Três em um escrita por Mente suicida


Capítulo 22
Nada está dando certo




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Algumas horas se passam e eu continuo naquele mesmo lugar sem esboçar nenhuma reação. Por fim, eu decido ir a procura dos dois e não encontro.

Eu nunca senti esse vazio que estava sentindo. Não sabia o que fazer e muito menos onde poderia encontra-los. O fato era que naquele estado eu não tinha condições de trabalhar. Portanto, decido voltar para casa.

No meio do caminho, ainda com o coração apertado, a mente uma bagunça e os olhos cheios de lagrimas, lembro-me que não podia voltar para casa. Lá eu também estava em conflito com minha mãe e o que eu menos queria nesse momento era ter que explicar o motivo de está chorando.

O único lugar que me restou foi meu refúgio. Meu prédio estava lá, do mesmo jeito que deixei. Então eu deito na rede que havia colocado recentemente, mas passa um filme pela minha cabeça. Eu sinto raiva de mim mesmo e com um ato totalmente infantil, destruo tudo de novo que tinha feito naquele lugar.

Ainda restava uma lata de tinta vermelha no canto da parede e eu pego e jogo em cima dos novos desenhos que tinha feito. Inclusive, o de nós três.

Depois de muita revolta comigo mesmo, eu pego no sono e só acordo no dia seguinte com o mesmo problema. A visão era embaçada e tudo que eu conseguira ver era uma forte luz causada pelo sol. Fico alí por longos minutos, como faço todos os dias até conseguir voltar a enxergar e ir para casa.

Era por volta das 07:00 horas da manhã quando cheguei. Minha mãe e Tacy estavam dormindo, o que facilitou para eu correr pro quarto e me trancar. Fiquei assim o dia todo, ouvindo a música de Zayn-Pillowtalk no último volume. Essa musica me fazia lembrar de Gustavo, pois foi ele que tinha me apresentado. O volume e a repetição incomodou minha mãe e acho que a Tacy também. Minha mãe ficava batendo na porta do quarto e pedindo para eu abaixar, mas ela era totalmente ignorada por mim.

No terceiro dia de muita "bad", resolvo conversar com alguém e não poderia ser outra pessoa. Chamei Tacy para meu quarto e expliquei tudo que tinha acontecido.

—- Primo, enxuga essas lagrimas. Não é a primeira vez que vocês três brigam - Ela tentava enxugar minhas lagrimas.

—- Não, Tacy. Dessa vez é diferente!

—- Então faz o seguinte, levanta essa bunda da cama, toma um banho e vai trabalhar. Talvez eles já tenham te perdoado. - Tacy me puxou pelo braço.

Como eu seguia a risca todos os conselhos da minha melhor amiga e, como sempre dava certo. Eu fiz o que ela me pediu. Levantei, tomei banho, comi alguma coisa e corri para empresa. Dessa vez, Gustavo não tinha chegado cedo como ele costumava fazer. Fui para o nosso banco e Bianca também não estava. Resolvi sentar e esperar pelos dois.

Conforme as pessoas iam passando, era nítido o olhar de julgamento de todos. Estavam sempre sussurrando algo no ouvido do outro. Todos já estavam sabendo do que tinha acontecido. Que eu era gay, que eu trai Bianca e Gustavo ao mesmo tempo. Sabiam que eu estava fazendo os dois sofrerem. Tudo isso foi motivos para julgamentos. Pessoas que eu conhecia, preferiam não falar comigo. Inclusive Suzany, Paulo, Helena, Larissa e Adriely.

De longe, eu avistei Gustavo chegando sozinho e eu corri a seu encontro.

—- Gustavo, por favor. Me escuta! - Eu implorei atenção e fui ignorado - Olha para mim, cara. Tenta me ouvir, pelo menos. Você não precisa falar nada, só me escuta.

Eu fiquei a sua frente, atrapalhando o caminho, segurei suas duas mãos e comecei a falar.

—- Eu juro que nunca tive a intenção de te trair. Naquela boate eu encontrei aquele menino por acaso. Ele que me beijou, eu não queria, eu juro. - Tentei abraça-lo, mas foi em vão - Não faz isso, Gustavo. Está doendo muito.

—- Está doendo em você? Imagina em mim? - ele me empurrou - Sai da frente, eu quero passar - Os passos deles são acelerados, mas é interrompido.

—- Eu te... - Gritei, mas não consegui terminar a frase.

—- Tu o que? - Ele para - Tá vendo? Nem isso tu é capaz de dizer. Adeus Miguel, não fala mais comigo.

Eu estava ouvindo essa palavra (incapaz) novamente e estava começando a acreditar que realmente eles estavam certos. Talvez eu não conseguira amar ninguém. Até minha mãe eu era incapaz de dá uma trégua e me reconciliar com a mesma. Realmente, eu era um merda.

Fui andando até chegar em meu ambiente de trabalho. Porém, fui impedido pelo gerente, que ao me ver, me levou para sua sala e me deu a maior bronca devido as faltas. O mesmo me puniu com uma suspensão de um dia e me ameaçou ser despedido caso acontecesse novamente.

Como não tinha estrutura para mais nada, decidi não esperar Bianca e fui correndo para casa. Ao chegar, Tacy me abordou.

—- O que está fazendo aqui a essa hora?

—- Eu fui suspenso.

—- Mas conseguiu falar com os meninos?

—- Só com Gustavo, mas não foi como você falou - Eu estava desanimado - Deixa pra lá, vou tentar dormir um pouco.

Entrei no quarto, peguei o celular e fiquei vendo nossas conversas, nossas fotos e os vídeos que costumávamos fazer quando estávamos juntos. Fiquei assim até decidir mandar várias mensagens para Bianca, onde explicava tudo que tinha acontecido e pedia desculpas. Porém, eu não obtive retorno de nenhuma. Isso doeu, mas terminei pegando no sono.

No dia seguinte, acordei, fiz as mesmas coisas de sempre (comer e tomar banho) e voltei para o quarto, onde fiquei lá o dia todo.

A semana se passou rapidamente, mas o desprezo dos meus amigos, não. Eu vivia sozinho na empresa, Todos que passavam me julgavam com olhares. Bianca estava sempre no seu canto com seu "namorado'. Gustavo por sua vez, estava sempre com aquele lindo sorriso no rosto e cercado por pessoas. Era duro ver cada um no seu canto, pois Bianca e Gustavo também estavam intrigados.

Quase todos os dias eu mandava mensagens via WhatsApp, até ser bloqueado pelos dois em todas as redes sócias. Todas as vezes que os via passando no corredor, eu tentava falar, mas nenhum me ouvia. Tudo isso foi me magoando muito. Até que, com o passar do tempo, eu fui me desgastando e cheguei ao ponto de não aguentar tanto desprezo.

—- Olá, vim pedir demissão.

Eu entrei na sala do rh da empresa e pedir minhas contas. Assinei tudo que tinha para assinar e sair correndo daquela empresa. Peguei um ônibus e fui para meu refúgio. Ao chegar, percebo que existem vários homens trabalhando no local. O redor do prédio estava todo cercado e com informações de uma empresa de construção, na qual nunca vi. Eu vou em direção a uma cabine improvisada, como se fosse uma portaria ou sala de administração e abordo um rapaz que estava presente. Faço algumas perguntas e descubro que o prédio foi vendido para um empresário de sucesso, onde construirá uma faculdade naquele local.

Parecia que tudo estava contra mim. Mas as coisas ruins não estavam nem perto de chegar ao fim.

Como não tinha emprego, não tinha amigos, não tinha paz na minha casa, não tinha mais o único lugar que me trazia paz. Decidi encher a cara em um bar próximo dalí.

Eu entrei, sentei em um balcão e pedi uma cerveja. Fiquei pensando em tudo que tinha acontecido comigo no ultimo mês. Mas meus pensamentos foram interrompidos por alguém que segurou meu ombro.

—- Olha quem está aqui, André. - Lucas avisa para o amigo.

Lucas era meu parceiro que foi morar longe com a esposa e André um dos meus melhores companheiros de ciladas do tempo de escola. Os dois faziam parte do cativeiro, onde usávamos para nos drogar e fazer festas.

—- E ai brother - cumprimentei Lucas - Fala ai André, quanto tempo. - Tentei cumprimentar André também.

—- Não toca em mim, sua bichinha incubada - André é grosso e se recusa a estender a mão para cumprimentar.

—- Que isso André, é o Miguel. Tá estranhando? - Lucas fica sem entender a atitude do amigo.

—- Eu não quero papo com esse veado - André volta com a grosseria - Eu peguei esse cara beijando outro, pô - Ele explica o que tinha visto algum tempo atrás quando desceu a rua de moto e me viu com Gustavo.

—- Que porra é essa, Miguel, virou a casaca? - Lucas riu e até então levou como brincadeira.

—- Eu peguei ele beijando um frango horrível. O cara parecia uma libélula e virava tanto a mão que pensei que ia quebrar - Ele tentava me provocar.

—- Cala a boca André. - Tentei o fazer parar.

—- Então é verdade, Miguel? - Lucas se afasta - Tu é bicha mesmo, caralho. Sai daqui.

—- É verdade, mano. Tá vendo que ele não fala nada? Esse cara é um veado. - André estava provocando.

—- CALA ESSA BOCA, ANDRÉ... OU ENTÃO... - Eu me levando da cadeira.

— Ou então o que? Você vai me dar uma surra de bunda? Eu não como cu de bicha, parceiro - As provocações de André eram constantes - Seu veadinho de merda, papa frango, bicha incubada.

Ao ouvir tantas provocações, eu não aguentei e parti para agressão. Dei um soco no rosto de André que o fez dá dois passo para trás. Ao sentir a dor, ele levou a mão à boca e percebeu que estava sangrando. Então não pensou duas vezes e revida, me dando um soco no lado esquerdo do meu rosto, onde me faz tombar e ir encontro ao balcão onde eu estava sentado. Eu me levanto e volto com a agressão, onde tento socar sua cara novamente, mas é em vão. Ele se esquiva e me atingi com um chute na barriga. Logo após, recebo um outro golpe por trás. Dessa vez, Lucas se intromete na confusão, me dando um forte chute, onde me faz cair. André ao me ver no chão, sobe em cima de mim e faz vários golpes contra meu rosto.

Eu tento reagir colocando os braços na frente, mas é em vão. Ele estava decidido de destruir toda minha face. Eu olho para o lado e vejo algumas cadeiras caídas, tento pegar a que estava mais próxima, mas Lucas me impede e não deixa ninguém separar a briga.

Por fim, recebo o golpe quase fatal, onde me faz perder todos os sentidos.

Eu acordo no hospital, mas não consigo ver absolutamente nada. Percebo que um dos meus olhos está com curativo e estou com fortes dores na cabeça, devido alguns pontos que levei. Então tento me levantar, mas vejo que estou com um braço imobilizado que me impossibilita de fazer tal ato e então alguém vem em minha direção.

—- Filho? Graças a Deus que você acordou - Dona Julia levanta-se da cadeira ao lado.

—- O que houve? Há quanto tempo estou aqui? - Perguntei ainda tentando me levantar.

—- Você está desacordado há um dia, mas graças a Deus está tudo bem.

—- Então por que só estou enxergando com um olho e o outro está com curativos? - Perguntei, já imaginando o que estava acontecendo.

— Miguel, isso é algo muito delicado! - Ela alisava meu rosto me fazendo carinho - Na briga que você teve com André, aquele seu amigo que eu falei mil vezes para se afastar, quase te matou. A sorte que o dono do bar conseguiu tirar ele em cima de você. O problema é que ele te bateu muito no rosto e, um dos golpes feriu seu olho, onde já foi feito alguns exames e estou esperando o médico entregar.

—- Eu estou com a possibilidade de ficar cego?

—- Não sabemos ainda, só depois dos exames!

Ficamos alí conversando sobre o que tinha acontecido com Lucas e André. Mas descubro que eles não sofreram nada e minha mãe ficou com medo de denunciar devido ao histórico dos dois. 

Passaram-se algumas horas, recebo visita de Tacy e a noite, por volta das 20:00 horas, o médico chega com o resultado dos exames.

—- Eu não tenho boas noticias para você, garoto. - O medico já entra falando e fechando a porta.

—- Fala logo doutor, eu vou ficar cego? É isso?

—- Sim! Você perdeu totalmente a visão do olho esquerdo, onde para você voltar a enxergar, só com um transplante de córnea. - O médio tinha sido curto e grosso.


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