Um passo errado escrita por nanacfabreti


Capítulo 8
Hora errada




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Enquanto no palco o quarteto de cordas ainda agraciava a plateia com suas belas canções, no camarim o clima estava bem diferente. Erick e David estavam atracados, trocando socos e ofensas.

A fúria que dominava os dois era tão grande, que eles pareciam búfalos. Thomas e Eliot tentavam de todas as maneiras separá-los, Alicia aos berros pedia que parassem, enquanto Laura desesperada não entendia o que havia desencadeado aquela desgraça.

—Rapazes! —Regina usou um tom que chegou a assustar todos que estavam ali. —Vocês estão destruindo o camarim!

—Eles vão acabar se matando desse jeito... —Laura começou a chorar vendo o rosto de Erick sujo de sangue.

Eliot aproveitou um momento de distração e agarrou David pelas costas num ato certeiro, seu porte de lutador de jiu-jitsu acabou por dar a ele certa vantagem.

—Segura o Erick! —Ele gritou para Thomas.

—Não precisa... —Erick levantou os braços, estava arfando. —Eu não vou mais sujar minhas mãos com esse idiota.

—Beija a minha namorada na frente de toda a cidade, e sou eu o idiota? —David esbravejou tentando se soltar dos braços de Eliot.

Alicia cobriu o rosto com as mãos, ela estava péssima e o olhar da mãe de Erick para ela, só fez tudo piorar.

—Filho, você não fez isso... —Laura pareceu inconformada.

—Essa... —David interveio como se tivesse notado a presença da mãe de Erick somente naquele instante. —O que essa mulherzinha está fazendo aqui?

Erick arregalou os olhos e fechou as mãos como se estivesse pronto para um novo embate.

—Veja bem como fala com a minha mãe, posso mudar de ideia e quebrar você inteiro!

—David! —Alicia resolveu falar. —Pare com isso! Aliás, vocês dois...parecem selvagens!

—E você hein Alicia... —ele apontou o dedo na direção da namorada, — eu mandei você ficar longe desse marginal e na primeira oportunidade está aí, se esfregando com ele!

—Cala a boca! —Erick deu dois passos a frente e a pouca distancia entre eles era muito perigosa. —Fale com a Alicia desse jeito de novo e eu arrebento você!

David arregalou os olhos, aquela ameaça lhe pareceu verdadeira e ao mesmo tempo intrigante. Eliot também percebeu a ameaça iminente e apertou ainda mais os braços de David contra as costas.

—Calma cara...isso não vai resolver as coisas. —Ele tentava em vão, acalmar o amigo.

—O que está acontecendo aqui? —Cássio entrou como um raio no camarim e ao observar o cenário destruído e os filhos, ambos com os rostos inchados e feridos, teve sua resposta antes mesmo que alguém tentasse explicar.

Laura baixou a cabeça, ela sentia uma mistura de vergonha e desconforto, a presença de Cássio ali, potencializou ainda mais seu mal estar.

—Que pergunta pai...Vai me dizer que não viu esse maldito idiota beijando a Alicia? —David reclamou com uma dose de ódio em cada palavra. —E o pior... eu achando que faria uma surpresa para minha namorada!

Cássio colocou a mão no queixo, virou o rosto tentando entender como as coisas tinham chagado aquele ponto e então viu Laura. Ela estava desejando ter o poder de ficar invisível, a história com o pai de seu filho, mesmo vinte e poucos anos depois ainda a afetava.

—Laura... —Ele apenas correu os olhos por ela, sabia que quando Marcela soubesse que eles estavam no mesmo metro quadrado o que estava ruim, ficaria ainda pior. —Eu não sei como isso começou, mas sei como vai terminar. —Ele encarou os dois filhos, um de cada vez.

—Pode me soltar Eliot. —David rosnou.

Eliot olhou para todos no camarim como se esperasse por aprovação.

—Pode soltar, e se qualquer um dos dois pensar em levantar os pulsos, o acerto de contas vai ser comigo. —Cássio foi firme.

Assim que se viu livre, David estufou o peito e retomou seu ar de superioridade, tentando fazer parecer que ele não estava tão afetado como realmente estava.

—Eu já devia esperar que esse cara tentaria me provocar...deve ser difícil mesmo saber que o pai escolheu formar outra família...uma muito melhor. E eu já devia imaginar que ele invejaria a minha vida! —David usou um tom calmo, como se declamasse um poema.

—David, por que não fica quieto? —Alicia sentia medo de que coisas voltassem a sair dos trilhos.

—Não me mande ficar quieto, — ele olhou com raiva para a namorada — minha conversa com você vai ser depois.

Erick observou tudo e tentou ficar calado, era o que deveria ter feito, mas não conseguiu. Tudo em David o irritava, e o fato de ele estar o provocando não era tão incomodo como vê-lo sendo grosseiro com Alicia.

—Sabe o que é mais engraçado irmão? —Erick fixou os olhos em David. —Está aí, todo cheio de si, se auto promovendo como o melhor, o invejável e foi só eu colocar os pés nessa cidade que sua namorada o trocou por mim... assim, num estralar de dedos.

Alicia sentou seu corpo enrijecer, todos olharam para ela enquanto ela não acreditava que Erick estava falando aquelas coisas.

—Erick, feche essa boca agora! —Laura correu para o lado do filho, ela era sensível o bastante para perceber que aquilo não terminaria bem para ninguém.

—Idiota! Acha que esse beijo significou alguma coisa para ela? —David estreitou os olhos acreditando que as palavras do irmão não passavam de um blefe.

—Acha mesmo que esse beijo foi único? Sério David?

—Erick! —Dessa vez foi Alicia quem o repreendeu. —Não estregue tudo...Sou eu quem tem que conversar com ele.

—Espera aí...Então é mesmo verdade? Você dois!? —Thomas perguntou como se as palavras tivessem escapado de sua boca.

—É isso aí...Aconteceu, Alicia e eu nos apaixonamos. —Erick que olhava para Thomas voltou sua atenção a David. —Foi mal irmãozinho!

—Meu Deus! —Laura lamentou num murmuro.

—Eu vou acabar com você! —Davi partiu para cima de Erick mais uma vez .

Para Alicia já abastava, ela saiu correndo e nem quis saber como aquilo terminaria. Ela estava sem chão, parecia ter sido golpeada na cabeça, precisava respirar.

—Jéssica! Graças a Deus! —Alicia se agarrou na amiga que parecia alheia ao quebra-quebra que acontecia a poucos metros dali. —Me tira daqui, por favor!

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—Como é que eu perdi isso tudo? Eu vi que os meninos sumiram, mas nem imaginei que era porque estavam tentando conter o David...

Alicia estava na casa da amiga, com a cabeça em seu colo ela chorava copiosamente. A dor que a consumia, era diferente de toda e qualquer outra dor já conhecida por ela.

—Estou me sentindo um lixo...sem contar que me sinto uma tola. —Ela se sentou. —Tinha que ver o jeito que o Erick falou sobre nós, sobre mim...a impressão que tive é de que ele planejou tudo isso, sabe?

—Parou com a teoria da conspiração! —Jéssica balançou as mãos. —Tudo bem que ele errou expondo você dessa forma, mas aí, dizer que ele planejou...Acho que você anda assistindo muito a série Revenge.

—Meu Deus! Eu estou morrendo de vergonha...David me olhou como se eu fosse uma vadia... —Alicia voltou a chorar. —A essa altura, meus pais também já devem estar sabendo e é bem capaz do Cássio demitir meu pai por minha culpa.

—Seria muita ignorância da parte dele, sem contar que Erick também é seu filho, portanto...

Alicia olhou com desgosto para a amiga, mas sabia que ela não falava por mal.

—Eu só queria voltar no tempo e fazer tudo diferente.

—E o que mudaria? Vai me dizer que teria fechado direito a persiana?

Alicia parou por um instante, ela realmente pensava na pergunta que acabava de ouvir.

—Talvez a questão não seja a persiana, mas sim meu coração...era ele que eu deveria ter mantido bem fechado.

Jéssica parou por ali, entendeu que aquela situação era mesmo muito mais complicada do que aparentava.

Erick era outro que não estava nada bem, enquanto a mãe cuidava do corte que não parava de sangrar, ele só pensava em ir atrás de Alicia. Eles tinham ido para o hotel em que a mãe estava hospedada e além da dor física, ele estava experimentando pela primeira vez os dissabores de estar apaixonado.

—E eu que achava que você tinha aprendido a lição Erick, —Laura reclamava segurando uma gaze na ferida dele. —achei que mandando você aqui para Santo Valle estaria o livrando de problemas e olha o que você fez...isso porquê não faz um mês que veio.

—Quantas vezes vou ter que repetir? —Ele suspirou cansado. —Eu não planejei isso, e mais, quando conhecia Alicia, eu não sabia que ela era namorada daquele...

—Do seu irmão, meu filho! Tudo bem que não soubesse, mas descobriu no mesmo dia...

—Aí já era tarde, eu já estava... —Ele baixou os olhos e fixou-os nos próprios pés.

Laura afastou-se para pegar um esparadrapo na sacola que estava sobre a cama.

—Não me venha com essa de amor á primeira vista. Não você!

Erick silenciou. Já tinha gasto todo o seu latim tentando fazer a mãe entender que ele não havia feito de propósito, e o que mais o preocupava era que se Laura, que o conhecia tão bem estava duvidando de suas intenções... como estaria a personagem principal da história?

—Vou atrás dela...Eu não posso deixar que Alicia pense que eu agi de caso pensado. —Erick pegou as chaves de seu carro e saiu depois que a mãe finalizou um curativo em seu corte.

—Nem sei se deveria falar, afinal, você nunca me ouve...Deixe-a sozinha, permita que ela tente digerir isso tudo. Você magoou aquela menina quando para ferir seu irmão, usou seu envolvimento com ela. —Laura encarou o filho que já estava na porta pronto para sair. —Se eu fosse Alicia, não iria querer olhar pra você hoje.

Erick fechou os olhos e riu com sarcasmo.

—Ajudou muito, mãe. —Ele bateu a porta.

Com o celular na mão, ele ligava incansavelmente para Alicia, e estava ficando cada vez mais irritado quando a voz eletrônica pedia para que ele deixasse uma mensagem na caixa postal. Estacionou em frente ao estúdio de ballet, e quando deu por si, percebeu que dirigiu até lá automaticamente. Ligou mais uma vez e nada. Em frente ao lugar onde tudo havia começado, Erick sentiu-se um idiota,estava arrependido. Ele só pensava que não devia ter revidado as provocações de David, e isso teria mudado os rumos daquela noite.

Sem um norte, Erick lembrou que Jéssica morava perto de onde ele estava, se recordou da conversa que tiveram na festa do irmão, quando ela tagarelava sobre sua vida.

"Duas ruas para baixo do estúdio?" —Ele pensou já arrancando com seu jipe.

Assim que entrou na rua que ele supunha ser a certa, reconheceu o carro de Jéssica estacionado na frente casa amarela. O portão era fechado mas, tinha um interfone. Ele olhou para o relógio do celular, faltavam quinze minutos para uma da madrugada, uma péssima hora para tocar na casa de alguém...

Sim, era uma péssima hora, mas ele estava desesperado e sabia que elas estavam juntas, Vivian havia dito para ele que as viu saindo do teatro.

—Jéssica! —Ele gritou, e sua voz ecoou pela rua silenciosa.
Erick ouviu latidos de cachorros das casas vizinhas e imaginou que não demoraria que alguém aparecesse para ver o que estava acontecendo. —Jéssica! —Tentou mais uma vez, afinal, já estava lá mesmo.

—Essa voz...É do Erick. —Alicia que ainda se lamentava com a amiga, reconheceu quem estava aos berros ali.

—E agora? —Jéssica ficou em pé em um segundo. —O que você vai fazer?

Alicia sentiu seu coração acelerar, sentiu também uma raiva crescendo dentro dela. Teve vontade de sair e estapear Erick, queria gritar com ele, mandar que ele fosse para o inferno mas aí, se lembrou que ela tinha uma grande parcela de culpa em todo aquele acontecimento, e que na verdade, não queria que ele fosse para o inferno coisa nenhuma.

Saber que Erick estava lá, a poucos metros dela, só reafirmou o que estava cansada de saber. Ela estava perdidamente apaixonada por ele, ou mais, ela o amava e talvez por isso, a dor de ter se decepcionado com ele era tão grande.

Voltou a chorar com força, era contraditório, mas tudo o que ela queria era sentir os braços de Erick em torno dela.

—Vá até lá e diga que eu não vou falar com ele. —Ela afundou a cabeça no travesseiro. —Mande-o ir embora, por favor.

Jéssica nem se atreveu a opinar, aquilo era confuso de mais para ela. Correu então para dar o recado, ela estava interessada que Erick parasse de gritar seu nome ali. Os vizinhos já olhavam torto para aquela garota,por conta de seu jeito espevitado, imaginou que aquele fato, seria colocado por eles em sua conta.

—Jéssica, graças a Deus! — Erick olhou para ela como se sua vida dependesse dela.

—Primeiro, —ela sussurrou —abaixa o tom de voz, ou daqui a pouco alguém chama a polícia.

Erick fechou os olhos, sentia como se só estivesse fazendo besteira.

—Diga que ela está aqui...por favor.

—Ela está... mas não quer falar com você!

Erick cobriu o rosto com as mãos.

—Droga! Alicia deve estar morrendo de raiva de mim...

Jéssica sentiu pena de Erick, mas não quis mentir para ele.

—Digamos que raiva é sim um dos sentimentos que ela tem por você nesse momento...

—Deixa eu entrar. —Ele juntou as mãos como se fizesse uma prece. —Por favor, eu prometo que não vou causar confusão.

—De jeito nenhum...A Alicia nunca me perdoaria! —Jéssica movia a cabeça numa negativa enfática.

—Eu estou implorando...eu sei que deve estar parecendo que eu sou um cafajeste mas acredite, eu gosto dela...na verdade eu

—Eu sei. —Jéssica sorriu. —Dá pra ver, e por isso eu te digo, deixe-a esfriar a cabeça, no fundo Alicia sabe também, e eu tenho certeza que vocês vão se acertar. Eu mesma estou torcendo por isso.

Erick baixou a cabeça resignado, virou as costa e caminhou até seu jipe.

—Diga que eu sinto muito...

Jéssica fechou o portão e voltou para o quarto, Alicia estava ansiosa por noticias.

—Ele já foi? —Ela indagou aos soluços.

—Alicia...independente do quanto ele foi idiota, em seu lugar, eu não perderia muito tempo fugindo de um cara desses, sério, ele é louco por você.

Alicia não pregou os olhos pensando em tudo o que tinha acontecido e em tudo o que tinha escutado, mesmo de Jéssica.

Antes das seis da manhã resolveu voltar para casa, quando ligou avisando que dormiria fora, os pais ainda não estavam sabendo do que tinha acontecido. Alicia queria ver se conseguia, ela mesma dar sua versão dos fatos, antes que aquela história chegasse até eles de um jeito ainda pior do que já era.

— Vou ficar te devendo essa... —Alicia agradeceu Jéssica depois de um banho e roupas limpas.

—Sem problemas, você fez bem em tomar um banho, estava parecendo que ia dançar cisne negro. —Jéssica fez menção à maquiagem que antes estava escorrida pelo rosto da amiga.

Alicia não estava de bom humor, portanto não achou graça.

—Eu- não- acredito! —Jéssica assustou-se assim que abriu o portão e deu de cara com Erick.

Ele estava encostado do lado de fora do jipe, havia passado a noite toda ali, esperando por Alicia.

Ela, quando colocou os olhos sobre ele, teve que segurar o impulso de correr para abraçá-lo. Em seu rosto, todo o sofrimento e angustia eram notáveis, sem contar que o curativo na testa tinha dado a Erick um charme especial, e por isso, a vontade de ir até lá, enche-lo de carinhos e de cuidados a dominou.

—Precisamos conversar. —Ele se aproximou e sentiu um nó se formando em sua garganta.

—Erick, eu não quero falar com você. — Ela mentiu.

—Acabei de me lembrar...tenho que resolver uma coisa. Tipo...muito importante mesmo... —Jéssica voltou para dentro de sua casa. —Nos falamos depois, Ali. —Ela disse antes de fechar o portão.

—Entra no carro...você tem que me ouvir. —Erick foi firme, ele não perderia aquela oportunidade de se explicar.

Alicia balançou a cabeça, acabava de se lembrar da discussão de Erick com o irmão.

—Eu não vou com você a lugar nenhum... —Ela afirmou baixinho sem a menor convicção.

Erick respirou fundo, a tomou nos braços e colocou Alicia dentro do Jipe. Ela não esperava por aquilo e acabou ficando sem reação.

—Eu não estou brincando...temos que conversar. —Ele avisou já ligando o motor e saindo.


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