Um passo errado escrita por nanacfabreti


Capítulo 13
Sob medida




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Depois de passado o choque daquela situação toda com David, Erick e Alicia decidiram não comentar nada com Laura, sabiam bem que ela ficaria preocupada e o rapaz já imaginava que a mãe não viajaria em paz se tomasse conhecimento da que tinha acabado de acontecer.

—Não sabem como estou feliz por vocês! —Laura abraçou primeiro Alicia, depois o filho.

—E eu, só posso agradecer sua generosidade comigo, —Alicia tocou o braço de Laura—Tinha todos os motivos para não gostar de mim, e no entanto...

Erick  encarou a namorada, depois balançou a cabeça desaprovando o que ela acabava de dizer.

—São lindos juntos... —ela sorriu ao ver o filho colocar os braços em torno da cintura de Alicia— E espero agora uma visita sua em nossa cidade, quero que conheça o estúdio onde dou aulas.

—Nem precisa me convidar... —Alicia voltou a abraçar a mãe de Erick.

Erick se imaginava levando Alicia para conhecer Nova Olimpia, sua casa e tudo mais, e por isso achou que era uma boa hora para contar a ela os motivos que o fizeram sair de lá. Embora Alicia nunca tenha perguntado antes, ele achava importante que ela partilhasse daquele que não chegava a ser um segredo, mas era um assunto que ele não gostava muito de tocar.

Eles estavam novamente no barranco onde se beijaram pela primeira vez, Alicia foi quem os guiou até lá, e como o sol estava alto, aproveitaram o único canto com sombra.

—Naquele dia eu soube que estava apaixonada por você... —ela sorriu assim que seus lábios se separaram— Só que aquela história do sorvete, Erick, que cantada mais furada!

Ele sentou com encostado na parede e Alicia se ajeitou entre as suas pernas.

—Aquilo foi uma história verídica... —ele ainda ria, o vento leve fazia o s cabelos de Alicia tocarem seu rosto. —E eu estava mesmo doente por um beijo seu e nossa... foi tão bom.

—Pra mim, foi melhor agora...sem o peso de saber que eu estou fazendo uma coisa errada, mentindo pra alguém.

Erick ficou um tempo em silencio, estava pensando por onde começar.

—Não tem curiosidade em saber o que eu aprontei para ter sido mandado pra cá? —Ele limpou a garganta antes de perguntar.

Alicia respirou fundo e relaxou a cabeça no peito de Erick.

—Seja o que for, o trouxe até mim, então sei lá...eu não ligo. —Ela foi sincera, realmente nunca havia se preocupado com esse assunto, mesmo tendo David por várias vezes frisado que o irmão era um marginal.

—Bom...eu me envolvi em um assalto a uma joalheria...

Alicia olhou para as mãos de Erick que estavam repousando em suas coxas, fixou os olhos nos anéis que sempre chamaram sua atenção. Eram três deles,  um em cada  polegar e outro no dedo anelar da mão direita.

Pareciam ser de ouro branco, e dois deles tinham pedras cravejadas, não eram bijuterias.

—Não precisa me contar se não quiser. —Ela falou assim que analisou se aquela história interferiria no que sentia por Erick.

—Alisson era meu melhor amigo, e tinha também a Camila, a filha do dono da joalheria... —Erick prosseguiu como se não tivesse ouvido o que Alicia acabava de dizer.

—Camila? —ela virou o rosto para encará-lo. —Por que será que eu já não gostei dela?

Erick riu.

—Então, a Camila e eu tivemos um rolo...

Alicia estreitou os olhos e começou a balançar a cabeça ameaçando se levantar.

—Viu só? Meu sexto sentido não falha...eu não quero saber de Camila nenhuma!

Erick passou os braços em torno dela sem conseguir parar de rir.

—É serio Alicia, deixa eu terminar... —Erick conseguiu mantê-la na mesma posição em que estavam antes. Ele apoiou queixo em seu ombro.

—Tudo bem, estou ouvindo.

—Eu sou formado em designer gráfico, e um dia de brincadeira desenhei esse anel,—ele apontou para o polegar esquerdo—a Camila viu , mostrou para seu pai que é ourives, ele o confeccionou  para mim , viu talento no meu desenho.

—Isso significa que esse anel é um presente da Camila?

—É, foi meio que um presente. —Erick deliberou.

—Eu não gostei disso...preferia pensar que era fruto de um assalto! —Ela disse séria.

Erick puxou Alicia para seu colo e a segurou nos braços, como se fosse uma criança.

—Você não é ciumenta assim... só está brincado, não é?

Alicia deu de ombros e depois acariciou o rosto de Erick com as duas mãos.

—Não sei.Não posso dizer que é ciumes  porque eu nunca senti isso antes, mas eu odeio pensar em você com essa tal Camila, isso me irrita.

— Então ouça a confusão em que ela me colocou. —Eu comecei a trabalhar lá na joalheria como designer, e Horácio, pai da Camila depositou uma confiança enorme em mim.Eu gostei muito dessa coisa de desenhar jóias...

—Desenhou uma pra ela? —Alicia perguntou desarmada, estava apenas curiosa.

Erick balançou a cabeça de forma positiva.

—Desenhei um pingente de sapatilha, ela também é bailarina. Aluna da minha mãe.

Alicia fechou os olhos e saiu do colo de Erick, sentou ao lado dele com as penas dobradas.

—Isso é algum tipo de fetiche? —Ela estava começando a ficar irritada de verdade.

—Não, só era meio que inevitável...a maioria das garotas com quem me envolvi eram alunas da minha mãe. —Erick mal conseguia encarar Alicia. —Eu frequentava o estúdio, começávamos a conversar e...

—E você não perdoava, é tipo um" José sapatilhas"? —Alicia se levantou, não sabia qual parte daquela conversa havia a desagradado mais.

—Não faz assim...eu só não quero nenhum segredo entre nós, e mais, — ele a abraçou — foi você quem perguntou, eu só estou respondendo.

—Achei que fosse a única bailarina em sua vida, além da sua mãe. —Ela choramingou nos ombros dele.

Erick sentiu seu ego inflado, se um dia atrás alguém lhe dissesse que Alicia estaria naquele momento em seus braços, se mordendo de ciúmes de suas historias do passado, ele não acreditaria.

—E você é! A única e a ultima, eu espero. —Erick se desmanchou enquanto Alicia o apetava com força. —Agora posso continuar?

Ela balançou a cabeça e voltou a se sentar, ele fez o mesmo e então ficaram um de frente para o outro.

—Certo, o quê foi que a Camila fez?

—Eu acabei me desinteressando dela, e quando eu comecei a sair com outra garota ela não gostou muito. —Ele ergueu uma das sobrancelhas.

Alicia revirou os olhos sem perceber enquanto imaginava com quantas garotas Erick já tinha se envolvido.

—Sinto cheiro de vingança nessa historia, agora resta saber se ela não estava com a razão...

—Vingança. Acho que essa palavra define... Ela se juntou ao Alisson, meu melhor amigo, até o momento em que eu neguei um pedido seu.

—O que ele queria?

—Que eu o ajudasse a assaltar a joalheria do pai da Camila...O irmão dele estava devendo um dinheiro alto para um pessoal barra pesada, e como ele sabia que eu tinha acesso livre ao lugar, queria que eu facilitasse pra ele. —Erick olhou para cima recordando cada detalhe daquele fato sórdido.

Alicia fechou um dos olhos, curiosa pelo desfecho da história.

—Me disse que negou o pedido dele, então...?

—Então que a Camila o ajudou e ainda teve a coragem de colocar a culpa em mim, quando Horacio deu falta de algumas peças muito valiosas de sua joalheria.

—Isso significa que na verdade você nunca cometeu crime algum?

—Exatamente. — Erick sorriu. —Só que pra provar minha inocência eu tive que jogar o Alisson na fogueira, ele encarou isso como uma traição.

—Ah não! —Alicia se incomodou. —Ele queria que você levasse a culpa por ele? Qual o sentido disso?

Erick silenciou por alguns instantes, depois segurou uma das mãos da namorada.

— A Camila estava muito apaixonada, e Alisson achava que eu podia assumir a culpa para o pai dela e que ele aliviaria meu lado para agradar a filha...Só que eu fiz o oposto, além de entrega-lo, eu também a fiz confessar para o pai sua participação na coisa toda.

—Placar final? —Alicia sentiu-se preocupada apenas pelo tom de voz em que Erick usou para relatar os últimos fatos.

—Joias recuperadas, a Camila me odiando e o Alisson foi preso, mas jurou vingança. Ele acha que eu o traí. —Erick externou sua mágoa.

—E o irmão dele? —Alicia perguntou com receio da resposta, começava a sentir calafrios com aquelas revelações.

—Foi assassinado. —Erick disse quase que num sussurro. —Alisson me culpa por isso também.

Alicia sentiu medo, ela nunca pensaria que o passado de Erick guardava uma história tão pesada. Assalto, assassinato... Aquela era uma realidade muito diferente da que ela estava acostumada, ainda mais por viver em Santo Valle, uma cidade em que índice de criminalidade era de praticamente zero.

Deveria estar aliviada ao saber que por fim, Erick  não tinha cometido nenhum ato ilícito e que todas as acusações que ouvia de David, não passavam de lendas, eram apenas uma forma de desmerecer o irmão, denegrindo sua imagem.

—Espero não ter deixado de ser interessante agora que sabe que eu não sou um criminoso... —Erick tentou quebrar o clima pesado daquelas revelações.

Alicia suspirou tentando não pensar mais naquela história horrível.

— Tudo bem...você não é um criminoso, mas não deixa de ser perigoso. —Ela se arrastou até Erick ficando no meio de suas pernas.

—Eu? Perigoso? — Erick indagou enquanto Alicia distribuía beijos delicados em seu pescoço. — Sim...veja o que fez comigo... —Ela encostou os lábios nos dele enquanto suas mãos envolviam seu pescoço.

— Eu te amo...e nunca quero deixar de me sentir assim Alicia. —Ele cochichou no ouvido dela depois de um longo beijo.

—Eu também te amo Erick, e dizer isso em voz alta é tão libertador.

Há quem diga que nada supera a sensação de um amor correspondido, Erick e Alicia estavam tirando a prova disso. Estavam experimentado as maravilhosas sensações de um primeiro amor, e o infinito de promessas que eram ditas e feitas, mesmo que sem palavras. Cada toque, cada sorriso e até mesmo o cheiro daquele domingo que estava sendo perfeito estaria guardado em suas memorias de um jeito especial.

Erick olhava para Alicia como se ela fosse um sonho realizado, porque os dias que sofrera por ela só davam a dimensão de quão mortal é querer alguém e não poder ter. Já para Alicia que nunca antes almejou viver um grande amor, Erick era como um presente, assim como uma musica boa, daquelas que quanto mais você ouve ,mais sentido ela parece fazer.

—Me conta alguma coisa que nunca falou pra ninguém...um segredo que vou ser o primeiro a saber. — Erick propôs a Alicia. Eles estavam há horas deitados na grama do campo de futebol do haras, a noite já começava a cair.

— Eu cortei a crina de uma égua caríssima que ficava aqui no haras. —Alicia começou a rir descontroladamente se lembrando da travessura feita no passado. —Minha vó nem sonha que fui eu.

—Por que fez isso? —Erick perguntou em meio a risos.

—Ele tinha uma crina branca e brilhante,  um dia fizeram tranças lindas nela, eu vi aquilo e me apaixonei, então achei que não teria problema em pegar umas trancinhas pra mim..

—Louca! Que ideia...

—Essa foi a coisa mais imprudente que já fiz, antes de você, claro. —Alicia virou o corpo na direção de Erick e apoiou a cabeça no braço. —E você, qual é o seu segredo mais obscuro...?

Ele estreitou os olhos, estava mesmo pensando.

—Eu levei um filhote de cachorro pra minha casa, encontrei na praça quando voltava do colégio, coloquei em nossa garagem e deixei lá, pra que minha mãe achasse que ele tinha aparecido ali...então ela me deixou ficar com ele. Hercules era um vira latas preto que ficou enorme, viveu por dez anos...

Alicia ficou encarando Erick que olhava para o céu e não pode deixar de achar uma graça a maneira carinhosa que ela usou para falar de Hercules.

—Que graça...acabo de descobrir que tenho uma queda por homens que gostam de animais. —Ela roubou-lhe um beijo rápido e depois repousou a cabeça no peito de Erick. Ouvindo seus batimentos calmos se ajeitou pretendendo ficar ali por um bom tempo.

— Eu gosto mesmo...adoraria ter um abrigo, criar um tipo de santuário...Acho que é por isso que gosto tanto desse lugar...

—Sabia que esse é meu sonho? Ter uma ONG está nos meus planos, eu sempre pensei nisso, mas depois que vi o que  a mãe do Jack passou, esse desejo aumentou. A pobrezinha deu cria na rua, debaixo de chuva... eu cuidei deles e consegui doar os outros quatro irmãos  além da mãe. A Jéssica e a Vivian me ajudaram.

—Está vendo? —Eles se uniram em um abraço. —Temos mais coisas em comum do que imagina...

—Acha que não sei...  naquela festa quando começamos a conversar, fui vendo o quanto eramos parecidos, a princípio eu senti raiva...Foi mais ou menos  como quando você passa numa vitrine, se apaixona por um sapato e ele custa muito caro, aí você o prova torcendo que não sirva, ou que não seja confortável... no entanto, ele parece ter sido feito sob medida pra você...Foi assim que me senti a seu respeito.

—Está me comparando a um sapato? —Erick apontou o dedo para Alicia fingindo indignação.

—Não, estou dizendo que parece que você foi feito sob medida pra mim...

Erick fechou os olhos feliz, era bom para ele saber que Alicia pensava assim.


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