Um passo errado escrita por nanacfabreti


Capítulo 26
Verdade e consequência




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   Ainda no dia em Miguel esteve no haras, o filho de Laura aproveitou uma saída de Marta e foi até sua mesa, queria ver as fotos que o tal cara havia trazido, não precisou procurar, elas estavam dentro de um envelope claro, sob uma miniatura de ferro do Big Ben.

   A patroa poderia retornar a qualquer momento, mas a tentação de ver o que tinha naquele envelope falou mais alto.

  Sabia que seu ato era perigoso, afinal, tinha noção de que podia se deparar com alguma imagem desagradável, talvez dela com o novo namorado. Arriscou, e sentiu em seu peito uma palpitação conhecida, valeu a pena , Alicia estava linda, e aquele sorriso...   exatamente como ele se lembrava.

   Passou calmamente fotografia a fotografia, poder vê-la estampada ali, trouxe-lhe paz e calmaria, contrapondo a agitação que a bailarina costumava fazê-lo sentir.

  —Então é você...? —Erick murmurou assim que viu o ultimo dos retratos. Alicia e Miguel abraçados, e para piorar, ela parecia feliz...muito feliz.

  Antes de devolvê-los ao envelope, resolveu ficar com um, guardaria de recordação. Saiu da sala resignado,  resolveu adotar a mesma técnica que usou na primeira vez em que Alicia rompeu com ele.

   Ligou o piloto automático e passou a viver um dia de cada vez. Ocupar a cabeça era a única maneira de sobreviver a tantas decepções e tristezas, e de certa forma, enquanto fazia coisas que sabia que agradariam a ex- namorada, Erick sentia-se mais próximo dela, mesmo que de uma maneira ilusória.

 Depois de descobrir que o terreno em que viviam os gatos era de um tio já falecido de Marta, e que nunca despertou o interesse de nenhum familiar, ele, que teve o aval da avó de Alicia, pôs-se a usar todo o seu tempo vago àquele lugar, e sozinho estava conseguindo colocar tudo em ordem.

 No haras, sua dedicação estava ainda maior, ele gostava mesmo do que fazia, e mesmo seu pai tendo por muitas vezes insistido que ele começasse a se envolver com os supermercados, Erick não queria nem pensar nisso.

 Todos ao seu redor estranhavam a maneira vinha tocando sua vida, não se dava o direito de viver nenhum momento de lazer, mesmo com a insistência dos amigos. Thomas havia perdido as contas de quantas vezes convidara Erick para uma saída, e ele sempre arrumava uma desculpa.

  Olivia era outra que não se cansava de tentar uma aproximação com o rapaz, e ela achava que com o caminho livre, seria apenas questão de tempo. Não imaginava que se  pudesse, ele não teria nem mesmo uma aproximação profissional com ele.

 Todas as vezes que a garota aparecia no haras, Erick dava o jeito de fugir dela, de se ocupar com outras coisas para não ter que desprender nenhuma atenção à filha do prefeito. Era como se fosse um ato de respeito á Alicia, mesmo ele sabendo que de certa forma, não devia mais isso a ela.

   — Qual é o seu problema? —Olívia segurou-o pelo braço, numa tarde onde apenas ele estava disponível para pegar sua égua. Ela irritou-se com a forma técnica que estava sendo tratada por ele.

 Erick olhou para a mão da garota em seu antebraço e franziu a testa.

 —Qual é... o seu problema? —Ele puxou o braço com certa rispidez. —Sua égua está aí, selada como me pediu...

  Ela colocou as mãos na cintura, e começou a bater os pés como uma garota mimada.

—Quero que fique comigo enquanto pratico os saltos, é sua obrigação.

 Erick balançou a cabeça em negativa.

—Se vai saltar, o instrutor dessa área vai cuidar disso, você sabe Olívia...não é da minha alçada. —Ele preparou-se para dar ás costas á garota.

 Ela voltou a segurar seu braço, dessa vez com mais gentileza, quase como um carinho.

 —Erick...vamos parar com essa coisa de gato e rato...você sabe bem que eu gosto de você, da sua companhia, além do mais, você está solteiro, certo? —Ela deixou a voz rouca, para parecer mais sensual.

 Erick pensou em Alicia, em como ela estava certa por odiar tanto aquela garota. Olívia era mesmo bonita e sexy, só que ele estava fechado para balanço, e por tempo indeterminado.

 Talvez em outras épocas, aquela pimentinha fosse um prato cheio, mas não, não depois de Alicia. Olivia nunca seria uma opção considerada por ele, nem em uma década.

 Poderia ter dito isso a ela, mas preferiu usar de um pouco mais de gentileza, afinal, estava trabalhando.

 —Maurício! —Ele gritou ao colega de trabalho. —Acompanhe Olivia até a área dos saltos, eu tenho que dar um telefonema.

 Ele seguiu para a edícula sem nem dar chances da garota protestar.

Laura estava em pé, próxima da porta, preparava-se para sair e estranhou a expressão que o filho trazia no rosto.

—O que houve agora? —Ela preocupou-se.

 —Nada... foi só uma situação meio chata com aquela garota, a filha do prefeito.

 Laura arfou, as garotas eram sempre causadoras de problemas ao filho, também, ela tinha de admitir, havia caprichado, olhou-o por um segundo com admiração e mesmo deixando a corujice de lado, constatou, Erick era lindo, em todos os sentidos.

 —Bem, então deixe-me aproveitar o ensejo... —Ele ficou séria.

 —Vai mãe, não há mais nada que possa me surpreender.

—A Camila, está vindo pra cá, o Dr. Siqueira acabou conversando com ela, e conseguiu arrancar algumas revelações importantes...

—Que ótimo! —Erick ergueu as mãos em rendição. — O quê ela tem a ver com esse caso?

— Muita coisa. —Laura estreitou os olhos como se estivesse lembrando-se de algum fato. —Ela disse que viu Alison em Nova Olimpia, numa das noites de carnaval, isso nos leva a crer que ele pode tê-lo visto lá, e planejado tudo com mais rigor do que imaginamos.

—E eu me divertindo sem ter ideia do perigo que estava correndo... —Erick foi tomado por uma sensação ruim, seu temor se fez maior quando pensou em Alicia.

—Erick, encontramos a ponta do fio...achamos que tem alguém por trás disso, alguém está pagando esse advogado que cobra uma fábula por hora de trabalho, e sabemos que Alisson não teria condições de bancá-lo.

— Eu também acho tudo isso muito estranho, mas...quem poderia ter interesse em ajuda-lo? —Erick ficou pensativo.

 —A pergunta mais certa a ser feita é: —ela tocou o ombro do filho— Quem teria interesse em prejudicar você?

******************

Marcela voltou para casa com a sensação de que estava sendo seguida, claro que era apenas uma impressão, no entanto, quando se está fazendo algo errado, a paranoia deve ser algo natural.

—Acha que isso basta para calar o tal bandidinho? — Ela jogou um malote sobre a cama de David, depois fechar a porta do quarto do filho.

 Ele olhou o conteúdo do pacote e surpreendeu-se com a quantia de notas de cem reais.

—Tem muito dinheiro aqui... —Ele arregalou os olho, depois segurou um maço que estava amarrado com elástico.

 —Muito menos do que valiam as joias que tive de vender. —Ela rosnou. —Não pense que estou fazendo isso por você, garoto estúpido...

 —Mãe, eu sei que...

—Cala essa boca! —Ela sibilou entre os dentes. — Eu ainda não acredito no que fez. Pode jogar o nome da nossa família na lama, e tudo por causa daquela bailarina sem vergonha, que nem esperou você virar as costas e já estava se esfregando com seu meio irmão.

  David respirou fundo, mal conseguia encarar sua mãe, ainda mais depois do que acabava de ouvir.

—O Alison eu posso calar com dinheiro, mas e quanto ao Mathias? Ele encarnou o justiceiro e parece determinado em me ferrar.

 Marcela estreitou os olhos, estava decepcionada com o rapaz, sentia vontade de esgana-lo, e mais, se arrependia muito por não ter dado boas palmadas nele, quando ainda era um garoto, ou ao menos quando ele era mais baixo do que ela.

—Tem ideia de que se seu pai ficar sabendo de uma coisa dessas, ele o deserda? Não imagina como ele está preocupado com o bastardo... —Marcela caminhou até a porta, depois apontou para o malote —resolva isso, e mais, dê um jeito no seu amigo, o Mathias, faça com que ele se mantenha calado até essa droga de julgamento.

 Depois que a porta bateu, fazendo seu ouvido zumbir, David, sua culpa, seus arrependimentos e aquele dinheiro, fizeram seu quarto parecer pequeno demais, o pior era que ele não estava enxergando uma luz ao final daquele túnel, ou melhor, do labirinto, onde se metera.

 *******************

  Sete da manhã. Erick e Laura terminavam de fazer seu desjejum, quando o celular dela tocou. A professora de ballet olhou para a tela do aparelho e depois de suspirar atendeu.

 —Oi Camila... —Ela começou, sem tirar os olhos do filho. —Tudo bem, chegaremos juntas.

 Duas frases e a ligação fora encerrada.

 Erick permaneceu encarando-a, esperava por uma resposta.

— Ela chegou, e está pegando um táxi direto para o escritório do Dr.Siqueira.

—Nossa...posso até imaginar como a Alicia reagiria se estivesse aqui. —Erick divagou, depois de terminar de tomar seu suco de maracujá.

 Laura ergueu uma das sobrancelhas e fitou o filho enquanto se levantava da mesa.

—Teríamos um grande problemas mesmo, só que agora, a Camila pode ser nossa  solução.

Erick também se levantou, cruzou os braços contra o peito.

—Acho estranho que ela esteja disposta a me ajudar, essa menina me odeia...

—Ah, Erick...Eu  sei que ela tem fortes sentimentos por você, só que eu não diria que seja ódio.

—Bom, independente do que seja, eu sei bem como me sinto  a respeito dela, e ainda não engulo o fato de Camila ter partido pra cima de Alicia, naquela noite. —Erick já estava com as chaves do carro nas mãos.

 Laura enrugou a testa, embora não estivesse presente, sabia que não havia sido bem assim que os fatos se deram.

— Esqueça pelo menos por hora, deixe suas diferenças de lado e vamos torcer para que ela tenha mesmo um papel importante nessa história. — Laura saiu antes do filho, estava ansiosa.

 Assim que estacionou o carro em frente ao prédio onde ficava o escritório de seu advogado, Erick avistou Camila. Ela estava parada na calçada, cabelos presos no alto da cabeça e óculos escuros, com o semblante sério, distraída com seu celular.

—Bom dia. —Laura cumprimentou-a, fazendo com que ela volta-se do transe em que parecia estar.

 —Oi Laura... — Ela sorriu  discreta, depois seus olhos foram direto para ele. —Oi Erick... —Ela ergueu os óculos escuros, repousando-os na cabeça.

— Camila. —Ele respondeu sem jeito, colocou as mãos dentro do bolso da calça e encolheu os ombros.

 Ela sempre o olhava como se quisesse devora-lo, daquela vez não fora diferente.

— Vamos subir, temos um longo dia pela frente. — A mãe do rapaz tomou as rédeas da situação.

 Seguiram os três para o elevador, a tensão dominava a todos eles, cada um por um motivo diferente, Camila não conseguia parar de encarar o ex-namorado, e praguejava-se por seu perfume ser o mesmo, e por gostar tanto do cheiro.

 Cinco andares e poucos minutos depois,  eles já estavam dentro da sala do advogado, Erick e Camila sentados, separados por Laura, que pegou a cadeira do meio, propositalmente.

 Dr. Siqueira pegou uma pasta preta que estava sobre sua mesa e começou a folhear as páginas, era uma copia do processo.

 —Bem, eu anexei aqui, uma copia do documento que concedeu o habeas-corpus de Alison, e realmente, ele ocorreu na quarta-feira que antecedia o carnaval...

 —Isso significa que... —Erick começou, estava aturdido com a notícia.

 —Significa que eu estou falando a verdade. —Camila interveio, sua voz estava calma. —Tudo bem que eu tinha bebido um pouco, mas eu conheço o Alison desde que tínhamos dentes de leite, eu nunca me enganaria.

 —Disse que ele estava acompanhado de um outro rapaz, —o advogado inclinou o corpo na direção de Camila —sabe me dizer se é um morador da sua cidade?

Mãe e filho encararam a garota ao mesmo tempo, estavam ansiosos na mesma intensidade.

 —Tenho certeza de que não, eu os vi por duas vezes, primeiro na praça, onde estava acontecendo a festa, e depois, quando eu estava indo embora, eles estavam atrás da igreja, e eu dei uma boa olhada nele, tenho certeza de que nunca vi aquele rosto antes.

—E como ele era? Se a policia precisar fazer um retrato falado, seria capaz de descrevê-lo? —O advogado indagou, tentando não pressionar a garota que começava a demonstrar um certo nervosismo.

 Camila olhou para Erick, estava pensando.

—Acho que ele deve ter nossa idade, ou um pouco menos talvez... É mais baixo do que Erick, e o rosto é mais arredondado, cabelos cheios e escuros e os olhos eram castanhos, um rapaz bonito. —Ela deu de ombros.

 — Bem, essas são características muito comuns...não se lembra de nada marcante? Uma tatuagem talvez... — Dr. Siqueira não estava muito satisfeito.

 —Tem as fotos de todos os envolvidos no processo? —Erick indagou, depois de apenas ouvir a conversa entre o advogado e a garota.

 Enquanto ela descrevia o suposto comparsa de Alison, seu cérebro, inconscientemente  foi criando a imagem de uma pessoa, característica após característica citada por Camila, e o resultado final, fora uma pessoa que nunca antes havia sido considerada por Erick.

 —Tenho na verdade as fotos que foram tiradas da noite do crime... — Ele abriu a pasta do lado oposto e tirou da ultima página plastificada, um envelope branco. —Algumas aqui são feias... Ele alertou entes de entregar o pacote para Erick.

—Eu prefiro nem olhar. —Laura sussurrou com as mãos no peito.

 Erick retirou um punhado de fotos de dentro do envelope, começou a olhar, uma a uma enquanto era observado por todos os presentes naquela sala.

 Sentiu-se mal quando deparou-se com a imagem de Alisson no chão, todo coberto de sangue, e o pior foi se lembrar de como sentiu-se naquela noite. Haviam também fotos de Alicia, aquelas não eram nada boas, passou rapidamente por elas, doía de mais ver o grande amor de sua vida naquelas circunstancias.

 Erick não perdeu tempo, ele sabia bem quem estava procurando e sabia que com sorte, em algumas daquelas centenas de imagens, ele estaria presente.

 —Aqui. —Ele puxou a fotografia e segurou-a, abandonando as demais sobre a mesa. — Acha que pode ser essa pessoa? —Erick inclinou seu corpo para entregar o retrato a Camila.

 Laura seguiu tudo com os olhos atentos, e balançou a cabeça em negativa quando viu de quem se tratava.

 —Filho, imagine que...

 —É ele. — Camila não demorou nem um segundo sequer para confirmar, interrompendo o que a mãe de Erick estava dizendo. —Posso afirmar com cem por cento de certeza, esse é o rapaz que estava com Alison em Nova Olimpia.

 O advogado retomou a fotografia e sentiu a pancada quando viu a quem pertencia aquela acusação.

 —Não pode ser...isso não faz sentido algum. —Laura não conseguia aceitar.

 —Por pra mim faz todo o sentido... — Erick estava bufando, levantou-se da cadeira e começou a andar pela sala, de um lado para o outro, como se fosse um animal enjaulado. —Eu juro que eu vou matar o David!

—Ei rapaz! —O advogado chamou sua atenção usando um tom mais alto que o seu normal. —Esse é o momento em que vamos precisar de cabeças no lugar.

 —Exato! —Erick colocou o dedo em riste. —A cabeça daquele desgraçado vai estar exatamente no lugar certo quando eu o encontrar... nas minha mãos, sim, porque eu vou acabar com ele!

 — Erick! —Laura se levantou e segurou o filho pelos ombros. — estamos muito perto de provar sua inocência, não estrague tudo agora!

 — Gente! —Camila quebrou o clima pesado, fazendo com que todos olhassem para ela. —Conhecem o cara? Quem é ele?

  Dr.Siqueira respirou fundo, sabia bem o quão ruim as coisas estavam ficando para ele.

—David é irmão de Erick...irmão. —Ele afirmou, sentindo o peso e o significado daquilo.

—Nossa, e por que ele fez isso, eu quero dizer...é meio que assustador. — Camila parecia incrédula.

 — Isso é mais comum do que se pode imaginar... —O advogado comentou com pesar. —Principalmente quando envolve dinheiro, quando uma herança está em jogo...                               

—Alicia, era namorada de David, isso até conhecer o Erick... —Laura observou, certa de que fora exatamente esse o motivo que desencadeou aquela tragédia.

— Eu não sabia disso... —Dr. Siqueira  reclamou. —Tinham que ter me contado, é um fato muito relevante.

 — Uau...aquela lá só tem cara de santa ... —Camila usou de seu sarcasmo. — Então, está encrencando por culpa dela...

 —Por que não fica quieta, Camila? —Laura chamou sua atenção, sabia bem que Erick não deixaria que Alicia fosse insultada.

 — Alicia não é culpada do que está acontecendo comigo... —Erick rosnou. —Diferente de você, que se juntou com o Alison e armou contra mim!

 Camila se levantou, odiava que tocassem naquela história.

—Sabe que me arrependi Erick. —Ela posicionou-se em sua frente. —Sabe também que fiz o que fiz, porque você brincou comigo, com meus sentimentos...

—É disso que eu estou falando... —O Advogado deu um tapa na mesa. —Passionalidade, um dos maiores gatilhos para um crime...se eu soubesse dessa história, teria matado essa charada antes!

—O que vamos fazer agora? —Laura foi direto ao ponto.

— Digamos que esse pobre advogado acaba de ser colocado numa situação um tanto quanto complicada...Cássio estava empenhado em provar a inocência do filho, e pediu-me que não medisse esforços para isso, agora... —Ele cruzou os braços e fez uma meia careta. —bem, não preciso dizer que ele vai enlouquecer com essa revelação.

 Laura ficou pensativa, tinha de reconhecer que pai de Erick vinha sendo mesmo muito presente e empenhado nesse caso, mas agora, ele ficaria entre a cruz e a espada, seus únicos dois filhos seriam oponentes.  Cada um numa ponta de um cabo- de- guerra, e Laura temia pela escolha de Cássio, temia qual seria o lado ele escolheria puxar.

—Embora seja ele quem está pagando seus honorários...posso pedir que ainda não revele isso ao Cássio? Tenho medo de que ele opte por proteger seu outro filho.

 —Laura, Erick... — Ele voltou-se aos dois intercaladamente. — Quando que entro numa causa, é pra ganhar, portanto, fiquem tranquilos quanto aos meus próximos passos, e posso garantir uma coisa a vocês, se tudo der certo, sequer chegaremos a ter um julgamento, ou melhor, poderemos até vir a ter um , mas não será Erick o réu.

***********

  Tantas coisas começavam a ser explicadas, e tantos novos sentimentos estavam sendo conhecidos por Erick, naquela tarde. Depois de descobrir que seu irmão estava por trás de toda aquela sujeira, ele sentou-se no barranco onde pela primeira vez beijou Alicia, e ficou ali, vendo o sol se pôr.

  Estava tendo que se segurar para não ir atrás de David, porque apesar de tudo o que ele vinha passando, e mesmo com a possibilidade de perder sua liberdade, nunca fora esse seu maior medo, mas sim, o que realmente havia acontecido, ele perdera Alicia, e isso era imperdoável.

  Tudo bem que o irmão também havia a perdido, e Erick não podia e nem queria julgar os sentimentos dele quanto a isso, mas de uma coisa ele tinha certeza, nunca ninguém a amaria com tanta força nem com tanta intensidade, e mais, era reciproco, ele sabia que sim, e graças ao irmão, uma história tão bonita havia chegado ao fim.

 Erick sabia que deveria estar feliz, só que não conseguia. Na melhor das hipóteses seria comprovado que Alison havia premeditado toda aquela situação, isso, em pareceria com David, o processo contra ele seria retirado e sua vida voltaria ao normal...

 Não. Não voltaria ao normal, sua vida não era um filme que estava em modo pause esperando pior uma resolução.

  Tudo havia mudado, seguido, e sua vida nunca mais seria a mesma. Erik sabia que carregaria para sempre as cicatrizes daquelas feridas que lhe foram causadas. Nunca deixaria de pensar que por um triz não havia matado uma pessoa, e jamais deixaria de se lembrar como doeu ver Alicia em perigo, tão próxima da morte.

  A Erick, seria devolvido o direito de ir e vir, sem ter de dar explicações e sem nenhuma limitação. Só que ali, naquele lugar que tinha um significado tão importante e que lhe reservava as melhores memorias, ele tinha convicção de que nada daquilo, nenhuma daquelas conquistas tinha o menor sentido sem Alicia.

 Deu de ombros quando se levantou e sentiu a brisa fresca vir de encontro ao seu rosto, respirou fundo, aquele era o cheiro que a liberdade tinha? Não para ele, independente do acontecesse, Erick estaria sempre aprisionado àquele amor.

 

                                                                          ******************************

“Estou contando as horas, os minutos e os segundos, para que esses poucos dias que me restam aqui em Londres, passem, apenas passem...

 Honestamente não seu o quê pretendo com isso, não mais. Acreditei que estava no mais alto nível de confusão quando cheguei até aqui, só que hoje, mais de sete meses depois, as coisas apenas pioraram.

  A vontade de estar em Santo Valle me consome de forma inexplicável, e quando eu paro e penso no quê vou fazer quando chegar lá, eu travo. Minha mente simplesmente se limita a pontos de interrogação, e isso é terrível.

 Querer tanto uma coisa e não saber o que fazer com ela, chega a ser pior do que não tê-la efetivamente. Antes eu achava que quando colocasse meus pés na minha cidade, correria para braços dele, e esqueceria todo o sofrimento e as tristezas que vivi, entregando-me a seus beijos...Isso foi antes, antes de tantas coisas que vieram me mudando.

 Hoje, faltando tão pouco para o nosso reencontro, tenho que me forçar para lembrar de seu rosto, sem ter que recorrer a uma fotografia. Hoje tenho controle sobre meu sofrimento, mas ás vezes permito que tudo venha á tona novamente, e Deus, nesses momentos me sinto plena, como se Erick fosse vital, e eu me esforço para prolongar essa sensação de preenchimento.

   Depois, quando chego ao ápice, eu simplesmente despenco, caio de uma altura imensurável e me estatelo no chão, permaneço lá porque estou sem ele, perdida em tantos conflitos e em tantas perturbações, e no meio de tudo isso não consigo me encontrar.

 Eu ainda o amo, ou isso é apenas um vício?

 Essa chama ainda queima, ou sou eu quem insiste em mantê-la acesa?

Até onde esse sofrimento é real?

Talvez quando colocar os olhos sobre ele, todas essas duvidas desapareçam e eu apenas deseje morrer em seus braços, ou talvez, quando eu me deparar com a vida que ele me obrigou a deixar para trás, eu decida que já é hora de matá-lo de dentro de mim...”


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