Um passo errado escrita por nanacfabreti


Capítulo 28
Caminhando nas Nuvens




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As horas naquela sala de esperas do hospital de Santo Valle pareciam se arrastar, as notícias eram vagas, e o clima, as lembranças da vez em que era o filho que estava internado, deixavam Laura impaciente. Outra coisa que a atormentava eram as palavras ditas pelo ex-namorado segundos antes de desfalecer, a frase passeava por seus pensamentos e provocavam um frio em sua barriga.

Com a cabeça apoiada no ombro do filho, Laura tentava segurar o choro, mas era impossível, tantos acontecimentos impactantes em tão pouco tempo acabaram por desestruturá-la e, cansada de encenar a mulher inatingível, ela deixou que as lágrimas escorressem por seu rosto.

—Vai ficar tudo bem, mãe... —Erick tentava acalmá-la mesmo estando aos pedaços.

Marcela era outra que não conseguia esquecer o que Cássio havia declarado a Laura, estava com tanta raiva do marido, ela mal podia acreditar que ele a expusera daquela maneira. Confessar seu amor por outra mulher, publicamente? Aquilo era demais para ela, e tudo o que desejava era que Cássio morresse.

Permaneceu na delegacia cuidando para que o filho saísse de lá o mais rápido possível. Já havia mexido os pauzinhos e conseguido um advogado criminalista dos bons, era marido de uma de suas amigas de infância, morava na capital e já estava a caminho.

As mensagens em seu celular não pareavam de chegar, a cidade toda já sabia o que tinha acontecido. Não fosse a preocupação com David, Marcela já estaria arrumando as malas e partindo para algum de seus países preferidos, talvez França, fizera isso outras vezes e, uma delas nem tinha tanto tempo assim. Meses atrás, quando Cássio comunicou a vinda do primogênito para a cidade, ela fez um escando e sem comunicá-lo partiu para a cidade luz, ficou lá por dez dias, voltou cheia de roupas e sapatos novos, além de uma compreensão encenada. "Tudo bem seu filho vir morar conosco, eu pensei melhor e vi que estava sendo muito ignorante." — dissera na época.

Cássio conhecia muito bem a esposa, portanto, sabia bem que aquilo não passava de fingimento, mesmo assim, preferiu entrar em seu jogo. Para ele não tinha outro jeito, restava-lhe apenas ir levando aquele relacionamento que estava com o prazo de validade vencido.

****

—E então? Como ele está? —Laura colocou-se em pé muito rapidamente, assim que o médico passou pela porta de onde eles estavam.

—Bom dia— o homem de branco ponderou, observando o clima tenso que dominava aquele ambiente. —Trago boas notícias, a angioplastia foi um sucesso e se tudo correr bem, amanhã Cássio já receberá alta.

—Graças a Deus... —Laura murmurou.

—Isso significa que ele não corre risco de morte? —Erick indagou ainda apreensivo.

— Um infarto é algo muito sério, mas além de ele ser um homem forte, esse procedimento costuma ser muito bem sucedido.

—Ele vai poder receber visitas? — O filho continuou com as perguntas.

—Mais tarde sim, de qualquer forma, eu volto para atualizá-los.

Erick e Laura assentiram com a cabeça e só voltaram aos seus lugares, quando o médico já havia desaparecido de suas vistas.

— Se quiser ir para casa, eu fico aqui. —Erick acariciou o rosto da mãe, estavam lá por mais de oito horas e ela apresentava sinais de exaustão. —Falei com o Thomas mais cedo, ele disse que se precisar, ele a leva até o haras.

—Não, eu não vou sair daqui filho...você viu, a mulher dele não deu as caras. —Laura respirou fundo.

Erick arqueou as sobrancelhas e encarou a mãe.

—Também... —ele sussurrou.

—Erick! —Ela ralhou com o filho sabendo bem qual era o teor de sua insinuação.

—Mãe, ele fez uma declaração de amor para você —o rapaz começou, mesmo sabendo que aquela não era uma boa hora para falarem sobre tal assunto.

Laura sentiu seu rosto ferver, não gostava de mexer naquela ferida.

—Filho, ele estava...aquilo foi... —Ela demonstrou todo o seu desconcerto.

—E quanto a você? —Erick interessou-se. —Nunca mais se envolveu seriamente com ninguém, sem contar a maneira que olha para o meu pai, eu já tinha notado.

A professora de ballet permaneceu em silêncio por alguns minutos, não sentia obrigação de responder as perguntas do filho. Rapaz enxerido, ela pensou, mesmo assim revolveu fazê-lo.

—Alguns amores nos marcam de uma forma definitiva e por mais que você tente apagá-los da sua memória, do seu coração, eles continuam lá, dia após dia, latejando dentro de você como se quisessem lembrá-la de que você nunca mais vai conseguir ser feliz o bastante, não como era com aquela pessoa.

Erick enrugou a testa e deixou seus olhos se perderem em algum ponto atrás da mãe. Abraçou-a um tempo depois, sabendo exatamente como ela se sentia.

—Por fim, acho que será assim comigo em relação á Alicia, eu sinto que nunca vou me interessar por mais ninguém, e pior, eu nem tento fazer isso. Ela ocupou tanto espaço dentro de mim, que eu acho impossível colocar outra pessoa em seu lugar — Erick disse como uma confissão.

Laura estalou a boca.

—Me desculpe... —Ela afagou os cabelos dele assim que se separaram. —Acho que herdou essa intensidade de mim.

Erick nada respondeu, apenas permaneceu ali, pensando em como o destino estava sendo algoz com ele. Sim, porque, como já havia sido confirmado antes por seu advogado, seu julgamento fora cancelado, com isso, Alicia não teria mais razões para voltar.

*******************************

A ansiedade o consumia, sabia que sentia saudades dela e pensar que em minutos Alicia estaria ao alcance de seus braços era perturbador. Olhou para relógio, ela estava atrasada, mais de uma hora.

Seria uma surpresa, afinal, a bailarina insistira que ele não precisava se preocupar em buscá-la no aeroporto, entretanto, ele não conseguiria, ou melhor, não perderia a oportunidade de revê-la.

Algumas pessoas se aglomeraram no saguão em frente ao terminal de desembarque por onde ela sairia. Passava das seis da tarde quando ele pela milésima vez ele checou a hora. Enfim as pessoas começaram a cruzar a saída, seus olhos ansiosos buscavam-na e não demoraram muito para encontrá-la.

Ergueu então a plaquinha improvisada em cartolina azul, nela estava escrito:

"A bailarina mais bela do mundo"

Alicia o viu, sentiu seu coração acelerar ao ler o aquela frase. Puxando duas grandes malas, ela aumentou o ritmo dos passos para encontrá-lo.

—Falei que não precisava vir. —Ela segurou o rosto de Miguel entra as mãos e depois, entregou-se ao seu abraço.

— Até parece...você desembarcando na minha cidade... Acha que eu deixaria passar? —Ele apertou-a com toda a sua força.

Alicia encheu seus pulmões com todo o ar que pôde, era bom estar de volta, era bom ver Miguel, mesmo assim, o motivo de sua agitação era outro e ela sabia bem onde encontrá-lo.

—E então, quer dar uma passada em minha casa? Conhecer o lugar onde eu vivo? —Miguel tomou uma das malas para si e eles seguiram para fora do aeroporto.

—Honestamente eu quero ir para minha casa —ela começou meio sem jeito—,ou melhor, para o haras.

Miguel fez uma meia careta.

—Viu só? Por isso eu vim, depois que se acertar com seu namorado, nem vai se lembrar de mim...

—Fala como se isso fosse algo certo. —Ela cruzou os braços enquanto Miguel colocava suas malas no porta-malas de seu carro.

—E não é? Afinal você voltou pra quê? —Miguel perguntou em um tom de cobrança.

—Na verdade... —Ela balançou a cabeça, estava perdida. — Eu vim pensando por toda a viagem, fazendo um balanço de tudo o que vivi nesses últimos meses e o resultado foi que eu consegui ficar mais confusa ainda.

—Direto para Santo Valle, então? —Miguel ergueu uma das sobrancelhas.

—Direto para Santo Valle. —Alicia ajeitou-se no banco de passageiros.

—Pelo que me contou ao telefone, as coisas estão bem agitadas por lá, não é? —Miguel afirmou, dando partida no carro.

—Pois é... —disse vaga, estava sentindo seu nervosismo crescer.

**************

Erick estava no quarto com o pai e Cássio se recuperava muito bem da angioplastia a qual fora submetido. Deveria ter recebido alta, mas o médico preferiu postergar para a manhã seguinte, apenas por precaução.

A mãe tinha ido para o haras tomar um banho e descansar um pouco, voltaria para que Erick pudesse fazer o mesmo. Eles estavam se revezando já que Marcela havia se abstido do cargo de esposa e David, mesmo estando em liberdade, não tivera a coragem de colocar os pés naquele hospital. Melhor para ele, não seria nada racional cruzar o caminho de Erick.

O pior, era que não seria apenas o irmão quem ele precisaria evitar, havia Eliot também, o rapaz se enfureceu quando soube que fora o próprio David que roubou o dinheiro do supermercado. Vivian, sua namorada, junto de tantos outros funcionários, havia perdido o emprego por conta disso e o rapaz jurou que não deixaria barato.

—Eu acho que só volto amanhã cedo, tudo bem? —Erick perguntou, notando que os pais estavam gostando daquela situação.

Laura e Cássio se entreolharam.

—Tudo bem filho, qualquer coisa eu ligo para você, e mais, as Marta disse que vai dar uma passada aqui, mais tarde. —A mãe de Erick abraçou-o.

—Então até amanhã. —Ele partiu depois de um toque no braço de seu pai.

Saiu de lá com a sensação de que aquela história renderia, preferiu não ficar pensando muito, não conseguia definir dentro de si mesmo se gostava ou não daquilo.

Mais uma vez o calor estava insuportável, depois de passar rapidamente pela casa dos gatos para alimentá-los, seguiu para o haras, cruzou com a avó de Alicia na entrada.

—Estou indo para o hospital, vou fazer um pouco de companhia para sua mãe.

—Ela me disse, e dona Marta, á partir de amanhã retomo meu trabalho normalmente. —Erick explicou-se, sentindo-se mal por estar ausente há dois dias.

—Deixe de bobagem...agora, vou pedir-lhe um favor. —Ela entrou em seu carro. —Daqui à uma hora, verifique a temperatura do ar condicionado dos estábulos para mim, por favor, acho melhor subir um pouco, tenho notado que as madrugadas estão um pouco mais frescas.

—Eu não acho, na verdade, sinto como se Santo Valle estivesse em chamas. —Ele opinou. —De qualquer forma vou tomar um banho, comer alguma coisa e depois eu vejo isso.

Marta assentiu com a cabeça e então partiu. Erick fez exatamente o que dissera a ela. Tomou um banho demorado, e aproveitando sua casa vazia, colocou o um vinil para tocar, há algum tempo não fazia aquilo, não gostava da cara da mãe quando o via curtindo a fossa declaradamente.

Na hora de vestir-se, abriu a gaveta onde ainda havia algumas peças de roupas de Alicia. Passou as mãos por algumas delas e se ateve a uma camiseta branca, era sua, mas ela por diversas vezes a usara como pijama.

O tecido de algodão era fino e, estava quase puindo por tanto uso, Erick a usava direto e depois de lavá-la, devolvia a camiseta naquela gaveta, achava que voltava a ter o cheiro da ex-namorada.

Na geladeira encontrou um prato com macarrão, colocou-o no micro-ondas e enquanto esperava a comida esquentar avistou uma garrafa de vinho na prateleira que ficava em cima da pia. Riu com desgosto enquanto se lembrava a quem pertencia a bebida.

—Claro...de quem mais...? —Resmungou enquanto balançava a cabeça. O vinho fora um presente de Martina para Alicia, aquela era a última das cinco garrafas que vieram numa cesta.

Resolveu abri-la, tomaria apenas uma taça para relaxar, talvez isso o fizesse dormir melhor. Acabou, porém, bebendo quase meia garrafa e quando sentiu seu corpo ainda mais quente do que antes do banho, achou melhor parar.

Preparava-se para ir para a cama quando lembrou-se do pedido de Marta.

—O ar condicionado, Erick... —Resmungou a si mesmo, vestiu uma calça jeans velha e surrada e seguiu para os estábulos.

*******

—Quer que eu ajude-a a levar as malas? —Miguel ofereceu-se assim que colocou-as no chão.

Ele havia estacionado o carro bem na entrada do haras e Alicia permanecia dentro do carro, seu coração batia mais que o normal, as pernas tremiam e ela estava sentindo calafrios. Respirou fundo e o cheiro daquele lugar apenas potencializou todas aquelas sensações.

Abriu sua frasqueira, as chaves estavam lá, destrancou o portão lateral, rezava para que sua avó ainda estivesse em seu escritório, não queria vê-la, não antes de se encontrar com ele.

—Miguel...eu nem sei como agradecê-lo...por tudo o que fez por mim até agora. —Ela evolveu seus braços no corpo do rapaz.

Ele por sua veza sabia sim, como ela podia agradecê-lo, entretanto, tinha plena noção em que meio se meteria, caso tentasse disputar o amor de Alicia.

—Sabe que se tudo der errado eu vou estar esperando por você, não sabe? —Ele encarou-a de modo furtivo.

—Seria tão fácil se eu pudesse escolher isso, mas eu não vou te prometer nada... —Alicia carinhosamente beijou o rosto de Miguel, sabia de sua paixão por ela, e se não fosse Erick, seria um par perfeito , contudo, não era justo deixar nada subentendido. —Eu ligo amanhã para você...não pense que vai se ver livre de mim.

Miguel tinha tanto para falar, havia até ensaiado uma declaração, mas não viu sentido em fazê-lo, apenas entregou a ela a placa e depois partiu. Ele queria Alicia para si, só que acima de tudo, queria que ela fosse feliz.

Felicidade. Isso era também o que Alicia buscava, e enquanto caminhava rumo a edícula onde viveu seus melhores momentos, começou a chorar. Tudo estava tão intenso que ela sentia medo de seu corpo desligar.

Lembrou-se dos exercícios de respiração que Regina a ensinara em momentos de tensão antes da apresentações. Inspirou e expirou o ar por mais de dez vezes seguidas, sentiu sua cabaça rodar.

—Vai desmaiar desse jeito — chamou sua própria atenção, antes de voltar a caminhar.

Parada na porta da edícula tentou ouvir se havia algum movimento por lá. Lembrou-se de que não voltara a falar com Jéssica para saber notícias de Cássio. E se Erick estivesse com o pai?

Notando os joelhos se moverem como britadeiras, resolveu acabar com tudo aquilo. Levou a mão á maçaneta e a girou sem cerimonias.

Não se conteve quando entrou naquele lugar que já fora seu. Acendeu a luz e quando viu seu gato dormindo sobre sua poltrona, já não continha mais as lágrimas.

—Jack...Jack...Jack... —Ele beijava a cabeça dele. —Garoto, que saudades eu estava de você! —Ela sussurrou enquanto o bichano apenas se espreguiçou.

Alicia balançou a cabeça, parecia que seu gato agora tinha outro favorito. Começou a passear pelos cômodos, tudo estava exatamente igual desde sua partida, como se aqueles oito meses nunca tivessem existido.

Seguiu para o quarto de Erick, da porta já dava para sentir o cheiro de seu perfume, tão bom...Alicia sentou-se na beirada da cama, percebeu que estava certa em ter relutado tanto para viajar, ela acabava de ter a prova de que nunca queria ter saído dali.

Levantou-se um tempo depois e foi até a cozinha, estava com sede, sentia um calor absurdo e não sabia se realmente a temperatura estava tão elevada ou se era seu corpo estranhado o clima oposto ao de Londres.

Antes de abrir a geladeira, notou um prato com um resto de comida e uma taça com um resto de vinho. Tocou a louça e sentiu que ela estava levemente morna. Seu estômago revirou.

—Quem sabe me ajuda? —Ela deu de ombros enquanto completava a taça com mais vinho, depois, tomou tudo num gole só.

Saiu da edícula disposta a encontrá-lo, Alicia queria tirar a prova de como seu corpo reagiria quando se reencontrassem.

Guiada por seu sexto sentido, seguiu exatamente para onde ele estava, os estábulos. Diminuiu os passos quando notou movimentações nas baias, ali notou algumas mudanças, a porteira era nova, de madeira escura e com detalhes entalhados, estava mais suntuosa.

Como se estivesse caminhando nas nuvens, devagar, aproximou-se do local, e para não fazer barulho, passou pelo vão da porteira.

Àquela altura Alicia já não conseguia pensar direito, a mistura de adrenalina mais nervosismo mais álcool, havia resultado em algo explosivo e quando ela o viu, de costas afagando o fuço de um belo cavalo egípcio, sentiu a cabeça falhar.

Levou as mãos até a boca, do contrário teria gritado. O Jeans desbotado e aquela camiseta de malha fina marcando seus músculos, que pareciam ainda mais definidos, faziam Alicia compreender um dos porquês de aquele homem nunca ter deixado seus pensamentos.

Queria correr até Erick e jogar-se sobre ele, queria, mas estava travada, como se seus pés tivessem sido cimentados no chão. Fechou os olhos e respirou fundo, o cheiro do couro das celas, misturado ao de madeira fizeram seu corpo se arrepiar. Alicia soltou um gemido e quando abriu os olhos pôde ver o exato momento em que Erick virava o rosto em sua direção.

Ele piscou algumas vezes, o maxilar se contraiu e depois ele arregalou os olhos. Acreditava que estava vendo uma miragem. Seria um efeito do calor, ou seria o vinho?

—Erick... —Ela sussurrou como se fosse uma prece. Ele atendeu.

Caminhando em passos lentos, um... dois...três e no quarto suas respirações ofegantes já se misturavam.

Erick não estava acreditando que Alicia estava ali e, embora quisesse muito que fosse real, tinha certeza de que era apenas mais uma maneira de seu cérebro o torturar. Sem desgrudar seus olhos dos dela, esticou seu braço em direção àquele rosto que parecia ainda mais belo do que estava registrado em sua memória.

Quando sentiu o calor da pele dela na ponta de seus dedos, ele fechou os olhos sentindo uma dor rasgar a sua alma. Erick sabia que em poucos segundos ela desaparecia como fumaça, por isso já sofria com antecipação. Não foi o que aconteceu, quando abriu os olhos ela continuava lá, encarando-o como se estivesse hipnotizada.

—Alicia, você...como...? —Erick não conseguia formular uma pergunta.

A bailarina tocou seus lábios com os dedos, temia que palavras pudessem estragar o momento, que para ela parecia mágico. Alicia sabia que teriam muito que conversar, mas antes existia algo mais importante a ser feito.

Finalmente ela conseguiu sair daquele estado de choque inicial, deu um passo à frente e isso fez o corpo dos dois se encontrarem, as duas mãos foram para o rosto de Erick, a barba estava por fazer, mesmo assim dava para sentir a pele macia por baixos dos pelos baixos. Depois ela correu os dedos pelos cabelos úmidos, em sua testa gotinhas de suor se formavam escorrendo e misturando-se as lágrimas que Erick derramava.

Enquanto era acariciado, ele envolveu os braços na cintura da bailarina como se aquilo fosse uma maneira de impedir que ela o deixasse.

Oito meses...esse era o tempo ou o tamanho da saudade que os consumia e depois de alguns minutos de reconhecimento, eles sentiram seus corpos cobrando por mais. Erick segurou o queixo de Alicia com os dedos puxando-o para perto de seu rosto que já estava inclinado, preparado para beijá-la e quando isso finamente aconteceu, quando puderam sentir o gosto um do outro, as coisas mudaram de tom.

Se antes estavam calmos, agora tudo parecia ser urgente, desde a maneira com que movimentavam suas línguas, até a forma com que suas mãos exploravam um ao outro. Empurrando-o contra a parede, Alicia tentava se livrar da malha que ele vestia, ele ficava sexy com ela, mas sem, certamente ficaria mais e, assim que conseguiu desnudar seu tórax, deu uma boa olhada, queria conferir de perto toda aquela beleza.

Sentiu uma fisgada na barriga assim que ele sorriu malicioso e apaixonado como antes, ou ainda mais. Alicia vestia uma camisa azul clara fechada por botões, Erick também achava que aquela peça era dispensável. Desabotoou o primeiro, depois o segundo, as mãos trêmulas tornavam aquela função muito complicada, impaciente forçou a blusa dos dois lados fazendo com que ela se abrisse completamente, revelando uma lingerie cor-de-rosa.

Num ato rápido, Erick inverteu as posições, dessa vez era ele quem presava Alicia contra a parede, colocando-a de costas. Afastou então seus cabelos deixando seu pescoço livre, levou os lábios até a nuca dela e começou a beijá-lo por toda a extensão, sugando e mordendo levemente sua garganta, arrancando gemidos abafados da bailarina.

Ela sentia sua pele arder, a barba arranhava-a por onde passava, mesmo assim era bom, tudo o que vinha dele era bom. Quando Erick livrou-a de seu sutiã, ela virou-se de frente, não queria perder o contato visual.

— Eu senti tanto a sua falta... — Alicia murmurou no ouvido de Erick, indo contra ao que ela mesma pedira.

—Eu também...você não imagina o quanto... —Erick tomou-a nos braços e deitou-a no chão do estábulo. 

 Eles se amaram ali mesmo, mais de uma vez, afinal, foram oito meses de espera, de desejo e de amor reprimido.

—Eu te amo Alicia, e nem sei como sobrevivi esse tempo sem você. —Ele confessou enquanto apertava-a em seu corpo.

Alicia respirou fundo, não respondeu nada, estava sentindo-se plena, pela primeira vez em todo aquele tempo a dor havia passado, finalmente ela estava livre do sofrimento. Por outro lado tinha vontade de gritar com Erick. Como ele teve coragem de privá-la de algo tão bom?

Descansando em seu corpo Alicia lutou contra o sono o quanto pôde, Erick também sentia-se exausto, de um jeito bom. Levantou-se e vestiu-se, pegou as roupas de Alicia e depois tomou- a no colo.

—Vamos para o quarto...eu sei que esse ar condicionado é tentador, mas se adormecermos aqui, certamente seremos despertados por algum funcionário.

Ela não relutou, agarrou-se a nuca dele e preferiu não pensar em mais nada. Na cama deitados um de frente para o outro, com os dedos entrelaçados, permaneceram em silêncio, estavam letárgicos, adormeceram um tempo depois.

Já começava a amanhecer quando Alicia despertou, Erick estava agarrado nela e por mais que não quisesse, delicadamente soltou-se de seus braços. A maneira com que se sentiu assim que abriu os olhos ajudara em sua decisão.

Seguiu até a casa da avó e foi direto para o quarto onde guardara suas malas. Pegou seu caderninho, só as palavras escritas ali poderiam fazer Erick entender como ela havia se sentido em Londres e mais, apenas seus manuscritos poderiam justificar seu próximo passo.

Tomou num banho rápido e trocou de roupas. Voltou até a edícula e encontrou Erick dormindo na mesma posição em que havia o deixado. Observou-o por um tempo, seu semblante estava sereno.

Inclinou-se em sua direção e deixou ao lado do travesseiro o caderninho, virou as costas e saiu de lá. Certamente o táxi que havia pedido estava chegando.


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