Na Minha Vida escrita por André Tornado


Capítulo 23
A festa


Notas iniciais do capítulo

No capítulo anterior:
Os rapazes chegam a Viejos e procuram um lugar para dormir. O primeiro encontro com a dona de um hotel local não foi muito simpático, mas sempre conseguiram um quarto. Depois, John, Paul, George e Ringo foram comer e de barriga cheia o mundo parece muito melhor...



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As suas barrigas pareciam que iam explodir de tão cheias. A comida de Viejos era confecionada à base de feijão, carne e milho, condimentada com especiarias fortes, numa base de tomate e cebola, aromatizada com frutos como abacate e abacaxi, muito saborosa e irresistível, pelo que eles só pararam de comer muito depois de se sentirem saciados. Boa parte do jantar passaram-no a experimentar novos pratos que o dono do restaurante lhes ia apresentando, desejoso de agradá-los e de surpreendê-los, e a conta, que Paul temeu ser exorbitante, acabou por ser à medida das poucas notas que a sua carteira conservava e comentou, satisfeito, que comer ali era barato e delicioso.

Também beberam muita sangria à base de vinho tinto, água e um granizado de lima com um toque de álcool que os deixou alegres e descontraídos, suficientemente entontecidos para verem o mundo com outras cores. Passaram a refeição a contar piadas, a rirem-se das suas últimas atribulações, desde a fuga à polícia na sucata de John, passando pela tribo de canibais, pela deriva perigosa no mar até serem recolhidos pela traineira do pai da Margaret, terminando na viagem através do deserto no velho autocarro até àquela aldeia.

Antes de regressarem à avenida, descobriram um telefone público num recanto do restaurante. Uma raridade, num tempo em que cada pessoa tinha o seu próprio aparelho e que o podia usar sem problemas graças à antena para telemóveis no tal monte à saída da povoação. Paul conferiu os trocos que tinham sobrado, depois de paga a conta e dada a gorjeta por terem sido tão bem servidos. Anunciou que ia telefonar e todos pediram-lhe moedas para fazer o mesmo, queriam ligar a alguém para que não ficassem tão preocupados pela ausência de notícias. Todos menos John.

— De certeza que não queres ligar a ninguém?

— Mão, Macca. Nesta situação iria ligar para ti, mas estás aqui comigo, a partilhar o meu infortúnio.

— Está bem, Johnny. Tu é que sabes…

Assim, John foi o primeiro a sair para a rua. Acendeu um cigarro e pôs-se a fumá-lo, encostado à parede do restaurante, um joelho dobrado, bota assente na parede, pose de bad boy, a observar o movimento. Os homens olhavam-no desconfiados, mas não deixavam de ser simpáticos e de cumprimentá-lo. As mulheres miravam-no curiosas, sorriam-lhe e ocultavam os rostos numa fingida timidez, trotando avenida acima como se quisessem escapar da influência perigosa do seu olhar cortante. Ele divertia-se com as reações que conseguia provocar.

Paul saiu a seguir e também acendeu um cigarro. Contou, mesmo que John não lho tivesse pedido, que falara com o irmão, Mike. Não lhe revelou onde estava, apenas que tinha decidido tirar uns dias de férias, o trabalho no escritório estava uma loucura e ele precisou de uma pausa repentina. O irmão não fizera mais perguntas.

— Estás a proteger o Ringo?

— Não, Johnny. Estou a proteger-nos a nós.

— E achas que nem ele, nem o George vão contar a verdade sobre o que aconteceu?

Pensativo, Paul tirou uma passa. O fumo pairou entre ele e o amigo.

— Estou convencido de que sim. Estão na mesma embrulhada do que nós. O que ganhariam se contassem o que realmente se está a passar? De que assaltámos um banco e que estamos a fugir à polícia? Nada, não ganhavam absolutamente nada. Ficavam tão lixados quanto nós.

— Estamos a fugir à polícia?

— Hum-hum, com um saco de dinheiro roubado. Não estamos de férias, Johnny.

— Por momentos…

— Sim, apenas por momentos.

O terceiro a aparecer foi George. Alimentado, resplandecia felicidade e boa disposição. Acendeu também um cigarro e contou que telefonara para a sua casa. Ainda vivia com os pais, uma irmã, Louise, e dois irmãos, Harry e Peter, todos mais velhos do que ele. Ele iria ser o primeiro a abandonar o lar com o seu casamento com a namorada Pattie, que nunca chegou a acontecer. Estavam todos muito preocupados, a mãe principalmente, pois ele tinha desaparecido havia quase uma semana e não tinha dado notícias. Ele explicou-lhe que conseguira o empréstimo e resolvera fazer logo a viagem, de que precisava mesmo de se afastar. Claro que a mãe desconfiara dessa história, ele nunca fora apressado e leviano, o instinto materno era difícil de ludibriar, mas como ele assegurou-lhe de que estava bem, a mãe desistiu de fazer a queixa formal à polícia a reportar o seu desaparecimento.

Paul olhou para John com uma expressão que significava, “Vês? Ninguém vai contar o que realmente se está a passar.”. John respirou fundo e encolheu os ombros, indicando que pouco se importava se fosse denunciado. Típica atitude que mostrava precisamente o contrário. Ele ficaria magoado e muito zangado se George ou Ringo falassem o que não deviam. Com Paul estava tudo esclarecido, os outros dois seriam a incógnita da equação.

E surgiu Ringo com outro ar satisfeito. Pediu lume a John e começou igualmente a fumar, expelindo as primeiras baforadas para o ar.

— A quem telefonaste? – perguntou Paul, para conferir se estavam todos sintonizados, como ele esperava que estivessem.

— À Maureen.

— Quem é a Maureen? A tua mamã? – troçou John.

O baterista empertigou-se.

— Não chames a minha mãe para a conversa. Ela é uma santa, uma mulher adorável, extraordinária, inimitável. Criou-me sozinho e fez um excelente trabalho. Sou um bom rapaz… com muito azar na vida, mas continuo um bom rapaz.

— Ei, só te perguntei quem era essa Maureen… Acalma lá os cavalos! O Harrison telefonou à mãe dele. Eu telefonava à minha, se ela ainda estivesse neste mundo. As mães ficam preocupadas com os seus filhos quando estes andam desaparecidos.

— Falaste com a tua mãe? – sussurrou George a Paul.

— Não, com o meu irmão. A minha mãe já morreu também, como a mãe do John.

— Oh, lamento muito…

— Obrigado. Já aconteceu há algum tempo. Foi uma das coisas que fez com que o John e eu nos tornássemos tão próximos. O facto de não termos mãe, de elas terem morrido cedo demais.

— Ah… Compreendo. 

— A Maureen… é a minha ex-mulher – contou Ringo de mau humor.

George meneou a cabeça, Paul perguntou-lhe curioso:

— Não tinhas mais ninguém a quem ligar?

— Costumo telefonar à minha ex-mulher mais ou menos todas as semanas. Ela fica à espera do meu contacto, apesar de me dizer que não, que quer que eu pare de lhe ligar pois tem de avançar com a sua vida… Ela gosta de me ouvir ao telefone. Talvez seja por causa das minhas lamúrias, quando lhe digo que ainda gosto dela e que tenho saudades dela. Faz-lhe bem ao ego… Se não lhe ligasse agora, acabaria por ficar desconfiada de que alguma coisa tinha acontecido comigo e começaria a fazer perguntas. Assim, vai ficar sossegada, a pensar que o seu Richard continua no mesmo lugar de sempre, miserável e a sonhar com ela. Uma espécie de garantia, percebem? Da Maureen não será lançado nenhum alerta.

— Eh… Excelente jogada! – disse John dando uma palmada nas costas do baterista, que deu um passo em frente com o impacto inesperado.

— Não precisam de agradecer-me todos! – replicou Ringo, levantando os braços e afastando-se para não receber a segunda e a terceira palmada.

George riu-se. Paul, no entanto, quedou-se meditabundo, a tentar perceber o cenário que se desenhava na ausência deles. O Banco Central tinha sido assaltado, quatrocentos mil euros roubados. De certeza que as câmaras de segurança os tinham filmado, ele e Ringo no papel de ladrões, George no papel de refém. Durante os telefonemas ninguém das suas famílias, nem o seu irmão Mike, nem a numerosa gente da casa de George, nem a ex-mulher Maureen, tinha feito referência a essa suspeita. Significava que não estavam ao corrente das notícias, o que era estranho, ou significava que podiam estar a ser manobrados pela polícia para lhes estender uma armadilha que possibilitasse a sua captura. A teoria da conspiração azedou-lhe o estômago e ele parou de pensar naquilo. Tinha comido demasiado bem para estragar a memória daquele jantar saboroso.

— E agora, o que fazemos? – indagou Ringo.

John esmagou a beata com o tacão da bota e anunciou:

— Agora… seguimos a música!

Os quatro concordaram com a sugestão e subiram a avenida na direção do adro da igreja iluminada. A atmosfera tépida, característica de uma noite de estio que prometia aventuras dos sentidos, carregava acordes alegres de uma música composta essencialmente por guitarras que soavam no que parecia uma competição de cordas. Cantigas populares eram entoadas por vozes masculinas lamentosas e maliciosas, com letras que, pelo que conseguiam compreender, pois estavam na língua local, o castelhano, falavam de amores perdidos, de mulheres vingativas e de homens enganados.

A festa estava bastante animada e quando os rapazes chegaram ao adro deixaram-se envolver pela celebração enérgica que aí acontecia, debaixo de uma teia de lâmpadas acesas que se uniam num mastro colocado no centro da praça. Num estrado estavam os músicos, vestidos com trajes tradicionais, a exibir os seus dotes artísticos, munidos com as suas guitarras, bombos, maracas e pandeiretas, a cantar nas suas vozes graves e vibrantes. Num recinto delimitado aleatoriamente, em frente ao estrado, dançava-se. Os movimentos eram sensuais e provocadores, especialmente das mulheres. Elas eram altas, com curvas pronunciadas nos corpos moldados pelos vestidos justos, cabelos negros, olhos expressivos. O coração dos rapazes saltou um batimento e sentiram sede. Precisavam de molhar a boca, de continuar a apreciar o espetáculo maravilhoso que se abria perante o seu olhar deslumbrado. Música, mulheres…

Também homens, os mais velhos que vigiavam as suas meninas, filhas ou esposas, os mais novos a fazer os avanços permitidos às moças. Também crianças, que gargalhavam e gritavam em brincadeiras inocentes. E as velhotas, sentadas em bancos, a tecer comentários ao que iam vendo, na coscuvilhice azeda de quem conhece toda a gente na povoação.

Para o lado direito existia uma banca que aviava bebidas, entre estas água, sumos, cerveja e uma bebida transparente servida em copos minúsculos que seria tequila. Paul conferiu o dinheiro que ainda tinha na carteira, não acreditava que naquela festa se aceitasse cartão de crédito. Avaliou rapidamente a tabela de preços, uma placa de cartão escrita à mão numa letra irregular, e anunciou o que se podia consumir. Algumas cervejas, alguma tequila. Não podiam exagerar.

Começaram por pedir uma cerveja. Estava gelada e soube-lhes bem, para aliviar a garganta seca, o estômago incendiado do jantar condimentado. Algumas mulheres repararam neles, George deu uma cotovelada discreta em Ringo que abriu um enorme sorriso. John começou:

— Vou tocar. Quem alinha comigo?

— Eu não posso…

— Porque não, Macca?

— Sou canhoto. Não me vou pôr a trocar cordas. O dono da guitarra pode não gostar.

John abraçou-o pelos ombros, apontou com o braço direito, mão a segurar na garrafa de cerveja.

— Aquele ali, atrás do grandalhão de bigodes, é canhoto. Tocas com a guitarra dele.

— Sim! – Paul assentiu, animado. – Sim, pode ser. Eu alinho… Anda George! E tu, Ringo, agarras nas maracas.

Acercaram-se do estrado. As músicas eram intermináveis, tinham grandes momentos de improviso entre as partes cantadas e quando acabava uma toada, começava logo outra no mesmo tom, o que dava a impressão de que era sempre a mesma cantiga. De resto, a letra prosseguia no relato açucarado e condoído dos amores desavindos, pelo que parecia que se tratava sempre do mesmo desgraçado que era enganado por uma dúzia de tipas diferentes.

 John chamou a atenção de um dos músicos com um curto assobio. O rapaz, que seria da mesma idade do que eles, vinte e poucos anos, veio até ao limite do estrado. Sem deixar de tocar, inclinou-se e perguntou-lhe se queria fazer algum pedido. John disse-lhe que queria tocar também, mas que não tinha trazido a sua guitarra. Apontou para trás e revelou que os seus amigos eram todos músicos e que gostariam de experimentar tocar com eles. O som era espetacular, muito latino, algo diferente que nunca tinham experimentado pois apreciavam maioritariamente rock ´n roll. O rapaz adorou a ideia e entregou-lhe a guitarra sem hesitar, convidando-o para subir para o estrado estendendo uma mão amiga. John aceitou-a e foi para o estrado. Recebeu algumas indicações básicas sobre os acordes principais e começou, com todo o seu descaramento, a tocar com a banda.

Paul fez-lhe sinal para que falasse com o canhoto, John assim fez. O canhoto entregou, então, a sua guitarra a Paul e foi beber uma cerveja na companhia do rapaz, parecendo até aliviado por poder fazer uma pausa. Paul pediu orientações a John, apanhou rapidamente o tom que estava a ser usado, pediu a outro músico que cedesse a sua guitarra a George e foi logo atrás do tipo que assegurava a cadência para emprestar as maracas a Ringo.

O mais extraordinário era que ninguém se incomodou com a presença dos gringos no grupo musical que estava a animar a festa. Até houve um aplauso da assistência e alguns gritos de incentivo. Os quatro rapazes sorriram com a excelente receção que estavam a ter naquela aldeia remota, de gente agradável, cordata e extrovertida, e tocaram com uma energia contagiante, sacudindo as cabeças e até providenciando algumas vozes de coro durante o refrão das canções. Os seus uh, uh, uh melodiosos arrancaram gritos da assistência feminina. Quando se cantou “Besame Mucho”, Paul, John e George uniram a sua voz ao cantor principal e os corações derreteram-se naquela festa. Os estrangeiros tinham conquistado a aldeia.

Ofereceram-lhes cerveja quando saíram do palco. Uma mulher de belos olhos verdes e um cabelo tão negro como a noite estendia-lhes as quatro garrafas. John chegou primeiro a ela, retirou-lhe as garrafas dos dedos, acariciando-lhe entretanto as mãos.

— Oh, muito obrigado. Cantar faz muita sede.

Ele entregou as garrafas aos companheiros. Ela baixou o rosto num trejeito tímido, encostou os dedos aos lábios vermelhos. O corpo torceu-se com um arrepio de prazer.

— Vocês… vocês cantam e tocam muy bien— sussurrou ela.

— Estás a ser muito simpática… Chamo-me John. E tu, bonita?

O elogio fê-la rir-se.

— Conchita.

— É a primeira vez que estou em Viejos e posso dizer-te que estou a passar um tempo fantástico. Nunca vi povo tão simpático e mulheres tão bonitas.

Nova risadinha. John sorriu-lhe, ela evitava contacto visual direto, mas de vez em quando espreitava-o através dos longos cílios escuros e estremecia. Apontou para a irmã e para as duas amigas, confessou que elas queriam dançar com eles, se eles não se importassem, que tinham vergonha de lhes perguntar e por isso mandaram-na à frente. Paul, George e Ringo terminaram as respetivas cervejas bebendo-as de um trago, abanaram a cabeça, claro que não se importavam.

Foram para o recinto, defronte do estrado, e começaram a dançar com as quatro jovens mulheres, que se derretiam nos seus braços, delicadas e fragrantes como flores do deserto. Ao mesmo tempo elas faziam inveja às amigas por terem conseguido apanhar primeiro os gringos que estavam a ser cobiçados pelo mulherio da festa, para grande desgosto e raiva dos rapazes locais. Porém, Conchita, a irmã e as duas amigas não os largaram mais, o que não permitia que as outras meninas avançassem e ficavam assim disponíveis para os jovens locais, embora imensamente contrariadas.

Rodopiando entusiasmado, Ringo exclamou:

— Finalmente, o dinheiro tem alguma utilidade!

— Não tens gasto um centavo, sovina! – acusou Paul divertido. – Sou eu que estou a financiar todos os divertimentos.

— O Paulie tem razão – defendeu John a apertar a cintura de Conchita. – Vais ter de lhe devolver todo o investimento.  

— E com juros! – acrescentou George.

Acabado de dizer aquilo, solicitou uma pausa à sua parceira de dança e aproximou-se do balcão, levando-a pela mão. George pediu uma tequila, quis ser atrevido. Indicou ao taberneiro, que estava a servir as bebidas, que era o seu amigo que iria pagar, mas o taberneiro disse-lhe que era de graça, cortesia para um bom guitarrista. A moça não quis beber nada, segredou-lhe que já vinha, tinha de ir dar uma palavrinha à mãe que os observava com algum desagrado, depositou-lhe um beijo na orelha e George suspirou.

— Olá, chico. Estás muito sozinho.

A voz assustou-o. George espirrou a tequila que tinha na boca. Reconheceu-a, engasgou-se, começou a tossir. Era a mulher da estalagem.

— Eu não estava sozinho – explicou atarantado. – A minha companhia… A moça. Ela foi falar com a mãe… Ela… já volta.

— É só uma menina.

— Eu sou novo, também. Tenho vinte e um anos…

Engoliu em seco. Uma coisa estúpida de se dizer, a sua voz esmoreceu no fim da frase. George sabia que tinha falado demais. Ou afastava a mulher, ou conquistava-a definitivamente com a informação da sua idade. Iria saber, por fim, se a mulher gostava de rapazinhos tão jovens.

— Chamo-me Paloma. Sabes o que significa?... Pomba. – Sorriu-lhe, insinuante.

— Eu… chamo-me George – devolveu depressa, percebendo que poderia tê-la para si, naquela noite. Ela não se tinha ido embora, ela continuava, dizia-lhe o seu nome, chegava-se, roçava-se. Preferia-a à amiga da Conchita, queria aquela mulher, só aquela mulher, de todas as que cirandavam pela festa, de todas as que habitavam Viejos.

— Ah… Jorge. Que nome guapo. Como tu.

— Bem… Eu só tenho o quarto da estalagem… Quero dizer, a estalagem. A sala. Existe lá uma sala, não é? Para ficarmos sozinhos e conversarmos… Eh… Isso…

Apertou os lábios. Demasiado ansioso, demasiado direto. Continuava a dizer coisas estúpidas. E ela sem se importar com a sua inexperiência, com a sua ansiedade. Porque talvez gostasse de domesticar esses impulsos selvagens de meninos imberbes.

— Eu sei, chico. O teu convite é muito interessante, uma conversa a sós, mas vais desculpar-me… Não quero partilhar o que conversarmos com os teus outros amigos, no vosso quarto. Tenho… uma salinha reservada para essas ocasiões.

— Disseste que não querias desacatos na tua casa.

A mulher passou a mão pela coxa dele, subindo langorosamente, até à virilha. Ele sentia os músculos a endurecer… Todos os músculos!

— Oh, chico… Enquanto conversarmos, eu não me vou importar com as conversas dos teus amigos com as outras meninas. – Soprou-lhe no ouvido: – Vamos estar no nosso ninho… de amor.

George sentiu-se muito tonto.

Aceitou beber uma tequila com a mulher e depois seguiu para a estalagem com ela, abraçados e aos sussurros. Ele ria-se, corado, ela ria-se, ardente. John comentou a cena com Paul e Ringo celebrou efusivamente a conquista do companheiro. Já a amiga da Conchita rezou-lhe uma praga, amaldiçoou a dona da hospedaria e passou o resto da noite a chorar.


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Notas finais do capítulo

Finalmente, os rapazes encontraram mulheres para se distraírem! Bem precisam de festejar, porque a vida deles continua a não ser fácil.
As relações familiares conforme descritas no início do capítulo, com John e Paul a serem órfãos de mãe, correspondem às famílias dos Beatles.
E quem levou o prémio da mulher da estalagem foi... o George!

A canção mexicana "Besame Mucho" era uma das canções que os Beatles cantavam durante as suas apresentações de início de carreira, em Liverpool e em Hamburgo. Se quiserem conhecer a versão, cantada por Paul aqui está:
https://www.youtube.com/watch?v=dg48JepkiRo

Sempre que teremos canções em que os Beatles não foram os seus compositores serão apresentadas apenas com o título, sem a letra.

Espero que tenham gostado deste capítulo!

Agora um anúncio: nas próximas semanas vai ser muito difícil para mim fazer a publicação desta história, pelo que vamos fazer um intervalo durante as festas natalícias.
Não ficarei totalmente ausente, mas vou deixar os Beatles a aproveitar a festa, a música e as suas chicas. Regressamos, novamente à quinta-feira, na primeira semana de janeiro. Combinado?
Obrigado pela vossa compreensão!

Próximo capítulo:
Estrada e liberdade.