian, mas, em especial naquela tarde quando ele foi me buscar, todo o meu corpo reagiu de forma estranha, boca seca, batimentos irregulares, pernas trêmulas e respiração pesada. O pior era que eu estava adorando me sentir daquela forma.

—Você demorou. —Reclamei enquanto entrava em seu carro.

Ian me beijou.

—Não sabe o trabalho que tive para deixar aquela casa em ordem. —Ele sorriu enquanto me olhava.

—Você estava arrumando a casa de praia? —Questionei incrédula.

Ian balançou a cabeça positivamente.

—Depois fui a supermercado e comprei algumas coisas, a geladeira e a despensa estavam completamente vazias.

Acabei rindo enquanto imaginava-o executando aquelas tarefas.

—Eu mal posso acreditar em você, nunca me passou pela cabeça que ...

—Já sei. —Ele me interrompeu. —Sabe, cada vez que você fala assim eu fico temendo pela maneira que você me via entes de nós conhecermos.

Fiquei séria.

—Ian, eu não fiz menção a isso, além do mais, eu poderia tê-lo ajudado. —Objetei tentando por um fim naquele pequeno mal estar.

Ele sorriu sem me olhar.

—Você é minha convidada, espero ser um bom anfitrião. —Ele já parecia mais leve.

—Bem... o que estamos esperando?

—Tenho que ir falar com seu pai, não tenho? —Ian se mostrou confuso.

—Ele está trabalhando. —Avisei. —Está num telefonema importantíssimo, mas... ele já me passou um belo sermão, varias recomendações e tudo já está certo.

Ele respirou fundo e passou a mão pelos cabelos.

—Ainda assim me sinto como se estivesse fazendo algo errado.

Segurei uma de suas mãos.

—Não está, ou melhor, não estamos fazendo nada errado. —Falei convicta do que dizia.

Durante o caminho contei sobre tudo o que havia conversado com meu pai, até mesmo sobre minha hesitação em falar sobre sua doença. Ian entendia meu ponto de vista, mas acabamos combinando que não nos estenderíamos mais em nossas omissões.

Quando chegamos, meu coração voltou a bater descompassado, algo em mim dizia que aquele final de semana seria inesquecível.

Ian estava com minha mochila nas mãos quando o segurei pelo braço.

—Quero que saiba que estou muito feliz por você ter tido essa ideia, por ter programado esse dia só nosso.

O sol estava posicionado em seu rosto, ele estreitou seus olhos claros e permaneceu me fitando.

—Lívia, eu só quero dar-lhe um pouco da paz e da tranquilidade que você me traz. —Ele me puxou pela cintura. Espero conseguir.

Respirei fundo antes que o ar começasse a me faltar.

A casa estava realmente vívida, haviam vasos com flores coloridas espalhadas pelos cantos, o sol estava iluminando cada ambiente na medida certa, Ian me olhava como se buscasse aprovação.

—Quero ver se está tudo muito limpo mesmo. —Brinquei enquanto passava o dedo por um dos móveis fingindo buscar poeira.

—Pode procurar, duvido que encontre um grão de areia dentro desta casa, pelo menos por enquanto. —Ele puxou-me para o sofá.

—Faz tempo que sua irmã não vem aqui? —Perguntei curiosa.

Ian parou para pensar.

—Acho que mais de dois anos. —Ele começou a cariciar meus cabelos. –Ela tem a vida dela lá, está feliz, liga para o meu pai todos os dias...

—E vocês se dão bem? —Continuei com minhas perguntas.

—Sim, ela é uma excelente pessoa, ela queria vir até aqui quando soube da minha contaminação, mas eu não deixei, ela não poderia fazer nada. Ian parecia bem à vontade enquanto falava sobre sua irmã.

—Eu gostaria de ter irmãos. Ficarei feliz se um dia meu pai, ou minha mãe me derem um. —Vislumbrei.

Ian riu.

—Algumas pessoas adoram não ter irmãos. —Ele ainda me acarinhava.

Encolhi meus ombros, estava tão relaxada que preferi nem falar mais nada.

—Está com fome? —Ele perguntou em voz baixa.

—Ainda não, meu pai acha que sou como um cachorro que se agrada com comida. —Reclamei com os olhos fechados. —Se passar uma semana com ele, não passo pela porta.

Ele caiu na gargalhada.

—Você é mesmo absurda. —Ele me beijou. —Mas adoro esse seu jeito.

Balancei a cabeça resignada, Ian deitou sua cabeça em meu peito e entrelaçou seus dedos aos meus, em silencio podíamos ouvir o som das ondas quebrando na areia.

—Vamos caminhar um pouco? Ele sugeriu.

—Eu poderia passar o resto da vida assim, com você. —Declarei.

Ian sorriu largamente.

—Vamos ver o mar, logo voltamos e vou preparar nosso jantar. —Ele propôs.

—Uau!Agora você cozinha também? —Perguntei surpresa.

—Macarrão instantâneo, ovos mexidos, panquecas....sou especialista nesse pratos. —Ele estendeu a mão em minha direção, estava mesmo querendo sair dali.

Algumas nuvens cobriam parcialmente o sol, um vento leve balançou os meus cabelos. Como era uma praia privativa encontramos poucas pessoas enquanto caminhávamos, ora dizíamos bobagens outra nos mantínhamos quietos.

—Acho melhor voltarmos, vai chover. —Tentei prever.

Ian caminhou em direção ao mar.

—Vou dar um mergulho, só para sentir a água mesmo. Ele já tinha água até as canelas.

—Não, eu não me molho de jeito nenhum. —Reclamei enquanto olhava para meus trajes nada adequados para um banho de mar.

—Vem. —Ian gritou caminhando para dentro da água.

Caminhei até onde as ondas não podiam me alcançar.

—Não entro, nem pense nisso. —Resmunguei enquanto ele desapareceu num mergulho.

Balancei a cabeça incrédula.Um minuto depois lá estava ele, completamente encharcado.

—Não imagina como a temperatura da água está agradável. —Ian vinha em minha direção.

Afastei-me de costas.

—Não se aproxime. —Coloquei o dedo em riste.

—Vai me negar um abraço? —Ele me chantageou.

Seus lábios estavam num tom vermelho arroxeado, seus dentes batiam ligeiramente, o vento ficou mais forte, comecei a preocupar-me, sabia que para um soro positivo, uma simples gripe poderia se tornar algo bem mais grave.

  —Sério, vamos voltar, você nem devia ter entrado no mar, olhe como está ventando. —Repreendi-o sem dizer abertamente os motivos da minha apreensão.

Ian ergueu uma das sobrancelhas e permaneceu com uma expressão séria, esticou seus braços e me puxou para perto.

—Vamos voltar...mas antes... —Ele me pegou em seu colo e levou-me para dentro do mar.

—Não faça isso! –Gritei enquanto esperneava.

Ele não me soltou.

—Vou colocá-la no chão, vai molhar apenas os pés. —Ele ria.

—Tudo bem. —Fingi concordar.

Quando meus pés tocaram a água que realmente estava morna uma onda molhou-me até a cintura.

—Não acredito que fez isso comigo. —Lamentei.

—A culpa não foi minha, foi da onda. —Ele usava seu tom mais escárnio.

Mais uma onda quebrou em nós, eu já estava praticamente toda molhada. Ian se divertia com a situação, inconsequente não consegui permanecer brava, agarrei-me em sua cintura e deixei ser banhada pelo mar.

Estávamos rindo quando ouvimos o primeiro trovão.

—Vamos, eu disse que ia chover. —Corri para a areia seca, Ian me seguiu.

—Tem razão, é melhor corrermos. —Ele segurou-me pela mão e caminhamos o mais rápido que podíamos.

Naquela altura estamos mortos de frio, conseguimos chegar antes da chuva, por pouco.

Por bem haviam dois chuveiros elétricos naquela casa, pudemos tomar banho quente simultaneamente.

Aquilo não parecia ser real, havia me esquecido de tudo, era como se só existissem no mundo Ian e eu.Eu sentia-me tão a vontade que sequer pensava no que vestir, no que aconteceria nos próximos momentos.

Segui para a sala e Ian já estava lá, olhando a chuva pela janela.Usava uma camiseta branca velha e calças claras largas, parecia um anjo.

—Está chovendo forte. —Ele falou assim que me aproximei.

Aconcheguei-me em seu corpo.

—Como da primeira vez que aceitei sua carona. —Relembrei.

—Eu estava pensando exatamente nisso. —Ian riu. —Você estava tão desprotegida, senti uma vontade de cuidar de você.

—E eu que achava você insensível... —Provoquei-o.

—Ainda bem que aceitou ir comigo, acho que no fundo aquilo foi o princípio de tudo. —Ele beijou meu rosto delicadamente.

Respirei fundo.

—Acho que foi, eu não parei de pensar em você desde então. —Confessei algo que eu negava até mesmo para mim.

Ian segurou meu queixo com uma de suas mãos, seus olhos se estreitaram, a veia de sua testa estava palpitando visivelmente. Engoli minha saliva com dificuldade, meu estômago parecia estar cheio de pedras gelo.

—Acho...acho melhor eu preparar o jantar. —Ele balançou a cabeça como se precisasse sair daquele estado em que estávamos.

— O que foi? —Questionei decepcionada.

Ele se afastou de mim e sorriu de forma forçada.

—O quê? Você não está com fome? —Ian tentou disfarçar.

Eu estava fervendo por dentro, a atitude de Ian havia me deixado confusa, eu odiava vê-lo fugindo de mim como se fosse uma ameaça eminente.

—Do que você tem medo? —Sussurrei me aproximando dele novamente.

Seus lábios estavam trêmulos, Ian estava realmente nervoso.

—Lívia, eu não quero que você me entenda errado, eu não trouxe você aqui para forçar nenhuma situação. —Ele começou a escolher as palavras.

—Exatamente. —Aumentei um pouco meu tom de voz. —Eu sei que você não quer forçar nada, mas também não precisa podar o que vai acontecer naturalmente, não fuja como se só eu tivesse desejos.

Seus olhos se arregalaram.

—Não é isso, eu só não quero passar uma impressão errada, e...

—E... que não vamos voltar à estaca zero. —Tive de interrompê-lo. — Eu amo você Ian, eu não sou nenhuma garotinha boba que não sabe o que está fazendo. –Toquei sei braço. —Eu sei o que eu quero, e eu quero você de todas as formas possíveis.

Seu rosto se relaxou de forma mágica, Ian parecia finalmente ter me entendido. Ele me puxou contra seu corpo e me beijou com o mesmo desejo que eu guardava em mim.

Comecei a tirar sua camiseta temendo encontrar alguma resistência, para minha felicidade Ian não se opôs.Sua mãos corriam pelo meu corpo,seus lábios beijavam os meus, roçavam meu pescoço, e em meu ouvido ele sussurrava meu nome.

Nos deitamos no sofá, Ian parou por um instante e ficou a me olhar, seus olhos brilhavam, parecia estar vendo uma miragem, nunca antes havia me sentido tão feliz, tão desejada. Ele delicadamente se afastou de mim e pegou a carteira que estava sob a mesa de centro.

—Eu nunca vou arriscar você, nunca. —Ele sussurrou enquanto segurava a embalagem de um preservativo.

Sorri feliz e puxei-o de volta para mim, não podia ficar por nem mais um minuto longe dele.

Eu não fazia planos de como seria minha primeira vez, não criava expectativas, mas certamente se eu tivesse desejado um momento perfeito, eu não me decepcionaria.

Olhos nos olhos, toques delicados e a forma com que nossos corpos se encontraram e se reconheceram, davam a mim a impressão de tínhamos sido feitos um para o outro.

Ian fora extremamente cuidadoso e romântico e eu queria tanto que aquilo acontecesse que parecia ser irreal.

 

Estava deitada em seu peito, meus olhos estavam fechados, mas eu sequer estava com sono, eu apenas temia que aquilo fosse um sonho.

—Liv, está tudo bem? —Ele sussurrou.

Respirei fundo e levantei minha cabeça para olhar seu rosto, lá estava ele, olhos nervosos, expressão preocupada.

—Eu não poderia estar melhor. —Sorri transbordando alegria.

 

Ele piscou.

—Jura? —Ele insistiu ainda com o cenho franzido.

Me virei para posicionar-me melhor.

—Juro, juro e juro! Eu estou ótima, feliz... —Tentei externar minha alegria.

Ian sorriu aliviado.

—Eu só quero que saiba que foi muito especial para mim. Ele entrelaçou seus dedos nos meus. – Foi tudo novo, diferente de qualquer coisa que eu já tenha vivido.

—Eu sei. —Concordei recordando a forma com que Ian me olhava.

Repousei novamente em seu corpo, não precisávamos dizer mais nada, éramos inteiramente um do outro.

 


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