Na Minha Vida escrita por André Tornado


Capítulo 6
Num esconderijo


Notas iniciais do capítulo

No capítulo anterior:
John, Paul, George e Ringo conseguem escapar à polícia após uma perseguição automóvel a alta velocidade pelas ruas da cidade, digna de um filme de ação de Hollywood - e com um carro a cair de velho!



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No fim da tarde chegaram ao cais antigo. O sol já não estava tão quente, havia menos luz e o ar como que tinha escurecido. Aquele lugar tinha sido abandonado havia alguns anos, por o porto artificial ali construído não comportar os grandes navios de carga mais atuais, mas os contentores enferrujados pela maresia e pelos ventos salgados ainda se empilhavam nas plataformas. Ringo pediu a John que se enfiasse por esse labirinto metálico para despistar eventuais perseguidores, embora não ouvissem a polícia havia mais de uma hora.

O velho Renault soluçava exausto. Deslizava quase parado pelo corredor formado pelos contentores, escondido nas sombras, percorrendo aqueles caminhos artificiais a soltar os derradeiros suspiros alimentados pelos vapores de combustível. John continuava a não desejar saber qual o nível de gasolina que ainda tinha no depósito mas desconfiava que estava na reserva. Os outros ocupantes da sua sucata adorada, agora ainda mais adorada do que antes, estavam mortalmente silenciosos. Conciliavam a experiência com as suas noções pessoais de ordem e moralidade, recuperavam o fôlego, digeriam o que tinha acabado de acontecer e achavam algum sentido na sua participação naquela situação.

Ninguém vinha atrás deles, nem sequer se vislumbravam outros automóveis naquela desolação cujo silêncio era cortado pelos pios esporádicos das gaivotas que ainda se aventuravam por ali já que o sítio era uma ruína. O que, até certo ponto, ajudou a que todos se acalmassem.

Por meio de gestos mudos, Ringo foi-lhe dando indicações. Nem o bandido, o principal mentor da loucura, tinha forças para falar, ou queria sequer abrir a boca. A fadiga física e emocional passava por todos.

Rolaram durante pouco tempo entre os contentores, voltaram à direita numa das ruelas formadas por esses blocos inusitados de metal decrépito e chegaram ao seu destino, um armazém próximo de um ancoradouro desativado onde se acumulavam velhos iates e barcos de pesca apodrecidos, cadáveres de embarcações que boiavam placidamente aos encontrões ao sabor da maré mansa. John estacionou o carro atrás de uns arbustos ressequidos que cresciam selvagens ao lado do armazém, novamente a pedido de Ringo, e os quatro rapazes apearam-se.

O cheiro a peixe estragado, a algas secas e a lixo era insuportável. Paul tapou o nariz e a boca com uma mão e seguiu George que tinha um ar enjoado até ao portão do armazém que Ringo abria numa nesga que lhes permitisse passar. John reparou que o cadeado ainda prendia a grossa corrente ferrugenta que supostamente trancaria o espaço que Ringo arrombara, encontrando maneira de entrar para dentro do armazém sem danificar a tranca. Ele também entrou atrás de Paul para fugir daquele odor nauseabundo que pairava nas redondezas.

O interior do armazém era acanhado, pois os fundos estavam pejados de caixotes e de outros restos provenientes de fainas antigas, como rolos de redes de pesca, armações, remos e velas dos veleiros. Ringo tateou a parede e uma lâmpada fraca acendeu-se revelando a habitação. Um espaço tinha sido criado junto a uma janela que se situava próxima ao portão de zinco, que se cobria com uma cortina improvisada feita de estopa, talvez proveniente de uma qualquer saca usada na lota onde se vendia o peixe. Junto à janela estava uma mesa e três cadeiras, mobiliário desengonçado que teria sido desencantado na lixeira ou recuperada de uma das barracas desativadas que foram usadas pelos pescadores, por cima do qual se pendurava a lâmpada acesa, a única iluminação do lugar. Havia ainda um sofá coberto por mantas esburacadas, que serviria de cama, e um frigorífico no canto que não fazia barulho nenhum, o que podia indiciar que estaria desligado ou com falta de gás. Ao lado do frigorífico estava uma pequena estante. Na tábua de cima via-se um rádio de um modelo clássico. Havia latas e alguns sacos que deveriam conter comida, nas outras tábuas que compunham mais outra peça improvisada de mobiliário.

Numa palavra, aquilo era um pardieiro.

Ringo explicou:

— É a minha casa, o meu esconderijo… É aqui que vivo, nestes dias. Não encontrei melhor, mas pelo menos sei que aqui estaremos sossegados. Ninguém imagina que vive alguém no cais antigo, onde estamos. O cheiro de lá fora… afasta os curiosos.

John colocou as mãos na cintura, continuando a analisar aquele recanto e tentando não fazer juízos precipitados. Ringo chamou-o de casa. E ele que pensava que o seu quarto era miserável… George pousou o saco do dinheiro na mesa, puxou uma cadeira e sentou-se com cuidado, não fosse esta desmanchar-se com o seu peso. Paul hesitava se deveria avançar mais, receoso de pisar nalguma imundície que lhe atacaria o sistema imunitário. Desapertou o nó da gravata colorida.

— Fui despedido há dois meses, não encontro trabalho… Sem dinheiro não se consegue alugar uma casa… Não é fácil. Os poucos cobres que tenho, uso-os para comer.

— Sei o que queres dizer, companheiro – disse John, solidário.

Ringo encolheu os ombros e continuou, apoiando-se nas costas de uma cadeira:

— Tentei tornar-me assaltante. Foi uma ideia que tive… Comprei uma arma e pus-me a ensaiar uns roubos, pouco perigosos. Nunca consegui roubar muito. Umas notas e moedas, por aqui e por ali… Usualmente vou às caixas registadoras desprotegidas. Hoje tentei o carjacking e lembrei-me do banco. – Olhou longamente para o saco fechado em cima da mesa. – Foi a primeira vez que tive algum sucesso… nesta ocupação.

— Hum-hum – concordou John interessado na história triste de Richard Starkey. Pensava que lhe podia acontecer o mesmo, ser um patético ladrão sem sorte nenhuma, tornado perigoso por puro acaso. Também não conhecia estabilidade no emprego, não tinha qualquer dinheiro e julgava-se perseguido pelo azar.

Paul censurou-o com o olhar. Obviamente não estava ciente das dificuldades do amigo, que considerava mais indolente do que azarado. Por fim decidiu-se a avançar, sem medo das possíveis doenças, e perguntou:

— O que é que nos vais oferecer? Quero beber alguma coisa… Esta agitação toda provocou-me sede.

Ringo abriu a porta do frigorífico. A luz no interior estava desligada, mas veio uma baforada relativamente fresca que indicava que, de algum modo, trabalhava e refrigerava o seu conteúdo.

— Tenho água, cerveja, sumo de maçã… – elencou Ringo olhando as prateleiras quase vazias.

John admirou-se:

— Sumo de maçã?

— Não tens nada mais forte? – indagou Paul espreitando o frigorífico.

— Não! Bebidas espirituosas custam muito caro!

— Bebidas quê? – estranhou George.

— Bebidas com álcool – explicou Ringo.

— Ah… Dessas.

Paul agarrou num pacote de cartão que indicava conter o tal sumo de maçã. Abanou-o, veio um som de gorgolejo.

— Isto está vazio.

— Tem sumo ainda – retorquiu Ringo, arrancando-lhe o pacote das mãos, sacudindo-o energicamente – Estás a ouvir? Não é muito, mas dá para matar a sede.

Paul retomou o pacote.

— Onde tens os copos?

— Copos? Bebe diretamente!

— Diretamente?! – admirou-se Paul, torcendo-se com o nojo. – Tu tens bebido daqui!

— Se não quiseres, o problema é teu…

Ringo pousou três cervejas na mesa.

— Eu queria água – pediu George levantando um dedo como se estivesse na escola a pedir permissão ao professor para usar a palavra.

— Nunca bebeste bebidas com álcool, aposto – troçou John. – Que idade tens, George? Não passas de um miúdo…

— Mesmo que to diga, provavelmente serei mais novo do que tu, John!

— Provavelmente terás razão!

Paul desabou no sofá velho, com o pacote de sumo de maçã na mão. Decidia-se se controlava a sede ou se esquecia os germes e metia o gargalo de plástico à boca.

— Não vamos discutir agora, pois não? Seria tão…

John puxou por uma cadeira, limpou-lhe o pó antes de se sentar.

— Seria tão… o quê, Macca?

— Tão estúpido! Já nos encontramos numa situação delicada, extraordinária e complicada. Mais vale que nos apoiemos uns nos outros, daqui para a frente.

George agarrou na garrafa de água que Ringo retirara do frigorífico antes de o fechar com uma patada suave aplicada na porta.

— Ele já não está armado. O que nos obriga a ficar com ele?

— Se fugirmos agora, podemos ser apanhados – explicou John retirando a cápsula de uma cerveja. Bebeu um gole, limpou os lábios molhados de espuma com a mão. – Até conseguires esclarecer tudo com a polícia passas umas noites na prisão. Isto se conseguires provar a tua inocência, pois o mais normal será não acreditarem em ti.

— Existem testemunhas em como fui raptado do banco – protestou George.

— Imagina que esses tipos que estavam dentro do banco não querem confusões e que o seu depoimento não seja feito a teu favor. Pode haver algum engraçadinho que goste de teorias da conspiração e que se lembre de dizer à polícia que tu já lá estavas no banco como parte do esquema do assalto.

— Não acredito.

— Escuta o John – apoiou Ringo. – Podes ser incriminado nesta história toda por algum desconhecido que queira ficar bonito perante a polícia. Há quem invente histórias só para ter o que contar, mais tarde, num jantar de amigos.

Paul olhava fixamente para o pacote, com os lábios secos entreabertos.

— Sim, escuta o John… e o Ringo. Seja como for, já fazes parte do bando de ladrões que roubaram esta tarde o Banco Central. Estavas no carro que fugiu da perseguição da polícia. A polícia já te viu… connosco.

— Isso não é nada reconfortante.

Paul rodou a pequena tampa de plástico verde, fechou os olhos.

— Nada nesta situação… é reconfortante.

De um golpe só, emborcou o pacote e bebeu o resto de sumo de maçã que este conservava. A sede fora parcialmente mitigada, mas o asco de estar a tocar com os lábios numa coisa supostamente nojenta causou-lhe um vómito. Se não morresse de septicémia depois daquilo, podia dar-se por feliz.

Ringo abriu o saco do dinheiro, enfiou as duas mãos lá dentro e retirou os maços de notas. Colocou-os na mesa numa pilha desorganizada e afastou o saco, atirando-o para o chão, para que a mesa fosse apenas ocupada pelo dinheiro e pelas três garrafas pequenas de vidro de cerveja, uma delas meio bebida por John. A garrafa de plástico de água, com capacidade para um litro, com uma linha de líquido no fundo, estava posta entre as pernas de George.

O silêncio caiu na cena. Os olhos dos quatro rapazes voltavam-se para as notas empilhadas, arrumadas em conjuntos que deveriam ser de uma quantia certa, presas por uma cinta de papel branco. Notas de cinquenta euros e havia também notas de cem euros. A mulher que operava a caixa do Banco Central tinha sido generosa. Poderia ter escolhido notas de vinte ou de dez euros…

Ringo arrancou as cintas de todos os maços e montou as notas numa torre, separando-as pelo valor facial. Bateu na lateral dos montes para alinhá-los e agarrou primeiro nas de cem euros. Recostou-se na cadeira, molhou o dedo indicador direito com a língua e começou a folhear as notas, contando o valor em surdina, que foi acumulando numa contabilidade mental.

John acabou com a sua cerveja, deixou a garrafa no chão, agarrou numa segunda garrafa. Retirou a cápsula

— Esse dinheiro deve ser repartido por nós também.

Ringo, entretido a contar, para apurar a soma do que tinha sido roubado, não respondeu, nem sequer lhe deitou uma olhadela de soslaio. Parecia hipnotizado e completamente absorvido pela tarefa complicadíssima de contabilidade.

— Eu e o Paul arriscámos o nosso pescoço por esse dinheiro.

— Ei, eu também! – exclamou George.

Este levantou-se e foi ligar o rádio, apetecia-lhe ouvir música, qualquer coisa que abafasse a ladainha de Ringo que ia somando de mil para dois e cinco mil euros, dez mil, dez mil e quinhentos, as respirações pesadas de John e de Paul que se fixavam nos montes de notas, em expectativa.

O aparelho estava sintonizado num canal noticioso que, após uma separação sonora típica, passou para uma próxima notícia que, de acordo com a voz pausada e grave do jornalista, era de última hora, acabada de chegar à redação daquela estação. Adiantou que fontes policiais tinham confirmado que o Banco Central fora recentemente assaltado, no início daquela tarde, e que tinha sido roubada uma quantidade indeterminada de dinheiro, que ainda estava a ser apurada. O gerente do banco assegurava que o prejuízo fora mínimo, pois os assaltantes tinham apenas atacado a caixa, deixando o cofre intocado. As mesmas fontes policiais adiantavam que os assaltantes estavam armados e que eram bastante perigosos, pelo que qualquer informação sobre o avistamento da perigosa quadrilha, composta por quatro elementos, deveria ser imediatamente comunicada às autoridades competentes, sem entrar em contacto direto com os suspeitos. O relato seguinte mencionava uma perseguição pela cidade ao veículo usado pela quadrilha para escapar à polícia, com a indicação do modelo do carro e a sua matrícula.

— Quatro elementos?! – exclamou George irritado. – Como pode ser isso possível. Eu sou um refém!

— Disse-te que isto não estava a correr bem para o nosso lado – insistiu John a beber um gole de cerveja. – O que me leva a fazer uma reivindicação. Esse dinheiro deve ser repartido por nós, como forma de compensação pelo nosso incómodo.

— Concordo! – disse Paul desde o sofá.

— Não quero o dinheiro, não quero fazer parte disto – afirmou George abanando os braços. Passou as mãos pelos cabelos, nervoso.

— Quer queiras, quer não, já fazes parte disto. Quatro elementos… ouviste o que disseram no rádio…

Paul suspirou.

— Lamentável!

— E por que raio foste ligar isso? – resmungou Ringo. – Nunca oiço as notícias, só dizem asneiras.

— Nunca? Então por que razão o canal já estava sintonizado… nas notícias? Limitei-me a ligar o rádio – protestou George.

Ringo estalou a língua.

— Gosto de ouvir os debates políticos, durante a programação da noite. Ajuda-me a adormecer.

— Ridículo.

John estalou os dedos.

— Todos calados, deixem o homem concentrar-se. Amigo Ringo, diz-nos quanto papel temos aí…

Ringo passou para o monte das notas de cinquenta euros.

— Parece-me que não cheguei a concordar com essa ideia brilhante… de dividirmos o dinheiro.

— Ah, para de brincar! – escarneceu John terminando com a segunda garrafa de cerveja. – Julgas mesmo que eu e o meu amigo Paul não vamos ficar com uma parte do roubo? São as informações do meu carro que estão a ser transmitidas no rádio.

— E possivelmente na televisão – adiantou George.

— E possivelmente na televisão – repetiu John. – E somos dois contra ti.

— Três – corrigiu George, cruzando os braços, mirando John desconfiado de que este estava propositadamente a excluí-lo do negócio da partilha.

— Sim, miúdo… Está bem, somos três.

Paul apoiou os cotovelos sobre os joelhos e apertou a cabeça entre as mãos.

— Isto… é tão lamentável!

— O dinheiro não vai servir para melhorar o teu humor, Paul?

— Claro que não, George… A minha reputação… está completamente arruinada.

— Não vais precisar de uma reputação quando fores rico.

— Cala-te, John!

Passado algum tempo, Ringo anunciou:

— Quatrocentos mil euros!

— Um número perfeito para repartir por quatro – disse George. – Calha cem mil euros a cada um. Eu acho razoável. E tu, John?

— Perfeito – respondeu, bebendo a cerveja da terceira garrafa.

Ringo sorria, acariciando as notas, ajustando os montes de modo a alinhar perfeitamente as arestas do papel-moeda em torres impecáveis.

— Não me importo de o dividir com vocês. Também acho que cem mil euros é um valor engraçado. Soubeste convencer aquela mulher da caixa para que fosse bastante simpática connosco, Paul.

A situação afogava-o e esmagava-o. Paul não tinha mais argumentos para contrariar o que os outros diziam, experimentavam e sentiam, nem lhe apetecia discutir com o seu amigo John para fazê-lo ver em como tudo aquilo era errado. O ouro cegava-os e arrancava-lhes os valores essenciais que eles defenderiam em circunstâncias normais. Ali, eram uns avarentos, gananciosos, ladrões imbecis de pacotilha…

Levantou-se do sofá, tentando acalmar-se. Admitia que estava zangado e enraivecido com o que se estava a passar, mais consigo próprio do que com John ou mesmo com o refém George. No meio dos caixotes que formavam uma espécie de parede, que delimitava o recanto que era a casa do bandido Ringo, descobriu algo que lhe chamou a atenção. Apontou para um volume irregular coberto por uma lona descorada.

— O que escondes ali debaixo?

Ringo hesitou. Negou com a cabeça e respondeu como se fosse pouco importante:

— Ali? Ah, não é nada…

A testa de Paul franziu-se. Teve a impressão de que Ringo não queria que se soubesse o que tapava com a lona. Um segredo demasiado desagradável para ser revelado? Pensou num cadáver e perdeu toda a cor no rosto. Depois raciocinou melhor, o volume era grande demais para ser um corpo e, para além disso, se fosse alguém morto deveria ter um cheiro horrível. A não ser que tivesse sido assassinado havia pouco tempo…

Decidiu-se a acabar com as loucuras que a sua mente, estupidamente, fabricava. Puxou a lona e estacou com a surpresa.

— É uma bateria!


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Notas finais do capítulo

Em relação ao dinheiro estive na dúvida que moeda usar, mas acabei por optar por euros. Deviam ser libras - afinal o Reino Unido nunca abandonou a sua querida libra - ou dólares, porque a América esteve sempre na mira dos Beatles, ou outro tipo de moeda inventado já que estamos no "reino da fantasia", mas fiquei-me pelo euro. Algo intermédio e reconhecível.
O assalto foi proveitoso!
E agora... Paul encontrou uma bateria! Não haverá outros instrumentos?
Vamos ter música em breve.

Próximo capítulo:
A primeira canção.