Socorristas escrita por BlueBlack


Capítulo 31
Sobre o dia estranho de uma menina


Notas iniciais do capítulo

Hold on, i'm back!
Tive alguns problemas e até parei de escrever por um tempinho, mas acredito que as coisas estejam se resolvendo.


Boa Leitura!



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— Onde está o seu cachecol? — Perenelle perguntou entre fungadas, afastando seu rosto do peito de Newt. Ela sabia que se arrependeria de saber o que acontecera a ele, principalmente o porquê do sangue nas mãos, mas ainda assim perguntava. Sua consciência não suportava ignorar que ele também estava carregando um grande fardo nas costas.

  — Arrancaram de mim, nada de mais. — Newt respondeu com uma das mãos na lateral do pescoço dela. Seus polegares limparam as lágrimas do rosto dela antes que fizessem ele mesmo chorar. — Vamos, acho que estão atrás de mim. — apontou para o túnel que se seguia, com uma luz amarelada apenas lá no fundo.

 Nelly não deixou de notar o quão sombrio estava o olhar dele. Independente do quanto as coisas estavam ruins, Newt sempre parecia se recuperar para conseguir ao menos viver mais um dia. “Ou ele confia muito em mim ou as coisas pioraram ainda mais”, ela pensou.

  — Newt, você...

 Ele deu um passo urgente na direção dela e cobriu sua boca com a mão. Ela estava ocupada demais com as próprias paranoias para ouvir os burburinhos do lado de fora, mas Newt virou a cabeça de lado e apurou os ouvidos, e ela prestou a atenção para entender por quê.

  — Vieram pelos túneis, não foi? — a voz do Cicatriz indagou. — Viu por onde eles fugiram?

  — Segui os mesmos passos deles quando me livrei do Leigo e aí encontrei vocês. — Ty respondeu.

 Newt baixou sua mão e segurou a de Nelly, e os dois começaram a recuar devagar, olhando para a entrada e quase prendendo a respiração. Quando julgaram estar escondidos o suficiente pela falta de luz, viraram-se e correram.

 Após algumas curvas, pelas quais, na maioria das vezes, Nelly guiava pelo seu senso de direção sugerir qual caminho os afastaria do armazém, eles pararam para recuperar o fôlego e ficaram em silêncio para tentar ouvir se alguém os seguia.

  — Por que está mancando mais? — ela perguntou ao se apoiar na parede de frente para ele, ainda puxando o ar com certa dificuldade. — Foi o Herman?

 Nelly chegou a pensar se o sangue nas mãos de Newt era de seu irmão. E Newt sabia que dizer isso traria alguma satisfação mórbida à garota.

  — Herman foi banido dos Pagãos. — ele respondeu, preferindo essa resposta por várias razões.

 De repente, ela recuperara todo o ar de que precisava e o encarava com mais atenção.

  — Está falando sério?

 Newt assentiu com a cabeça. Perenelle não sabia se a melhor forma de estourar a bolha de prazer em seu peito era rindo ou gritando, então preferiu apenas suspirar, pois assim teriam mais alguns minutos com a vida fora de risco. Matar Herman sempre pareceu ser a única maneira de sanar o ódio que sentia por ele, mas imaginá-lo vagando por aquele mundo, com toda a maldade que fizera impressa em cada esquina por que passasse, precisando se virar completamente sozinho, sem família ou lembranças, e talvez Imune, sem dúvidas levou-a a pensar que alguma justiça tinha sido feita.

  — Está machucado? — ela perguntou involuntariamente.

  — Estou bem.

  — Não, não está.

  — Você também não.

  — E aí?

 Eles se encararam em silêncio e com a expressão dura por longos segundos. Ambos queriam cuidar um do outro para não precisarem pensar no que havia acontecido, mas sabiam que se sentiriam muito pior em saber o que o outro tinha passado, então realmente era um dilema.

  — Meu tornozelo dói mais, é só isso. — Newt respondeu e correu os olhos pelo corpo dela, instigando-a a falar.

  — Estou com um caco de vidro dentro do braço.

 Newt arregalou os olhos e se aproximou imediatamente, enquanto ela esticava o braço, tímida, e revelava um pequeno pedaço transparente fincado na pele, um curto filete de sangue escorrendo.

  — E você queria competir para ver quem estava pior? — ele indagou descrente, despindo seu casaco e deixando-a segurar para que pudesse arrancar uma parte da própria manga.

  — Nós dois estamos um plong. — ela disse, apoiando as costas na parede, e encarou o rosto ele com um sorriso de canto. — Talvez você esteja o plong do Gally.

 No segundo seguinte, ela meneou a cabeça e a abaixou de volta, e desfez o sorriso.

  — Nem me lembre. — ele respondeu, relanceando para a expressão dela e preferindo não comentar. Colocou o pano entre os dentes e usou a outra parte para segurar o caco de vidro. — Pronta?

 Newt segurou firme no braço dela e puxou o caco, largando-o no chão para cobrir a fissura e amarrar.

  — Tem alguma ideia de por onde precisamos ir? — ele perguntou, olhando para os dois caminhos do túnel, terminando de dar o nó.

  — Sim, já passamos do prédio deles. — Nelly disse, convicta. Seguira nas direções que menos lhe traziam sensações ruins e, em relação ao que se lembrava dos túneis de Jorge e Brenda, estavam no que se podia chamar de direção certa.

 Newt lembrou-se do fenômeno que ela descrevera antes e de repente a curiosidade se atiçara nele.

  — Como sabe? — perguntou.

 Perenelle suspirou sonoramente e pegou o braço dele do lado da perna manca, passando por sobre seus ombros e começando a andar.

  — Abacaxi, metal, sangue e alguma coisa azeda sempre significam coisa ruim.

  — Isso parece mais um sexto sentido. — comentou com a testa franzida para o chão.

  — Já pensei assim. Mas eu não questiono muito, sei que é natural. E não me sinto muito bem me imaginando sem isso.

 Newt soltou uma risada fraca ainda sem encará-la.

  — Agora sinto gosto de uva. — ela disse, sorrindo e vendo uma linha amarela dançar no ritmo da risada dele. — Que foi?

  — Nada, é que... você dá um jeito de parecer cada vez mais rara.

 Foi a vez de Perenelle rir.

  — E com certeza seu romantismo também é incomparável! — ironizou.

  — Você sabe o que eu quis dizer. — retrucou ainda sorrindo.

  — Eu sei. Não imagino o que seria da minha autoestima sem você.

 Ela olhava para o chão com um sorriso idiota no rosto, mas o encarou quando Newt diminuiu a velocidade dos passos.

  — Com certeza, não sei o que seria da minha sem você. — ele disse francamente. Newt sabia que não era capaz de contar a ela o que ocorrera às crianças, mas sentia que explodiria com aquela história toda. As coisas apenas pioravam a cada segundo. E não importava quantas vezes fossem separados, ele nunca se acostumaria ao vácuo que sentia no peito quando acontecia.

  — Não pense nisso, ok? — Nelly disse, virando-se da direção dele e pondo a mão em seu rosto, acariciando seu maxilar com o polegar. — Seja o que for, Newt, não pense. Saímos do Labirinto e vamos sair dessa mértila toda também. Ordem, está lembrado? É assim que as coisas têm dado certo. Imunes ou não, precisamos viver um dia de cada vez.

 Ele permaneceu um tempo em silêncio e então forçou uma risada, baixando o olhar.

  — Quem é a líder agora?

 Nelly o puxou para um abraço, sabendo que aquela era uma tentativa extremamente falha dele de tentar amenizar o clima. Ela sequer queria isso. Não queria nenhuma faísca de esperança sobre as coisas. Queria apenas que tudo se resolvesse logo.

 Ela fechou os olhos sobre o ombro dele, uma das mãos sobre os fios loiros, e Newt sentiu uma lágrima escorrer de cada olho seu quando os fechou também.

 Os conhecidos berros insanos retornaram. Ecoaram pelo túnel até seus ouvidos, fazendo-os sobressaltarem e se afastarem. Perenelle quase ficou tonta com a quantidade de cores fluorescentes que rescenderam pelas paredes. Os dois voltaram a correr sem esperar mais um minuto, a Clareana guiando seus passos pelas curvas. Era difícil saber se os gostos ruins eram pelos gritos, pelo medo ou pelos caminhos.

 Continuaram avançando sem diminuir a marcha. Foi inevitável a satisfação ao verem a luz do dia no fim do corredor. Havia uma escada curta que levava a uma porta entreaberta. Vultos que passavam por ali eram visíveis e com certeza era impossível que correspondessem aos Pagãos. Faltava bem pouco para alcançarem a escada, quando um Crank surgiu escancarando a porta e berrando para os dois, os punhos fechados ao lado do corpo. Perenelle apertou seu facão com mais força e Newt fez o mesmo com seu taco, ainda sem pararem de correr. Assim que pisaram no primeiro degrau, ergueram suas armas, mas um segundo corpo do lado de fora acertou o Crank na cabeça com um bastão. Ele caiu e pessoas partiram para cima dele.

 Os dois saíram do túnel e Newt tratou de fechar a porta, trancando-a com um ferrolho.

  — Boa. — Nelly sorriu para Aris, apertando o ombro do garoto, enquanto ele ainda olhava com os olhos meio arregalados por ter acertado o Crank.

  — Curtiram o tempo a sós? — Minho indagou, aproximando-se com os ombros aprumados.

  — Bom ver você vivo, cara. — Newt disse com um imenso sorriso no rosto. Joe cruzou seus pensamentos como uma estrela cadente. — Onde se meteram?

 Os Clareanos se aproximaram deles após darem um jeito no Crank, alguns tinham latas de comida nas mãos, outros apenas armas.

  — Onde vocês se meteram? — Jorge indagou. — Aquele corredor era provavelmente o mais infestado de Cranks, achávamos que estivessem mortos.

  — De novo. — Mike emendou, encarando Perenelle. Ela não conseguiu evitar abrir um imenso sorriso ao vê-lo. Ele revirou os olhos com uma carranca e policiando-se para não sorrir ao virar o rosto para o outro lado.

  — Quantos somos ainda? — Newt perguntou, olhando ao redor e contando.

 Nelly fez o mesmo e, ao dar falta de alguém, deu um passo para frente para tentar ver além do amontoado de meninos.

  — Onde está o Thomas? — indagou incisiva e lançando um olhar urgente a Minho. Seu coração começava a bater muito forte dentro do peito. — Minho, onde ele está?

  — Relaxa. — o Corredor disse. — Ele e Brenda sumiram depois da explosão nos túneis. Estamos vagando pela cidade à procura de vocês quatro e de comida desde ontem.

  — E como isso serve para nos fazer relaxar? — Newt perguntou.

  — Brenda conhece aqueles túneis muito bem. — foi Jorge quem respondeu. — Com certeza encontraram algum lugar seguro.

  — O que causou a explosão?

 Nelly pôs seus dedos sobre as lacrimais dos olhos e apoiou o cotovelo na outra mão, sem a mínima vontade de saber sobre aquilo. Estava com dor de cabeça e sua maior vontade era começar a gritar com alguém até que cansasse e desmaiasse.  

  —... achamos que foram eles, mas não os vimos mais. Tiveram medo de entrar mais na cidade. — Jorge explicava.

  — É, pois não estão nem um pouco errados. — ela disse, ainda que não tivesse ideia de quem estavam falando. — Quanto tempo mais vamos precisar ficar nesse lugar? Têm alguma ideia de onde os túneis podem ter levado Thomas? Se não, é melhor pensarem rápido, porque não há pessoas legais por aqui.

  — O que você quer dizer? — Minho perguntou desdenhoso, o rosto franzido como se não desse valor às palavras dela. Era óbvio para qualquer um que Cranks não eram boa companhia.

  — Herman está vivo. — ela disse, e a tensão que se abateu sobre o grupo ficou palpável. O asiático cerrou os punhos ao lado do corpo, mas não encontrou o que dizer. Vários Clareanos se entreolharam. — Não sei se isso faz parte das Variáveis mertilentas do CRUEL ou se eles têm tanto plong na cabeça ao ponto de acharem que ele merece viver, mas está solto por aí.

  — Nós somos doze e ele é mole demais para conseguir fazer alguma coisa. — Caçarola afirmou.  

  — Ainda precisamos encontrar o Thomas logo! — ela exclamou.

  — Calma aí, hermana. — Jorge disse. — Quero encontra-los tanto quanto você, Brenda também está perdida por aí.

  — Não me importo com esse plong de garota! — esbravejou para ele. — Não sei que tipo de acordo você e Thomas fizeram, mas é bom para você que quando a encontrarmos ele esteja com ela e muito bem conservado!

  — Cara, você está naqueles dias estranhos de meninas?

  — Meu Deus, Minho... — ela murmurou, irritada, correndo as unhas pelo cabelo e dando-lhe as costas para respirar fundo.

  — Estamos cansados, passamos por umas coisas. — Newt respondeu.

 Perenelle sentiu um nó se formar em sua garganta ao lembrar-se das pessoas que ficaram no Mosteiro, e do que a Idosa havia dito: “Imunes ou não, cada um de nós está enlouquecendo à sua maneira”. Mesmo que fora daquele lugar eles ainda estivessem no mesmo inferno de mundo, ficar à mercê não só do Fulgor, como também de pessoas com uma crença que envolvia o sacrifício de outras pessoas, era muito pior. Além disso, ela sabia que não precisava estar no Mosteiro para enlouquecer de vez.

  — Estamos nos dividindo para nos espalhar por aí e espionar. Precisamos de mais comida, encontrar aqueles dois e dormir à noite, mas se quiserem deixar com a gente... — Minho disse, alternando o olhar entre Newt e a nuca da garota.

 Perenelle quase não acreditava que estava tendo oportunidade de escolher. Newt olhou para as costas dela, pensando.

  — Podemos ficar de guarda durante a noite. — ele sugeriu.

  — Boa essa. Vou adorar ter os dois pombinhos velando pelo meu sono. — Jorge ironizou e Nelly apertou mais os dedos sobre os olhos para não virar e responder. — Tem uma esquina vazia não muito longe daqui onde podemos ficar. Levo todos vocês até lá e depois nos espalhamos para buscar as coisas.

 Assim eles fizeram. Andaram por um tempo através da cidade (Newt e Perenelle atentos a qualquer sinal dos Pagãos ou algum olhar diferente que recebessem dos Cranks ao redor), e o grupo deixou o casal com Mike num beco de uma esquina. A garota se recolheu contra a parede no fim do beco, sem se preocupar em fazer qualquer comentário com os outros dois, deitou sobre o braço e concentrou-se o máximo que pôde no cansaço que sentia, deixando-o tomar seu corpo aos poucos.

  — Grande aventura? — Mike indagou com um meio sorriso, tirando a atenção que Newt prestava à Nelly.

  — Você não faz ideia... — ele resmungou, recostando-se à parede e unindo as mãos sobre os joelhos dobrados.

  — Minho piorou nas últimas horas, se quer saber. Tentava manter o controle de sempre, mas parecia estar perdendo a cabeça sem a feiura do Thomas e os seus conselhos geniais.

 Newt forçou uma fraca risada nasal.

  — É, vocês fizeram falta também. Ficamos prisioneiros de um pessoal nada gente boa.

 Mike podia não ser o mais sensível de todos eles ali, mas tinha certeza que perguntar o que acontecera em detalhes era extremamente inconveniente. Sabia que Newt se sentiria da mesma forma que ele se sentiu quando Nelly perguntou a ele sobre a Transformação: completamente nu.

  — Por isso ela está surtando assim? — ele indagou em vez disso.

  — Poderia ser pior, acredite. Como está o braço?

 Mike ergueu o que devia ser seu antigo punho, enrolado em bandagens sujas e finas pelo desgaste.

  — Você está trocando isso, não está? — Newt perguntou, ligeiramente preocupado, principalmente ao imaginar a reação de Perenelle ao ver aquilo.

  — Tanto quanto possível. Quase não consegui salvar minha mochila naquela tempestade e na explosão.

 Newt meneou a cabeça com um sorriso de canto, olhando para frente, as sobrancelhas franzidas.

  — Tomara que seja Imune, cara. — ele murmurou involuntariamente.

  — Como é?

 Newt enfim se deu conta de que Minho e os outros ainda não sabiam da descoberta sobre a possível imunidade ao Fulgor. Chegou a pensar que talvez fosse melhor Perenelle e ele guardarem aquilo para eles mesmos, mas sua confiança nos amigos era grande demais para ter medo da decisão deles.

  — Contamos depois, os outros também precisam saber. — disse e se levantou para recolher-se a um canto e dormir.

 

Newt chorava por cima do corpo da menina e uma poça absurdamente grande de sangue os rodeava. Não tinha certeza de há quanto tempo ela perdera a vida, mas não conseguia encontrar coragem para se levantar.

 Ele ouviu passos lentos aproximarem-se e ergueu a cabeça. Nelly tinha o terror impresso em seu rosto ao ver os dois, a mão cobrindo a boca e os olhos arregalados.

  — Como você... – ela começou num sussurro extremamente fraco. Quando o encarou, Newt sentiu seu coração murchar. O ódio que ela sempre tinha no olhar ao ver Herman era o mesmo de agora.

  — Nelly...

  — É impressionante, os dados mostram uma alta taxa de culpa e impotência. Nunca vi nada parecido. — uma mulher disse com uma prancheta na mão.

 Ela estava reunida com um grupo num canto, todos de jaleco, típica imagem de cientistas observando seu objeto de estudo. Newt queria se levantar e acabar com todos eles, mas suas pernas pesavam como chumbo. Nelly não estava mais ali. Ele olhou para a menina e suas mãos cobertas de sangue, mas o que viu foi um chão de pedra, com ramos de hera.

 Estava no Labirinto.

 Não sabia como se sentia de volta àquele lugar, apenas tinha um mau pressentimento.

  — Sinto gosto de sangue. — uma voz feminina e leve disse de um lado do corredor, sem um pingo de emoção na voz. Newt olhou naquela direção, mas não viu ninguém. — Agora de gente inocente. — ela continuou, o tom um pouco mais maduro, quase familiar, vindo do outro lado. — Sinto cheiro de mentira... — vinha de baixo agora. — de morte... de amor... Uma fogueira... Pular... Morrer...

 A voz de Perenelle ecoava de todo lado sinistramente. O coração de Newt batia muito rápido dentro de seu peito e novamente não conseguiu mover suas pernas. Olhou para cima e a viu agarrada à hera do muro, de alguma forma conseguindo se sustentar virada na direção dele, os braços esticados firmemente para se segurar nos ramos.

  — Nelly... — ele murmurou. Olhou ao redor à procura de ajuda e sentiu que teria mais chances de encontrar alguém se andasse pelos corredores, mas não tinha coragem para sair dali.

  — Fico até feliz que tenha me encontrado. Mas não quero que veja isso. — ela disse, ainda sem emoção.

  — Nelly... Não...

 Ele sabia exatamente o que estava acontecendo. Lembrava-se com exatidão daquele dia e parecia ter caído nele outra vez, apenas num ângulo diferente. Havia um besouro mecânico ao lado da garota. Ela estava tão longe do animalzinho quanto ele mesmo estivera antes de tentar tirar a própria vida.

  — Herman me colocou aqui. — ela disse. — Não quero ter mais lembranças, Newt. De mais ninguém nem de nada. Só quero que isso acabe. Quero poder ter uma vida normal com você e os outros. Você sabe que eu quero. Não sabe?

 Ela ergueu uma sobrancelha como se o desafiasse a responder.

  — Eu sei. — Newt respondeu ainda num sussurro, os olhos marejando gradativamente. Era impossível que ela o escutasse daquela distância. Mas os dois já sabiam exatamente o que um sentia pelo outro.

  — Então vire-se. Vá por aquele corredor. E não olhe para trás. Apenas durma. Está bem?

 Ele balançou a cabeça para os lados, negando-se a deixa-la sozinha ali. Nelly sorriu de canto.

  — Vai ficar tudo bem. Você precisa dormir. Está cansado. Confie em mim. No final, todos nós vamos acabar bem. Mas vire-se, Newt.

  — Não posso. Nelly, desça daí.

  — Eu vou. Prometo. Mas estou pedindo, com todo o amor possível, para que se vire.

 Newt apertou os olhos e lágrimas grossas escorreram por suas bochechas. Ele baixou a cabeça, soluços começando a escapar de sua garganta.

  — Odeio vocês... Odeio vocês... — sussurrou.

 Newt tinha a respiração pesada enquanto sonhava, o corpo encolhendo-se cada vez mais. Nelly estivera o observando há quase uma hora, desde que perdera o sono, e começou a se preocupar com os baixos gemidos angustiados que ele soltava às vezes. Debruçou-se sobre ele, apoiando o queixo em seu braço e abraçando-o por trás, como se assim a tremedeira do corpo dele parasse. Esticou os dedos até os fios loiros e ali ficou distraída com os próprios pensamentos, brincando infantilmente com as mechas. Newt soltou um suspiro e se acalmou.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! ♥

Bjs!



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