Socorristas escrita por BlueBlack


Capítulo 42
8min13seg Antes do fim


Notas iniciais do capítulo

Olá, narizes!

Estou de volta com o que posso chamar de o "start" para as mudanças em Cura Mortal. Espero que gostem!
E o título é uma referência a um trecho do filme =3

Boa Leitura!



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O caminho até o aeroporto foi bem mais longo e complicado do que eu imaginara. Parecia haver ainda mais guardas do que pessoas nas ruas e foi sorte não ter precisado enfrentar nenhum deles, já que sempre escapava por um triz de ser vista. Não que me faltasse modéstia, mas tinha a impressão de que estavam ali mais por mim do que pelos outros Clareanos que fugiram; Gally não mencionara guardas que estivessem atrás dos meninos, mas cercaram-me na loja logo que cheguei. Eu questionava para mim mesma se realmente ia contra a vontade do CRUEL que todos nós escapássemos e víssemos o mundo real, com o risco dos não Imunes serem infectados e estarem mais ferrados que de costume. Afinal, sempre pareceu que os mais importantes para o Experimento eram os Imunes. Pensar nisso apenas me deixava com mais raiva e mais ansiosa para encontrar Newt, especialmente porque a ideia conhecida como “Chuck” começava a soar mais atrevida que nunca.

 Cheguei ao aeroporto e verifiquei no papel o número do Berg que pertencia a Thomas. Fiquei surpresa por não encontrar algum grupo gigantesco de guardas apenas esperando pelo retorno deles, mas não podia reclamar. Olhei para a porta de carga, depois dei a volta pela nave, aproveitando para verificar se não havia mais ninguém pelas redondezas. Com um suspiro, comecei a bater no casco do Berg.

  — Newt?! – bati em pontos em que o barulho era mais oco, mas alguma coisa já tentava me fazer desistir. — Newt, está aí?!

 Eu continuava batendo, incansavelmente, mal sentindo a dor que provocava. Aquilo me fazia pensar na minha persistência em ressuscitá-lo na Clareira. Aquilo tinha valido a pena.

 Minhas duas mãos agora faziam o trabalho involuntariamente e a vontade de fechar os punhos começava a me consumir.

 Apoiei-me na nave para engolir o nó na minha garganta e fechei os olhos, tentando me acalmar. Bati mais algumas vezes, até com os dedos, como se eu realmente acreditasse que o problema era não estar sendo ouvida.

  — Newt! – berrei com ainda mais vontade.

 Fui até uma das salas de manutenção do aeroporto e levei um pé de cabra até o vão da porta da nave, usando toda a minha força para tentar abri-la. O Berg criou vida com um barulho alto e ela começou a abaixar, mas não era possível que fosse pelo pé de cabra. Larguei o instrumento de qualquer jeito e entrei na nave assim que pude. O primeiro corredor estava vazio e com uma das lâmpadas quebradas.

  — Newt?

 Olhei para o corredor até a cabine do piloto e a encontrei vazia. Fui pelo outro lado, vendo a sala comum escura, mas além da próxima porta havia um quarto com as luzes acesas. Corri para lá imediatamente e estaquei na porta ao vê-lo de pé ao lado de um beliche. Newt. Ele suava muito e tinha o olhar cansado. Sua postura era de alguém que havia vivido uma noite no Labirinto por uma semana. Era de alguém doente.

  — Newt...

 Cruzei o espaço entre nós mais rápido do que pude acompanhar e o puxei para o abraço mais forte que já lhe dera. Entrelacei meus dedos em seu cabelo e seus braços levaram mais algum tempo até me cercarem. O coração dele batia descontrolado contra o meu peito. Podia sentir seu corpo todo tremer, como se o Fulgor procurasse qualquer brecha para sair e berrar.

  — Está aqui... – ele sussurrou, e como eu havia sentido falta da voz dele...

  — Você está vivo... Meu Deus... Está vivo...

 Lágrimas desciam pelas minhas bochechas como uma cachoeira e de repente a última coisa que quis fazer na vida foi soltá-lo. Queria que prendê-lo comigo impedisse todo o horror do mundo de atingi-lo; eu desejava mais que tudo que isso fosse o suficiente para ele ficar bem.

 Puxei-o para uma das camas de baixo, apenas para sentarmos e eu abraça-lo de novo. Já tinha prometido tantas vezes nunca mais ser afastada dele... E se acontecesse de novo, sabia que não o encontraria em tão boas condições.

  — Eles pegaram você... – Newt disse e o segurei pelos ombros para poder encará-lo. Newt chorava, com seus olhos vermelhos. — Bem do meu lado... Eles pegaram você... Eu não devia ter dormido, sabia que isso ia acontecer... Nunca fui um maldito trolho tão imbecil...

 Coloquei minha mão sobre a bochecha dele e forcei meus lábios a ficarem fechados para não soluçar, enquanto as lágrimas continuavam a vir. Meu sumiço era o menor dos conflitos interiores de Newt...

  — Eu não mereço que... A droga do universo escolheu a pessoa certa para contaminar... – ele disse.

  — Estamos fora, Newt. Estamos a quilômetros do CRUEL, logo não vão mais poder nos controlar... Podemos resolver as coisas.

  — Estou cansado de dizer isso e fingir que acredito, Nelly.

 Segurei seu queixo bruscamente e o ergui até poder encarar seus olhos.

  — Acha que foi o único trolho a fingir acreditar que nada aconteceria quando acordássemos? Estávamos cansados. Fui a mais estúpida de todos. Os Criadores manipularam meu ferimento para que saísse por conta própria e fosse direto até eles. Tive minhas memórias de volta.

 Newt começou a assentir com a cabeça e seus lábios esboçaram um sorriso singelo.

  — Você está ótima. É Imune... não é?

  — Estou morta, Newt. Não sei o que é essa coisa dentro de mim que me fez ter forças para vir aqui...

  — Não diga isso. – ele se levantou num único movimento e ficou parado na minha frente, coçando a cabeça com tanta força que sem dúvidas vi alguns fios de seu cabelo caírem. Senti como se uma parte de mim estivesse indo embora ali. — Tem ideia de quantas vezes achei ter ouvido você me chamar, desde que aqueles mértilas me deixaram aqui para dar um passeio na cidade? Por isso abri a porta de carga. Tem uma voz... na minha cabeça... Sua voz, o tempo todo, falando coisas pra mim. – seus dedos estavam dobrados e duros e pude ver que ainda tremia. — Me diz você, eu não deveria ter enlouquecido tão rápido, não é? Precisei de apenas alguns dias desde o resgate do Deserto para entrar num escorregador sem volta direto para a Insanidade!

 Meu coração se partia em mil admitindo que jamais tinha visto tanto descontrole e desespero da parte dele. Ele estava com raiva, mas seus olhos diziam perfeitamente o quão louco por uma solução ele ansiava. O pior era que eu sabia que, para Newt, as soluções não eram todas sobre viver.

 Pisquei pacientemente, mexendo em minhas mãos sobre o colo.

  — As Variáveis podem ter acelerado o processo, Newt. Sua atividade celular para as decisões, a adrenalina e toda aquela mértila podem ter estimulado o vírus a destruir sua amígdala mais rápido...

 Newt de repente soltou uma risada forçada de escárnio e começou a falar muito rápido.

  — Adoro quando me lembra do quão fáceis eram as coisas na Clareira, estudar a gente, dar o diagnóstico e pôr a solução em prática...

 Ele olhou em outra direção com mais uma lágrima descendo por seu rosto, e eu abaixei minha cabeça para o colo.

  — Nunca teria saído daquele lugar se soubesse que estava viva. – ele disse sombriamente para o nada.

  — Como assim? – eu o encarei de novo.

  — Todos nós passamos por uma Terceira Fase individualmente por quase um mês depois do resgate; depois fomos reunidos, Grupos A e B. Você era a única que não estava lá. O Homem-Rato falou de uma aliança entre nós e o CRUEL, quem eram os não Imunes e mais umas besteiras infernais... E quando perguntei sobre você, ele disse que nem todos puderam ficar no complexo.

  — E então achou que eu estava morta? – questionei, incrédula, mas me arrependi ao ver o olhar melindroso dele.

  — Eu procurei quando fugi com Thomas e Minho, mas Brenda estava conosco e ficava dizendo que não tínhamos tempo para isso; que as coisas estavam estranhas e que não podíamos arriscar.

 Continuei encarando Newt, sustentando o olhar dele para tentar acreditar naquilo, mas não dava. Ele já estava arrependido de ter feito isso uma vez, não fazia sentido que Brenda o convencesse a não me procurar.

  — Fale a verdade. – pedi secamente, sem desviar o olhar. — Por que não foi me procurar?

  — Essa é a verdade.

  — Vá para o inferno. Não passei por tudo que passei para chegar até você e te ouvir dizer que Brenda te fez desistir de mim.

  — Eu nunca desisti de você! – ele berrou, salivando e com as veias saltadas no pescoço, o rosto de repente contorcido em ira. — Mas acha que eu quero te reencontrar e ficar gritando com você?! Acha que eu quero que a minha Insanidade se manifeste de todas as formas possíveis para última pessoa que eu queria que me visse assim, mesmo que ela seja a que melhor enxerga o meu maior problema?! Viva ou morta, eu queria você longe de mim... Eu não... – ele tomou fôlego e a raiva se esvaiu de seu semblante. — Não quero que me veja assim.

  — Não vou deixar você sozinho enquanto essa coisa te consome, Newt.

 Ele balançou a cabeça, mordendo os lábios, enquanto lágrimas discretas ainda desciam.

  — Sei que eu vou machucar você. Pode, por favor, me poupar de carregar esse peso até a Insanidade chegar?

 Meus olhos marejaram, mas não deixei ir além. Em vez disso, forcei um pequeno sorriso.

  — Não quero que sofra mais do que está sofrendo, Newt. Só quero ficar um tempo com você.

 Newt encarou o chão, e pude vê-lo mordendo a própria língua ou a bochecha enquanto eu me arrastava para perto do travesseiro, do melhor modo para que minhas costas não doessem tanto, e lhe dei espaço ao meu lado. Após mais um tempo parado, olhando para o nada, ele enfim cedeu e se deitou. Deixei que descansasse a cabeça no meu peito e me abraçasse pela cintura, e fiquei satisfeita, pelas próximas horas, em apenas afagar seu cabelo.

  — Eu senti sua falta, Newt. – murmurei depois de um longo silêncio, sem tentar esconder minha voz embargada.

 Pela primeira vez, nenhum de nós pareceu ver necessidade em contar o que havia acontecido desde que fomos separados. Ficamos só calados, fingindo que fazíamos um bom trabalho em esconder os soluços. Eu tinha tudo para pensar no pior naquele momento, mas percebi que, mesmo naquelas condições, Newt conseguia me impedir de ter paranoias e esperar pela próxima catástrofe. Pedi a mim mesma um tempo para só aproveitar a companhia, o toque e o calor do corpo dele. Contudo, foi em vão. Minha mente não parou de trabalhar nem por um minuto. A ideia-Chuck não me deu um momento de paz, não deixou que eu desfrutasse da provável última chance que eu teria de estar com ele daquela forma.

 Horas mais tarde, a respiração de Newt se acalmou, a tremedeira foi embora e a estranha força que seu braço usava ao redor de mim se abrandou. Pensar na trégua que sua mente teve da corrosão ajudou a fazer o sono me alcançar, e só então fui permitida a descansar.

 

Eu sabia que fugir do CRUEL daquela maneira, enfrentar guardas e uma explosão, encontrar Gally e lidar com aquelas lembranças, sem dúvidas, me faria ter uma boa noite de sono pesado. Mas preferia ter amanhecido já de olhos abertos a precisar abri-los e não encontrar Newt.

 Já tinha vasculhado todo o Berg pelo menos cinco vezes quando, depois de gritar e chamar muito, me convenci de que ele não estava ali. Meu desespero ignorava o pedaço de papel deixado na minha mão com um pedido dele para eu seguir minha vida com os outros e com as lembranças de quem ele era na Clareira. Segundo ele, guardas haviam entrado no Berg e levado-o para viver com outros Cranks. Meu coração estava exatamente como uma britadeira, mas meu cérebro não se dava o luxo de enlouquecer e me fazer quebrar tudo que havia naquela nave. Joguei água fria no meu rosto várias vezes até conseguir normalizar minha respiração e encarar meu reflexo num espelho. Depois, sentei-me com um lápis e uma folha de papel na mesma cama da noite anterior, e deixei que a tal ideia-Chuck fizesse a festa nos meus miolos.

 

Eu não sabia ao certo quanto tempo levou para sobrar apenas fumaça de tudo que passara pela minha mente, mas tive certeza de ser muito, porque não me lembrava de ter visto o sol se pôr quando começou a nascer outra vez.

 Antes que eu pudesse pensar em mais qualquer coisa, a porta de carga do Berg foi aberta e ouvi pessoas entrando.

  —... Por que não segue Jorge e procura por lá? Isto não está me cheirando nada bem... Se as coisas estivessem normais, Newt estaria aqui para nos receber. — Thomas disse da entrada da nave. Eu deveria me sentir extremamente feliz por ouvir a voz dele de novo, mas a verdade era que não sabia ao certo o que estava sentindo.

 Saí do quarto e passei pela sala comum, para encontrar ele e Brenda parados no corredor de entrada. De algum lugar do Berg, Minho chamava por Newt.

  — Ele foi embora. – avisei de uma vez, como se não tivesse caras surpresas na minha frente.

  — Nelly... – Thomas sussurrou, correndo os olhos por mim. — Eu achei... Achei que estivesse...

  — Vamos, não podemos ter um momento de abraços e suspiros? – indaguei sarcasticamente e ele se adiantou para me abraçar por longos segundos. Ao se afastar, parecia se esforçar para não fazer uma careta.

  — Ah, Nelly, não me leve a mal, mas...

  — Você está fedendo. – Brenda completou. Eu apenas fiz um aceno com a cabeça, percebendo.

 Jorge e Minho surgiram de portas diferentes no instante seguinte e estacaram ao me ver.

  — Onde está o Newt? – foi a primeira coisa que o antigo Corredor disse.

  — E como entrou aqui, hermana? – Jorge perguntou.

 Olhei para os corredores de onde eles haviam saído, apreensiva e confusa.

  — Onde está o Mike? – perguntei.

  — Foi levado. – Minho disse prontamente.

 De repente, o pânico me assolou.

  — Por quem? Ele não pode estar...

  — Ele é Imune. – Thomas me interrompeu, calmo. — E estava com a gente, fugiu do CRUEL conosco quando não quis receber as lembranças... Mas foi sequestrado logo depois que chegamos a Denver.

  — Quem o sequestrou?

  — Também queremos saber. – Brenda interveio.

 Soltei um suspiro, tentando voltar ao raciocínio anterior. Não bastava Newt, agora Mike também...

  — Alguém aqui sabe onde fica o Palácio dos Cranks mais próximo? – indaguei para cada um deles, fingindo não tê-los ouvido.

  — Por quê? – Brenda disse.

  — Newt sumiu e deixou um bilhete dizendo que foi levado, suponho que para um lugar desses. Precisamos conversar, mas precisam colocar essa joça em movimento agora.

 Levou vinte minutos para que chegássemos ao Palácio, fora dos limites da cidade, mas não foi suficiente para que conversássemos sobre tudo. Não era fácil contar o resumo da bagunça de papéis amassados naquele quarto, fora explicar como eu tinha ido parar ali e as lembranças principais que tive, principalmente porque Minho não saía da pose de braços cruzados e cara emburrada para mim, batendo um dos pés impacientemente no chão.

  — Isso é um monte de plong. – ele disse ao fim do meu falatório. Ele era o único que se dava o trabalho de ficar em pé. — Newt está lá fora, cercado de malucos famintos por carne humana, enlouquecendo dentro dele mesmo, e você, uma trolha de dezessete anos, tendo acabado de recuperar os miolos antigos, faz a gente perder tempo aqui achando que conseguiu o que anos de pesquisa de cientistas não conseguiram? A cura para o Fulgor?

  — Bom, se até o Minho entendeu, suponho que vocês também, não? – disse aos outros três. Thomas foi o único que manteve contato visual comigo e me senti satisfeita com isso. — Já disse, não tirei essa ideia da cartola. Esse cientista, Finn Guilterson, trabalhava sozinho, não tinha contato com quem se envolveu com o CRUEL. Mas teve acesso ao laboratório em que criaram o vírus e desde então trabalhou numa cura...

  — Porque ele queria ser famoso entre uma população infectada. – Minho supôs com um revirar de olhos.

  — O Fulgor não se espalhou tão rápido assim. Então, sim, ele fez isso só para ser famoso. Mas era inteligente, e com certeza não queria ter o nome manchado depois por algum erro.

  — Devíamos ir procurar Newt.

  — Sente aí! – eu exclamei, ainda que meu coração soasse mais alto. — Leve alguma coisa a sério, pelo menos uma vez, Minho.

  — O que você quer? Reconhecimento também? Teve essa ideia enquanto ficava isolada numa sala maluca por quase um mês inteiro!

  — Minho, calma aí... – Thomas disse.

  — Confiou em mim para cuidar dos Clareanos por dois meses sem nem me conhecer, e sem o menor esclarecimento, e agora não quer sequer me ouvir? – indaguei com ferocidade. — Newt está, sim, lá fora, sozinho, pior que nunca, e pode ter certeza que ninguém quer tirá-lo dessa mais que eu. Só estou pedindo para que escute e revire a ideia nessa sua cabeça de mértila depois.

 Minho olhou para o teto e resolvi que o deixaria fazer o que quisesse a partir de então.

  — De acordo com os registros, ele demorou dois anos para montar a teoria da cura, mas já era quase como o passo-a-passo da prática. Guilterson levou a ideia para vender à mídia, e aí descobriu que quem já mandava em tudo era o CRUEL. Mas eles não a aceitaram...

  — Porque não envolvia experimentos mortais com crianças? – Jorge disse cinicamente.

  — De qualquer forma, Guilterson já tinha uma rixa com alguns cientistas reivindicados pelo governo, e diziam que ele fazia testes sem fundamento, sem medir os riscos, e ele sempre foi impedido de entrar num laboratório profissional. A verdade era que o líder desses cientistas, Joshuan, era irmão mais novo de Guilterson e vítima de uma deformação no rosto, causada por um experimento feito por Guilterson na garagem de casa quando eram mais novos. Joshuan guardou rancor disso e desde então fez de tudo para manter o irmão longe da ciência. É claro que ele não deixaria um experimento de alcance mundial ser levado a sério.

  — E nós vamos? – Brenda indagou.

  — Guilterson nunca matou ninguém. Não há registro de nenhum outro dano causado pelos estudos dele. Sem contar que a ideia dele mal foi avaliada pelo CRUEL. Já tinham começado os planos para os Labirintos, os recursos já tinham sido investidos. Imaginam alguém como a Ava se deixando parecer fraca e confusa perante o governo?

 Eu encarava Thomas e Minho, como se esperasse suas respostas, até que lembrei que não tinham memórias de Ava.

  — Não. – Jorge e Brenda responderam em uníssono.

  — Se o CRUEL não o aceitou, hermana, como pode saber tão bem sobre a teoria e essa história toda? Porque isso me parece mais um tiro no escuro e daqueles! – Jorge questionou.

  — Minha mãe queria se tornar a melhor cirurgiã da História, antes da História se resumir em doença e morte. Como o Braço Direito mantinha infiltrados no CRUEL, ela soube de Guilterson e procurou por ele. Os dois estavam estudando a teoria juntos, quando o laboratório dele foi atacado. Ela salvou as pesquisas, mas ele morreu, e se o Braço Direito até hoje está muito fraco para fazer alguma coisa, imaginem naquela época. Mas ela me contou sobre tudo, guardou o trabalho de Guilterson e só Deus sabe quantas vezes li tudo aquilo. Não era brincadeira, pessoal. Soube de mais detalhes da vida dele depois, quando fui levada para o CRUEL, e tudo se encaixou com o que minha mãe já sabia.

 O silêncio imperou por longos minutos e aproveitei para respirar e colocar meus pensamentos em ordem, ainda que já estivessem tão saturados que poderia desenhá-los.

  — E o que é essa cura? – Thomas perguntou enfim.

 Balancei a cabeça para os lados devagar, apoiando meus cotovelos nas pernas e olhando para o chão, pensativa.

  — É mais fácil mostrar do que explicar, acreditem. Não é um antídoto pronto escondido em algum lugar sob um código mágico, pessoal. É ciência pura e é complicado, leva tempo...

  — E uma coisa que nem nós e nem Newt temos é tempo. – Minho interveio.

  — O CRUEL trabalhou por mais de dez anos para encontrar a cura submetendo crianças às coisas mais absurdas. E todos nós sabemos que não vai sair nada dessa chacina. Estou confiante sobre Guilterson e é um estudo incrível, mas, para ser bem feito, vamos precisar ter paciência.

 Encarei Minho com veemência e ele fez o mesmo de volta, inexpressivo.

  — Está mesmo levando isso a sério? – perguntou.

  — Claro.

  — Nelly...

  — Uma cura? Assim? Depois de todo esse tempo? – Brenda interrompeu Thomas. — Nunca ouvi plano mais ingênuo.

  — Parece bom pra mim. – Jorge deu de ombros.

 Soltei um suspiro e me encostei ao espaldar da cadeira, alternando o olhar entre Minho e Thomas.

  — Vocês dois confiaram em mim por meses, mesmo sem saber da onde vinha o meu conhecimento. Eu nunca errei. É uma chance, pessoal, e não vamos fazer como o CRUEL fez. Eles estavam desesperados e apressaram tudo. Estou segurando essa ideia há quase um mês inteiro, com medo dela, com medo de ter esperança, exatamente com vocês agora. Mas não iam querer que alguém tivesse tentado a tempo de salvar Newt?

 Thomas baixou a cabeça e Minho passou uma das mãos pelo rosto, claramente inquieto.

  — O que você fazia na Clareira era tudo broto do seu cérebro iluminado. – o asiático disse e me encarou. — Mas essa ideia agora não é sua. É de um cara altamente rejeitado por cientistas e assassinado por eles.

  — Como ninguém nunca pegou essa ideia dele antes? – Jorge questionou. — Ele foi até a mídia, falou com o CRUEL... Sua mãe não pode ter sido a única interessada.

  — Não foi. Ela teve problemas para chegar perto dele e conseguir confiança, porque já tinham tentado roubar as pesquisas antes. Eram de um grupo grande, assim como minha mãe era. Mas, pensem bem, com todo o terror do começo da proliferação, acham que havia muita gente pensando em arrombar laboratórios para procurar a cura em armários? A maioria estava preocupada em se esconder e se manter saudável.

  — Ah, eu falo por mim mesmo que tentei invadir lugares assim. Mas, é verdade, no começo, não havia tanta gente esperta. Então... Por onde quer começar? – Jorge indagou.

  — Calma aí, trolho, não atropele as coisas. – Minho disse, erguendo a palma da mão.

  — Dê-nos um tempo para pensar, sim? – Thomas me pediu como quem realmente estivesse encontrando dificuldade em raciocinar. Assenti com a cabeça, reconhecendo que eu mesma precisava reler aquele estudo.

  — Vamos encontrar Newt. – falei por fim, e Minho se movimentou de uma vez só para a saída.

 

Era de dar desgosto que os Palácios dos Cranks tivessem sido projetados com a intenção de dar um refúgio aos infectados, uma última chance de vida decente, e, ainda assim, ninguém se desse o trabalho de fazer disso algo real. Eu entendia que os recursos precisassem ser investidos na busca pela cura, e não em caminhões de Benção para aquelas pessoas. Se eu estivesse na posição do CRUEL, agiria da mesma forma. Contudo, minhas entranhas viraram do avesso pensando que Newt também pagava o preço ali dentro.

 Não foi uma caminhada nada agradável com o falatório dos dois guardas que nos acompanhavam para encontra-lo. As longas viagens a pé pelo país que fiz com minha família até encontrarmos o Braço Direito não foram tão ruins, se comparadas a ficar naquele lugar.

 Enfim chegamos a Zona Central, um espaço circular grande, lotado de pessoas correndo, chorando, rindo, tudo da maneira mais exagerada possível. Limitando a área, consultórios médicos, lanchonetes e lojas sem o menor sinal de funcionamento. Uma luz se acendeu em meio aos meus pensamentos ao ler a placa de um dos consultórios.

  — Onde ele está? – perguntei aos guardas.

  — Logo ali, no salão de boliche. – o bigodudo respondeu, apontando.

 Aproximei-me de Thomas discretamente e murmurei ao seu ouvido:

  — Enrolem um pouco lá dentro se as coisas derem errado, ok? Quero vê-lo. Só vou fazer uma coisa antes.

 Ele me encarou com evidente preocupação e espanto, e eu compreendia, pois não era o tipo de espaço social em que alguém gostaria de ser solitário. Ainda assim, devolvi com um olhar decidido e me dirigi ao ambulatório mais próximo, tentando não chamar a atenção dos Cranks.

 Ignorando toda a destruição ao meu redor logo que entrei no local, fui direto para as primeiras salas de atendimento, procurando por toda parte o que quer que tivesse restado de útil. Ainda que eu colocasse uma infinidade de agulhas, cateteres, espéculo, luvas, seringas, termômetro dentro da pequena bolsinha que Gally havia me dado, eu sabia que não seria o suficiente, especialmente porque o nível de contaminação em que aqueles materiais se encontravam era inimaginável. Além disso, o que realmente me interessava não parecia estar em lugar algum, nem no necrotério. Ele estava vazio, e me lembrei do guarda ter dito que, após atingirem a Insanidade, as pessoas eram deixadas em lugares remotos e abandonados durante a fase mais intensa dos clarões solares.

 Após pegar mais alguns utensílios, saí para a rua outra vez, em direção ao salão de boliche em que os outros estavam, torcendo para encontrar algum laboratório depois. A primeira coisa que fiz ao entrar no local foi tossir com a nuvem de fumaça que subia de chamas ardendo, dentro dos nichos dos pinos de boliche. O salão era escuro, mais sinistro ainda com os gemidos sofridos que saíam de algum lugar fora de vista. Os Cranks estavam deitados com mantas por todo o chão, dormindo ou dopados pela Benção. Avistei os guardas a certa distância de Thomas e os outros, e Newt tinha uma conversa tensa com eles, segurando um Lança-Granadas.

 Abri caminho entre as pessoas para alcança-los, temendo de verdade que a escuridão em Newt já fosse mais profunda do que imaginávamos. Antes que eu me aproximasse muito, outros Cranks, um grupo bem maior que o nosso, o fez, dizendo algo a Thomas e Minho. Mais rápido do que pude acompanhar, eles se atracaram. Thomas se atirou no chão para não ser atingido pelo golpe de um homem, e Brenda apareceu em sua defesa. Como sempre, Minho atacou de verdade, derrubando o homem e ficando por cima dele, os dois sobre uma mulher que lhes dava tapas e chutes.

 Dei alguns passos decididos até os três, quando ouvi um urro e vi Brenda sendo atirada no chão por alguém parecido com os brutamontes dos Pagãos. Ele arranhou o rosto dela sem dó, e de repente eu chutava o rosto dele da mesma forma.

 Um braço peludo apareceu do nada por trás de mim, cercando meu pescoço e me pressionando contra um corpo grande, enquanto a ponta de uma faca fazia minha bochecha coçar. As bolhas nas minhas costas arderam, pude sentir algumas estourarem, e a raiva nunca tomara conta de mim tão rápido. O homem começou a falar, mas só prestei atenção em esquivar minha mão para dentro da minha bolsinha e tirar uma tesoura. Girei-a na mão para acertá-lo, mas hesitei. Eu tinha um plano para salvar aquelas pessoas e de repente estava involuntariamente tentando matar um deles. A sensação de me parecer com o CRUEL fez o tempo passar mais devagar.

 O som metálico do Lança-Granadas sendo carregado invadiu o ambiente, e senti cheiro de gás queimado. Newt estava bem ao lado, apontando o Lança-Granadas para o homem atrás de mim, o semblante tão sério e furioso que eu mesma perdi as palavras.

  — Deixe ela ir. – Newt disse, e temi um descuido da tremedeira das mãos dele.

  — Vamos, garoto... Você e essas pessoas não pertencem mais ao mesmo mundo. – o homem disse.

  — Não dê ouvidos a ele. – eu intervi e senti a faca ser pressionada, e, em seguida, um filete de sangue escorreu. Os olhos de Newt pareceram pousar na pequena ferida por um breve momento.

 Tive menos de um segundo para pensar quando seus braços ergueram o Lança-Granadas e seu dedo puxou o gatilho. Desvencilhei-me do homem rapidamente, ainda podendo sentir um pouco do choque que percorreu seu corpo. Ele foi atingido na cabeça e caiu, gemendo e se contorcendo. Com a respiração um pouco entrecortada, olhei para Newt e vi a arma meio abaixada. Newt podia ter feito com que eu também fosse eletrocutada.

 A briga com Minho havia cessado, ninguém mais fazia nada além de encarar Newt.

  — Agora saiam daqui. – ele disse, ainda olhando para o homem sofrer.

  — Newt...

 Dei um passo para mais perto dele e ele apontou a arma para mim. Eu olhei para ela como se fosse a primeira vez, depois o encarei de novo com seriedade e me aproximei mais um passo, deixando a ponta quente do Lança-Granadas tocar meu peito.

  — Não me faça virar as costas como se realmente fosse deixar você nesse lugar. – murmurei entre dentes.

  — Vai estar me fazendo um favor... Todos vocês... Provavelmente vai ser a última vez que vou estar consciente para ser grato, então, por favor... Não sabem como é isso, não podem pedir para eu ir com vocês...

  — Já vivi minha própria insanidade, Newt.

  — A diferença é que não há como mudar isso. Posso puxar o gatilho a qualquer momento, mesmo que me arrependa depois.

  — Não pode... – neguei com um sorriso singelo. — Me coloco na frente dessa arma mil vezes se for preciso, Newt, mas sei que não vai puxar o gatilho.

 Seus braços começaram a tremer mais e, subitamente, a raiva se esvaiu de sua expressão, dando lugar apenas à tristeza. Em questão de segundos, seus olhos estavam marejados.

  — Você... é tudo para mim, Nelly... de verdade... Mas é o que eu quero. Minha vida é essa agora. Se tivéssemos uma escapatória, não seria...

  — Nós temos! Newt, eu tenho...

 A arma novamente fez barulho e ele pressionou-a com mais força contra mim, calando-me. Suas feições ainda estavam calmas, mas eu quase podia sentir a angústia dentro dele.

  — Sinto muito. Cansei de ter esperança.

  — Newt, me escute. Nós podemos...

  — Vá embora! – ele berrou, furioso outra vez, usando a ponta da arma para me empurrar para trás. — Pare de tentar consertar os outros e olhe para si mesma! Quantas vezes soube realmente o que fazer? Quando foi que não dependeu de nenhum maldito instinto divino da sorte para salvar alguém? Mas você continua fazendo... não é? Porque precisa compensar o impulso assassino dentro de você. Saia daqui, droga! Não quero você na minha frente! Nunca mais!

 Cerrei os dentes com bastante força e passei a língua pela bochecha, baixando a cabeça e assentindo, até fazer um único movimento com o braço para tirar a arma das mãos dele e fazê-la cair. Eu não estava exatamente com raiva, mas tomei os ombros dele em minhas mãos bruscamente, encarando seus olhos com tanta determinação que parecia querer ler sua alma. Não encontrei o que dizer, então o puxei para mais perto e o abracei, cansada demais de ver aquele tipo de coisa, de qualquer um. Aquilo precisava parar. Newt não era a única pessoa no mundo que o Fulgor fizera mudar tanto ao ponto de dizer tais grosserias. E os próprios infectados se magoavam com isso.

 Me dei mais alguns segundos naquele abraço, prometendo, acima de tudo e todos, que faria aquela cura dar certo. Não me permiti pensar na probabilidade de 99,9% de não conseguir salvar Newt.

 Eu me afastei, me virei, e saí do salão de boliche.

  — Ele vai fugir. – Thomas disse atrás de mim, quando enfim estávamos na Zona Central outra vez, e eu me voltei imediatamente para encará-lo. — Disse que vai para Denver com outros Cranks ainda hoje.

 Desviei meu olhar para o chão, sentindo-me pressionada com os olhares deles todos voltados para mim. Minha relação com Newt nunca tinha sido segredo para ninguém, mas, de repente, eu queria que fingissem que não tinham visto nada lá dentro. Além disso, Thomas soava como se me pedisse para voltar lá e fazê-lo vir conosco.

 Eu sabia que, se Guilterson realmente tivesse escrito a cura, ainda não daria tempo de salvar Newt. Era demais esperar que o Fulgor, no nível da Insanidade, pudesse ser vencido. Mas eu ainda queria saber o paradeiro dele, e pensar que ele poderia estar fora do Palácio dos Cranks fazia meu coração bater forte. Pior ainda quando minha mente ficou totalmente branca tentando pensar numa forma de encontra-lo depois.

 Os guardas estavam logo ao nosso lado, esperando para que déssemos a ordem de nos escoltarem para fora daquele lugar. E estavam segurando Lança-Granadas.

  — Me dê isso. – eu pedi a um deles, estendendo a mão, e ambos se entreolharam. — Agora!

  — Não. O que...

  — Estão sendo pagos, façam o que dissermos. – Jorge cortou o bigodudo.

 Hesitante, o homem me passou a arma. Eu me ajoelhei, virando o Lança-Granadas de ponta cabeça no chão. Eu me lembrava de Bruno estudando muito bem aquelas armas, ainda que não fosse meu tipo de coisa. Por isso, só o que sabia era que elas podiam ser localizadas.

 Deslizei uma pequena portinha, revelando, para o meu alívio, um chip. Eu o tirei e o mostrei aos outros, principalmente a Brenda e Jorge.

  — Todo Lança-Granadas tem um chip desse para que o CRUEL possa localizá-los, certo? – perguntei.

  — Certo, mas quase ninguém dá importância a isso há muito tempo. – Brenda respondeu.

  — Onde são monitorados?

  — Não é bem onde. Todo guarda possui um dispositivo referente a cada um, caso o CRUEL os requisite para uma caça à arma perdida e ao ladrão. – Jorge esclareceu, e todos nós olhamos para os dois guardas ao lado.

 Eu me levantei, conferindo discretamente se Newt não estava por perto, e os dois homens se entreolharam.

  — O que você quer? – o bigodudo perguntou.

  — Quero que me entreguem o dispositivo e implantem isso no nosso amigo lá dentro. – respondi.

  — Seu amigo parece bem ruim. Vão precisar pagar muito mais por isso, garota. – e olhou para Jorge. — Muito mais.  

 Não só eu, mas Thomas e Minho também olharam para Jorge. Ele revirou os olhos e tirou o cartão do bolso.

  — Feito.

 Eles me deram o dispositivo, um aparelho retangular com apenas um botão e uma tela, explicaram como funcionava, fizeram a transferência do dinheiro e lhes entreguei o chip e o Lança-Granadas.

  — Podem fazer agora. – falei calmamente, apertando o botão do aparelho e fazendo a tela acender, com um mapa grande, um ponto vermelho e um azul, ambos bem próximos, como o chip e eu.

  — No estado em que seu Crank se encontra? Sem chance. – o segundo disse, remexendo sua arma nas mãos como se mostrasse o que era capaz de fazer caso o obrigássemos a ir.

  — Cante-lhe uma canção de ninar. – Minho sugeriu.

  — Somos cinco contra dois, e imaginem o que mais, caso os Cranks se inspirem numa briga. – murmurei raivosa.

 Eles se entreolharam de novo, até que o mais baixo deles se virou e voltou para o salão de boliche. Verifiquei a tela do aparelho, Thomas e Minho bem atrás de mim para ver também, e o ponto vermelho começava a se afastar. Se eu aproximasse mais a visão, poderia ver o lugar exato de Newt dentro do salão. Não tirei os olhos dali nem por um segundo. O ponto, então, parou de se mover. Olhamos na direção da porta, mas não havia ninguém. Thomas cutucou minhas costelas dolorosamente e eu o xingaria, se não tivesse visto o que ele via.

 Gradativamente, os Cranks da Zona Central começavam a nos cercar.

  — Para trás! Para trás ou vou começar a atirar! – o guarda exclamou, deixando a arma em posição de mira.

  — É aquele o bonitinho? – uma mulher comentou com outra, sorrindo maliciosa para Thomas.

  — Ah, é... Acha que ele doaria um pouco dessa beleza para nós? – ela disse como se tivesse cinco anos, em contraste com as rugas que começavam a aparecer em seu rosto.

  — Para trás! Não vou dizer de novo!

  — Devíamos ir. – Brenda disse quase num sussurro.

 Eu estava prestes a dizer que não sairia dali enquanto aquele guarda não voltasse, e Thomas parecia ler meus pensamentos, pois começava a me puxar pela blusa discretamente. A massa de Cranks começou a se avolumar, cercando-nos contra a entrada do salão, diversos sorrisos diabólicos se voltavam para nós e nossa única saída desaparecia aos poucos entre seus corpos.

 Um rapaz atacou o guarda e levou o primeiro tiro. Foi o bastante para servir de deixa aos outros.

 Nós corremos em direção à brecha, Minho esmurrando a cara de uma mulher para conseguir passagem, o guarda fazendo disparos atrás de nós sem cessar. Atravessamos o arco de entrada, ouvindo gritos e gargalhadas insanas atrás de nós. À medida de passávamos pelos alojamentos, víamos outros menos infectados entrando em suas casas imediatamente. O portão de entrada ainda estava aberto, para nossa satisfação. Ainda que os Cranks não estivessem tão próximos, uma parada com certeza nos entregaria.

 Finalmente transpomos o grande portão e a porta de carga do Berg começou a baixar quando Jorge usou o controle. Um Crank berrou atrás de nós. Senti uma pedra bater na parte de trás da minha cabeça quase como se pudesse arrancá-la do pescoço. Eu me desviei do caminho por um momento, meio tonta, mas alguém puxou meu braço de volta e logo eu saltava para dentro da nave, tropeçando num vão da porta e batendo a cabeça.


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Notas finais do capítulo

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