Um passo errado escrita por nanacfabreti


Capítulo 22
O tempo vai dizer...




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—Eu ainda não acredito que isso está acontecendo com vocês... —Jéssica externava toda a sua indignação quanto à estupida separação de Erick e Alicia.

 —E acha que eu estou de que jeito? —Alicia jogou a mala sobre a cama e passou a brigar om o zíper que parecia emperrado. —Eu estou me sentindo uma idiota Jess, depois do dia que conversei com ele, mesmo dizendo que não faria, eu já liguei, implorei e sério...eu me humilhei para o Erick.

 Jessica respirou fundo, deixou seus olhos se perderem em algum ponto atrás da amiga que voltava a chorar.

—Isso que é pior...duas pessoas que se amam tanto, ficarem sofrendo desse jeito!

Alicia balançou a cabeça e fungou, depois caminhou até o guarda roupas e começou a pegar as pilhas de peças que já estavam separadas.

—Será que ele me ama mesmo? —Ela encarou a amiga. —Eu não consigo entender esse tipo de amor.

 —Ali, sabe que não é assim....Pode estar com raiva dele, e até aí tudo bem, mas se tem uma coisa que não pode fazer é duvidar de que ele a ama.

Alicia passou as mãos pelos cabelos e depois deu um grito.

—As vezes acho que vou enlouquecer. —Ela sentou-se na cama. —Antes dele eu não era assim, você me conhece Jess, sabe que nunca me deixei afetar dessa forma por nada, e juro, se há seis meses atrás, alguém  do futuro viesse me dizer que eu  me tornaria isso, eu não acreditaria...

—Alicia, é a primeira vez que se apaixona, sabe bem que com David não era amor. —Jessica segurou a mão da bailarina que tremia.

—Exato, Erick me revelou essa Alicia, essa que eu nem sabia que existia, uma Alicia que não está nem aí para essa escola de ballet. —Ela se levantou e voltou a arrumar as malas, se é que jogar de qualquer jeito as roupas dentro delas, pode ser chamado de arrumação.

 —Deveria ter aceito a proposta dele. —Jessica opinou temendo a reação de Alicia. —Fazer essa viagem sozinha sabendo que ele está aqui a sua espera, ou melhor, que ele a qualquer momento pode ir ao seu encontro, me parece razoável.

 Alicia respirou fundo.

— Seria razoável se eu realmente quisesse ir, se eu  realmente quisesse ter as duas coisas... —Ela encarou Jéssica. —Só que eu não quero ter as duas coisas, eu quero uma só, eu só quero ficar com ele e se for para fazer essa viagem, será com um único propósito.

 Jéssica arregalou os olhos espantando-se com firmeza de Alicia.

— Isso significa que se hoje ele pedir pra que fique...? —Jéssica indagou curiosa.

—Eu fico. —Alicia sorriu pensando que aquilo seria perfeito. —Jessica, eu fico porque é o tudo o quê eu mais quero, só que se Erick me deixar mesmo partir, como eu estava dizendo, vou usar essa viagem para esquecê-lo, para me curar dessa doença que esse amor se tornou.

Jéssica balançou a cabeça, o voo de Alicia sairia cedo e como já anoitecia, ela não podia se prolongar ali por muito tempo.

—Eu vou pra casa, mas venho de manhã para me despedir... —Ela deu de ombros sem saber como agir.

Alicia abraçou-a tentando engolir o choro, e assim que Jessica fechou a porta e partiu, ela pensou e repensou em tudo o que acabava de dizer. A frase que mais a impactou fora dita por ele mesma, aquele amor havia se tornado uma espécie de doença, e reconhecendo sua condição, ela achou que deveria tentar pela última vez, e por pior que aquilo soasse, não queria ser curada.

—Para onde está indo Alicia, a essa hora já devia estar dormindo! —Andrea gritou quando a filha passou como um furacão pela sala com as chaves do carro nas mãos.

 — Estou indo para o haras, vou tentar sanar o meu vício! —Ela sussurrou para a mãe, que ficou sem entender.

—Alicia...seu voo...precisa dormir! —Ela ainda tentou argumentar, em vão.

O trajeto da casa de Alicia até o haras da avó costumava levar cerca de vinte minutos para ser feito, só que ela chegou até lá praticamente na metade do tempo.

Abriu o portão lateral e cortou caminho para chegar a edícula com mais rapidez, a porta estava fechada, ela girou a maçaneta e ela se abriu.

—Onde ele está? — Ela indagou a Laura ,que levou as mãos ao peito tamanho o susto.

 —Alicia, meu bem...o quê faz aqui?

 —Eu viajo daqui a pouco, e preciso falar com seu filho.

 —Ele está nas baias, guardando os cavalos... —A mãe de Erick parecia perdida, não sabia como agir diante do visível descontrole de Alicia.

Ela por sua vez saiu sem dizer nada, correu até onde a Laura indicara, os olhos desesperados varriam cada centímetro daquele lugar em busca do namorado. Fazia três dias que não o via pessoalmente, e aquilo parecia tempo de mais.

Erick  também estava arrasado, entretanto tentava sobreviver, estava distraído guardando o cavalo de Olivia, a filha do prefeito, que diga-se de passagem,vinha passando cada dia mais tempo naquele lugar, quando a viu disparada em sua direção.

—Então amanhã eu venho lá pelas dez, pretendo praticar bastante aqueles saltos. —Olivia estava de costas e não percebeu a ameaça iminente.

 Erick arregalou os olhos, sentiu o coração disparar por dois fortes motivos. O Primeiro não era novidade, ele amava aquela garota e vê-la, não podia causar-lhe outro efeito, já o segundo era eventual, entretanto sabia bem o quanto Alicia sentia ciúmes de Olivia, e por varias vezes ela chegou a pedir que Erick evitasse ficar por qualquer que fosse o tempo, na companhia daquela “pirralha”.

 —Eu mereço! —Alicia sibilou assim que notou quem estava nas baias com  Erick.

 —Bem...eu já vou indo. —Olivia que não era boba, deu um jeito de sair de lá antes que as coisas piorassem.

 A história da briga entre a bailarina e a ex namorada de Erick em Nova Olimpia, tinha se espalhado e a filha do prefeito sabia bem que poderia ser a próxima vítima.

 —Alicia... —Erick respirou fundo sem saber como deveria se sentir.

 —É...vejo que nem saí de cena ainda e já tem candidatas a minha vaga. —Ela usou seu sarcasmo enquanto Olivia se afastava.

 Sentiu o sangue ferver.

 Erick fechou os olhos e cruzou os braços contra o peito, previa que aquela visita não seria nada amistosa.

—Alicia, eu estou trabalhando, ela é uma cliente de sua avó... —Ele argumentou tentando ganhar tempo.

  —Eu quero que essa garota se exploda, e na verdade eu não vim aqui para falar sobre essa... —Alicia fez uma pausa, o coração batia tão rápido que o ar não estava chegando direito aos seus pulmões.

— Alicia, eu espero que não tenha vindo repetir as mesmas coisas que vem dizendo nos últimos dias. —Ele mostrou-se esgotado, já havia repassado por tantas vezes todas aquelas conversas, e repensado em todos os argumentos da namorada que a cabeça estava um conflito só.

— Erick... — Disse seu nome depois de alguns segundos olhando para ele, e apenas isso a desarmou. —Eu estou tentando, juro que estou me esforçando, só que eu não consigo... — Caminhou devagar buscando se aproximar dele.

 Erick estremeceu, não era nada fácil evita-la, e quando o cheiro do seu shampoo foi trazido pelo vento, praguejou-se intimamente, Alicia era irresistível.

 Como se quisesse enfeitiça-lo, ela fixou seus olhos nos dele, colocou as duas mãos em seu peito, acariciando seu tórax devagar, e para ambos tudo estava muito bom.

 —Alicia...Se não mudou de ideia, é bom que pare. —Ele a repreendeu sem credibilidade alguma.

—Vai me dizer que não está sentindo minha falta? —Ela provocou subindo as mãos pela nuca do rapaz. — Eu estou enlouquecendo, morrendo na verdade...

Erick respirou fundo, precisava oxigenar a cabeça, como era de costume, não conseguia raciocinar enquanto Alicia tentava seduzi-lo. Com sucesso, não foi preciso que ela insistisse, muito, diferente de quando era por telefone, pessoalmente Alicia tinha total controle sobre o namorado, e quando ela fechou os olhos e inclinou a cabeça deixando claro que queria ser beijada,ele não lutou mais.

 Um beijo com direito a tudo, mãos, línguas, sussurros e  suspiros, três dias e a saudade  afetava os dois da mesma maneira,  esse era o argumento que Alicia pretendia usar.

 —Viu só? —Ela indagou antes de morder delicadamente o lábio inferior de Erick. —Como acha que conseguiríamos ficar tanto tempo afastados?

Erick balançou a cabeça, aquilo o ajudou a voltar a realidade.

—Pensei que tivesse reconsiderado. —Erick mudou sua expressão. — Veio aqui, ainda com essa ideia maluca de dizer não ao Royal Ballet?

 Alicia jogou a cabeça para trás e rosnou, depois sem dizer mais nada, deu as costa para Erick e começou a caminhar, andou uns dois metros e parou.

—Chego ao aeroporto ás sete da manhã, meu voo sai ás nove, —ela virou seu corpo e encarou-o —esse é o tempo que você tem para mudar de ideia, do contrario Erick, esse foi nosso último beijo...

 Erick permaneceu parado, observando Alicia partir do mesmo jeito que chegou, como um furacão silêncioso. Ficou no estábulo com os cavalos, não acreditava no que se metera, e mesmo voltando a fazer o que vinha repetindo freneticamente nos últimos dias, pensar, Erick não conseguia ver uma luz no fim do túnel.

 —Eu não sei o que dizer pra você, filho...ela é diferente, intempestiva... —Laura não conseguia aconselhar o filho que acabava de contar a ela ,o que tinha acontecido.

—Fico pensando que quando ela estiver lá, que quando ela se der conta do que está prestes a realizar, vai perceber que eu fiz a coisa certa. —Erick tentava dar a si mesmo, um pouco de esperança.

—Se acha que deve correr esse risco... —Ela fechou seu rosto numa expressão preocupada, não opinaria mais, sabia que não adiantava , estava certa de que nunca vira duas pessoas mais teimosas que aquele casal.

 Erick viu as horas passarem, arrastando-se e levando com elas sua sanidade, quatro e meia da madrugada e o sono parecia ter esquecido se agraciá-lo. Por um  momento chegou a mudar as roupas e com as chaves do carro nas mãos se preparou para ir atrás de Alicia, pensou em dizer que ela não fosse, só que as noites em que ele acompanhou a garota a distância, como um anjo da guarda, se fizeram presentes.

Lembrou-se que houveram noites em que Alicia ensaiara direto por mais de cinco horas seguidas, quando deixava o estúdio, seguia mancando até seu carro e a dor estampava seu semblante. Isso, somado as memórias da impecável versão de Gisele que ela fizera, foi o bastante para que ele desistisse.

O dia clareou e Erick continuava perdido, achava que a luz do sol podia iluminar seus pensamentos, só que não foi bem assim, ao contrário, ele estava perdendo o ar, e isso se tornava patológico a cada mudança de posição dos ponteiros em seu relógio de pulso.

—Nem sei se devo desejar bom dia pra você, filho. —Laura já estava pronta para seguir até o aeroporto, iria junto com Marta. —Bom...eu vou me despedir dela.

Erick encarou a mãe, parecia que estava revendo um filme, tudo o que estava sentindo lembrava muito seu sofrimento passado, só que daquela vez era Alicia quem não queria, agora, a decisão da separação vinha dele, e mesmo acreditando ser por um nobre motivo, doía de mais.

—Tudo bem mãe, deve ir mesmo e se puder, peça que ela seja compreensiva e que tente não me odiar. —Ele levantou-se e foi para o quarto.

 Laura saiu sem dizer mais nada, mesmo ela que não era a protagonista de tudo aquilo sentia-se saturada.

Depois de um banho rápido, Erick voltou a olhar para o relógio, passava das sete e meia da manhã.

“Que droga!” —Pensou. Pegou novamente as chaves do carro e dessa vez não hesitou, colocou o cinto de seguranças e partiu.

***

—Vou sentir saudades.... —Jéssica deu o último abraço em Alicia. —Vamos nos falar sempre, não é?

—Direto. —Alicia disse simples, não estava nem um pouco a fim de longos diálogos.

Escrava do relógio, ainda alimentava a esperança de que no último segundo Erick apareceria pedindo para que ela ficasse. A cada meio minuto deixava os olhos se perderem na entrada do saguão.

Quando viu Laura, seu coração se encheu de alegria, no entanto foi algo breve e passageiro, assim que notou que sua companhia era a avó, começou a considerar a hipótese de que a noite passada,  que aquele beijo de horas atrás fora o último mesmo, e  praguejou-se internamente achando que deveria ter aproveitado mais.

—Ele não vem mesmo, não é? —Alicia perdeu-se no abraço da sogra, ou ex- sogra, ela já nem sabia mais.

—Querida, tente entender... —Laura não sabia como se posicionar.

Marta esperou que a neta se afastasse da mãe de Erick  e então puxou-a de encontro a seu peito.

—Fiz um depósito em sua conta...não quero que passe nenhum aperto por lá. —Ela segredou a Alicia.

Talvez, em um outro contexto, aquela afirmação  trouxesse a bailarina alguma animação, só que sem Erick, nada parecia interessante, muito menos excitante.

—Obrigada, vó, mas nem precisava, meu pai, ele cuidou de tudo. —Ela deu de ombros, não sentia nada além de um grande vazio.

 A última chamada para seu embarque acabava de ser feita, Alicia sentia-se com frio, e estava se segurando o máximo para não chorar, já bastavam seus pais e a amiga que estavam se esvaindo em lágrimas.

—Ai-meu-Deus! —Jéssica sussurrou pausadamente, e isso foi o bastante para chamar a atenção de Alicia que acabava de colocar uma jaqueta buscando se aquecer.

 Os olhos foram direto para onde os da amiga estavam, seu corpo sentiu o impacto do que ela via, e antes de poder raciocinar o que aquilo significava, Alicia correu até Erick, não quis esperar que seus passos rápidos o trouxessem até ela, preferiu encurtar o tempo para aquele encontro.

 —Alicia, meu amor... —Erick sussurrou em seu ouvido e antes que pudesse dizer mais alguma coisa, Alicia estava ocupando seus lábios com os dela.

 Não foi um beijo demorado, mas foi envolvido por um monte de sentimentos, emoções e ambos, tanto Alicia quanto Erick sentiram os abor agridoce das lágrimas que derramavam.

—Erick, —Alicia segurou o rosto do rapaz entre suas mãos. —por que será que eu estou sentindo que esse beijo é uma despedida?

  Ele encostou sua testa na dela, levou as mãos até seus ombros e os segurou com força.

—Não precisa ser... —Sussurrou de olhos fechados.

—Entendi... —Ela respirou e encontrou dificuldade naquele ato ordinário.

 Alicia sabia, mesmo antes de ter sua pergunta respondida, ela sabia. Aquele relacionamento fora intenso de mais e ela conhecia o namorado muito bem, sabia o que significava cada um de seus sorrisos e sabia interpretar todos os seus olhares.

— Sei que ainda vai me agradecer  por isso... —Erick tentou argumentar, notando a decepção estampada no rosto de Alicia.

Ela olhou para todos, seus pais, Jéssica, Laura e a avó, depois, deu dois passos para trás e acenou para eles.

 Erick observou tudo, calado, e quando ela desapareceu de suas vistas, naquele momento ele percebeu a dimensão de tudo o que estava vivendo, e mais, o tamanho do espaço que Alicia ocupava dentro dele...percebeu que sem ela, não restava nada.

*********

—Desculpe-me a intromissão mas, você está se sentindo bem? — Um rapaz que estava sentado na poltrona ao lado de Alicia, indagou notando que em mais de uma hora de voo, ela não havia parado de chorar nem por um instante.

 Ela virou seu rosto para ele, estava com um pacote de lenços de papel sobre o colo, a aeromoça gentilmente entregara a ela um pouco antes, e eles já estavam no fim. Alicia pegou mais um pedaço do fino papel branco e secou os olhos e depois fungou.

—Desculpe se estou incomodando você... —Ela curvou a boca para baixo. —Eu vou tentar ser mais...

—Imagine, — ele sentiu-se chateado por ter passado a impressão errada, de fato estava apenas preocupado. — só perguntei, porque notei que a coisa parece mesmo séria.

 Alicia permaneceu encarando-o por um tempo, era jovem e bonito, dono de um par de olhos  castanhos luminosos e de um sorriso encantador.

—É, realmente a coisa é seria... —ela apontou para o centro do peito. —coisas do coração. —Deu de ombros.

O rapaz arqueou a sobrancelha e estalou a boca.

—Sei bem o que é isso... —Ele comentou e deixou transparecer em sua voz, uma dose de mágoa. —A propósito, meu nome é Miguel.

—Alicia. —Ela balançou a cabeça com pesar.

— Você é de Alana? — Miguel parecia querer manter um diálogo com Alicia.

—Santo Valle, mas estou meio que de mudança para Londres. —Ela respondeu com a voz fanha, o nariz estava trancado por tanto chorar.

— Hum, está se mudando e deixando o namorado para trás?

—Mais ou menos isso... Na verdade é uma história complicada. —Alicia sentiu a exaustão tomando conta de seu corpo.

 Miguel olhou para o relógio em seu braço e depois para Alicia.

—Se quiser me contar... temos umas boas horas de voo pela frente. — Ele parecia disposto a distrair balarina, ou só estava mesmo curioso para saber qual  história estava por trás de tanto sofrimento.


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