Kageyama teve sorte em encontrar um lugar para morar dois dias antes das aulas começarem, e mais sorte ainda por esse lugar ser uma pensão que ficava a três quarteirões da faculdade ― ele estava tão empolgado com a vida nova em outra cidade que se esqueceu que deveria encontrar uma casa, ou seja lá o que fosse, para ficar.

O aluguel não era tão caro assim, e o lugar era bem espaçoso e limpo. Ele só teria que dividir o quarto com outro rapaz, mas isso não era um problema ― ou melhor, não deveria ser.

Naquele dado momento, ele estava parado na frente da pensão com uma mochila pesadíssima nas costas e uma mala em uma das mãos, prestes a dar seu primeiro passo rumo à vida adulta.

A pensão era uma casa de paredes amarelas, com uma pequeno jardim na frente e um portão branco. Ela ficava em uma rua estreita, entre um mercadinho e uma loja de móveis.

A porta se abriu e um moço de cabelos cinzentos saiu de lá.

“Você deve ser o Kageyama, certo?” ele perguntou enquanto destrancava o portão, e Kageyama balançou a cabeça afirmativamente. “Ukai me falou que você chegava hoje. Sou Sugawara Koushi.”

“Kageyama Tobio” ele murmurou, apertando a mão que lhe fora estendida.

“Deixa que eu te ajudo com isso aqui” Sugawara pegou sua mala. “Você vai ficar no quarto sete, né?”

“Deve ser.”

Depois de passarem pela entrada principal, eles subiram por uma escadaria estreita até chegar a outra porta, que já estava aberta. De lá, seguiram por um corredor cheio de portas, cada uma com uma plaquinha numerada, até chegarem ao quarto sete.

Sugawara tirou um molho de chaves do bolso e olhou uma por uma, até encontrar a certa.

“Seu colega de quarto chegou ontem, ele saiu para dar uma volta e conhecer o bairro” ele disse, colocando a mala ao lado da porta.

O quarto até que era bem grande. As paredes eram brancas, e em uma delas havia uma janela, coberta por persianas amareladas. Havia duas camas, uma ao lado da porta e outra encostada na parede oposta, e duas escrivaninhas, uma ao lado da primeira cama, debaixo da janela, e outra no pé da segunda, bem ao lado de um armário enorme.

A cama ao lado da porta estava completamente bagunçada, bem como a escrivaninha ao seu lado. Kageyama franziu o cenho. Ele não era a pessoa mais organizada do mundo, mas seu colega de quarto parecia ser muito pior nesse quesito.

“Quer conhecer o resto agora?” Sugawara perguntou.

“Pode ser.”

Eles seguiram pelo corredor enquanto Sugawara falava sobre o lugar.

Havia três banheiros, um no corredor, entre os quartos três e quatro, outro entre os quartos seis e sete, e o último ao lado da sala de TV, que ficava no fim do corredor, junto da cozinha.

Depois de falar sobre algumas regras de convivência, Sugawara levou Kageyama de volta a seu quarto.

“Ah, sim, o Ukai-san deve trazer alguns papéis para você assinar ainda hoje.”

“Ok. Obrigado pela atenção.”

“Sem problemas! Se quiser perguntar qualquer coisa, pode me chamar, meu quarto é o dois” ele despediu-se, fechando a porta ao sair.

Kageyama sentou-se em sua cama e olhou ao seu redor. Aquele seria seu quarto pelos próximos meses. Era sua primeira vez morando sozinho, longe de sua família. Seria uma boa experiência? Bem, isso ele veria com o tempo.

Como seu colega de quarto ainda não havia chegado, Kageyama começou a esvaziar sua mala, acomodando suas roupas na metade desocupada do armário. Acho que a pessoa não se importaria se ele fizesse isso, não é mesmo?

E aí a porta abriu de repente.

“Temos que pegar! Isso eu sei - ah! Você chegou!”

Kageyama encarou o garoto parado na porta.

Ele era baixinho, tinha os cabelos alaranjados muito bagunçados, e segurava um nikuman mordido em uma das mãos e um saco de papel na outra.

“Eu sou Hinata Shouyou” ele estendeu a mão com o nikuman para ele. “Ah! Desculpa, peraí.”

Ele enfiou o resto do bolinho na boca e estendeu a mão mais uma vez.

“Kageyama Tobio.”

A mão dele era pequena, e estava meio úmida e pegajosa.

“O Suga falou que você chegava hoje, então comprei isso aqui” ele abriu o saco de papel e mostrou os dois nikumans que estavam lá dentro. “Você gosta?”

“Sim.”

“Ah, que bom! Porque eu fiquei pensando ‘e se ele não gostar, o que eu faço?’ e aí eu quase comprei um bolo, mas os nikumans pareciam tão bons que eu não resisti.”

Kageyama comeu seu nikuman em silêncio, ouvindo o garoto falar animadamente sobre suas aventuras nas redondezas. Ele usava muito as mãos e os braços para se expressar, e ainda enfiava algumas onomatopeias aleatoriamente no meio da frase.

Esse colega de quarto era um pouco estranho, e Kageyama passaria o resto do ano com ele.

Bom, aquela era só sua primeira impressão.