Um passo errado escrita por nanacfabreti


Capítulo 19
Mudanças...




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/734287/chapter/19

As luzes dos giro flex das ambulâncias e dos carros da polícia coloriam aquela noite escura e trágica. Pessoas saídas sabe Deus de onde se amontoavam em torno do cordão de isolamento, queriam ver, saber o que estava acontecendo.

Jéssica estava aos prantos amparando Alicia que não conseguia parar de chorar, os cabelos estavam grudados no rosto pela mistura de sangue seco e lágrimas.

Thomas parecia não acreditar nas cenas que acompanhava desde que chegou no fatídico lugar, há pouco mais de uma hora estavam perto dali comemorando e agora aquilo...

Ele estava cuidando de avisar a todos, ligou para David e pediu que ele comunicasse seu pai, estava também incumbido de ligar para Laura e buscava coragem para fazer aquele telefonema. Ele discava e antes do telefone chamar, apertava o botão para desligar.

Aqueles dias em Nova Olimpia serviram de demonstrativo do quanto Laura era cuidadosa com o filho. Como ele iria dar à ela uma notícia daquelas? Resolveu esperar mais um pouco.

—Onde ele está? —Cássio chegou em tempo recorde, acompanhado de David. No rosto estampava uma expressão de desespero.

—Quem é o senhor? —Um policial indagou colocando a mão em seu peito, tentando impedi-lo de avançar.

—Eu sou pai dele! —Cássio gritava. —Eu preciso falar com meu filho!

—O senhor é pai de quem? Da vítima ou do agressor? —Seco, o homem fardado parecia ignorar o desespero do empresário.

Com os olhos urgentes ele conseguiu avistá-lo. Erick estava sentado no meio fio, os olhos parados em algum ponto do chão, perdidos. Enquanto dois policiais enchiam-no de perguntas, ele só conseguia balançar a cabeça, oscilando entre movimentos positivos e negativos.

—Ele é o pai do Erick. —Thomas avisou apontando para Cássio.

O policial que até então parecia inflexível, desviou o corpo e o deixou passar. Cássio correu até o filho e como nunca antes, sentiu vontade de o abraçar. Abaixou-se perto dele depois de olhar aquele cenário de horror.

O cheiro ferroso de sangue incomodou seu olfato e fez seu estomago revirar.

—Tudo vai ficar bem...eu vou resolver tudo. —Ele limitou-se a dizer tocando a perna do filho.

Erick não moveu seus olhos um milímetro sequer, ele estava em choque, não sentia e não conseguia pensar em nada. Era como se ali estivesse apenas seu corpo. Vazio.

—Cara, que merda foi essa? —Thomas afastou-se de toda a confusão e foi conversar com David, outro que parecia em choque.

—Como a Alicia está? —Ele perguntou depois de um tempo.

—Machucada, parece que o cara bateu nela e os manteve sob a mira de um revolver. —Thomas começou a tremer enquanto relatava o pouco que tinha entendido de todo o acontecimento.

David fechou os olhos como se acabasse de receber um golpe, sentiu o coração disparar ainda mais. Levou as mãos a boca, estava enjoado, literalmente enjoado.

—Isso podia ter acabado mal... aliás, de forma pior, o bandido estava disposto a matar os dois, Erick e Alicia. —Thomas comentou voltando a pensar no telefonema que precisava dar a Laura. Respirou fundo e decidiu que não podia esperar mais.

—Vamos encaminhá-los ao hospital, depois eles devem seguir para a delegacia, precisamos colher os depoimentos de todos os envolvidos.

—E o outro rapaz...como ele está? —Cássio quis saber, estava prestes a ligar para seu advogado e precisava do máximo de informações.

—Ele foi o primeiro a ser socorrido. —O policial, esse conhecido do pai de Erick, comunicou com uma ruga na testa. —O estado dele não era dos melhores...

—Mas pelo que entendi foi legitima defesa, não foi? —Cássio perguntou num tom mais baixo.

O policial olhou em sua volta e depois colocou a mão sobre os lábios.

—Procure um bom criminalista...pelo que vi aqui, seu filho de vítima pode passar a acusado facilmente.—Ele saiu depois de dar três tapinhas nas costas do colega.

Haviam duas ambulâncias no local, Erick foi encaminhado para uma delas. Alicia, assim que notou que estavam o levando dali, se desesperou.

— Eu vou junto! —Ela gritou a um dos paramédicos. —Vou naquela ambulância com meu namorado.

—Não, você vai nessa. —Ele segurou-a delicadamente pelo braço guiando a garota na direção oposta.

—Você não entendeu.... —ela respirou fundo e sentiu o corte em seu rosto doer. —eu vou com ele, e isso não é uma opção, é um fato.

O homem fez sinal com os olhos para um enfermeiro que estava perto deles, em poucos segundos a ambulância que levava Erick e Cássio, que fez questão de acompanhar o filho, saiu, fazendo com que o desespero de Alicia aumentasse ainda mais.

—Meus Deus! Isso só pode ser um pesadelo. —Ela levou as mãos à cabeça sentindo seu corpo começar a falhar.

—Venha... —um outro paramédico abordou Alicia. —Precisamos cuidar de você, esse corte seu está feio e lá no hospital você vai poder ficar com seu namorado.

Alicia voltou a chorar e procurou a amiga Jessica com os olhos.

—Avise meus pais Jess! —Ela gritou já entrando na ambulância.

David a viu e sentiu seu coração se apertar. Queria amparar a ex-namorada, mas faltou-lhe coragem.

Assim as pessoas começaram a desocupar o lugar, Jéssica e Thomas seguiram para o hospital, um guincho levou o jipe de Erick, e os policiais também saíram dali.

Sozinho ele ficou por mais de quinze minutos observando aquele que poderia ter servido de cenário para uma grande tragédia. No chão as marcas escuras de sangue, davam a dimensão do que tinha acontecido ali. Um carro passou pela rua e o farol e refletiu alguma coisa perto dos seus pés. David abaixou-se para ver o que era, sentiu um calafrio tomar conta de todo seu corpo. Era uma bala de revolver. Intacta. Ele sequer teve coragem de tocá-la.

Sentou-se no chão e seu desespero fez com que ele explodisse em lágrimas.

—O que você foi fazer David? —Indagou a si mesmo sentindo finalmente o peso de suas ações impensadas.

***************************************

O dia já começava a clarear quando Alicia e Erick foram liberados do hospital. A bailarina exibia perto da têmpora direita três pontos de linha escura, no braço esquerdo as escoriações estavam cobertas por algo de coloração alaranja e tirando as dores no copo, fisicamente ela estava bem.

Erick também não havia se ferido com muita gravidade, a mão direita estava enfaixada e os exames de raio x não revelaram nenhuma fratura, apenas uma luxação. No rosto, o olho direito estava levemente inchado, perto do queixo um esfolado superficial. Nada que fosse preocupante.

Isso fisicamente.

Por dentro Erick estava aos pedaços, destruído e não conseguia deixar de pensar em tudo o que tinha acontecido. Ela se remoía pensando em como seria se aquela maldita arma tivesse disparado em Alicia. Fechava os olhos e sua mente algoz, fazia o favor de criar imagens aterrorizantes da garota estendida no chão, agonizando em seus últimos minutos de vida.

Ele estava sozinho no quarto monocromático do hospital quando ouviu passos urgentes se aproximando.

—Meu amor... —Alicia se jogou em seus braços e aquilo era tudo o que ela precisava. —Vai ficar tudo bem...

Erick que até o momento estava estático, envolveu os braços em torno dela e chorou, não porque queria, mas sim porque as lágrimas escorriam por vontade própria.

Ficaram os dois ali sem nada dizer por alguns minutos, e para Alicia tudo estava bem, agora que estava com seu grande amor, nada mais importava, ela sequer estava pensando nos momentos de terror que tinha passado horas atrás e para ela, pior do que aquela arma apontada para sua cabeça, foi ter ficado aquele período separada de Erick.

—Eu nunca vi demorarem tanto para costurar esse cortinho... —Ela sorriu tentando descontrair. —Eu não via a hora de estar com você.

Erick olhou para ela e Deus, como aquela menina era corajosa, dura na queda mesmo. Ele ficou aliviado por nada de pior ter acontecido com ela, pensou que o mundo não merecia perder alguém como Alicia.

Ela era grande, gigante a seu ver, e justamente por isso, Erick estava sentindo-se tão reduzido peto dela, estava com vergonha e sentindo-se culpado por tê-la colocado naquela situação, afinal, Alison era um problema seu.

—Meu advogado tentou fazer com que a polícia deixasse para colher os depoimentos depois, —Cássio colocou-se entre a porta — mas não teve jeito, temos que ir para a delegacia já.

Alicia olhou para Erick e respirou fundo.

—Como ele está? —O rapaz perguntou ao pai.

—Passando por uma cirurgia no braço... —Ele olhou para baixo.

Erick fungou, estava dubio sobre como se sentir diante daquela noticia, estava com muito ódio do rapaz, por outro lado, agradeceu a Deus por não ter atirado nele, no ultimo segundo desviou a arma antes de apertar o gatilho e por isso Alisson havia sido atingido apenas pelos estilhaços.

—Meu pais foram embora? —Alicia dirigiu-se ao ex-sogro.

—Sua mãe sim, porque estava descontrolada. Seu pai continua aí.

Alicia respirou aliviada, a mãe quando chegou ao hospital parecia uma louca, e assim que soube da história, começou a fazer acusações contra Erick, e por bem, o rapaz não presenciara a cena.

— O advogado vai instrui-los ao que dizer e como dizer. —Cassio avisou aos dois antes de sair do quarto. —Temos que insistir que foi legítima defesa.

Alicia franziu a testa e parou.

—Foi legítima defesa...o cara estava brincando de roleta russa com a gente! —Ela mostrou toda sua indignação.

Cássio coçou a nuca.

— Só que para a polícia, o que Erick fez, de ter pegado a arma e disparado quando o rapaz já estava desacordado, e sem possibilidade de reação, isso deixa de ser legítima defesa e passa a ser tentativa de homicídio.

A notícia caiu como uma bomba, e se Erick já estava se sentindo mal antes, agora tudo parecia fazer menos sentido ainda. Alicia segurou a mão do namorado e apertou-a com força.

—Estamos juntos, e tudo vai ser esclarecido. —Ela sussurrou notando que o rapaz não estava nada bem.

—Contratei o melhor advogado...agora vamos torcer para que as coisas virem a nosso favor, eu soube que ele já tem passagem por roubo, então...

De repente Erick pensou em sua mãe, lembrou-se de sua situação passada. Outra vez lá estava ele, envolvido num caso de polícia.

—Minha mãe...ela já sabe?

—Ela já deve estar chegando. —Cássio afirmou.

Erick fechou os olhos sabendo que aquele era o principio de algo grande, algo que envolveria, escolhas, decisões e definições. Um pressentimento lhe dizia que a mistura de tudo aquilo não acabaria bem.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Um passo errado" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.