In Search of Truth escrita por nywphadora, nywphadora


Capítulo 2
Capítulo 1 - Azkaban




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Escutou a vibração do som de um metal rangendo, a ponto de importunar os ouvidos, dando a vontade de tapá-los somente para não precisar escutar o som tão desagradável. Torceu o pescoço em um reflexo de nervosismo, os pelos arrepiados de uma forma negativa. Escutou as ondas do mar baterem contra as paredes, vezes respingando gotas da água gélida pelas frestas entre as pedras.

Eles deviam fazer propositalmente. Cada mínimo detalhe pensado para enlouquecer a qualquer pessoa que passasse mais de cinco minutos naquele lugar. Não bastasse o nevoeiro que impedia as vistas de qualquer janela, rodeando a construção, ou mesmo o frio que penetrava além da pele, vindo de uma das criaturas mais desagradáveis existentes no mundo bruxo — se não a mais.

— Sirius Black, você foi acusado de trair a James e Lily Potter, matar um bruxo e outros doze trouxas. Está correto?

Marlene encostou-se à parede, observando através da superfície que só era visível para ela. Quem visse do outro lado, enxergaria apenas mais uma parede, embora todos os aurores soubessem desse feitiço, e Sirius Black não fosse diferente. Por momentos, teve a certeza de que ele sentia a sua presença, já que podia ver os seus olhos percorrendo por ali, fazendo-a arrepiar-se quando se encontravam.

— Senhor Black?

Ele permaneceu em silêncio, e Amelia olhou para onde ele olhava, mas Marlene sabia que era apenas uma desculpa. Ela queria dizer-lhe apenas que a sua tentativa não tinha dado certo.

— Deixe-me tentar, por favor... — ela murmurou.

— Black, eu estou aqui para ajudá-lo. Preciso que você me responda essa pergunta.

Não sabia quanto tempo tinha ficado ali, observando por trás da parede as suas expressões faciais, tentando adivinhar os seus pensamentos.

Por fim, Amelia levantou-se, lentamente, como se esperasse que Sirius reagisse de última hora, desse um mero sussurro, mas ele parecia recolhido dentro de si mesmo, como se mesmo respirar exigisse muito de suas forças.

— Como você pôde ver... — ela disse, assim que saiu da sala.

— Deixe-me tentar — pediu Marlene.

— Está louca? — perguntou Amelia — Isso não vai dar certo!

— Talvez ele reaja ao me ver...

Era exatamente aquilo que a funcionária do Ministério temia.

— E, além do mais, eu não serei eu mesma enquanto estiver naquela cela — completou Marlene — Eu preciso tentar.

Estavam brincando com a sorte.

Como Amelia já tinha dito, Azkaban não recebia inspeções, e dificilmente os presos eram interrogados. Apesar de ser da Wizengamot, ela não era uma advogada exatamente, então aquela visita tinha sido um golpe de sorte. Uma desculpa de investigação extraoficial sobre os Death Eaters — tinha dito que talvez Sirius poderia saber de algo.

Antes que pudessem fazer mais alguma coisa, um dos carcereiros, que estava ajudando a Amelia, entrou para recolhê-lo. O normal era que ele saísse por outra porta, sem ser a dos interrogadores, mas ele saiu exatamente do lado em que estavam.

— O que vocês querem comigo? — Sirius gritou, debatendo-se, assim que viu o rosto de Marlene.

Ela encolheu-se, escondendo-se com o capuz da capa, enquanto ele afastava-se.

— Querem me castigar mais do que já fizeram? — ele continuou a gritar, conforme se afastava pelo corredor.

— Você tem certeza de que está pronta para isso? — Amelia perguntou a Marlene, quase que com pena.

— Ele reagiu ao me ver — ela respondeu apenas isso — Eu disse que ele faria.

Não foi uma reação muito boa, ele tinha acreditado ser uma alucinação provocada propositalmente por eles, mas era algo. Significava que ele ainda estava lá, dentro daquele corpo tão maltratado pelo tempo e lugar. Sirius ainda estava lá, e ela iria recuperá-lo da maneira mais difícil — não que houvesse uma maneira fácil.

— Vamos.

Amelia guiou-a pelos caminhos desconhecidos e complexos da prisão, e Marlene nem ousou decorar, já que sabia ser tão impossível quanto lembrar-se das curvas e direções que o carrinho do Gringotts tomava.

Entraram na sala de arquivos da prisão, que possuía centenas de milhares de armários pequenos e quadrados. Alguns armários estavam abertos, outros fechados. Não aparentavam ter um cadeado, já que não faria falta se alguém fosse revistar — todos os pertences tenebrosos tinham sido levados pelo Ministério para o Departamento de Mistérios, onde provavelmente estudariam uma forma de neutralizar os seus efeitos. Diversos nomes gravados à madeira. Carrow, Dolohov, Rookwood...

Marlene não teve tempo de procurar um lugar para apoiar-se, caindo para o lado. Amelia não demorou a sustentá-la, percebendo a sua situação. Fê-la sentar-se em uma cadeira que fez surgir.

— Está tudo bem? — perguntou Amelia.

Ela passaria meses ao lado de verdadeiros criminosos. Respirou fundo, tentando retomar o controle da situação.

— Esses armários não têm proteção? — tentou distrair-se de seu problema.

— Assim que você entra na sala, a prisão reconhece o seu porte de varinha.

Amelia abriu um dos pequenos armários. Era realmente impressionante como tanta coisa cabia ali dentro, mesmo que com um feitiço indetectável de expansão. Ela fechou a portinhola, mostrando o nome marcado ali.

— Melannie McKornn — ela disse.

— Está brincando? — Marlene riu.

— Às vezes um anagrama é mais inteligente do que um nome falso todo planejado. Esse você vai identificar.

Amelia entregou as roupas que estavam ali dentro, e Marlene não demorou a trocar de roupa, sem importar-se com a sua seminudez, tinha acostumado-se com o programa de aurores e os treinos esportivos de Hogwarts.

— Você foi acusada de roubar a identidade e varinha de um bruxo estrangeiro — escutou as instruções — Melannie McKornn forjou a sua própria morte.

Marlene levantou o olhar, encontrando os olhos sérios dela.

— Forjar a própria morte é considerado um crime? — ela perguntou.

— Quaisquer crimes relacionados à ocultação durante a época da Primeira Guerra são perdoados — respondeu Amelia — Ainda mais se você foi uma participante ativa do lado da luz, e tiver apoio de pessoas influentes como Dumbledore.

O que não estava em seus planos, mas era bom saber que sua passagem em Azkaban não corria risco de ser permanente.

— Melannie argumenta ser inocente das acusações, que estava fugindo de sua morte certeira. Quando perguntada, ela não quis responder o motivo pelo qual seria perseguida, repetindo apenas que era efeito colateral da Primeira Guerra. Sugiro que ela seja mestiça ou nascida trouxa. Não existem sangues puros com esse sobrenome, mesmo nos outros países. Kornn poderia ser um sobrenome russo, se separado, mas acompanhado de Mc... Soa irlandês.

— Entendi — Marlene terminou de amarrar os sapatos — Talvez nascida trouxa, já que estamos brincando com as memórias dele.

Amelia não precisou perguntar para saber de quem estavam falando.

— Eu vou precisar tirar a sua varinha — ela disse.

Aquela devia ser a parte mais difícil de todo o processo, abrir mão de sua varinha. Entregou-a e ela não demorou a ser colocada dentro daquele pequeno armário, com uma etiqueta falsa de identificação.

— Agora eu vou te algemar. Mãos nas costas.

Ela obedeceu, e não demorou a sentir a pressão do feitiço.

— Boa sorte — Amelia sussurrou ao seu ouvido, antes de apontar-lhe a varinha, enfeitiçado o seu rosto, e deixá-la sozinha na sala.

Marlene voltou a sentar-se na cadeira, observando o armário com seu nome falso, que agora tinha também as suas roupas. Os rastros de sua verdadeira identidade.

Quando a porta voltou a abrir-se, eram dois guardas bruxos, que cuidavam da segurança de Azkaban e do encarceramento de seus prisioneiros — junto com os dementadores.

— McKornn... — um deles murmurou para si mesmo, dando uma risada que Marlene não pôde identificar.

Sentiu as pernas pesarem, e cada passo dado era um sacrifício. Aquele feitiço era realmente muito bom... Além de que suas costas já doíam pela força exercida nos pulsos. Ela não encontrava um defeito na segurança, mas era horrível estar ali para provar isso.

Um dos guardas pegou um pergaminho, onde estava o seu nome, e o número de cela. Assim que leu, soltou uma exclamação.

— Pelas luvas de Morgana, o que você fez, garota? — ele olhou fixamente em seus olhos.

— O que houve? — o outro perguntou, a varinha ainda apontada para as suas costas.

— Ela vai ter um companheiro de cela. Ou cometeu um crime bem grave, ou você tem algum inimigo aqui dentro, que quer te ver na pior.

Ela ignorou-os, olhando fixamente para o chão, calada.

Eles não eram Amelia, eles não sabiam dela, eles não seriam bons com ela.

— Vamos.

Sentiu a varinha ser pressionada em suas costas e voltou a caminhar.

Caminharam por mais alguns corredores, que pareciam sempre mudar de direção. Teve a sensação de passar por milhares de celas por várias vezes, andando em círculos sem mapas. Não encontrou uma única janela para arejar o sofrimento e frio dali de dentro. Não naquela parte da prisão. Mesmo assim, as ondas do mar ainda encontravam um caminho. Uma sensação que deveria ser refrescante, mas que os dementadores tiravam a vida, como tudo, tornando uma frieza indesejável.

— Olhe só, Black! Vai ganhar uma companheira de cela!

A porta da cela abriu-se e Marlene foi jogada lá dentro. Eles afastaram-se, parecendo bem divertidos com a situação. Para serem guardas daquele lugar, só poderiam ser doentes ou inescrupulosos mesmo.

Ela tentou mover as mãos e percebeu que as algemas permaneciam.

— Mas que merda...

Foi um sussurro, mas bem audível.

De repente, sentiu como se aquele simples ato de abrir a boca tivesse levado toda a umidade que tinha lá.

— O feitiço sai.

Encostou a testa às grades de metal da cela, a gelidão contrastando com o suor seco. Escutar aquela voz foi o suficiente para que ficasse bem consciente de que estava no mesmo espaço que Sirius. A poucos passos de distância.

Não respondeu, sentindo os primeiros efeitos de sua estada na prisão. Os primeiros dias seriam os piores, e ela estava contando com isso. Só sabia que Sirius não se abriria tão facilmente, e ignorá-lo ajudaria no processo de confiança, por mais contraditório que pudesse soar. O conhecia bem demais.

Sem reclamações ou perguntas, a sua presença ali foi claramente ignorada. Manteve a testa apoiada ao metal, sentindo pontadas de uma enxaqueca. Não importava quanto tempo permanecesse naquela posição, o material não aquecia. Era o constante efeito dos dementadores. Por fim, um alívio pôde sentir, quando o feitiço desapareceu, deixando suas mãos inteiramente livres.

Passou-as pela extensão de seu cabelo, tentando acostumar-se com a mudança brusca. Os seus longos fios castanhos mal alcançavam os ombros agora — e sabia que devia agradecer a Amelia por isso — substituídos por um corte rente à cabeça. Não conseguia ver a cor, mas apostava em um preto. Quem sabe os olhos verdes... Sempre quis tê-los assim, suas íris não sofreriam com o sol por ali.

Como saberia como estava?

Como saberia quanto tempo se passou?

Aquela era a sensação de estar em Azkaban?

O castigo do isolamento, que impedia que obtessem o menor dos conhecimentos.

Encostou os pulsos às grades, como fez com a cabeça, procurando anestesiar a dor. Não soube quanto tempo passou naquela contemplação muda e surda da vida, das mínimas ações e reações de seu corpo. A respiração superficial era a única prova de que estava acompanhada, mas não esperava que fosse diferente.

Então o primeiro dementador aproximou-se, procurando entre todos os corpos um fio de memórias felizes com o qual pudesse se alimentar, deixando apenas o vazio.

— Ian está morto. Eu sinto muito, senhorita McKinnon.

— Não.

Ela gemeu, exatamente como fez em sua memória.

O dementador estava bem à sua frente. Apenas consciente disso, afastou-se apressada das grades. Eles eram conhecidos por não conseguir manter o controle, poderia beijá-la sem pensar duas vezes, movido apenas pelo êxtase das lembranças.

— Não, ele não está.

Entendo o quão difícil deve ser para você.

A voz da professora McGonagall soava em sua mente com os mesmos tons.

Seria capaz de delirar com palavras não ditas? Ela tinha medo de qual resposta obteria para aquela pergunta.

Era novamente uma garota de 14 anos, que tinha perdido o irmão.

Novamente a garota à procura de...

Não concluiu o pensamento.

Por que faltou às aulas? Estivemos te procurando.

Então ela foi ao chão, chorando sem conseguir controlar-se. As mãos protegiam os seus ouvidos, como se pudesse impedir-se de escutar as vozes de sua mente.

Escutar a voz de James tão cheia de vida era demais para ela.

Negou-se a prosseguir esse raciocínio, sabendo que era a chave para destrancar mais memórias. Não deixaria as coisas mais fáceis, sabendo que era questão de tempo para que suas forças se quebrassem.

— James e Lily Potter estão mortos. Eu sinto muito.

— Pare!

Não sabia se tinha gritado ou apenas sussurrado.

— Você precisa acreditar em mim. Sirius é inocente! Ele nunca faria uma coisa dessas com James e Lily.

Por um momento, acreditou que as palavras que a denunciariam diante de Sirius tinham escapado de sua própria boca, mas foi apenas uma memória. Lembrou-se do desespero que sentiu, tentando fazer Dumbledore acreditar. As pessoas.

— Você não vai morrer, Black. Deixe de ser estúpido. É só um sangramento! Francamente, planeja ser um auror assim?

Apesar de ter sido tão indiferente, sabia o desespero que tinha sentido ao vê-lo daquele jeito, tão pálido, perdendo tanto sangue em meio a uma batalha.

— Você ainda vai se perder por causa desse garoto, Marlene. Escute o que estou te dizendo!

— Por quê? Só por que a família dele não presta?

Lembrar da discussão que teve com seu pai, em seu último ano em Hogwarts, só fez com que lembrasse do que aconteceu não muitos meses depois.

Os sons de vidro se quebrando, coisas caindo, gritos... Todos esses sons eram bem piores do que qualquer diálogo, qualquer palavra que tenha penetrado em seu coração como adagas.

— Não!

— Por favor!

— Jeremy!

— Avada Kedavra!

E a luz verde clareou toda a casa.

Marlene arfou, quase afogada em meio às suas lágrimas.

Tinha sido assim que tinha acontecido?

Ou era apenas uma ilusão criada pelo momento?

O som das ondas do mar a trouxe de volta à realidade, e estremeceu quando sentiu algumas gotas batendo em suas costas, a camiseta colada pelo suor. Olhou para as grades, e viu que o dementador se afastava, como se já não tivesse interesse por ela. Por enquanto. Ela sabia que ele voltaria antes mesmo que pudesse recuperar-se.

Fechou os olhos com força, procurando alguma lembrança feliz.

— Eu posso vê-lo por uma última vez? Por favor!

Arabella correu as cortinas da janela, por onde esteve observando a casa ao lado.

— Não acho que seja uma boa ideia — ela respondeu, sem olhá-la — Ele está bem. Eu estou observando-o, cuidando dele, informando a Dumbledore.

Marlene não acreditou naquilo nem por um momento. Conhecia Petunia bem o suficiente para saber que estavam mentindo para que ela não tirasse o garoto daquela casa no mesmo instante em que visse o seu estado.

Só uma pessoa poderia fazer isso, sem que alguém pudesse contradizê-lo, mas primeiro precisaria provar a sua inocência.


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