Um passo errado escrita por nanacfabreti


Capítulo 18
Roleta Russa




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—Isso é muito estranho! —Erick reclamou enquanto chutava um dos pneus traseiros do seu jipe. —Como pode ter furado dois pneus?

Alicia estava parada na frente do carro, ela também estava achando aquilo muito esquisito. Não se lembrava de terem passado sobre nada que justificasse o fato.

—O pior é que a essa hora, não sei onde vamos encontrar uma borracharia aberta. — Ela ficou séria enquanto olhava ao seu redor.

Não havia ninguém por ali, a rua estava escura e o barracão não sinalizava movimento algum.

—Esse carro. —Erick apontou. —Será que é de algum vigia desse lugar? Está aqui desde que chegamos.

Alicia voltou os olhos para o portão fechado e continuou com a mesma opinião, ninguém trabalhava ali no período da noite.

—Acho melhor voltarmos ao bar. Quem sabe alguém pode nós ajudar?

—Bom, vou trocar um, pelo menos e depois vejo o que faço. —Erick decidiu já indo até o estepe.

Em menos de dez minutos ele já tinha soltado um dos pneus e se preparava para colocar o novo.

—O quê foi? —Alicia abaixou-se ao lado do namorado, ele analisava o corte na borracha e não estava com uma cara muito boa.

—Parece que esse pneu foi cortado...olha que estranho. —Ele o iluminou com a lanterna do celular.

Alicia sentiu uma vertigem e respirou fundo.

—Quem faria isso? —Ela balançou a cabeça em negação. —Ou melhor, por que fariam isso?

Erick permaneceu em silencio e acelerou a troca, estava prestes a apertar os últimos parafusos quando passos rápidos estralando no asfalto chamaram sua atenção.

—Precisando de ajuda? —Erick ouviu uma voz masculina vinda de suas costas, antes de checar a quem pertencia olhou para Alicia.

—Obrigada...mas eu já terminei. —Ele se levantou e quando se virou, estranhou a proximidade da pessoa que oferecia socorro.

Um jovem rapaz, alto e muito magro, olhos claros rodeados por círculos escuros, usava um moletom acinzentado e o capuz escondia os cabelos. Ele soltou um riso baixo e o cheiro de álcool queimou as narinas de Erick, ao mesmo tempo que seu corpo parecia estar recebendo uma descarga elétrica.

O reconheceu, ele estava diferente, as maçãs do rosto estavam salientes por conta de uns bons quilos perdidos, mas nada que desse margem a dúvidas.

—Quanto tempo... amigo. —Ele deus três tapinhas no ombro de Erick que parecia ter entrado em estado de choque.

—Alicia, entra no carro. —Erick ordenou sem tirar os olhos do rapaz, sabia que o fato de Alison estar ali, não mero acaso e pior, não era por um bom motivo.

A bailarina que acompanhava a cena sem entender como Erick podia ter encontrado um amigo em Santo Valle, foi tomada por uma onda de nervosismo e aquele pressentimento ruim que vinha sentindo dias atrás, voltou com toda força.

—Alicia... —Alison voltou seu rosto para ela, observando-a dos pés a cabeça.—Rick... vejo que manteve o bom gosto... essa aí é peça fina, hein?

—Alicia, faz o que eu mandei... —Erick rosnou enquanto olhava para a chave de roda que ainda estava no chão.

—Hey...calma! —Alison caminhou lentamente na direção de Alicia. —Deixa eu me apresentar...Eu sou o Alison, um grande amigo do seu namorado...Mas isso eu acho que você já deve saber, já que ele deve ter falado muito de mim, não é?

Alison. Alicia tinha mesmo ouvido falar dele, da sua prisão e do seu irmão assassinado, e, tudo isso estava na conta de Erick. Não precisava ser nenhum gênio para imaginar o que ele estava fazendo ali, e só de pensar em algumas opções, sentiu o estomago revirar.

—Como nos encontrou? —Ela indagou fazendo força para que sua voz saísse.

O rapaz fechou os olhos e colocou as mãos na cintura. Sem muito pensar Erick abaixou-se rapidamente, pegou a ferramenta nas mão e se preparou para reagir, caso precisasse.

Alison percebeu o movimento e quis mostrar que estava pronto para o embate, embora estivesse com um volume de álcool que deixaria uma pessoa normal baqueada, ele estava com reflexos bons, até de mais. Num segundo exibia um revolver na mão esquerda, e num rompante envolveu o pescoço de Alicia com seu braço direito, apertando-o de forma que ela sentia o ar passar com dificuldade.

—Isso é entre mim e você Alison... —Erick tentou parecer calmo, mas estava gritando por dentro. —Solte a menina e vamos conversar.

Alison riu, conhecia o ex amigo e percebeu o desespero em cada sílaba pronunciada por ele.

—Nossa! Como você cheira bem... —Ele afundou o nariz nos cabelos da bailarina.. —O quê acha de dividir ela comigo, Rick? Só um pouquinho, em nome dos velhos tempos.

Alicia começou a chorar e Erick já não controlava mais deu desespero.

—Alison...Não toque um dedo nela ou

—Ou o quê? Erick Carter... —Ele gritou fazendo Alicia estremecer. —Quem dita as regras aqui sou eu. —Ele balançava a arma mostrando quem estava com o poder.

—Eu faço o que você quiser...Só não a machuque, ela não tem nada a ver com isso, vamos resolver nós dois. —Erick começou a implorar soltando a chave de roda no chão, ele queria mostrar que estava entregue.

Alison apertou ainda mais o braço e Alicia levantou as mãos sinalizando que não conseguia respirar.

Aquela era uma situação que deixaria qualquer pessoa perdida, com Erick não estava sendo diferente, ele simplesmente não sabia mais o que fazer. A vontade de pular sobre o rapaz, e livrar a namorada das mãos dele, crescia a cada segundo, mas e se nesse meio ela se machucasse? Não, ele não podia arriscar, se algo acontece a Alicia, ele não se perdoaria.

—Alison...vamos conversar. —Erick respirou fundo. —Eu sei que você não é assim, e se quer alguma ajuda minha, me fale peça o que quiser...

A expressão dele finalmente mudou, seus olhos caíram e algo próximo de tristeza deu o tom em seu rosto.

—Tem uma coisa que eu quero muito mesmo. —Ele disse com a voz mais calma.

—Peça cara! Peça e eu vou fazer. Eu prometo. —Erick deu um passo encurtando a distância entre os dois.

—Meu irmão. —Ele o encarou e seus olhos se avermelharam. —Eu quero meu irmão de volta...

Erick levou as mãos ao rosto sendo dominado pelo desespero, os dedos começaram a formigar, as penas também, ele percebeu que não tinha como aquela história terminar bem.

—Alisson...eu não tive culpa. —Erick praticamente sussurrou. Estava tão trêmulo que as cordas vocais vibravam também.

—Teve culpa sim. —Ele apontou a arma para Erick. —Eu te considerava um irmão...e você me traiu. Chegou a hora do nosso certo de contas. —Ele engatilhou o revolver.

—Não machuca ele! Pelo amor de Deus! —Alicia começou a se debater.

—Que graça...Se gostam mesmo... —Ele riu com sarcasmo. —Daria a vida por ela, Rick?

Erick nem pensou, assim que as palavras chegaram aos seus ouvidos ele balançou a cabeça de forma positiva.

—Claro que sim, pode me matar desde que a deixe partir. —Erick caminhou com as mãos levantadas e posicionando-se bem perto do revolver. —Vamos Alison, termine o que veio fazer, só não haja com covardia, não tem porquê machucar a garota.

Alicia começou a tossir, estava se afogando nas próprias lágrimas e não tinha forças para gritar, só que ela não conseguia sequer ouvir aquilo que o namorado estava dizendo.

—E você? —Alison colocou a boca no ouvido de Alicia. —Daria a vida por ele? —Ele afrouxou seu braço para que ela pudesse responder.

Alicia encarou o namorado e sentiu seu coração sangrar, pensou em como o amava e se imaginou sem ele.

—Erick, eu morreria por você. —Ela reuniu todas as forças para dizer aquelas palavras, não como resposta para Alison, mas sim como uma declaração de amor àquele que para ela ,era a pessoa mais importante de sua vida.

Erick começou a chorar, estava se odiando por ter colocado a garota naquela situação.

—Se seu tivesse coração...estaria comovido. —Ele zombou e dessa vez voltou o revolver na cabeça de Alicia com agressividade.

—Deixe-a ir. –Erick rosnou entre os dentes. –Isso é um problema meu e seu.

Alison fixou os olhos na direção do carro estacionado, talvez planejasse sair dali, depois piscou algumas vezes seguidas, como se tivesse com um tique nervoso ou algo parecido, sorriu um tempo depois, parecia ter se lembrado de uma coisa importante.

Estranhamente o rapaz pareceu ter ouvido o apelo de Erick, aos poucos foi soltando seu braço e afastando o revolver da cabeça de Alicia. Empurrou-a então fazendo com que ela caísse.

Erick correu para perto dela, estava tão preocupado que nem pensou qual seria o próximo passo daquele que um dia fora seu amigo. Ele tomou Alicia em seus braços, ela voltou a chorar.

— Vamos fazer uma brincadeira...já ouviram falar de roleta russa? –Ele falou com uma entonação que parecia fugir do contexto da situação. Sua voz estava calma e suave, como se estivesse propondo que fossem passear num parque.

O barulho de metal batendo no asfalto fazia o casal estremecer. Uma, duas, três...Cada bala que tocava o chão fazia a tensão e o terror de toda aquela situação crescer. O medo dominava cada milímetro dos corpos de Erick e Alicia , ambos suavam frio, enquanto a rapaz que esvaziava o tambor do revolver parecia estar se divertindo.

—Pronto! Uma bala... e isso significa que vai ser na sorte. –Ele apontou a arma na direção de Alicia, sabia o quanto aquilo afetava Erick, muito mais do que se aquele revolver estivesse apontado para ele. –Se quiser podem se despedir, eu não sou tão mal assim.

Naquele momento enquanto Alicia agarrava-se em Erick abraçando-o como se realmente aquele pudesse ser ultimo contato dos dois, Erick amaldiçoava-se internamente. Tudo o que pensava era que se pudesse voltar no tempo, jamais teria entrado naquele jipe e dirigido até Santo Valle, jamais teria abordado Alicia e assim eles não teriam se conhecido, então ela não estaria dentro daquele enredo de filme de terror.

—Eu te amo! –Ela afirmou em seu ouvido e aquilo o fez sentir ainda pior.

Ele respirou, se respondesse que também a amava, porque sim isso era mesmo um fato incondicional, estaria concordando que aquele seria o fim. Erick fechou os olhos quando ouviu o revolver ser engatilhado.

Alicia também preferiu não ver o que aconteceria, começou a rezar e percebeu que ainda estava viva quando o primeiro tiro foi efetuado e nada além de click foi ouvido.

—Um já foi... –O Rapaz gargalhou de modo frenético. –Agora é sua vez, amigo. Será que você será o contemplado? –Ele encarou Erick e depois apertou o gatilho.

Outra falha, e então Alison baixou o revolver.

—Estão com sorte...já meu irmão teve os miolos estourados de primeira.

Ele estava mesmo disposto a vingar a morte do irmão, parecia cada vez mais transtornado e Erick sabia que não adiantaria implorar ou tentar conversar. Enquanto Alicia soluçava em seu peito, num ímpeto de coragem Erick se levantou e jogou-se sobre o rapaz que havia se distraído por uma fração de segundos.

Os dois caíram e começaram a rolar pelo chão. Tentava desarmá-lo,enquanto Alicia gritava em desespero.Ela pedia ajuda e sua voz ecoava enquanto o vento a levava para longe. Ouviu-se então mais um click e outra vez não havia bala.

Erick acertou um murro forte no rosto de Alison, mas ele estava tão irado que pareceu não ter sentido, e munido por todo o ódio que sentia , conseguiu se desvencilhar de mais um soco fazendo com a mão de Erick acertasse o chão, ele urrou de dor.

Aproveitando-se disso, Alison saltou ficando em pé, depois voltou a segurar Alicia, que dessa vez tentou lutar. Erick correu até eles, entretanto não conseguiu evitar que ele acertasse o revolver na testa da namorada, imediatamente o sangue começou a escorrer por seu rosto e aquilo fez com que Erick explodisse como uma bomba.

—Vai se arrepender por ter encostado nela! —Ele gritou voltando a investir duramente contra o rapaz. Depois de ser aatingido por inúmeras vezes ele deixou o revolver cair e agora, com Alison desarmado, Erick sentiu-se mais seguro, ou era apenas sua irracionalidade falando mais alto.

Um, dois, três... Erick continuava a soca-lo, e em certo momento Alison caiu.Erick montou em cima dele e alcançou a chave de roda. Atingiu seu braço com uma força brutal, tanto que deu para ouvir o estralo osso partindo.

Ele gritou, foi a primeira vez que realmente algo o despertou para o sofrimento. Erick não se importou, ainda com a ferramenta nas mãos bateu no rapaz, dessa vez no rosto e aquilo só não foi pior porque ele virou a cabeça a tempo de não ser atingido em cheio.

Alicia começou a gritar para que o namorado parasse, só que ele estava cego, não ouvia mais nada. Ela correu até carro e pegou o celular, ligou para Jéssica, devia ter ligado para a polícia, mas também não conseguia raciocinar. Quando a amiga atendeu, aos prantos e sem coesão, Alicia tentava explicar o que estava acontecendo, por fim conseguiu dizer onde estavam e ao ver que Erick estava a ponto de matar o oponete, ela deixou o aparelho cair no chão e correu para impedir.

—Erick, me ouve... você vai acabar matando ele! —Ela ajoelhou-se de frente para o namorado.

Ele a encarou, seu rosto estava inchado e o sangue ainda escorria, a blusa estava toda respingada também. Ele se levantou e olhou para Alison, estava desfigurado e tossia se afogando com o próprio sangue.

Erick respirou fundo, avistou a arma caída no chão e a empunhou, chegou bem perto do rapaz e empurrou a perna dele com um dos pés.

—Rick... —Ele sussurrou. —Não faz isso cara....

Erick engatilhou o revolver ignorando o que acabava de ouvir.

—Erick, meu amor...a polícia está a caminho —Alicia tocou seu braço—não precisa fazer isso.

Ele sequer olhou para a namorada, apenas apertou o gatilho.Sentiu um solavanco no braço e assustou-se com o estrondo do tiro.


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