In Search of Truth escrita por nywphadora, nywphadora


Capítulo 3
Capítulo 2 - Coexistence




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Marlene abriu os olhos com um sobressalto, repentinamente, como ocorre quando você acorda de um pesadelo, mas ela só acordava de um pesadelo para entrar em outro.

— Você desmaiou.

Escutar a voz de Sirius, dirigida diretamente a ela, era bem estranho. Não sabia que o tom de voz de uma pessoa podia mudar dependendo de com quem se falava até aquele momento, embora o ódio fosse presente companhia nas discussões com Snape ou quando falava de sua família.

— Obrigada por constatar o óbvio.

Ele pareceu incomodado, ao escutar a sua voz.

Depois de tanto tempo encarcerado, seria capaz de reconhecer algo tão mínimo quanto a voz? Não acreditava que a sua voz fosse algo tão marcante para ser reconhecida daquela forma, naquelas condições.

Ele deu de ombros, por fim, voltando o seu olhar para a paisagem por entre as grades do corredor, admirando as sombras que passavam.

Permanecer em silêncio era tão ruim quando estava perto de alguém que ficou longe por anos. E fazê-lo falar era importante para dar sentido à sua estada ali. Precisava escutar sobre o dia em que ele foi preso, e sabia que não seria fácil. Nada fácil.

Sirius nunca foi de se abrir com as pessoas, muito menos com uma desconhecida companheira de cela em Azkaban. Estremeceu outra vez, lembrando-se das memórias arrancadas à força de si. Como ela poderia saber quais eram? Só podia lembrar-se das más lembranças, as que foram deixadas para trás.

Algum dia tentaria lembrar-se de algo e sentiria aquele vazio na memória?

— Você é inocente.

Marlene abriu os olhos outra vez, que não notou terem fechado-se, dirigindo-os para onde Sirius estava sentado.

— Como disse?

A sua voz estava tão rouca pela sede, em somente um dia de encarceramento, não queria imaginar como poderia ficar depois de mais tempo. Talvez como a de Sirius, que parecia arranhar a garganta a cada palavra pronunciada.

— Você não tem cara de ter cometido algum crime que a traga para cá — ele disse.

— Você nem sabe o crime que eu cometi — Marlene soltou uma risada morta, somente para engasgar logo depois.

Tossiu por um bom tempo. Sempre que achava que ia acabar, a garganta arranhava mais, incomodando. Sirius esperou pacientemente até que ela se recuperasse, os olhos lacrimejando de dor e as narinas inflando-se desesperadamente, procurando por mais ar do que podia consumir.

— O fato de que te deixaram nessa cela aqui comigo já diria muito — disse Sirius.

Marlene olhou-o confusa. Ele não tinha dito que ela era inocente?

— E então? — perguntou.

— Eu aprendi a ler as pessoas — ele disse — Você sente culpa por alguma decisão que tomou. Assassinos não sentem culpa.

— Você parece sentir.

Apesar de doer referir-se a ele como um assassino, sabia que era preciso bater de frente às vezes. Somente assim conseguiria a mínima faísca de esperança que estava procurando quando atravessou os portões de Azkaban.

Sirius, como era de se esperar, não respondeu, desviando o olhar para a parede, incomodado com a mudança repentina de assunto. Depois de tanto tempo isolado, devia ter perdido o jeito de falar com as pessoas, ainda mais considerando os nada simpáticos guardas da prisão.

— Você sabe quem eu sou? — ele perguntou, parecendo conseguir unir fios de palavras em sua mente para externar.

— O quê? A gente esquece disso também?

Não podia evitar o seu próprio sarcasmo.

A conversa deles foi interrompida com a chegada de guardas físicos, que empurraram com os pés, sem muito cuidado, o prato de comida pelo espaço das grades. Também entregaram duas garrafas de água. Não olharam para eles, afastando-se logo que suas missões foram cumpridas.

— Eu passo — disse Sirius, fechando os olhos.

Marlene olhou incrédula para ele.

— Não pode estar falando sério! — tentou conter a irritação.

O que ele planejava? Matar-se?

— Isso não dá nem para nos sustentar — ele disse.

— Exatamente! Se já é difícil com isso, imagine sem.

Não pôde evitar olhar atravessada para a sopa cheia de pedaços de carne com uma aparência horrível.

Sirius deu de ombros, ainda sem abrir os olhos.

— Tudo bem, então — ela respondeu, irritada.

Pegou a garrafa de água, dando longas goladas, aliviada.

Como mesmo com água era possível que a garganta permanecesse tão ferida? Será que teria gritado enquanto esteve inconsciente?

— Não vai comer? — SIrius perguntou depois de um tempo, parecendo incomodado.

— Não, estou bem — ela disse, fingindo estar bem.

— Eles pegam os pratos depois de meia hora. Se estiver cheio, levam-nos mesmo assim.

Marlene deu de ombros.

Mais alguns minutos se passaram, mas Sirius não voltou a “relaxar”, os olhos bem abertos, desviando-se vez ou outra para ela. Por fim, ele suspirou, desistindo. A sua mão estendeu-se desgostosamente para o seu prato de sopa. Ela conteve um sorriso vitorioso, também pegando o seu prato.

— Você sempre faz isso com as pessoas? — ele reclamou — Tenta controlá-las?

— Se quiser interpretar assim, fique à vontade — ela deu de ombros.

Como ele disse, minutos depois de terminarem, os guardas voltaram a aparecer, pegando os pratos e as garrafas já vazias.

— Eles temem que usemos para escapar daqui — disse Sirius, revirando os olhos — Como se tivesse uma forma de fazer isso.

— Bem, você poderia lançar o prato em uma determinada posição, fazendo-os desmaiar, e pegar as chaves ou varinhas — Marlene deu de ombros, não era impossível.

Ele pareceu achar a ideia absurda demais.

— Qual é o seu nome mesmo?

Não esperava que entrassem naquele assunto tão cedo. Apesar de odiar-se por mentir, ela respondeu:

— Melannie McKornn.

— Nunca ouvi falar — disse Sirius — Você estudou em Hogwarts?

— Ilvermorny.

Ele assentiu.

— E você? — ela perguntou.

— Sirius Black.

Marlene imitou-o, assentindo.

— Qual crime você cometeu?

Virou-se para ele, observando a sua expressão vazia com um aperto no coração.

— Roubei a identidade e varinha de bruxos mortos — ela respondeu — Cada um foge da guerra como pode.

Sirius virou-se para olhá-la, mas dessa vez foi ela quem não quis manter um contato visual.

— Você? — perguntou, fingindo desinteresse.

— Matei três bruxos e doze trouxas.

Vê-lo falar daquele jeito causou um calafrio em sua espinha.

— Você já deve ter escutado falar — disse Sirius, parecendo bem menos confortável do que antes.

— Então você é do tipo famoso? — ela soltou uma risada seca.

Ajeitou-se na cela como pôde, já que era completamente desconfortável, não que esperasse uma recepção melhor.

— Por que você fugiu da guerra? — Sirius perguntou, mas parecia estar mais falando consigo mesmo — Nascida trouxa?

Ela também começaria a deixar escapar pensamentos? Perderia a sua capacidade de dissociação?

— Perseguição — respondeu apenas isso — Digamos que foi uma rixa pessoal com uma Death Eater.

— Então você é sangue pura.

Marlene apoiou a nuca nas grades, deixando a coluna toda fora de posição.

— Sim, você não vai sentir vontade de me matar — usou o seu clássico humor negro para tentar aliviar um pouco da própria tensão — Mas estou curiosa... O que despertou a sua vontade de falar, senhor Black?

— Pelo que parece, passaremos algum tempo nessa cela. E é bom distrair-se um pouco, o tempo passa bem devagar por aqui, acredite — disse Sirius, riscando a parede com um pedaço de giz, que deve ter extraído do chão.

Só então ela notou que todas as pedras da cela estavam riscadas com traços. Ela tinha lido bastante sobre histórias policiais para saber que se tratava do tempo que ele tinha passado naquele lugar.

— Estranho vindo de quem marca os dias nas paredes — comentou Marlene — Como você sabe?

— Você aprende a notar os sinais — ele apenas apontou para o teto, mas ela não entendeu o que aquilo queria dizer.

Quando pareceu satisfeito com a linha não muito reta, que formava já um sinal de jogo da velha, ele estendeu outro pedaço de giz para ela. Enquanto que o que ele segurava era branco, esse parecia mais cinzento.

— Quer começar a marcar? — ele perguntou.

Marlene aceitou, mas, em vez de escrever nas pedras, ela começou a riscar no chão mesmo. Sempre tinha gostado de desenhar, e poderia apagar as marcas com a sua própria roupa. Que outra opção tinha?

Sirius dizia que o tempo demorava a passar, mas, para ela, estava passando bem rápido, saindo de seu controle, o tempo escorrendo por suas mãos. Quanto mais demorasse ali, menos chances de conseguir provar a inocência de Sirius. Amelia seria capaz de tirá-la de lá sem o seu consentimento? Ela lembraria-se de seus objetivos depois de um tempo?

Esfregou o rosto com as mãos, ignorando completamente os resíduos de giz.

— Não tem realmente muito o que fazer por aqui — disse Sirius, parecendo contar os riscos para exercitar a matemática.

— Há quanto tempo você está aqui? — perguntou Marlene, tentando controlar-se, mas desesperada para saber mais.

— Estou tentando contar isso.

Ela observou em silêncio como ele passava os olhos pelos riscos.

Riscou forte contra o chão, perguntando-se o que aconteceria se colocasse fogo naquela cela. Seriam capazes de escapar? Decidiu deixar esse plano para reserva.

— Você foi julgado? Eu realmente não me lembro de ter lido sobre isso — ela interrompeu as suas contas, cansada do silêncio — Acho que algo dessa magnitude teria chamado a atenção.

— Você conversa sobre isso com muita normalidade.

Aquela era a desconfiança que esperava surgir de Sirius. E saber que ainda tinha uma característica dele ali, a aliviava, mesmo que isso pudesse dificultar os seus planos e aumentar o seu tempo de estada.

— Eu vi muitas coisas durante a guerra — ela disse.

— Você deveria querer afastar-se de mim. Eu matei pessoas.

— Você não mencionou as circunstâncias.

Sirius olhou-a incrédulo.

— Circunstâncias justificam assassinato? — ele perguntou.

— Justificam — Marlene retrucou — E o fato de você falar como se fosse uma anormalidade, me faz acreditar que você é tão inocente quanto eu.

Ele calou-se, parecendo realmente impressionado com o que ela disse.

— Você acredita mesmo no que está dizendo?

Marlene deu de ombros.

Permaneceram naquela troca de olhares cheios de sentimentos — não os sentimentos que ela gostaria —, quando escutaram os passos característicos novamente do lado de fora.

Já era a hora do jantar? Tinham perdido tanto tempo?

— McKornn, sua advogada está aqui.

Marlene levantou-se sob o olhar de Sirius.

O guarda apontou a varinha para os seus pulsos, que logo foram cobertos por algemas. Fechou a porta da cela, acompanhando-a pelos corredores.

Sentiu o frio característico dos dementadores, que tinham permanecido afastados durante aquelas horas em que esteve conversando com Sirius, assim como escutou gritos e risadas de outros prisioneiros. Manteve os olhos direcionados para o chão, não querendo reconhecer algum preso ou causar comoção.

— Eu vou acabar com a sua raça, McKinnon — ela sussurrou, lentamente — Você vai pagar por tudo o que me fez.

— O que eu te fiz?

— Você nasceu. Você acabou com os McKinnon por suas atitudes.

— Cuide de sua própria família, que já está tão denegrida.

Escutou uma risada enlouquecida e bem familiar.

Parou de caminhar e o guarda começou a puxá-la, impaciente.

— Vamos!

— Não! Por favor! — Marlene começou a chorar.

Caiu ao chão, o que fez com que o aperto das algemas aumentasse, tentando conter uma fuga.

— Não! Não! — ela gritava sussurrando — Ela não! Ela vai me matar! Ela veio atrás de mim! Ela quer vingança!

O guarda, ao contrário do que esperou, ajoelhou-se à sua frente.

— Lene.

Ela parou de debater-se, algumas lágrimas escorrendo por seu rosto.

— Eu estou contigo e Amelia — ele sussurrou — Sou o seu contato aqui dentro.

Podia confiar nele?

— Bellatrix não vai te pegar. Ela está bem longe daqui.

Tentou engolir o choro, ao escutar o nome da mulher que tinha acabado com a sua vida, mesmo que indiretamente.

Delicadamente, o guarda ajudou-a a se levantar, e seguiram pelo caminho difícil. Perguntou-se como que os guardas não pareciam afetados, inclusive esse, que não mantinha um patrono ao seu lado. Seria algum feitiço ou poção? Algum amuleto de proteção? Nunca tinha escutado sobre isso em seus tempos como auror, embora nunca tivesse sido escalada para guardar a prisão.

Seguiram por mais alguns corredores, antes de saírem da área de presos, e o guarda abrir uma das portas com sua varinha. Amelia levantou-se em choque, assim que viu-a entrando.

— O que está fazendo aqui? — perguntou Marlene — Você disse que não poderia ajudar-me!

— Eu só queria saber como está sendo o seu progresso — disse Amelia.

Apesar disso, sabia que ela queria certificar-se de que ainda não tinha enlouquecido.

— Está tudo bem — Marlene respondeu a ambas as perguntas — Estamos começando a conversar.

— Isso é bom — concordou Amelia, esfregando uma mão na outra, tentando aliviar o frio.

— Há algo que queira me contar?

A advogada olhou-a, antes de desviar o olhar.

— Albus Dumbledore notou o seu desaparecimento da França.

Marlene enfureceu-se.

— Ele esteve mantendo uma vigia sobre mim por todo esse tempo? — perguntou — Ele não tinha esse direito! Obrigou-me a me afastar, tínhamos combinado que eu viveria a minha vida sem conexão com...

— Voldemort pode voltar a qualquer momento — Amelia interrompeu-a — Seria estrategicamente apropriado manter sob vigilância todos os apoiadores da causa.

Marlene esfregou o rosto, tentando esquentá-lo e acalmar-se ao mesmo tempo.

— Ele sabe que estou aqui? — ela perguntou.

— Não, ninguém nunca pensaria em Azkaban — Amelia negou.

— Dumbledore não é “ninguém”. Ele pensa em coisas que os demais jamais imaginariam.

Ela precisou concordar com isso, mas mesmo assim manteve o seu ponto de vista.

— Eu só achei que você gostaria de saber disso — disse Amelia — Coby me informará do que ele observar. É arriscado mantermos muito contato. Se quiser desistir...

— Eu não irei — Marlene afirmou com certeza no olhar.

— Recorra a ele — ela completou, ignorando-a.

Antes de sair, pegou um pedaço de espelho de seu bolso e virou-o para ela.

Prendeu a respiração, observando o seu rosto pálido e completamente demarcado por aquelas 24 horas sofridas.

— Pense bem nisso.

Com um último olhar de preocupação, Amelia cumprimentou Coby e saiu da sala.

— Tire isso da minha frente — pediu Marlene, desviando o olhar do seu reflexo.


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