Na Minha Vida escrita por André Tornado


Capítulo 18
Fugir pela vida


Notas iniciais do capítulo

No capítulo anterior:
Armado de uma coragem impressionante e trajando um disfarce improvisado, John distraiu a tribo para que Paul conseguisse libertar George e Ringo. Os quatro rapazes desatam a correr pela floresta, com uma tribo furiosa atrás deles...



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Através das sombras espessas do nevoeiro mental que lhe entupia o cérebro, nascido do seu profundo pavor e perigo a que estava sujeito, Paul McCartney esforçou-se para pensar de forma racional e fria. Rasgava esse véu de nuvens escuras com veemência e alcançava o reduto límpido e desimpedido que fazia dele um homem ponderado e inteligente. Postava-se hirto e sério nessa arena de luz e conseguia, simplesmente, pensar. Desse modo conduziu os seus companheiros de fuga pela floresta e foi-lhes dando as indicações que julgou mais acertadas para escaparem dos seus perseguidores que vinham atrás deles aos gritos alucinados.

A primeira decisão foi fazerem um percurso aos ziguezagues entre as árvores. Achou que assim poderiam despistar melhor os guerreiros que corriam no seu encalço, que esperavam que eles tomassem uma rota mais direta, sempre em frente. Não seria uma grande vantagem, mas aumentaria a distância que os separava dos guerreiros que conheciam bastante melhor os caminhos daquela floresta. Era crucial que conseguissem manter alguns metros entre eles e os negros armados de lanças e da fúria induzida pelo respeito que tinham ao seu curandeiro.

George e Ringo, aturdidos com o que tinham experimentado naqueles últimos minutos, seguiam-no sem protestar, correndo ora para lá, ora para cá, mudando o rumo a cada dez passos, confiando nele e na sua capacidade para salvá-los. A responsabilidade era enorme, mas Paul não se negava a aceitá-la já que o fizera desde o momento em que tinha combinado com John para irem buscá-los ao terreiro da aldeia onde os dois infelizes iriam ser sacrificados e comidos pelos canibais reunidos em redor das fogueiras.

John…

Pensou no amigo e um gosto amargo invadiu-lhe a boca. Esperava que ele estivesse, como eles, a usar de alguma inteligência para poder escapar-se e regressar à praia, onde iriam reunir-se antes de irem para o barco.

A resolução daquela confusão era essa: saírem da ilha. Não tinham outra possibilidade a não ser enfiarem-se na embarcação que estava presa nos bancos de areia, mesmo com pouco combustível, e afastarem-se dali. Tinham ofendido demasiado o curandeiro da aldeia para que fossem perdoados. A coexistência entre os quatro rapazes e a tribo tornara-se impossível a partir do momento em que as hostilidades tinham sido inauguradas com o banquete que iriam fazer com dois do grupo deles. Impossível negociar, impossível regatear. O território, aquela ilha, era demasiado pequeno para todos, infelizmente. Nem eles queriam entabular conversações com alguém tão louco e intransigente como o curandeiro mostrara ser. Para o inferno com esse homem mesquinho!

E do inferno escapavam-se eles fugindo numa corrida imparável.

A dada altura, entre uma respiração e outra, George perguntou:

— Sabes onde fica… a praia… Paul?

Ele não sabia muito bem, não tinha grandes dotes de orientação. Sempre usara um GPS, mesmo quando queria ir a algum sítio na cidade onde morava, pois nunca tivera a disposição, nem a paciência de encher a cabeça com informações sobre ruas, direções e caminhos. John conseguia orientar-se melhor. Primeiro porque nunca tivera muito dinheiro para luxos como um aparelho de GPS, servia-se do seu telemóvel para afirmar que também tinha essa aplicação que o guiava pelas ruas citadinas até ao restaurante onde iria jantar nessa noite. Segundo porque era orgulhoso para admitir que se perdia na sua própria cidade. Terceiro porque era observador e criativo, se se enganasse numa curva escolhia a curva seguinte e com mais ou menos imaginação chegava aos lugares combinados.

Mas John não estava ali e Paul não sabia onde ele estava.

Agora era o peito que lhe doía.

Resolveu-se a não mentir e respondeu:

— Mais ou menos… Sei onde fica a praia. Basta seguir… em frente.

— E onde fica… em frente? – perguntou Ringo.

— Pois… Fica em frente!

George franziu a testa. Paul travou ligeiramente, puxou pela roupa dos outros dois e fizeram outra inflexão no seu percurso, deslizando por uma ladeira que os encheu de lama e de minhocas. Os gritos dos guerreiros ficaram mais longínquos.

— Haveremos de chegar lá – disse George, defendendo Paul enquanto chefe daquela minúscula comitiva. – Isto é uma ilha e a floresta há de terminar, algures, na praia.

Ringo assentiu. Estava demasiado fatigado para discutir.

Aquele desvio fora providencial. Os seus perseguidores estavam a afastar-se, muito provavelmente porque seguiam um trilho que lhes parecia mais lógico para alcançar a costa. Isso permitiu-lhes aliviar a marcha e passar de uma corrida desenfreada para um trote urgente. De vez em quando Paul, que ia na retaguarda, empurrando George e Ringo à sua frente, espreitava por cima do ombro e não via qualquer sombra. Aguçava os ouvidos e escutava os ruídos mais distantes dos guerreiros, que insistiam em berrar durante a caçada.

Era muito provável que estivessem a embrenhar-se na selva em vez de se estarem a dirigir para a sua fronteira, mas isso não importava, desde que continuassem livres e em vantagem sobre aqueles que os acossavam.

Encontraram uma fonte e Paul obrigou-os a que parassem para se refrescarem e beberem água. Não era o mesmo veio que ele e John tinham descoberto, ou seja, estavam a seguir por uma zona desconhecida da floresta que eles nunca tinham pisado, outra das coisas que não importava nada. George e Ringo beberam até se engasgarem, até sentirem a barriga inchada de líquido. Tornava-os mais pesados, avaliava o Paul racional e frio, possivelmente ficariam mais lentos. Dificultaria a fuga…

Entretanto, os guerreiros tinham percebido que eles se tinham escapado do seu controlo, que tinham seguido outro rumo. Sempre em grande alarido, faziam buscas sistemáticas nos vários trilhos que conheceriam, para verificar se alguém tinha passado por ali recentemente. Estava na altura de voltar a correr e Paul empurrou outra vez Ringo e George à sua frente.

Correram e correram. Ao terem mitigado a sede, tornou-os curiosamente mais velozes, mais empenhados em chegar até ao mar onde residia a sua salvação. Os guerreiros já lhes tinham apanhado o rasto e vociferavam bestiais na sua retaguarda.

— Por aqui, por aqui!

Fizeram outra mudança de trajeto. Encontraram um lugar cheio de rochedos, onde as árvores estavam mais espalhadas. Ringo tropeçou numa pedra e caiu, arranhando as mãos e os joelhos que se assomavam aos rasgões das suas calças. George apanhou-o, obrigou-o a erguer-se e, na adrenalina do salvamento, o rapaz magro carregou com o baterista alguns metros até que Ringo se desembaraçou dele e correu sozinho.

Não puderam seguir em frente quando se depararam com um pequeno abismo. Ao virarem à direita, por entre o arvoredo mais distante, conseguiram ver uma faixa azul-turquesa. O mar estava no horizonte e os três rapazes celebraram com um grito de entusiasmo e de alegria.

Os guerreiros prosseguiam na sua peugada, barulhentos e persistentes.

Paul olhou uma última vez para trás. John não vinha ali. Tomara outro caminho, de certeza. Estava a safar-se também, como eles, de certeza. Com outros guerreiros ensandecidos atrás dele. Era apenas um, era mais fácil correr quando só eram duas pernas, pensou Paul mordendo os lábios. Fechou os olhos por um instante e decidiu preocupar-se, por ora, apenas com ele, com George e com Ringo.

O terreno inclinou-se e tornou-se mais macio, arenoso. Era um excelente sinal. Os três muniram-se com as suas energias finais e aumentaram o ritmo da correria. As árvores abriram-se, surgiram os coqueiros altos e majestosos, a sua folhagem a agitar-se mansamente com a brisa, os frutos castanhos grandes como bolas de futebol.

Estavam na praia!

O extenso areal tinha sido explorado por eles algumas vezes, por isso sabiam dizer em que ponto estavam exatamente. Não conheciam a floresta, mas conheciam a praia. Estavam em local familiar e sentiram-se imediatamente protegidos. Passaram o olhar pela paisagem e descobriram que estavam perto das rochas marítimas que tinham escalado na manhã do primeiro dia de estada naquela ilha amaldiçoada, para fazerem aquele reconhecimento que lhes tinha destruído o sonho de uma mansão acolhedora à sua espera. Por isso, só tinham de correr mais um pouco pela areia, com o mar à sua direita, que após aquela suave curva iriam conseguir ver os baixios e o barco. A barraca ficaria à sua esquerda, numa zona alta e lisa e depois teriam o segundo amontoado de rochas, a falésia que cortava outra vez o areal.

E tornaram a correr, sem fôlego, exauridos, macilentos, mas com um brilho de feroz felicidade nos rostos corados e a pingar suor por terem conseguido evadir-se daquele terrível pesadelo mortal que a selva insular guardava.

Como esperado, algumas passadas mais à frente, viram surgir a silhueta oscilante do barco, pousado sobre a água rasa. Sabiam que estavam salvos.

O silêncio da ilha envolveu-os novamente e estranharam a ausência dos gritos desvairados dos guerreiros nas suas costas. Abrandaram a correria, acalmaram as pernas cujos músculos ferviam do esforço, começaram a andar, mas num passo acelerado. Ninguém os perseguia e apenas escutavam os pios estridentes das gaivotas. Ou os indígenas se tinham calado, por estarem num sítio que não gostavam particularmente, viviam reclusos na selva e não se aventuravam para fora desta com medo do mar desconhecido, ou estavam a preparar alguma para surpreendê-los. Não podiam baixar a guarda.

Paul indicou-lhes o mar com um gesto frenético:

— Vão para o barco! Preparem-se para pôr o motor a trabalhar.

— Onde vais tu? – indagou George.

— Vou à barraca buscar as guitarras.

Ringo estremeceu. Não entendeu a intenção de Paul, à primeira vista. Não estavam ainda a salvo do perigo. Mas George sim e concordou com a ideia, abrindo os olhos como um demente. Explicou excitado:

— Apoiado. Não quero deixá-las para aqueles selvagens que nos queriam comer. Pobres guitarras! Ainda servem de lenha para as suas fogueiras… Vou lá contigo.

— Precisamos de mantimentos – lembrou-se Ringo. – Aqueles frutos cor-de-rosa são bons para levar connosco, matam-nos a fome e a sede.

— Certo! – anuiu Paul. – Mas não precisamos de ir todos à barraca. Vocês vão buscar a comida, eu vou às guitarras. Combinado?

— Não te esqueças das baquetas.

— Está bem, Richie.

— Ringo. Sou o Ringo!

— Como queiras… Como podes ser picuinhas numa altura destas?

Os três separaram-se numa curta fugida até à barraca e até à arvore frutífera que os tinha alimentado e que ficava junto àquela casa improvisada. Paul entrou no perímetro da habitação e começou a recolher os instrumentos musicais. Primeiro as guitarras com as faixas, que foi enfiando pela cabeça colocando-as a tiracolo. Depois dessas duas, a viola-baixo. O peso foi-se impondo ao seu corpo fraco e cansado, os joelhos protestaram. Agarrou nas baquetas com a mão esquerda, agarrou na guitarra acústica com a mão direita. Pensava em John e ficava muito preocupado. Não iriam sair da ilha sem ele. Se ele tivesse sido capturado teriam de regressar àquela infame floresta e essa possibilidade era dolorosa.

Saiu da barraca. Notou uma sombra.

Imediatamente soube que tinha sido apanhado.

Paul olhou para cima, porque o homem era realmente alto. Um colosso, um gigante, um guerreiro canibal de quase dois metros, com o torso esculpido em músculos bem trabalhados pintado de branco, mirava-o com ferocidade. Todo o seu ânimo se desmanchou como um castelo de areia atingido por uma onda.

As mãos ocupavam-se com as baquetas e a guitarra e não estava a ver-se usar qualquer um desses objetos como arma contra aquele homem ameaçador que possuía uma lança pontiaguda e mortífera que não hesitaria em brandir contra ele para dominá-lo. Estava também carregado e era impossível fintar o homem com o acerto necessário para evadir-se daquelas mãos enormes tendo sobre o lombo aquele lastro.

Logo surgiu um segundo guerreiro e Paul bufou de medo e de desalento.

Baixou a cabeça. Teve um pensamento fugaz e usou-o, sem realmente medir as consequências. Com o pé levantou areia, um súbito revoltear do vento fez o resto e o guerreiro à sua frente ficou com os olhos congestionados. Urrou irritado, levando os punhos à cara para limpar-se, recuando, desfazendo a barreira que o impedia de sair dali.

Paul tentou esgueirar-se, mas ficou-se pela tentativa.

O segundo guerreiro apanhou-o. Lançou-lhe as mãos ao pescoço e apertou.

Paul pediu por socorro, a voz mal se ouvia…

O guerreiro levantou-o no ar, com guitarras e todo o peso suplementar, sem o mínimo esforço. Estrangulado, Paul agitou as pernas, tentava respirar, gemia e ofegava. Aflito, largou as baquetas e a guitarra acústica, levou os dedos às manápulas do negro, quis pontapeá-lo, mas sentia todas as suas energias esvaírem-se, ele também a esvair-se para a inconsciência mais negra. Capturado…

Nisto, caiu na areia e bateu com a testa na guitarra acústica, que funcionou como um despertador forçado. Um braço levantou-o e arrastou-o. Por entre as pestanas entreviu Ringo que o puxava em aflição.

— Depressa, depressa! Outros estão a vir!

Ergueu-se sobre as pernas bambas, aconchegou as duas guitarras e a viola-baixo nas costas, ajustando as faixas de tecido sobre o peito, colocou melhor o saco de dinheiro que usava agora debaixo dessas faixas.

— O que foi que... aconteceu? – perguntou Paul com a voz entaramelada.

— O George tem boa pontaria e atirou com cocos à cabeça desses dois. Estão fora de combate. Vamos, anda! Estão ali mais, estás a ver?

Apontou com a cabeça e, de facto, pela areia, corria uma trupe de cinco guerreiros irritados, na sua costumeira berraria, agitando as suas lanças, tão grandes como aqueles dois que jaziam desmaiados junto à barraca. As pontas metálicas das varas expeliam brilhos, os enormes pés descalços levantavam vagas de areia amarela, formavam um avassalador muro de pujança que vinha para dominá-los. Era uma cena assustadora.

Ringo tinha os braços cheios de frutos e George, com carga semelhante, também com as baquetas e a guitarra acústica que recolhera, corria já em direção ao mar. Entrou água adentro na direção do barco, sem olhar para trás.

— Onde está o John? Onde está ele?!

— Ainda não apareceu – contou o baterista.

Uma lança espetou-se entre eles. Ringo gritou e largou a fugir, Paul seguiu-o. Os nativos não estavam para brincadeiras e se começavam a fazer uso das armas, a coisa ficava definitivamente séria. Se fossem feridos era um enorme problema. Uma segunda lança rasou Paul, apanhou-lhe o casaco e ao espetar-se na areia, prendeu-o ao chão. Com um safanão, rasgou o casaco, soltou-se e prosseguiu. Entrou no mar atrás de George e de Ringo. A água era baixa, abençoadamente baixa e foi a chapinhar pelo caminho afora. Quando despejou as guitarras no barco sentiu-se leve como uma pluma, capaz de alçar voo e de abandonar aquela ilha de loucos com as suas próprias asas. Debruçou-se sobre a borda e deixou-se abater no fundo, entre dois bancos. Com os braços a tremer, içou-se e exclamou:

— John! Não iremos embora sem ele!

George sentava-se à popa, agarrava no manípulo do pequeno motor, pronto para ligar a ignição e partirem. Os cabelos estavam despenteados e encharcados. Num estado febril de agitação e de medo, Ringo olhava para a praia. Repararam que os nativos tinham ficado pela beira-mar, de onde gritavam frustrados e irritados. Nem sequer lançavam as suas lanças na direção deles por temerem perderem-nas nas ondas.

Paul riu-se, nervoso, com a atitude dos canibais. Tinham medo da água, os terríveis selvagens desgraçados, malditos e assassinos! Apertou os dentes para se deixar daqueles insultos infantis.

Ringo gritou, espetando um braço na direção dos rochedos:

— Ali!

John surgia com uma chusma de negros a morder-lhe os calcanhares. Na ponta da falésia mergulhou, pois ali a água era mais profunda e começou a nadar convulsivamente até aos baixios, para reunir-se a eles.

Paul saltou entusiasmado ao ver o amigo, a quilha rangeu ao afundar-se na areia molhada.

— Ei, vocês os dois, saiam e empurrem o barco para apanharmos água mais funda – pediu George. – Vamos ter com o John e partimos.

Os perseguidores de John também não se aventuravam na água. Ficaram na ponta do rochedo a agitar os punhos e as lanças, a berrar tão frustrados e irritados como os outros que caminhavam hesitantes na beira-mar, de um lado para o outro, pontapeando as ondas mansas.

Ringo e Paul fizeram o que George pediu. Empurraram o barco e este desencalhou-se, por fim, daqueles bancos de areia. Entraram para o seu interior e Paul acercou-se da proa para chamar pelo companheiro que nadava imparável, embora se notasse o seu cansaço. Teria corrido muito pela floresta, como eles.

O alívio deixava-o inerte e Paul sorria. Contudo, o seu sorriso esboroou-se ao notar o que se erguia na água, no rasto de John. Algo escuro, liso e brilhante.

Compreendeu a razão que levava os nativos a evitar o mar. Aquelas águas quentes e cristalinas estavam infestadas… de tubarões. A sua inércia dissolveu-se num calafrio que gelou a camada de suor que o cobria e ele desatou a tremelicar. Arrancou o saco do dinheiro que ainda carregava ao pescoço, inclinou-se sobre a proa e começou a incentivar o amigo:

— Vamos, Johnny… Nada, amigo! Nada e não olhes para trás!

As braçadas de Lennon eram vigorosas e ininterruptas. Mas ele começava a perder o alento e a correnteza do mar obrigava-o a um esforço suplementar. O tubarão deslizava paulatinamente sob a água e conquistava, metro a metro, a distância que o separava do alvo que fixara. Já não era só a barbatana do terrível peixe que se avistava do barco, mas também a mancha sombria do seu corpo esguio e maleável.

— Bate os pés com mais força. Nada, Johnny! Nada, por favor. Continua!

Ringo deu um toque no ombro de George, depois de apanhar o saco do dinheiro.

— Arranca. Se não formos até ao John, ele não vai conseguir chegar até ao barco. Põe esse motor a trabalhar.

— Nada, Johnny! – pedia Paul a roçar a histeria. – Nada! Nada, Johnny!

Os guerreiros na praia gritavam, censuravam, estrebuchavam.

— Nada!

O pequeno motor soltou um rugido e a hélice começou a rodar, impelindo o barco para diante. John acusava a fadiga, os braços moviam-se em desacerto, batendo na água em palmadas, sem lograr o objetivo de o fazer avançar na superfície líquida. Perdia o alento. O tubarão aproximava-se, atraído pelo barulho e agitação das chapadas…

Esticando-se sobre as ondas, Paul e Ringo alcançaram John ao mesmo tempo e puxaram-no para o interior do barco.

Movendo o leme, George descreveu uma volta apertada e, aumentando a potência, arrancou na direção do mar alto. O tubarão desinteressou-se ao ver a sua presa perdida e afastou-se, a nadar elegantemente. John cuspiu água. Estava parcialmente sujo de lama e usava o pequeno osso nos cabelos emaranhados. Balbuciou, deitado de costas sobre um banco:

— O que é que vinha atrás de mim?

O barco prosseguia na direção do vasto horizonte, abandonando a ilha.


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Notas finais do capítulo

...E podemos respirar!
Uma fuga bastante emocionante que, felizmente, acabou em bem.
Por pouco o John não ficava sem um pedaço...
Os quatro rapazes abandonam a ilha... mas não se esqueçam de que o barco não tem muito combustível. O que lhes irá acontecer?

Próximo capítulo:
O sol que brilha no céu.