Socorristas escrita por BlueBlack


Capítulo 53
O cúmulo




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Nelly estava trêmula e tonta com a dor, e perdera o foco de pelo menos dez minutos do falatório de Garent por causa disso. O Sardento enrolara sua mão firmemente com um pano, mas estavam longe de parecer que se importavam com o ferimento. Estavam só garantindo que ela não desmaiasse e acabassem tendo apenas Gally para lhe dar respostas. Frequentemente ela sentia um tipo de arrepio subindo de dentro da carne restante até a sua espinha, e gemidos involuntários lhe escapavam quando acontecia. Mike teria que aguentar longas lamúrias dela, se saíssem vivos da fábrica.

A parede agora possuía um anagrama com “Perenelle” também.

 — Ela vai parar com isso, não é? – o Ruivo questionou durante um intervalo silencioso de Garent quando ela soltou outro gemido.

Gally tentou falar, mas não conseguiu. Seu rosto estava coberto de hematomas e sangue. Garent havia tirado o raciocínio do Clareano também com toda a pressão psicológica feita aos gritos e acusações, humilhações e invasão de privacidade. Garent sabia metade da vida de Gally sem precisar de uma palavra do garoto, apenas a expressão corporal.

O líder sentou na cadeira, alternando o olhar entre os dois reféns.

 — Seu pai não ia gostar de te ver como um derrotado assim, estaria pedindo para apanhar mais. E sua mãe não negaria ajud-

 — Pare… - Nelly murmurou, interrompendo-o logo que ele se voltou para falar com ela. Sua voz estava fraca, mas a súplica era consistente o bastante para que ele prestasse atenção e a deixasse falar. Nelly inspirou rapidamente duas vezes para soar mais firme. — Nunca sentiu uma necessidade colossal de ajudar alguém, como se você estivesse em cheque? Como se isso superasse todos os pecados que já cometeu? Nunca sentiu que trocaria qualquer coisa… uma parte do corpo, uma vida, o que você sempre quis, só para voltar no tempo e fazer de tudo para não ter esse cheque? E a sua dor é tão grande e escura e abissal que você tenta culpar outra pessoa, crucificar mais o CRUEL do que ele já é, mas você…

Garent sacou a arma e apontou para a cabeça de Nelly, que segurou o ar para se calar.

 — Diga mais uma palavra sobre isso e estouro sua cabeça. - ele ameaçou. Ele e Hilston se retirariam do local se já não estivessem habituados com a tal dor de que ela falava.

Gally começava a sentir que tanto ele e Nelly quanto os homens estavam andando em círculos ali. Achava que já tinham enrolado o suficiente para Thomas e os outros fazerem algo a respeito do sumiço deles. O antigo Construtor nunca torceu tanto pela imprudência de Thomas.

Gally olhou para o dedo sangrento de Nelly excluído no chão, já que ninguém se deu o trabalho de pegá-lo, e o viu tremendo ligeiramente sobre o cimento, talvez por causa da aproximação do trem no subterrâneo. Sua mente se iluminou.

 — Nosso grupo soma mais de quarenta pessoas. – ele disse de repente, mas sem emoção, chamando a atenção de Garent. — Eu não gostaria de arriscar tanta gente reunida num lugar só.

Garent riu fraco.

 — Nós nos garantimos. – respondeu.

 — Só estou dizendo. Você precisou de concentração para tirar informações de nós dois. – Gally rebateu, sustentando com firmeza o olhar do líder.

Garent semicerrou os olhos para o Clareano, tentando decifrá-lo.

 — Temos alguns anos de experiência a mais que vocês, isso ficou óbvio com a prematuridade do seu plano. Sabemos lidar com imprevistos, mesmo eles sendo tão desagradáveis. – o moreno replicou com um sorriso cínico.

Gally balançou a cabeça e desviou o olhar para dar mais tempo a si mesmo para escolher as melhores palavras.

 — E quantos homens vocês perdem na batalha desse jeito? – indagou.

Garent fazia de tudo para entender aonde o garoto queria chegar e manter-se à frente dos dois reféns. Hilston se aproximou por trás dele, observando atento e rancoroso o Clareano, até tocar discretamente o braço do parceiro. Garent se virou totalmente para lhe dar atenção, percebendo que Hilston tinha algo em mente. Eles se afastaram dos Clareanos.

 — Se ele estiver dizendo a verdade, possuem dez pessoas a mais do que nós. – Hilston disse num sussurro. — Não quero envolver os civis nisso, por melhor que lutem.

 — Aprenderam a lutar por causa de situações assim. – Garent rebateu.

 — Não vou deixar que as crianças dessa cidade se tornem órfãs por uma briga com esses moleques! – ainda que falasse baixo, Hilston conseguiu soar ameaçador. Não havia cartada melhor para convencer o líder. Aquele dia estava lhe rendendo memórias de Philip mais que qualquer outro.

Garent se voltou para os reféns e tomou um minuto inteiro para observá-los. Gally fez de tudo para não deixar suas verdadeiras intenções transparentes.

Nelly olhava para o amigo na tentativa de entendê-lo, mas aparentemente precisaria ser esperta para improvisar.

 — Diga onde seu chefe está para termos uma conversa de adulto. - Garent disse a Gally.

O Clareano encenou muito bem uma careta de agrura e respondeu:

 — Ele está com o restante do grupo todo. Se virem vocês se aproximando, não vão hesitar em matar de uma vez aqueles seus que enganamos.

Garent sustentou o olhar do Clareano, sem perder a concentração para captar qualquer sinal de mentira. Por fim, acenou para Buldogue e o grandalhão soltou uma das mãos de Gally, e assim ele pôde receber o comunicador. Os homens apontavam armas e facas para ele, prontos para conter qualquer movimento brusco.

Nelly viu o amigo configurando o comunicador para que pudesse fazer ligação com seu grupo e, ao imaginar quem atenderia, ela teve uma ideia. Olhou para as paredes à procura de algum nome sem o símbolo de caveira, ou seja, (ela supunha) algum que ainda estivesse vivo. Garent não simpatizaria com a ideia de que um daqueles que foram torturados agora liderava um grupo de quarenta pessoas contra ele.

 — Acha que Katus vai largar aqueles caras lá para vir até aqui? - ela perguntou a Gally após desmontar um dos anagramas na parede. Ele parou de mexer no aparelho e olhou para ela, e Nelly tratou de continuar. — Você sabe como ele é durão, vai querer manter os olhos em tudo.

 — Apenas contate-o. – Garent disse, impaciente.

 — Ele pode trazer um dos seus como ameaça e fazer uma bela bagunça com isso. – ela insistiu, fazendo de tudo para ignorar a dor e a preocupação com sua mão. — Acredite, ninguém consegue a plena confiança dele, e ele está muito bem acostumado a ser enganado por pessoas como vocês.

 — Não me interessa, ande logo-

 — Onde... conheceram... ele? – Yhani perguntou, fitando Perenelle com intensidade. Ela o encarou, pensou por cinco segundos em tudo que não podia dizer e venceu a intimidação do homem.

 — Eu cheguei ao grupo mais tarde, não sei de onde ele saiu. Mas é o cara mais assustador que já vi. Você olha nos olhos dele e parece estar vendo o inferno que ele viveu. Ele não conta muito, mas sabemos que tem uma história pesada nas costas. – Perenelle não tinha tanta dificuldade em mentir sobre isso, uma vez que carregaria tal história dali em diante.

Gally olhava da amiga, para Yhani, para os outros homens, começando a compreender o objetivo dela.

 — Diga a ele que já temos o Inibidor, mas que precisamos de transporte para levá-lo. É o único jeito de ele vir pacificamente. E assim poderemos ir até o estoque depois também. – a ênfase de Nelly em “transporte” foi leve e ela esperava ter conseguido passar o significado correto a Gally. Mallory precisava trazer a nave.

 — Espera, transporte? – Hilston indagou. — Que transporte vocês trouxeram?

 — Viemos com o trem. – Gally se adiantou.

 — Mentira. – a voz era do Flanela. — A única rota que o trem faz é aos arredores da cidade, nada longe daqui.

Gally abriu a boca para retrucar, mas não teve uma resposta. Nelly estava concentrada em outros detalhes.

 — Que transporte? – Garent pressionou, fitando Gally.

 — Um Berg. – o Clareano respondeu depois de hesitar.

Garent se manteve sério por um tempo, até soltar uma risada fraca.

 — Vocês são do CRUEL, não são? – ele já tirava sua faca outra vez.

 — Nós dois viemos de lá, sim, como fugitivos. Fugimos com o Berg e agora o grupo todo faz uso dele. – Gally não arriscaria deixar os outros Clareanos mais vulneráveis do que já estavam. Ninguém mais precisava de menos uma parte do corpo, àquela altura.

Ele voltou-se para o comunicador, que começou a chiar até ser sintonizado.

 — Sonya? – era a voz de Thomas, claramente perturbado.

 — Ei, Katus, é o Gally aqui. Foi mal a demora para ter uma resposta, precisávamos de tempo. Conseguimos o Inibidor, mas vai ser uma luta tirá-lo daqui, ele é grande demais. Venha com o Berg preparado e deixe os outros cuidando dos homens. Para dar certo, vai ter que ser como entrar num labirinto por um penhasco, cara. Sério, uma verdadeira luta.

O comunicador ficou em silêncio por intermináveis segundos. Gally começou a suar e o coração de Perenelle era tudo que a garota ouvia. Os dois torciam para que o Clareano estivesse entendendo o que Gally queria dizer.

 — Apenas eu? – Thomas disse.

 — É, achamos melhor. Só precisamos tirá-lo daqui, sabe. É mais seguro e discreto. Vamos fazer como Lawrence sugeriu da última vez. – Gally continuou. “Se ele não entender o que isso significa, vou afundá-lo no plong do Minho”, pensou.

 — Vocês estão bem?

Gally olhou para Garent, que inclinou a cabeça significativamente.

 — É, chefe, quase da mesma forma que o Homem-Rato. – seu tom era falsamente indiferente e impaciente. – Melhor terminarmos isso logo.

Mais alguns segundos de completo silêncio.

 — Certo.

Com isso, houve outro chiado e Thomas desligou. Buldogue tomou o comunicador de Gally imediatamente e atou sua mão de volta à cadeira.

 — Por que ele te chamou de Sonya? – Garent perguntou sem muito interesse.

 — Porque Sonya era aquela do outro lado da rua, a única com um comunicador, além de Katus. O plano era que nos reuníssemos a ela depois de pegar o Inibidor, então tudo indica para ele que deu certo. – Perenelle explicou.

Garent assentiu com a cabeça algumas vezes, olhando ao redor, recebendo acenos de confirmação dos parceiros. Os dois Clareanos os observaram, confusos.

 — Tranquem eles no porão. – o líder ordenou e dois homens grandes avançaram em direção aos adolescentes.

 — O quê?! Por quê?! – Nelly exclamou enquanto era libertada das amarras e presa por algemas.

 — Homem-Rato? Entrar num labirinto por um penhasco? Acham que somos estúpidos de não reconhecer um código nisso tudo? É melhor que seus amigos venham preparados para uma luta mesmo, vai ser divertido.

Gally se debateu, até levar um soco na boca do estômago. Nelly quase tentou resistir também, mas ver a arma pronta na mão de Hilston a impediu. Os dois foram vendados e empurrados em direção a uma porta cinza.

Garent esperou até que ela fosse fechada atrás deles para se voltar para seus homens. A cadeira de Yhani se adiantou como sinal de que queria falar primeiro.

 — Você acha... que pode... ser ele? – perguntou.

 — Não pode. Garantimos que Katus nunca mais quisesse ouvir falar de nós outra vez. – o Ruivo respondeu.

 — Se ele encontrou um grupo grande assim, perdeu qualquer medo que Garent um dia pôs nele. – aquele usando camisa social rebateu.

 — Escute. – Hilston se aproximou mais de Garent para tirar sua atenção dos outros, vendo que o namorado ficava apreensivo. — Prendemos ele aqui por umas seis semanas, certo? O cara tinha acabado de sair de uma guerra civil causada pelo Fulgor, nunca tivemos coisa pior com que torturar alguém. Deixamos aquele cara sair daqui de pernas bambas e com medo da própria sombra. Ele nos deve a vida e sabe disso. Não tem a menor chance de estar fazendo parte agora de um plano tão estúpido dessas crianças.

Garent permaneceu calado e desviou o olhar para o chão, até estalar os lábios como alguém que tira uma conclusão rápida e simples.

 — De qualquer forma, temos alguém vindo. Precisamos cobrir as saídas da fábrica e vigiar a chegada deles, pela rua ou pelo céu. Armados. - Garent instruiu, apontando para aqueles que normalmente executavam as respectivas tarefas.

Cada um deles seguiu seu caminho para tomar sua posição, com mais naturalidade do que havia entre o grupo de Thomas naquele momento. Estes estavam reunidos na parte mais isolada da cidade, longe do Berg, da fábrica e da prisão, mas mesmo assim sem sentir muita segurança, especialmente depois do contato de Gally pelo comunicador.

Muitos falavam ao mesmo tempo, certos de que estavam sendo entendidos. Havia muitas interpretações diferentes sobre o código (ou códigos, para alguns), nenhuma muito parecida com a outra.

 — Eles querem que cheguemos atacando de uma vez. - Florence disse.

 — É claro que não. Não ouviu o que ele disse? “Uma verdadeira luta”. Eles sabem que estamos indo, então precisamos ser discretos. - Ferb replicou.

 — Pessoal, até onde sabemos, o grupo de Sonya está com sérios problemas. E Gally falou alguma coisa sobre “quase mortos como o Homem-Rato”... - Caçarola não conseguiu continuar.

 — Sonya e Harriet estão bem. – Brenda afirmou, esperançosa, e olhou para Thomas à espera de um sinal de apoio, mas o garoto apenas conseguiu relancear um olhar preocupado e então voltar a encarar o chão. Desde que perceberam o desaparecimento de Sonya, Harriet, Jorge e Aris, o clima havia ficado mais pesado.

Thomas puxou uma folha de papel onde Teresa havia anotado tudo que Gally disse que podia ser um código. Todos já tinham lido e relido as frases.

 — Não podemos levar o Berg até eles. – foi a primeira conclusão do Clareano. — Newt está lá, sem contar Mallory e os outros que resgatamos. Não acho difícil que naquela fábrica tenha algum míssil para usar contra nós.

 — E o que vamos fazer, então? – indagou uma integrante do Grupo B, que estivera discutindo com a amiga.

 — É, Gally logicamente foi forçado a pedir que apenas um de nós fosse até lá, porque isso é estúpido da nossa parte. Então é o que aqueles homens estão esperando. – a outra emendou.

 — Ótimo, que esperem. É melhor que estejam distraídos. – Minho opinou. 

 — Ele ainda usou aquele nome “Katus”... Tem alguma coisa aí. – Dina comentou, relativamente preocupada.

O silêncio reinou, todos parando por um momento para pensar no que aquilo poderia significar. Teresa puxou um lápis e o papel e começou a escrever a palavra de diversas maneiras, trocando as letras de lugar e analisando cada combinação com as frases. Nada fazia sentido.

 — Não tenho ideia do que possa ser. – ela disse diretamente para a folha.

Thomas balançou a cabeça, decidindo consigo mesmo ignorar isso. Não adiantaria sair adivinhando ou até mesmo criar significados para cada termo estranho que Gally usara.

 — Isso vai ser arriscado. – Andrômeda disse, olhando para o Clareano como se pudesse ler os pensamentos dele.

 — É como as coisas acontecem com a gente. – Mike retrucou.

Thomas voltou-se para o papel.

 — Ele disse “entrar num labirinto por um penhasco”. – murmurou para si mesmo.

 — Gally estava distraído com o plong das calças quando disse isso, ele nem sabe que usamos o Penhasco para sair. – Ferb disse com desprezo. Ele não foi um dos simpatizantes do antigo Construtor na Clareira.

 — Deve saber, Perenelle pode ter contado a ele. – Dina disse.

 — E como ela sabe disso? – Dmitri replicou.

 — Esqueceu que ela e Newt são como David e Adam eram, cabeção? – Louis gracejou, e muitos se sentiram melancólicos por lembrar do mais antigo casal da Clareira.

 — Pessoal, estão se perdendo do ponto aqui. – Thomas os cortou logo. — Qual a única forma de entrar no Labirinto usando o Penhasco?

Todos ficaram quietos para pensar.

 — Pelo CRUEL.

 — Por um salão.

 — Por uma escada.

 — Por um escorregador.

 — Por baixo. – Thomas respondeu. — A linha do trem da cidade está bem embaixo de nós. Talvez ela passe por baixo da fábrica também.

 — A frase pode significar outra coisa. Não sabemos se tem uma passagem estratégica que nos leve da linha à fábrica, e muito menos se é seguro passar por lá. – Teresa impôs.

 — Teresa, não temos certeza nenhuma sobre nada disso. – ele abriu a mão sobre o papel. A garota sustentou o olhar dele por um tempo, reconhecendo que ele estava certo. Thomas fitou a mesa e suspirou. — Vamos ter que improvisar. Vamos montar um plano para entrar e então agiremos da melhor forma com o que aparecer depois.

Teresa tomou a iniciativa de traçar o plano e ficou responsável pela maior parte estratégica dele. Em alguns momentos, Thomas chegava a esquecer que estava magoado com ela e que tinha prometido a si mesmo não lhe dar muita atenção. Naquelas condições, no entanto, era impossível cumprir tal promessa.

 

Gally e Perenelle tentavam não ficar apreensivos dentro do porão da fábrica, mas estava sendo uma tarefa difícil. O cheiro de queijo quase os sufocava, sem contar o ar quente que os fazia suar e os dois ratos que passavam por seus pés a todo momento.

A Clareana estava sentada ao lado do amigo e mantinha sua mão sobre o peito, apontada para cima, e ficava de olhos fechados para prestar atenção nos seus pensamentos e esquecer a dor. Pensar em Sonya e Harriet, contudo, não ajudava. E piorava ao imaginar o que mais podia ter dado errado, a partir do momento que Jorge também fora descoberto pelos homens. Thomas estava vivo, mas tinha ficado claro o quanto estava apreensivo. Quem mais podia ter se machucado ao levar os homens para a prisão? Quem mais podia ainda ser prejudicado por tudo isso?

 — Sua mão não vai acabar necrosando? – Gally perguntou na tentativa de fazê-la parar de respirar daquela forma.

 — Não. Eu devia ter pedido menos sangue se tivessem estancado mais rápido e meu braço não tivesse ficado naquela posição deitada por tanto tempo. Deviam ter me dado um pano molhado em vez de só jogarem água por cima e pode ter certeza que esse não é o melhor lugar para a minha mão ficar no momento, mas não, ela não vai necrosar. – Perenelle queria ter mais o que dizer. Contudo, a perda do dedo era o menor dos problemas deles. Ela passou a mão intacta pelo rosto para tirar o suor e de repente lhe o ocorreu o quão pálida devia estar. — Qual o plano, afinal?

 — Esperava que eu tivesse um?

 — Não. Mas alguma lógica você devia estar seguindo com aquele papo todo.

Gally olhou para a porta de aço à frente deles. Os dois sabiam que havia dois homens guardando-a do outro lado e provavelmente prestando atenção em cada palavra que pudessem captar. O Clareano sentou mais perto dela para poder falar mais baixo.

 — Lembra quando Harriet disse que o trem passa pelo centro da cidade a cada duas horas? – ele disse.

Nelly franziu a testa e olhou brevemente para o chão.

 — Não. – respondeu.

Ele suspirou e revirou os olhos.

 — Ela disse, quando estávamos discutindo sobre vir ou não para a fábrica. Eles estão esperando um Berg, com certeza estão como idiotas olhando para o céu agora. Se os outros entenderam o que eu quis dizer, vão entrar aqui pelos túneis. – Gally explicou.

 — E onde fica a entrada?

Gally desviou um olhar resignado para o chão, piscando.

 — É bom que eles descubram. – disse, e então olhou para ela outra vez.

 — O quê? – a ficha caiu para Nelly e seus ombros caíram também. – Você nem sabe se tem uma, não é?

Ele apertou os lábios e negou com a cabeça. Ela relevou. Havia coisa pior para atrapalhá-los.

 — E quanto ao Inibidor? Não importa o que aconteça, Gally, não saio daqui sem isso.

 — Relaxa. Eu também não. Eles acabarão dizendo onde ele está.

 — E se eles não disserem? E se os outros da prisão escaparem? Sonya e Harriet podem estar mortas nesse momento e tudo que fazemos é seguir um plano que só nós...

 — Eu sei! – ele exclamou, cortando-a com a austeridade de seu tom. Perenelle franziu os lábios e cerrou os dentes para conter as lágrimas, virando a cabeça para o lado oposto ao do garoto. Seu dedo ainda latejava. — Viemos aqui por Newt. E se Sonya e Harriet morreram, é melhor que nenhum de nós desista e faça isso ser em vão.


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