Três em um escrita por Mente suicida
— Miguel?
— Oi Bianca, pode falar...
— Me desculpa por ter ido com Renato fazer a tatuag...
— Tá tudo bem, Bianca! – interrompo – Esquece isso, por favor. Tu já foi mesmo.
— Que bom que você não ficou chateado. Eu posso te visitar amanhã? – Perguntou
— Pode sim! Mas eu não estou doente – Risos – Tu vem sozinha? – Perguntei estranhando a atitude da garota que morria de medo de andar sozinha
— Sim, vou! – Bianca respondeu
No dia seguinte, acordei sentindo uma claridade diante dos meus olhos. Era um bom sinal, pois significava que já estava voltando a enxergar novamente. Ao abrir o olho direito, pude observar todo meu quarto. Era muito bom poder ver toda aquela bagunça novamente, mesmo estando tudo ainda embaçado. Levantei bastante feliz, fui em direção ao espelho e tirei o pequeno curativo que tinha feito no dia anterior para proteger da infecção. Ao tirar, pude perceber que inda estava inchado e não conseguira abrir os olhos.
— Miguel, tenho uma noticia para te dar – Falou minha mãe, me olhando do outro lado da mesa enquanto tomava o café da manhã.
— Eu também tenho que te dizer uma coisa...
— Tua tia me ligou a dois dias atrás perguntando se a gente podia aceitar a Tacy passar um tempo morando conosco, enquanto ela faz faculdade de psicologia – Deu a noticia com animação – É bom que ela me faz companhia – completou.
Tacy é minha prima e melhor amiga. É um ano mais nova (19 anos), tem cabelos pretos e longos. É baixinha e sabe de todos os meus segredos. Desde criança, sempre nos damos muito bem e compartilhamos momentos inesquecíveis. Ela precisou morar no interior quando sua avó paterna faleceu. Fazendo seu pai, sua mãe e irmã ir morar no interior da cidade para cuidar do seu avô idoso que agora tinha ficado sozinho, sem a companheira de longas datas.
— Que legal, mãe! Por isso a senhora estava arrumando o outro quarto? Quando ela vem? – perguntei.
— Sim! Ela vem hoje mesmo – Respondeu – Mas me fale o que você tem para dizer também – Perguntou.
—É que aquela menina que a senhora conheceu alguns dias atrás, está vindo ai me visitar hoje.
— Sua namorada? – Minha mãe pergunta mostrando uma felicidade através de um grande sorriso.
— Não! Ela não é minha namorada. – Sorri – Mas é ela mesma!
— Não importa, mas pelo menos ela está te mudando, eu acho.
— Como assim? Eu não mudo por ninguém. – Respondi com um tom meio grosseiro.
— Tu não percebe, mas está. Até parou de fumar mais, não está saindo para passar a noite fora – Levantou alguns fatos observados pela mesma.
— A senhora está enganada. Inclusive, preciso ficar bom desse olho logo, pois neste fim de semana tem um show de o Rappa no centro e todo mundo vai para esse show – Mudei a percepção da minha mãe.
Eu aproveitei que estava sem fazer nada e estava novamente enxergando, peguei meu celular para atualizar as redes sociais. Tive uma surpresa quando vi uma nova solicitação de amizade de Augusto. Não demorei pensando e logo voltei a bloquear o mesmo.
Após algumas horas, pude receber minha prima em meus braços novamente, depois de dois anos sem vê-la. Levei-a para mostrar o quarto que estava arrumado a sua espera.
— Tacy, senta aqui – falei levando-a para sentar na cama – Tenho bastante coisas para te falar. Tu já perdeu a virgindade? – Perguntei sorrindo e zoando com a cara dela.
Fomos interrompidos pela minha mãe...
— Miguel, tua namorada está ai com um garoto estranho – A dona Julia falou se encostando na porta e mostrando está insatisfeita com o perfil do garoto que viu.
— Garoto? – perguntei me fazendo a mesma pergunta.
— Você está namorando, primo? – Tacy perguntou.
— Não! Tas louca? Ela é só uma ficante – respondi – Espera ai que eu volto já com ela para te conhecer.
Indo em direção a entrada da casa, já imaginava que o tal menino estranho seria Gustavo. Mas precisei ter certeza. Ao abrir o portão, pude ver duas pessoas com o sorriso maravilhoso em minha direção. Mas depois de alguns segundos pude perceber que o sorriso exposto pelos dois, seria de zoação por ver um dos meus olhos bastante inchado.
— Não olhem para meu olho, isso é sério! – dei uma leve risada – Vamos, entrem – Puxei os dois.
— Eu não sabia que era tão grave assim, Miguel – Falou Gustavo tocando em meu rosto.
— Não é tão grave, só tenho a possibilidade de ficar cego – Dei uma risada – Venham os dois, vamos para o quarto, preciso que conheça uma pessoa.
— Só está chamando Bianca ou eu também? – Gustavo perguntou cruzando os braços
— Não idiota, tu também, vem! – Peguei pelo braço – Essa daqui é a Tacy, aquela prima que falei a vocês – Apresentei
— Oi gente – Tacy virou-se para ver os dois e deu um sorriso simpático.
— Tacy, essa aqui é Bianca, minha... – Não continuei – Esse é o Gustavo, meu amigo chato
— Prazer – Tacy respondeu dando um abraço nos dois.
— Gente, próximo final de semana vai acontecer um show do Rappa. É um show gratuito e vocês vão comigo, certo? – perguntei meio que dando uma ordem – Bianca agora é vida louca, Tacy vai comemorar sua volta e você também vai Gustavo? – perguntei
— Eu não vou. Não gosto dessas coisas – Gustavo respondeu.
— Eu também não gosto, Miguel – Tacy também respondeu.
— Vocês são um saco... E tu Bianca, vai? – Perguntei.
— Não sei. Vou precisar inventar alguma coisa para minha mãe.
Durante algumas horas, passamos o tempo todo sorrindo e conversando, Tacy ficou bastante a vontade com Bianca e Gustavo. Estávamos todos muito felizes. Porém, chegou a hora dos dois amigos irem trabalhar. Então fui levar os dois até a porta e ao abrir o portão, demos de cara com Augusto, que fixou um olhar vidrado em minha direção. Gustavo percebeu o olhar daquele outro menino gay e me olhou aparentando está me perguntando quem seria. Logo, ignorei a situação e me despedi de Bianca com um pequeno selinho, fazendo Gustavo virar a cara. De longe pude observar que Augusto fez o mesmo e Tacy de longe observava a situação.
— O que foi aquilo, Miguel? – Tacy perguntou.
— É uma longa história...
Minha mãe ficou o tempo todo sentada no sofá da sala enquanto todos nós conversara dentro do quarto. Foi muito simpática durante a presença dos dois amigos. Porém, eu pude observar que tinha algo incomodando a mesma e eu já imaginava o que seria.
— Miguel, vem cá! – Dona Julia estava me chamando
— Diga mãe, pode falar – já sabia o que se tratava
— Tu agora é gay? Por isso não quer ficar com aquela garota linda? – Questionou com um tom de autoridade
— Não mãe, claro que não! Sou homens e gosto de mulheres.
— Eu comi o pão que o diabo amassou para poder te criar como um homem, sozinha. Depois que teu pai foi embora. Aceitei as putas que você trazia para dentro de casa. Aceitei a vida que você levava, quando saia em um dia e voltava após dois dias. Sei que você usa maconha e ainda tento digerir essa informação. Mas ter um filho gay dentro de casa é muito para mim. Fique longe desse menino.
— A senhora está louca? Agora vai querer me proibir de ter amigos? Nem se a senhora quisesse. – Falei revoltado com os julgamentos – Eu não sou gay, já disse... Agora pare de falar essas coisas, pois eu não vou me afastar dele. Ele é meu amigo a senhora querendo ou não e ele é uma pessoa normal igual a qualquer outra. – Respondi inconformado com a posição da minha mãe.
Entrei para o quarto batendo a porta, até que Tacy a abriu e sentou na ponta da cama e ficou me olhando por alguns segundos, até me perguntar:
— Você é gay, primo?
— Não, Tacy! Acho que não.
— Vai Miguel, então quem é aquele garoto que te encarou alí na frente? Porque teu amigo transbordou ciúmes quando viu? Porque tu trata Bianca com frieza? – Tacy fez mil perguntas enquanto trancava a porta.
— Calma Tacy – risos – É bem complicado.
— Tenho todo tempo do mundo. Só vou levar a documentação na faculdade mais tarde. Pode falar!
— Bem, eu conheci Bianca e Gustavo há alguns meses atrás. Eu não sei o que rolou comigo quando vi aqueles dois. Eles ficavam no canto da sala conversando e sorrindo como se tivesse se conhecido a tempo, mas não. Então eu tentei me aproximar, dando em cima de Gustavo pelo whatsapp, mas pedi segredo. Porém, no outro dia Bianca já sabia e veio me perguntar de quem eu fiquei afim e eu terminei dizendo que foi por ela. Eu tive medo por nunca ter ficado com meninos e não queria isso. Depois disso Gustavo ficou com raiva de mim até rolar uma confusão com aquele menino que tu viu me olhando lá na frente
— Nossa, mas você sempre me disse que sentia alguma coisa quando via alguns meninos bonitos... – Tacy lembrou de outra conversas – Mas conta sobre o rolo do outro menino...
— O nome dele é Augusto, eu conheço ele de vista desde o tempo da escola, mas nunca senti nada porque ele é muito bichinha. Mas durante aquele evento que rola todos os anos, o carnaval fora de época, eu reencontrei ele algumas vezes e teve umas trocas de olhares e ele me mandou uma mensagem que eu custei para responder. Depois de um tempo eu respondi e a gente se tornou "amigos" até eu descobri que ele namorava e que o namorado trabalha na mesma empresa que eu e pegou conversas nossa. O mesmo me procurou na empresa e falou sobre o fato para um garota que eu estava afim e para Gustavo...
— Nossa primo, que loucura...
— O pior que depois eu beijei esse menino na casa dele e logo após me torturei por isso. Até que Gustavo se aproximou de mim por causa dessa situação e foi ai que decidi não ter contato com Augusto. Porém...
— Tu está gostando de Gustavo? – Tacy perguntou continuando o que eu iria falar.
— Não, acho que não, sei lá, talvez. – Respondi com a mesma confusão que estava na cabeça – Estou fazendo tudo errado, me ajuda! – Tentei segurar a aflição enquanto falava.
— Você precisa se decidir. Se quiser ficar com Gustavo ou Bianca você tem meu apoio. Só acho que você deve se afastar desse Augusto. – Aconselhou – Seja quem você quiser ser ou ficar, eu vou está do seu lado o tempo todo e outra, não tenha medo dos julgamentos das pessoas, pois o importante é você ser feliz – Falou enquanto me abraçava.
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