Socorristas escrita por BlueBlack


Capítulo 33
Apática


Notas iniciais do capítulo

Oláaa!
Saberemos um pouco mais do passado da Nelly hoje u.u

Obrigada, VSQueen, por ter favoritado a fanfic ♥

Boa Leitura!



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 Não tive muito tempo para me recuperar do nervosismo de não conseguir ajudar Thomas. Jorge e alguns garotos ergueram-no pelos braços e pelas pernas e logo pude notar que ele desmaiara. A dor que sentira era inimaginável por qualquer um de nós. “O que você sabe? Não foi capaz de fazer nada, e quer achar que entende o que ele passou?”, era esse o tipo de pensamento que me perseguia enquanto caminhávamos cidade a fora. Eu tentava ignorar, mas uma questão sempre fazia o ódio de tudo aquilo voltar: por que eu não sabia tratar daquilo? Era uma pergunta muito simples, porque um ferimento à bala também era muito simples. O que mais devia haver naquele mundo agora eram armas de fogo para que as pessoas pudessem se proteger dignamente de Cranks, então eu devia ter aprendido algo sobre elas. Se minha mãe havia se dado o trabalho de me ensinar sobre partos, com certeza quis que eu soubesse sobre armas também. Se não ela, pelo menos meu padrasto.

 Ouvi um urro de um dos garotos mais à frente e voltei à realidade. Um deles acertava uma pá na cabeça de um Crank e logo mais três foram ajuda-lo. Estavam perto de uma casa, e a porta da frente desta foi aberta, vomitando uma dezena de pessoas magras e mal tratadas, que correram na direção dos Clareanos.

  — Liam! Vamos embora! — Minho gritou para o menino com a pá, remexendo as mãos no corpo de Thomas.

 Antes que eu me desse conta, todos nós corríamos dos Cranks. Os que seguravam Thomas iam à frente e o restante de nós permanecia atrás para dar cobertura.

  — Ei! — um dos garotos gritou correndo ao meu lado, ainda que longe. Ele apontou para algo perto de uns prédios mais distantes e demorei a reconhecer o que era. Mas assim que o fiz, soube o que ele queria dizer.

 Afastei-me do grupo e corri até o beco ao lado de um prédio de concreto. Era difícil ter certeza, principalmente com a minha repulsa em pôr as mãos, mas parecia haver quatro gatos, imóveis, negros, amontoados uns sobre os outros. Uma parte de mim queria acreditar que o Fulgor não levava a humanidade ao ponto de comerem animais, e outra parte torcia para que sim. Eu me sentia horrível por pensar desse jeito e piorou quando me lembrei de Tagarela.

 Não sabia da onde tiraria coragem para tocar neles, mas eu já o fazia. Juntei-os nos meus braços e tentei fingir que estava carregando apenas um cobertor muito fofo e escuro. Respirei fundo rapidamente antes de voltar a me aproximar do grupo, que passava quase ao meu lado.

 “Desculpe, Tagarela”, pensei tristemente e gritei para chamar a atenção dos Cranks. Esperei até que o pessoal com Thomas passasse e acertei um dos loucos com um gato. “Deus, sou uma pessoa horrível...”. O Crank agarrou o animal e não tardou a cravar os dentes no frágil pescoço. Uma mulher ao lado arranhou o rosto do homem e os dois começaram a disputar a comida. Continuei acertando os mais próximos ao mesmo tempo em que recuava rapidamente. Quando me vi livre dos gatos, uma Crank estava a um passo de me atacar, e, antes que eu pudesse pensar, Mike acertou o rosto dela rudemente com um taco. Tornamos a correr, olhando para trás apenas para perceber que tinham se distraído o suficiente com os animais.

 Não demoramos a alcançar o fim da cidade, entrando na vastidão desértica outra vez. Foi como respirar novamente. Não era bom, mas era muito melhor do que estar cercada daquela doença. E de morte. De assassinato.

 Continuamos a nos afastar, todos que seguravam Thomas deram lugar para que outros o fizessem e tivessem um descanso. Newt estava sempre dizendo a Jorge que deveríamos estar num lugar mais seguro para tratar do ferimento, então levamos mais um tempo até pararmos.

  — Vou precisar de fogo. E uma faca. — foi o que o Crank disse. Eu naturalmente tinha curiosidade para saber como ele cuidaria daquilo, mas não sabia se estava psicologicamente bem para ver o quanto Thomas sofreria.

 Ele usou uma das facas de Minho e uma caixa de fósforos de Brenda. Quis perguntar onde ela havia arranjado aquilo e por que carregava, mas minha antipatia pela garota era mais forte que isso. Além do mais, não estava interessada em nada que não envolvesse Thomas agora.

 Para a minha aflição, ele acordou logo quando Jorge estava prestes a começar.

  — Melhor segurarem ele. Braços e pernas. — o Crank disse. Minho, Newt, Mike e eu obedecemos prontamente.

  — Sabe o que está fazendo, não sabe? — perguntei.

  — Ele está em boas mãos. Mas vai doer muito.

 Logo em seguida, ele aproximou a faca do ombro de Thomas e meu rosto se contorceu numa careta de temor. O corpo dele deu um espasmo e novamente ele desmaiou. Newt observava o antigo Corredor com expectativa e de repente me lembrei do quanto ele e Thomas eram próximos. Talvez fosse inevitável se apegar assim, considerando o modo como estávamos vivendo e, por mais que eu não gostasse tanto de admitir ou fosse acabar enlouquecendo de vez de qualquer jeito, era grata por ao menos ter tido quem realmente chamar de família desde a perda de memória. Era bom saber que o caráter de Herman não me impedia disso.

 Não consegui olhar para nada além do que Jorge fazia no braço de Thomas e dei graças quando o procedimento todo acabou.

  — Precisamos andar mais. — o Crank disse. — Ficar mais longe daquela cidade para podermos dormir com os dois olhos fechados.

  — Acho que vi uma espécie de cabana a uns quilômetros. — Newt comentou, e ninguém precisou dizer mais nada. Thomas foi tomado por alguns deles e seguimos caminho deserto a fora.

 

—... sinto que nos conhecíamos muito bem antes de vir para a Clareira. Você falava coisas sobre cores e sensações que não eram bem reais e que só você via... E por alguma razão isso era um assunto muito comum.

 As linhas de cor magenta que cercavam Gally tomavam formas como eu nunca tinha visto-as fazerem antes, e às vezes passavam para a cor azul escuro ou roxo; enrolavam-se em cordas que serviriam de enforcamento, colocavam-se em posição no pescoço dele; transformavam-se em armas; depois desciam e rastejavam pelo chão como se fossem verdadeiras cobras.

 Era a terceira vez naquela noite que eu acordava por um pesadelo. Já tinha ido dormir longe de Newt com o mau pressentimento de acordá-lo com isso, e o cansaço me consumia. Todos envolviam Gally, Mike, Newt e principalmente os Pagãos. Não quis ceder ao sono e dar a vez de Thomas aparecer também, por isso saí da cabana e fui me sentar do lado de fora. Eu estava recuperando mais lembranças, elas se misturavam com os pesadelos.

 Conheci Newt no CRUEL, quando eu tinha por volta de treze anos, depois que conseguiram me tirar de minha mãe e Bruno. Eu não tinha certeza se minha memória ainda era muito falha ou se essa era a verdade, mas tive poucos momentos com ele. Quase exatamente como fora na Clareira, ele me apresentara aos amigos dele e tentara fazer de mim uma pessoa social (porque, aparentemente, eu estava revoltada demais com tudo aquilo para me dar o trabalho de conhecer os outros). Eu gostava de pensar em como pouca coisa era diferente, mas me incomodava não lembrar mais sobre eu e ele. Talvez meus anos no CRUEL tivessem sido menos estressantes do que tudo desde que acordei na Caixa, por isso eu queria saber mais dos momentos parecidos com os de agora em relação a nós dois. Se é que tivemos.

 Fechei os olhos e encostei minha cabeça na parede da frágil cabana, concentrando-me ao máximo em Newt. Longos minutos depois, percebi que era inútil. Meu cérebro parecia se recordar melhor quando trabalhava sem pressão ou quando eu menos esperava.

 Lembrei-me de quando eu estava sentada sozinha numa sala de aula grande, cercada de paredes, mesas, cadeiras brancas. Eu me lembrava de como a cor ajudava a me manter alerta, de tão ofuscante e incômoda. As outras garotas que estudavam comigo sempre chegavam uma hora depois de mim, e eu sempre permanecia uma hora a mais, todos os dias, em quase todas as aulas. Eu costumava fazer de tudo para não ser a única, a diferente e a estranha perante o que nos era imposto, mas não me recordava do que ocupava o horário das aulas que eu perdia propositalmente.

 Daquela vez, meia hora antes das meninas chegarem, eu tinha a cabeça apoiada na mão tediosamente, a outra segurando uma caneta enquanto desenhava um labirinto numa folha de papel. Parecia ser a milésima vez que me obrigavam a fazer aquilo, pois eu dissera para a mulher de óculos que me observava:

  — Isso não vai me fazer ajudar vocês na construção daquilo.

 Eram as únicas coisas que eu havia lembrado a respeito do CRUEL. Todo o resto se resumia em poucos momentos de briga entre Herman e eu depois que entramos no complexo; o dia em que Bruno me ensinou a fazer ligação direta num carro; mais detalhes de quando matei um homem infectado pelo Fulgor aos dezesseis anos... A cada mínima recordação que voltava era mais estímulo para ir a fundo naquela Variável do Deserto, até que estivesse completada. Era claro que nada da outra vida tinha sido bom, que os Criadores haviam tomado conta de tudo, então eu queria acreditar que, no final, poderíamos escolher o caminho que quiséssemos por nossa própria conta. Ou eu contava com isso ou poderia deitar de uma vez para morrer naquela cabana.

 Um movimento ao lado me chamou atenção e só então percebi que eu não era a única do lado de fora.

  — Falta de sono? — Aris indagou, os olhos perdidos no chão entre as pernas, sentado não muito longe.

  — Antes fosse. E você?

  — Pesadelos.

 Ele ainda não tinha se dado o trabalho de me olhar, mas pude ver que seu semblante era um dos mais tristes que eu já tinha visto.

  — Conheceu a menina com quem você estava nas minhas lembranças? Morena, de cabelo cacheado...

  — Rachel. Conheci.

  — Bom, tem ideia de onde ela está agora?

 Aris engoliu em seco e, logo antes de ele me encarar e responder, eu soube a resposta.

  — Está morta. — ele pausou e pareceu pensar no que mais dizer. — Um dos seus foi assassinado também, não foi, logo quando saíram do Labirinto? — eu assenti com a cabeça. — Conosco foi a mesma coisa. Rachel e eu tínhamos a ligação telepática que Thomas e Teresa tinham, e ele devia ter morrido.

  — Por que diz isso?

  — Não viu a tatuagem dele? “A ser morto pelo Grupo B”. Parece que o plano do CRUEL desde sempre foi mata-los.

 Eu me desencostei da parede e entrecruzei as pernas, enfim tendo minha atenção cativada pelo garoto.

  — Rachel foi morta por um dos seus? 

  — Eram todas garotas, Beth a apunhalou.

 Em parte, era um alívio muito grande que aquilo estivesse dentro de aparentemente algum padrão. Aris sendo o único garoto no meio de garotas dentro de um Labirinto; ele e Rachel apenas numa outra versão de Thomas e Teresa; Gally apenas cumprindo a mesma tarefa que outra garota fizera.

  — Não entrou mais ninguém no Labirinto depois da sua amiga e antes de você, entrou? — perguntei receosa, sem saber para qual resposta torcia.

  — Não, cheguei dois dias depois dela. — disse, e me senti completamente infeliz. — Quando seus amigos me explicaram tudo no prédio do CRUEL, as coisas começaram a fazer algum sentido. Mas depois que você apareceu, não entendi mais nada.

  — Longa história.

 Não era realmente tão longa, eu poderia facilmente encurtá-la. Contudo, não era muito acolhedora a ideia de Aris ser apenas outra versão de Teresa; isso me fazia ter a impressão de que podia confiar nele tanto quanto nela.

  — Mas acho que eu deveria ter conhecido você no seu Labirinto. — acrescentei. — As coisas lá não deviam ser tão diferentes do nosso.

 Ele deu de ombros e desviou o olhar.

  — Viver como caipiras não é lá a melhor vida que há, principalmente se você está preso por quatro muros gigantescos e assassinos mecânicos. E parece que vocês perderam muito mais gente que nós, não foi?

  — Você é tão modesto... — ironizei com um revirar de olhos.

  — Bom, eu com certeza não estaria inteiro se não fosse pelas garotas. Tenho certeza que nosso Campo era melhor que o de vocês.

  — Campo? — repeti.

  — A área no centro do Labirinto.

  — Ah, Clareira... — murmurei aleatoriamente. — É, acho que aquilo tudo poderia ter sido conduzido melhor...

 Meus olhos se perderam no chão com a tristeza que se abateu sobre mim ao falar daquele jeito. Independente de como Alby havia me tratado, nunca desejaria que morresse, especialmente da forma que morreu.

  — Você está bem? — Aris perguntou e percebi que me mantive calada por bastante tempo.

  — Estou, às vezes gosto de pensar o que teria acontecido se não tivéssemos saído de lá.

  — Gosta de pensar? — ele ergueu uma sobrancelha.

  — Vai dizer que não era ótimo ser o único trolho no meio de um bando de garotas?

  — Considerando o fato de eu ser odiado pela maioria, não. E olhe para mim, Rachel não teria falado comigo se não fosse por essa ligação telepática.

  — Vocês dois me pareceram bem próximos antes da perda de memória. E pode ter certeza que só o que ela queria olhar era a sua cara feia.

 Aris olhou para baixo e balançou as sobrancelhas, tristonho.

  — Do que isso vale agora? — indagou e tornou a se virar para frente. Continuei observando-o com atenção, quase podendo sentir o que ele sentia.

  — Vale muito, se quer saber. — respondi. — Eu tinha um amigo... Ou... tenho, que é uma das razões para eu aceitar todo esse jogo do CRUEL. Foi tarde quando consegui abrir meus olhos para o que ele realmente era, e não sei se ele está bem ou pelo menos vivo... Mas sofreu uma injustiça enorme por causa desses caras. Por isso não vejo a hora de estarmos fora dessa droga toda logo.

  — Isso não enlouquece você de raiva? — perguntou com o rosto franzido em indignação.

  — Com certeza. — voltei a me encostar à parede e apoiar meus braços nos joelhos dobrados. — Se tem uma coisa pela qual nunca vou me perdoar é ter vacilado tanto com ele. Mas isso já aconteceu e não tem como desfazer. — soltei um suspiro, mexendo nas minhas unhas e sentindo meu peito afrouxar ao lembrar de Gally, e balancei os ombros. — Pior seria se eu fizesse de novo.

 Por visão periférica, notei que ele me encarava, e resolvi parar de me abrir tanto para um trolho desconhecido.

  — Então não descarte a próxima chance que aparecer para você. — concluí.

 Nós dois fomos noite adentro conversando sobre os Labirintos; como tínhamos chegado; como era; comparando algumas personalidades parecidas dos dois. Eram poucas, mas havia. Por mais que eu estivesse a todo momento me lembrando quem Aris era, tentei me entregar às risadas para ao menos conseguir dormir mais tarde, sem pesadelos.

 

Acordei com os passos de Newt vindo até mim e parando ao meu lado. Ignorei completamente o cansaço que me tomava. Sentei e vi que ainda estava do lado de fora da cabana, e que Aris não estava mais ali.

  — Tudo bem? — Newt perguntou, segurando minha mão para me ajudar a levantar.

  — Uhum. — assenti com a garganta, sem vontade de pronunciar alguma palavra. Ele continuou me encarando, olhando-me de cima para baixo, como se quisesse ter certeza por ele mesmo. Sorri de leve e beijei seus lábios ternamente, sentindo gosto de maçã. — Bom dia.

  — Bom dia.

 Nós dois fomos até onde Thomas fora deixado no dia anterior e tentei resgatar o sentimento de cuidar dos garotos na Clareira para não lembrar do impacto que o tiro me trouxera. Abaixei-me ao lado dele, num canto sob a janela. Brenda felizmente não estava mais ali.

 Aproveitando a luz do sol e evitando tocar em Thomas, descobri o ferimento do pano. Desta vez, a resposta foi instantânea. E fiquei internamente espantada com a apatia que a acompanhou.

  — Vai infeccionar. — falei, encarando Thomas com a tristeza impressa no meu rosto, ainda que eu não sentisse nada concreto. Olhei para Newt e ele passava a mão pelo rosto, pensativo.

 Thomas abriu os olhos serenamente. Não pude evitar fitar sua íris por longos segundos, admirando a beleza do castanho sob a forte luz. Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, um zumbido grosso encheu o ar, vindo do lado de fora, do Deserto. Olhei através da janela e meu espanto não poderia ser maior.

 A palavra “nave” era a que melhor se encaixava no objeto imenso e redondo, com luzes piscantes e uma chama azulada que bruxuelava em propulsores. As cores cinza, vermelho e preto dançavam em linhas e manchas ao redor daquela coisa. Tive a esperança de ser o nosso resgate, talvez o grupo com o qual Herman e eu ficamos após fugir do CRUEL. Mas a permanência da minha apatia parecia um presságio.

  — Que mértila... — Newt começou, mas não terminou.

 Enquanto garras se desprendiam da parte de baixo da nave, aparentemente para servir de trem de pouso, houve uma comoção próxima a ela, Minho, Jorge e mais alguns Clareanos gritando algo impossível de ouvir de onde eu estava. Jorge parecia o mais tranquilo entre todos nós. Uma porta de carga se abriu na barriga da nave. Newt e eu nos levantamos no segundo seguinte.

 Duas pessoas corriam na nossa direção, trajando macacões verde-escuro e estranhas máscaras de gás. O gosto de sangue que veio ao ver aquela mulher do CRUEL na Clareira era o mesmo de agora. Deram a volta na cabana, sumindo de vista por um momento, e então romperam pela porta. Assim que se aproximaram, completamente mudos, e esticaram as mãos na direção de Thomas, empurrei um deles o mais forte que eu podia.

  — O que estão fazendo?! – gritei.

 O mais próximo meteu as mãos por baixo das axilas de Thomas e o antigo Corredor berrou. Agarrei o braço da pessoa com as unhas das duas mãos, mas me distraí ao ler a inscrição em seu peito: “CRUEL”.

 O pânico enfim me dominou. Quando fiz que o puxaria, ele me empurrou e eu caí de qualquer jeito, batendo a cabeça na parede. Vi Newt lutando com um deles para proteger Thomas, mas ele foi brutalmente empurrado também. O tempo que levei para me recuperar da tontura foi o suficiente para Thomas ser carregado para o lado de fora, em direção à imensa nave.

 Saí da cabana em disparada atrás deles, porque, mesmo sem ter ideia do que aquilo significava, preferia Thomas gravemente ferido conosco a com eles.  

 Eu me aproximava rapidamente e já me imaginava fazendo uma série de coisas para libertar Thomas, quando Jorge surgiu na minha frente e pôs as mãos nos meus ombros, impedindo-me de continuar. Debati meus braços para afastá-lo, mas ele tratou de agarrar meus pulsos com força.

  — Estão levando ele! — eu berrei, fazendo de um tudo para me livrar do Crank. — Me solta! Aqueles mértilas... Minho!

 Por que ele não me ajudava a tirar Thomas das mãos deles?!

 Acompanhei Thomas com o olhar, precisando fazer bastante esforço para conter a adrenalina no meu sangue, porque não tinha ideia do que fazer.

 Quando ele e aquelas pessoas desapareceram nave adentro foi que percebi que Jorge dizia algo, ainda bem na minha frente.

  — O quê? — interrompi com uma careta ao fita-lo.

 A nave alçou voo, quase me ensurdecendo com o barulho do vento.

  — Eles só podem ter ido curá-lo! Com todas aquelas placas espalhadas pela cidade e os amigos de vocês que já morreram, não faz sentido machucarem-no com as próprias mãos!

 Desviei meu olhar apenas para ver a nave se afastar alguns quilômetros, depois puxei minhas mãos do aperto e me afastei.

— Devíamos fazer uma escada humana até lá. — comentei.

 Newt, Minho, Mike e eu estávamos em pé lado a lado, observando o tal Berg que pairava como um ponto no céu ao longe. Fazia mais de uma hora que Thomas estava lá dentro com eles, e nada mudava.

  — É, e aproveitávamos para dar o fora desse lugar. — Mike emendou. Olhei para a mão dele e vi o curativo trocado. Eu não tinha colocado muitos na mochila dele antes de saírem para o Labirinto, e comecei a pensar se havia chance dos Criadores deixarem mais, caso pretendessem devolver Thomas. Era óbvio que estiveram nos observando, então sabiam das necessidades que passávamos. Contudo, pensar assim me fez enumerar cada coisa em falta, por isso perdi logo as esperanças. Eles com certeza não se dariam o trabalho.

  — Por que será que estão fazendo isso? — a cor amarela me puxou dos pensamentos.

  — Ora, mértila. — Minho replicou. — Do que mais precisamos para entender que Thomas é um trolho especial?

  — Talvez se eles dessem ouvidos ao talento dele para fazer acordos... — retruquei. — Qual foi o trato que ele e Jorge fizeram, afinal?

  — Não é óbvio? — Mike disse. — Os dois Cranks nos ajudavam a atravessar a cidade e recebiam a cura no tal Refúgio também. Ou pelo menos aquela cura que você convenceu não existir.

 Desviei meu olhar dele para o chão, pensativa outra vez. Não era verdade que eu havia convencido; mais da metade de nós teria se atirado para os Cranks por conta própria se tivesse acreditado em mim. Essa era a prova do quão bom líder Minho era.

 O Berg entrou em movimento outra vez e quase dei um passo ansioso à frente, mas me contive para observá-lo. Antes mesmo de estar baixo o suficiente para pousar, a porta de carga tornou a se abrir, e uma padiola prendendo Thomas desceu por uma corda, balançando levemente no ar. Aproximamo-nos imediatamente e me ocupei em tentar ver o lado de dentro do Berg enquanto Thomas descansava no chão. Mas os Criadores trabalharam rápido demais, provavelmente esse sigilo fazia parte de todo o mistério que era aquele inferno. A porta fechava enquanto a corda subia, de modo que só o que puder ver foram paredes lustrosas. A nave subiu mais alguns metros e partiu. Eu devia ter me sentido mal ou frustrada, mas não senti nada.


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Notas finais do capítulo

As coisas vão esquentar no próximo, quem sabe por quê? Muahahahahah
Espero que tenham gostado ^^

Bjs!



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