In Search of Truth escrita por nywphadora, nywphadora


Capítulo 4
Capítulo 3 - Nightmares




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/734489/chapter/4

A casa estava em chamas. Marlene tentava correr, mas sentia os seus braços sendo segurados por trás.

— Me solte!

Escutou a risada de Bellatrix, as unhas pressionando com mais força os seus pulsos. Ela tentou soltar-se, debatendo-se, mas o seu desespero tornava-a mais distraída para identificar os pontos fracos da oponente.

— Eu vou matá-los. Um por um — Bellatrix sussurrou, a sua voz maníaca.

— Quem? Quem você vai matar?

Lily? James? Seus pais? Sirius?

— Todos eles — ela aproximou mais a boca aos seus lábios.

Marlene acordou com uma gargalhada forte, que não era vinda de seus sonhos.

Encolheu-se mais próxima da parede, movendo-se apenas com os pés empurrando-a. Na porta da cela um dos dementadores puxava o ar, mas ela sabia que não tinha ouvido errado. Aquela risada não era causada por seus delírios, já tinha escutado-a antes naquele mesmo lugar.

Passou a mão suja de giz pela testa, sentindo-a encharcada de seu suor frio. Seus olhos procuraram por Sirius, que estava encolhido em outro canto, não parecendo importar-se com a presença do dementador, mas estremecendo vez ou outra.

Repassou em sua mente as conversas que tiveram no dia anterior, antes da visita de Amelia e quase se bateu ao perceber o seu erro.

Tinha dado a entender que era sangue pura. A sua missão era fingir ser uma nascida trouxa. Por que tinha se esquecido disso? Por que estava sendo tão verdadeira quanto a sua vida? Só faltava dizer que tinha enfrentado Voldemort diretamente.

Droga! Ela nem sabia quais eram as casas de Ilvermorny. E se ele a perguntasse?

Era tão fácil ser descoberta, desmascarada nas entranhas da maior prisão de segurança máxima do mundo.

E se ela apenas se revelasse tal como era? Não, Sirius não confiaria nela. Poderia acreditar ser um delírio, mas principalmente sentiria mágoa por tudo o que ocorreu, por ela ter desaparecido, dado a entender a todos que estava morta. Exceto Dumbledore, ele sempre sabia o que acontecia, e nem mesmo assim desmentiu os boatos.

Tantas coisas que ele não tinha feito.

Como poderia ter abandonado a tantas pessoas sendo o líder daquele movimento? Não seria sua obrigação como esperança do mundo bruxo tentar consertar um pouco de toda aquela bagunça, acalmar os corações aflitos?

Se pudesse confiar nele, ela não estaria lá, revendo os seus piores pesadelos e perdendo as melhores lembranças de sua vida.

Olhou para o teto, tentando enxergar qual a diferença que Sirius tinha dito que ela logo notaria sobre o dia e a noite, mas ainda não conseguia vê-la. Olhou para ele e notou que ele estremecia mais forte do que deveria. Não era normal.

Arrastou-se pelo chão de pedra, aproximando-se dele.

— Sirius? — ela afastou o seu cabelo do rosto.

Ele estava frio, muito frio, quase como se estivesse morto.

Paralisou, respirando fundo. Não, aquilo devia ser algum delírio, algum efeito dos dementadores, precisava pensar racionalmente.

— Sirius, acorde — ela voltou a sussurrar.

— Lene — ele sussurrou.

Marlene afastou-se rapidamente, mas ele ainda tinha os olhos fechados.

Estava tendo pesadelos, provavelmente com o dia em que ela “morreu, já que chamava pelo seu nome incansavelmente..

— Sirius, acorde — resolveu agir como Melannie, em vez de correr o risco de ser pega, caso ele acordasse.

Continuou a chamá-lo, sacudindo-o.

Por um momento, pensou em chamar por ajuda, mas quem o ajudaria?

Era um prisioneiro de alta segurança, estava condenado à prisão perpétua. Se ele morresse, ninguém se chatearia. Ninguém se importaria.

Começou a desesperar-se, os dementadores agitando-se por perto dela, desejando provavelmente conseguir entrar na cela e atacá-los, tacar-lhes o beijo fatal de uma vez por todas. Lágrimas escorreram por seu rosto, enquanto voltava a sacudi-lo, gritando sem conseguir escutar o que dizia, o coração batendo veloz.

E então parou.

Parou quando Sirius acordou sobressaltado, afastando-se dela e dos dementadores instintivamente. Marlene aproveitou para também jogar-se ao fundo da cela, ao outro lado do pequeno espaço. De pé, com os braços quase que entrando nas pedras da parede, começou a tentar controlar a respiração com a boca aberta, o peito movendo-se com rapidez.

Os dementadores afastaram-se assim que ela se tranquilizou e escutou passos vindo do corredor.

— Quando eles ficam assim, nunca é um bom sinal — um dos aurores disse, nervoso — Só espero não terem matado alguém.

Era Coby.

— Da última vez, isso deu uma boa briga — o outro auror concordou, uma das mãos encostando-se às barras — A família ficou furiosa.

— Talvez eu devesse entrar para verificar — Coby sugeriu.

— Não, não podemos entrar. É muito perigoso.

Marlene sentou-se, não querendo ser encarada por estar de pé. Escondeu o rosto por trás de seus joelhos.

— É melhor não deixarmos eles sozinhos — disse Coby — Nós alternamos na vigia.

— Certo — o outro respondeu, sem estar muito contente com a ideia — Depois do almoço?

— Agora.

Coby ficou e o outro voltou para o, aparentemente, refeitório dos aurores.

Que falta de organização... Azkaban era mesmo bem negligenciada pelo Ministério da Magia. Ela precisava contar à Amelia quando saísse de lá. Como Departamento de Execução das Leis da Magia, esperava que pelo menos ela pudesse exigir uma fiscalização mais rígida.

Quantos inocentes estariam presos naquela cadeia? Era tão estranha para ela colocar-se no lugar dos presos, depois de todos os acontecimentos da Guerra Bruxa, depois de tantas prisões que cumpriu em toda a sua carreira como auror, tanto na Inglaterra quanto na França.

Sirius resmungou, olhando para a nuca de Coby, descontente por estar sendo vigiado de perto. Marlene quase riu com essa reação. Justo ele reclamando por ter companhia. Recebeu um olhar atravessado por parte dele, mas ele não manifestou-se.

Não estava realmente confortável de conversar com ele por perto.

Não sabia se o almoço já tinha acontecido, ela realmente não conseguia lembrar de muita coisa, mas sentia-se cansada. Desde sempre esteve acostumada a dormir quando não tinha o que fazer, então ajeitou-se em cima de uma túnica que não sabia como tinha ido parar ali e deitou sua cabeça sobre ela.

— Você vai dormir? — Sirius perguntou, quebrando seu pacto de silêncio.

— Você esteve dormindo a manhã inteira, me deixe em paz — Marlene resmungou, fechando os olhos.

— Desculpe se não estamos no melhor lugar para dormir.

Ela tinha dormido em vários lugares enquanto cumpria suas missões de auror, mas não podia lembrá-lo disso. Afinal, ela era Melannie McKornn, uma nascida... Sangue pura que estudou em Ilvermorny.

Abriu os olhos minimamente para Coby.

— Você o conhece? — perguntou a Sirius.

— Nunca vi mais gordo.

Coby franziu o cenho para ele, mas não pareceu importar-se mesmo.

— Você estudou na Ilvermorny, não? — puxou assunto com ele.

Sirius pareceu exasperado.

Ele nunca foi muito sociável com estranhos mesmo.

Coby olhou para ela, como que perguntando o que ela estava planejando.

— Em qual casa estudou? — voltou a perguntar, antes que ele estragasse a conversa.

— Pukwudgie.

Um nome, finalmente!

— Eu também — mentiu Marlene, voltando a deitar-se.

Pukwudgie. O nome era difícil, mas ela faria um esforço para lembrar-se dele.

Precisava lembrar-se dele.

Coby não voltou a puxar conversa, nem Sirius, então ela apenas começou a cochilar, faltando a falta da presença dos dementadores.

— Quanto tempo acha que vai demorar até que Sirius seja preso?

Marlene gargalhou e James apenas deu de ombros para o amigo, que o olhava indignado.

— Ei! É assim que você me imagina? Atrás das grades? — perguntou Sirius.

— Tudo o que você já fez aqui e pudesse repetir no Ministério daria alguns anos de detenção — retrucou James.

— Nesse caso, talvez seja hora de desenharmos algum mapa sobre o Ministério — sugeriu Marlene.

— Excelente ideia! — Sirius apoiou — Não pretendo ir para trás das grades.

Ela abriu os olhos.

Quando não estava tendo pesadelos, tinha lembranças dolorosas como aquela.

Se visse Lily, duvidava que suportaria. Provavelmente acordaria chorando de tristeza e saudade por sua amiga, que se foi havia tanto tempo.

Coby não estava mais lá, era outro auror, e ele parecia querer estar em outro lugar que não fosse guardando a sua cela. Já devia estar de noite, então ela tinha perdido o almoço. Não é como se fosse fazer falta para ela.

No entanto, Sirius não parecia concordar com ela.

— Tentei te acordar, mas não consegui — ele disse.

— Difícil ter sono leve quando consigo cair no sono — ela comentou.

— Por isso mesmo.

Marlene não entendeu, mas observou-o marcar com giz mais um risco na parede.

Encontrou um jornal do Profeta Diário no chão e pegou para si, olhando para o auror, vendo se ele notaria sua movimentação.

— O que é isso? — perguntou, olhando para a primeira página.

— O outro deixou aí — respondeu Sirius, dando de ombros — Desculpe, já preenchi o palavras cruzadas.

Ela não lembrava de ter palavras cruzadas no jornal.

Olhou para a manchete da primeira página: “Grande prêmio anual da loteria do Profeta Diário”.

— É, eles não têm muito o que noticiar nos últimos tempos — murmurou para si mesma.

Foi para o caderno de esportes, entreter-se sabendo como andavam os jogos, se o Kenmare Kestrels estava bem na colocação naquele tempo em que esteve lá, que não foi muito longo, mas parecia durar meses.

— Você curte? — perguntou Sirius, notando o que ela estava lendo.

— Sim — respondeu, quase debochando da obviedade de sua pergunta.

— Os Chudley vão se dar bem dessa vez.

Até o auror quase deixou a gargalhada soltar-se, mas conteve-se.

— Os Chudley? Você apostou para torcer pelo pior time de todos? — provocou Marlene.

Ela sabia que a resposta era sim.

— Está subestimando-os — respondeu Sirius, incomodado.

— E você está superestimando-os.

Marlene encolheu-se ao escutar um grito.

— O que foi isso? — ela perguntou, sem esperar por uma resposta.

— Acho que alguém recebeu o beijo hoje — o auror respondeu.

Ela preferia não saber a resposta.

Voltou a olhar para o jornal, sem conseguir mais prestar atenção ou sentir empolgação por qualquer informação contida ali. Sirius encarou-a, como se soubesse como estava se sentindo, mas não disse mais nada.

Não demorou muito para que Coby trouxesse o jantar deles, o rosto sombrio por algum ocorrido que Marlene preferia não saber dos detalhes.

Por não ter almoçado, ela tomou a sopa com mais rapidez para alimentar-se, embora não se sentisse muito alimentada apenas com aquilo. Estava acostumada a comidas com mais consistência.

Tomou a água depois, observando Sirius comer com mais tranquilidade do que ela.

Observou a entrada para o banheiro que não tinha uma porta, quase que rindo. Aquela era a ideia de conforto que tinham. Talvez fosse confortável para quem não precisava dividir cela, mas não iria reclamar.

O chuveiro parecia completamente tomado por ferrugem, mas decidiu que não seria uma má ideia ir por lá. Esticar um pouco as pernas.

— Aonde você vai? — um dos aurores perguntou.

Marlene ignorou-o, passando pela entrada. Observou alguns parafusos soltos, como se a porta tivesse sido arrancada à força. Perguntou-se o que teria acontecido ali para que isso acontecesse. Teriam as outras celas a mesma aparência?

O boxe também não tinha porta e ela era visível pela cela. Deixou escapar uma risada seca, voltando para pegar a túnica, que usou para cobrir a visão do chuveiro, mesmo sabendo que dormiria com ela úmida.

Mesmo que precisasse voltar a colocar o mesmo uniforme, preferia ter alguns momentos de relaxamento, mesmo que fosse com água fria. Estremeceu e conteve o grito, assim que girou o registro e a água congelada começou a cair. Apoiou as mãos nos azulejos sujos, pensando em como aquele lugar era simplesmente deplorável.

Aqueles aurores encarregados conseguiam ser piores que os presos, muitas vezes.

Piores que os dementadores.

Estremeceu, imaginando o que aconteceria consigo caso não tivesse um companheiro de cela e não tivesse posto a túnica para cobrir sua imagem nua.

— Melannie? — escutou a voz de Sirius perguntar.

— Estou bem — respondeu, a voz tremida pelo frio.

Focou em pegar o sabonete para banhar-se e usou-o também para tentar limpar o seu cabelo sujo, sabendo que não seria tão efetivo quanto um shampoo, mas era melhor do que ficar mais um dia sem tomar banho por ali.

Pegavam a água direto do mar de lá fora e jogavam para dentro pelo chuveiro ou pia? Só podia ser.

Assim que desligou o registro, notou que não tinha uma toalha com a qual secar-se. E os problemas só aumentavam...

Tremendo de frio, preferiu esperar que a água evaporasse do que usar a túnica como toalha. Ela não tinha tecido o suficiente para isso, era muito fina. Deveria pedir ajuda a Coby, mas ele não estava lá, e não queria ter que convencer àqueles desconhecidos a ajudá-la.

— Melannie? — a voz de Sirius estava do outro lado.

— Fica aí — ela rosnou.

Sabia que ele teria revirado os olhos, ao escutá-la dizer aquilo.

— Está tudo bem? — ele perguntou, parecendo reunir toda a sua paciência.

Por quê? Ele não era assim com as outras pessoas.

— Não — ela sussurrou, abaixando a cabeça, tentando não deixar a água de seus cabelos cair em seus olhos.

— Tem algo que eu possa fazer para te ajudar?

Sim, contá-la tudo sobre o que aconteceu em 31 de outubro de 1981.

— Só não me deixe sozinha — ela pediu — Eu tenho medo.

A última frase saiu antes que pudesse notar.

Voltou a respirar pela boca, cobrindo os seus seios com as mãos, tentando encontrar um pouco mais de calor corporal.

Assim que considerou-se não tão molhada, ela pegou o seu uniforme para voltar a vesti-lo.

— Ei, ela é uma garota, só tente facilitar um pouco as coisas — escutou Sirius resmungar com Coby, assim que saiu do boxe — A gente já tem que superar esses dementadores vindo todos os dias. Já não é castigo suficiente?

Ela tentou abrir a água da torneira e descobriu que ela não funcionava.

Bem, então precisaria ligar o chuveiro sempre que precisasse usá-lo.

Encarou o espelho embaçado e sujo, tentando limpá-lo com a manga comprida da blusa. Nunca voltaria a ser como antes, só com magia, era perda total. Voltou para a cela silenciosa e começou a desembaraçar os fios com os dedos, ignorando completamente que Sirius a encarava.

— Por que você me parece familiar? — ele perguntou.

Só se fosse vinda direto de seus pesadelos.

Lembrou-se de seu rosto marcado pelas olheiras e palidez no pequeno espelho que Amelia lhe mostrara no dia anterior.

Ela não era uma sombra do que tinha sido antes.

— Porque você está enlouquecendo — retrucou Marlene, sem olhá-lo.

Escutou-o rir secamente.

Azkaban não devia chamar-se prisão de máxima segurança, devia chamar-se manicômio.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "In Search of Truth" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.