Socorristas escrita por BlueBlack


Capítulo 21
Apenas feche os olhos, garoto


Notas iniciais do capítulo

Olaaa! Vortei u.u

Meninas, amo vocês cada vez mais kkkk Obrigada por continuarem comigo *-*

Boa Leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/733980/chapter/21

Os Clareanos não demoraram a se situar após toda aquela estressante noite. Nenhum Verdugo atacou os outros quartos e salas, então os únicos que haviam se machucado foram Newt e eu, o que tornou mais rápida a reparação na Sede para a próxima noite, mesmo com menos mais um Construtor.

 Eu tentava ajudar com apenas um braço para não prejudicar o estancamento, mas acabei sendo inútil em tudo. Além disso, minha incapacidade de concentração era imensa. Era impossível prestar atenção no que eu fazia e por muitas vezes me vi indo para o lugar errado com os materiais errados, gastando tempo e energia sem necessidade. Gally e tudo o que havia dito não se desprendiam da minha cabeça de modo algum, por mais becos sem saída que as minhas suposições encontrassem. Haviaum significado, com certeza ligado aos Criadores e o porquê de estarem fazendo tudo aquilo conosco, ou ele não teria mudado tão de repente, e falado justamente aquelas coisas.

 Também tinha algo errado com “o mundo real”. Gally vira alguma coisa em sua Transformação que mostrara algum lado ruim na vida fora do Labirinto; provavelmente tinha a ver com a lembrança da última vez que vi minha mãe.

 E Variáveis... Parecia ser a parte mais importante do que ele dissera, ainda que não me parecesse com nada. Eu sempre sentia gosto de metal ao pensar nisso tudo.

  — Ele estava louco. – Mike comentou com a boca cheia, com mais altura que o normal pela escada em que se apoiava, e prendeu seu sanduíche entre os dentes para martelar um prego. O Verdugo havia feito um grande rombo na parede e tentávamos cobrir com uma tela para que não ficasse tão na cara quando voltassem.  

  — Precisa de mais. – concluí ao relancear para o tamanho que ele pregava na janela, e me inclinei sobre o amontoado de materiais para lhe estender o que faltava da tela. Ouvi uma nota musical fraca e uma linha prateada girar no ar sem motivo aparente, mas não dei atenção. — Ele estava machucado, Mike. – repliquei tristonha.

  — Você fala assim porque é seu trabalho. E porque seu altruísmo é letal para você.

  — Não muda nada. Você mesmo disse, ele não teria coragem de enfrentar os Verdugos. Então como ele se machucou daquele jeito? E por que se atirou pra cima de um?

 Remexi-me sobre os pés, inquieta, incomodada, quase desejando ter ido com os Corredores para o Labirinto naquela manhã.

  — E se foram os Criadores? – indaguei, encarando-o seriamente. — E se fizeram alguma coisa com ele porque sabia demais? Fico pensando se não foram eles também que me fizeram perder a memória no dia em que o Verdugo foi encontrado morto pela segunda vez. Alguma coisa aconteceu comigo, Mike, alguma coisa importante para aqueles mértilas. Talvez estejam realmente controlando as nossas mentes e obrigaram Gally a...

 Ele saltou da escada e parou na minha frente, arrancando o sanduíche da boca.

  — Você precisa parar com isso. – disse e abri a boca para retrucar, mas ele não deixou. — Talvez esteja certa, só talvez. Não temos como ter certeza, então pare de ficar se martirizando. – Mike pausou e intensificou seu olhar sobre o meu por alguns segundos, antes de suspirar. — Devia dormir em vez de ficar desgastando nós dois com essas ideias.

  — Puxa, você não é nada grosseiro. – ironizei e ele sorriu como se fosse um elogio.  

 Decidi deixa-lo trabalhar em paz e seguir a sugestão. Fui para um dos quartos desocupados, onde as mantas, lanternas e armas ainda estavam largadas pelo chão, e me deitei de lado na cama, abraçando o travesseiro e olhando para um ponto fixo, à espera do sono.

 “Gally acusou Thomas. Ele sempre fez isso, não é nenhuma surpresa”, as palavras de Mike de uma conversa no café da manhã retornaram à minha cabeça. Ele tinha razão, não era surpresa, mas não só porque Gally nunca gostara de Thomas; Alby e Ben fizeram a mesma coisa após passarem pela Transformação.

 Levantei da cama e saí do quarto, determinada, assim que percebi o melhor a se fazer.

  — Aí, Novata. – chamei ao parar ao lado das barras de ferro do Amansador, tendo uma boa altura para conseguir ver seus olhos extremamente azuis se destacarem da pele branca e do cabelo escuro quando ela apareceu. Chegava a ser sinistra.

  — Meu nome é Teresa. – repreendeu. Quis cuspir com o gosto de amendoim que tomou minha boca de súbito às palavras dela, mas decidi manter a educação; a antipatia dela era desnecessária por agora.

  — Lembrou-se de alguma coisa enquanto estava em coma? Alguma coisa do lado de fora do Labirinto?

  — Não vou falar sobre isso com mais ninguém além do Tom.

  — Tom? – ergui uma sobrancelha em descrença e soltei uma risada, olhando ao redor para ter certeza de que só eu tinha ouvido uma coisa daquelas. Nada poderia me deixar mais desconfiada que aquilo. — Ele não é seu advogado, cara. E se você não sabe, todos nós estamos do mesmo lado, mesmo que eu não pareça muito agradável para você.

  — Não depois de ontem, com certeza.

  — Você ameaçou um de nós. E antes de me julgar por defender alguém de um Novato, deveria procurar saber o que tem acontecido aqui.

 Teresa não respondeu, apenas devolveu o olhar frio.

  — Thomas contou a você o que houve ontem, certo? Sobre Gally? – indaguei e, após um segundo de hesitação, ela assentiu com a cabeça. — Sei que quase todo mundo aqui acredita que ele tenha enlouquecido, mas tenho quase certeza de que os Criadores estão por trás do sumiço dele. Gally foi um dos que ficaram piores pela Transformação, então não vejo sentido nenhum nele se atirar para os Verdugos por conta própria.

  — Bom, ele disse que não era boa ideia voltar ao lado de fora, não foi? O que alguém poderia fazer se essa era a opinião dele?

 Balancei a cabeça em negação e desviei o olhar por um momento. Não queria falar dessa parte com ninguém que não fosse Gally, e provavelmente ele estava morto, então não me interessava o que pensavam disso.

 Provavelmente. Eu passava cada segundo desde que ele fora levado me aferrando a essa ideia.

 Funguei e retorci o nariz para conter as lágrimas. Gally podia estar morto por razão nenhuma...

  — Só quero saber o que você sabe. – continuei, tornando a fita-la com o máximo de firmeza que consegui pôr em meus olhos. — Thomas já me disse várias vezes que esse lugar é familiar para ele, mas não se lembra de nada além disso. E deve haver um motivo para você ter sido a única que ficou em coma.

 Teresa olhou para baixo por um momento e tornou a me encarar.

  — Ele confia em mim, você também pode confiar. – acrescentei, querendo parecer convincente. Eu estava tentando não vê-la da mesma forma que vi Herman, mas antes disso ela precisaria sair da defensiva.

  — As coisas estão confusas na minha cabeça ainda. Posso ter ouvido vocês conversarem enquanto eu estava no coma, mas, quando eu acordei, senti como se os pensamentos estivessem sendo sugados da minha mente, então não tenho certeza de nada.  

 Pendi meu corpo para o lado para me apoiar na parede do Amansador. Aquela conversa não estava tomando nenhum rumo relevante.

  — Sabe alguma coisa sobre Variáveis? – perguntei sem esperança e rolei meus olhos para ela, que negou com a cabeça.

 Ficamos caladas por longos minutos, as engrenagens dos meus pensamentos trabalhando arduamente para encontrar um jeito de arrancar algo interessante dela.

  — Você está bem? – Teresa perguntou, olhando para o pano ao redor do meu braço, manchado de sangue. Eu havia tirado o lençol e o lavado, mas, sem o sol, sabia que não secaria direito para ser usado esta noite.

  — Tem sorte de estar presa aí dentro. – respondi e me afastei do Amansador logo.

 Os Corredores enfim ficariam no Labirinto até o dia seguinte para verificar se algo mudava e no que os movimentos dos muros implicavam vistos de dentro. A reparação na Sede do que o Verdugo havia feito não levou muito mais tempo e notei que Alby e Newt passaram a tarde toda como um casal conversando sobre o relacionamento.

  — Podemos começar lá pelas duas horas, o que acha? O Verdugo só atacou depois desse horário... – Newt murmurava ao líder quando Mike e eu nos aproximamos para saber o assunto.

  — Começar o quê? – indaguei, enfiando as mãos nos bolsos traseiros com um semblante cínico. Não dava para fingir que Newt não parecia esconder alguma coisa.

  — Vamos dar um jeito para que todos se revezem em turnos durante esta noite em cada cômodo da Sede. – Alby respondeu, enquanto Newt olhava para o outro lado.

  — Ótimo! Eu fico lá pelas duas horas! – afirmei com falso ânimo, encarando o loiro.

  — É, eu também. – Mike disse.

  — Não acho que esteja recuperada para isso. – Newt argumentou contra mim, olhando para o ferimento no meu braço e depois para os meus olhos.

  — Vou fazer alguma coisa a respeito mesmo que meu braço caia pelo caminho. – dei de ombros. Ele balançou a cabeça para os lados e desviou o olhar, mas não disse nada. — Confie em mim, eu dou conta.

  — Eu sei. – disse e me lançou uma última olhada antes de se afastar de nós, afagando a parte de trás do cabelo.

  — Qual o problema com vocês dois? – Mike questionou com as sobrancelhas franzidas para Newt antes de me fitar.

  — Ele só está estressado. – Alby disse, e quase não acreditei ao ver um olhar conciliador dele para mim.

  — Newt estressado? – falei cética.

— Newt? – chamei ao entrar no barracão de ferramentas dos Jardins. Ele mexia numa instante e permaneceu de costas. — O que aconteceu?

  — Nada. – respondeu após um tempo com o tom mais seco que já o vi usar.

 Franzi a testa para isso e senti meu sangue subir.

  — Não aja como um imbecil, seu trolho. Não sei o que eu fiz para você em menos de vinte e quatro horas, então apenas me diga. – disse friamente e me arrependi no instante seguinte; ele descansara os antebraços na prateleira e baixara a cabeça. Achei tê-lo ouvido suspirar até.

  — Gally tem sido um verdadeiro louco nos últimos meses. – ele se virou para mim com a postura tensa. — Só não mais que o Herman, e você sabe disso melhor do que ninguém. Mas mesmo assim quis ir ajuda-lo quando ele apareceu surtado ontem. – abri a boca pronta para protestar, mas Newt ergueu a mão. — Eu sei, sei por que fez aquilo, é uma das malditas coisas que mais admiro em você. Se quer que eu seja sincero, só estou preocupado. Estamos vivendo um verdadeiro inferno e nem o sol nós temos, e essa sua... maldita mania de se meter nas coisas vai te fazer pior do que já fez. – apontou displicentemente para o ferimento no meu braço e revirou os olhos, como se odiasse estar sendo tão sincero.

 Minha cabeça começou a doer e quando a cocei sem necessidade percebi que o rabo-de-cavalo preso por tanto tempo era o motivo. Evitando olhar para Newt, puxei o elástico e tentei me distrair com os fios soltos e a sensação de cheiro de pinho para pensar em algo a dizer.

  — Thomas acha que estamos fazendo parte de um experimento. Acha que os Criadores nos mandaram aqui para um teste ou alguma mértila assim. – comecei e Newt assentiu com a cabeça, o que me fez supor que Thomas falara com ele. — Eu também tenho pensado bastante sobre tudo isso, sobre Gally... E... – minha voz se tornou fraca; era a primeira vez que eu admitia aquela ideia concretamente. — Acho que não adianta lutarmos para sair... Eu digo... Já faz dois anos... Muitos de nós morreram e agora eles estão apressando as coisas mandando os Verdugos à noite. Se os Corredores não acharem nada no Labirinto, podemos sentar e esperar, não é? – ri nervosamente e corri as unhas pelo cabelo.

  — Nós vamos sair daqui. – Newt afirmou, aproximando-se devagar, sem tirar os olhos de mim.  

  — E depois? Os besouros estão nos observando, os Criadores controlam nossas mentes... Quem sabe o que vão fazer com a gente quando tudo isso acabar? Quem sabe... o experimento deu errado e somos completos inúteis e por isso vão nos matar?

  — Nelly, você, com certeza, não é inútil. – ele disse convicto, segurando-me pelos braços e seus olhos movendo-se pelos meus.

 Mordi o lábio com força e olhei para o chão, balançando a cabeça.

  — Não vou viver sem memória num mundo sem vocês. – falei com a voz embargada.

  — Vou estar com você. – respondeu. — E precisamos de uma razão para sair, pois é certo que morreremos se ficarmos. Então não pense no que vai acontecer depois, o maior problema agora... é a Clareira.

 Encarei seu peito por um tempo, meus olhos começando a marejar a frustração de tudo aquilo.

  — Sinto muito pelo que aconteceu com você no Labirinto. – murmurei e seus braços me puxaram num abraço imediatamente. — Sinto muito, Newt...

 Ele me apertou mais contra si e afagou meu cabelo, pousando o queixo no meu ombro. Eu sentia como se aquilo fosse uma maneira de afastar o assunto. Não demorou muito até que eu me acalmasse e meus olhos secassem. Se eu precisava de um motivo para sair do Labirinto e ter alguma fé, sem dúvidas era Newt.

 Minutos mais tarde, saímos do barracão e Tagarela vinha correndo até nós com a língua balançando para fora.

  — Oi! – cumprimentei alegremente e me abaixei para acaricia-lo. Parecia fazer décadas que eu não o via e só então a preocupação de que ele fosse ferido pelos Verdugos me atingiu.

  — Como malditos banhos transformam a lealdade de um cachorro... – Newt comentou sarcasticamente.

  — Vocês dois não vão mais passar um dia sem ficar de agarração? – Alby perguntou raivoso e marchando até nós. — Já são quase seis horas!

  — Vou enxotar os trolhos para dentro. – Newt avisou e deu um passo na direção da Sede.

  — Foi estupidez dormimos todos lá na noite passada. – Alby tornou a falar e Newt parou. – Devíamos ter passado aquele tempo estudando os mapas, trabalhando para dar o fora daqui.

  — É, acho que sim. – ele disse parecendo incerto e entreolhou-se comigo.

  — Pois então, vou ficar na Casa dos Mapas e cuidar disso.

  — Os Corredores vão fazer isso melhor. – Newt replicou.

  — Não temos tempo a perder, principalmente se for só para espera-los voltar. Vou para lá agora mesmo e tentar deixar meu traseiro intacto enquanto analiso tudo.

 Alby tirou um molho de chaves do bolso com certa satisfação de si mesmo evidente no rosto.

  — Tem certeza de que é uma boa ideia? – Newt indagou.

  — Não me amole. Vou pegar algumas armas na Sede e ir direto para lá.

 Alby nos deu as costas e se afastou sem esperar por resposta. Newt olhou para mim outra vez, mas decidi não dizer nada; eu não precisava deixar mais clara minha implicância com o líder.

 Levei Tagarela para o mesmo quarto em que eu ficaria, no segundo andar, sob alguns comentários ridicularizantes dos garotos dali. Tagarela pareceu entender o recado, pois se recolheu para um canto e ficou deitado sem fazer barulho algum, como sempre. Newt estava num quarto do outro lado do corredor, perto da escada. Ele havia tentado convencer Alby a tirar Teresa do Amansador, a pedido de Thomas, mas sem sucesso. Eu ainda não comentara sobre a conversa com ela, mas uma hora o faria. Caso eu sobrevivesse àquela noite.

 Não precisei fazer esforço para dormir ao ver que o garoto do primeiro turno já estava a postos com uma faca em cada mão. Eu apaguei instantaneamente ao deitar a cabeça no travesseiro, Tagarela logo ao meu lado. No entanto, mais rápido do que eu gostaria, outro garoto foi me acordar para que eu ficasse em seu lugar. Sentindo os olhos pesados e inchados, sentei sobre uma escrivaninha ao lado da porta e de frente para a janela, um facão comprido para a defesa.

 Os Verdugos já faziam seus barulhos do lado de fora, cada arma produzindo estalidos contra as rochas do chão, os gemidos atravessando sinistramente a madeira na Sede. Alguns garotos encaravam a porta ou a janela com os olhos arregalados, mas alguns ainda dormiam sem ouvir nada.  

 Porém, quando o Verdugo atacou a parede do andar de baixo, tudo estremeceu exatamente como da última vez, e todos se sentaram num movimento único. Tagarela ficou de pé, inquieto.

  — Saia da janela! – sussurrei alto a um dos garotos.

 O prédio estremeceu outra vez com mais uma investida do Verdugo e o garoto de cócoras caiu para trás. Era possível ouvir a madeira quebrando com os vidros de alguma janela no primeiro andar. Os barulhos foram ficando cada vez mais altos até que irromperam gritos de um dos cômodos. Manchas vermelhas de tom alarmante piscavam perante meus olhos a cada baque.

  — A Casa dos Mapas está pegando fogo! – um garoto gritou em frente a uma segunda janela, que dava vista mais ampla para um lado da Clareira.

 Corri até ficar ao lado dele, o facão firme na minha mão, e fui tomada pelo terror ao ver as labaredas dançando para fora das janelas da Casa, a fumaça escapando e tomando seu lugar no ar. Alby não estava à vista.

 Antes que eu pudesse reagir, o ferrão de um Verdugo fincou-se na madeira bem na nossa frente e pude ver a ponta dele brilhar do lado de dentro. Eu e o garoto caímos com o oscilar da Sede e nos arrastamos para longe.

 Tentei acreditar que Alby conseguiria ou já tivesse conseguido sair da Casa dos Mapas; tentei ficar e não me arriscar, por Newt e todos os outros, até eu mesma. Mas quem mais seria estúpido de sair para a horda de Verdugos lá fora?

 Peguei uma espada do chão e fui até o maior garoto do quarto, colocando-a em sua mão, encarando-o seriamente.

  — Fique no meu turno e não saia daqui. – falei, mesmo sob seus olhos amedrontados, e me aproximei da porta, abri-a e dei um passo para o lado de fora, quando Newt veio ao meu encontro e entrou de volta comigo, as mãos nos meus ombros.

  — Sabia que faria isso. – disse com o semblante repreensivo, quase raivoso.

  — Alby está lá...

  — Ele sabe se virar. Não vamos arriscar mais ninguém, me ouviu?

 Seus olhos pareciam querer dizer muito mais que aquilo e eu não podia deixar de me surpreender com a posição dele diante de um incêndio, onde o próprio amigo estava. Porém, Newt logo admitiu uma expressão sombria e melancólica, como se se sentisse mal por dizer tal coisa.

  — Ele pode já ter saído. – afirmei num murmúrio fraco, fitando seus olhos com determinação, minha mão em sua nuca. Newt não se perdoaria por agir daquela forma se algo acontecesse com Alby, eu tinha certeza.

 A Sede balançou com um estrondo alto e gritos no andar de baixo, fazendo-nos olhar ao redor, talvez porque todos subestimassem a estrutura do prédio. Alguém gritava por um garoto chamado Adam. Antes que eu me desse conta, minha mão escorregava para baixo e segurava a de Newt, e nós dois apertamos uma a outra com força, certamente para nos impedir de sair e agir.

 Pancadas surdas soavam, junto aos chiados e estalidos do Verdugo.

  — Pegaram alguém. – o garoto perto da janela disse, olhando para o lado de fora. — Estão indo embora...

 Entreolhei-me com Newt e saímos correndo do quarto, o aperto de nossas mãos se desfazendo quando tomei a dianteira da escada estreita. Ele gritou para que levassem o máximo de água para a Casa dos Mapas, mas não parecia possível que déssemos conta daquilo tudo. Atravessamos a Clareira até lá, praticamente do outro lado, e um Verdugo acabava de sair da parte de trás da construção, seguindo o mesmo caminho que os outros.

 Alcancei a porta já agarrando a roda da maçaneta e a empurrando, mas estava trancada. Forcei com o peso do meu corpo, o que foi completamente inútil: tudo era concreto. Newt me afastou e tomou meu lugar, desferindo um machado contra a maçaneta seguidas vezes. De trás de uma das quinas laterais, alguém acabava de sair caminhando devagar.

  — Newt... – minha voz morreu antes de eu terminar de dizer, calando-me completamente, enchendo meu peito de um terror tão grande que provavelmente me sufocava mais do que toda aquela fumaça faria. Eu esqueci como se respirava.

 Mike andava com o corpo tremendo, soluçante, soltando gemidos chorosos. Meus olhos marejaram rapidamente, o choque quase me prendendo no lugar. Corri até ele e ele se largou no chão, apoiado nos joelhos e numa das mãos... na única mão que ele possuía agora.

 Cerquei seu torso com meu braço, esticando a mão para tocar o membro violado, mas sem coragem, já gritando para que trouxessem panos. Mike de repente berrou; um berro longo e horrível, que expressava raiva e dor. Meu desespero cresceu com o aperto no meu peito e a quantidade de formatos cinza ao nosso redor. Eu chorava tentando conter os soluços, mas era quase impossível. Ele havia dito que ficaria no andar de baixo como vigia... Eu nem pensei em me preocupar... Por que ele tinha ido para a Casa dos Mapas?

 Gritei outra vez pelos panos, xingando e sem conseguir ver ninguém, apesar da certeza de que estávamos cercados pelos Clareanos. Newt repetiu o pedido com ainda mais urgência.

 Panos foram estendidos e agarrei um por um, sobrepondo uns os outros e deixando seu braço apontado para cima. Fiz pressão com todos eles, chorando ainda mais com meu peito doendo sob os gritos dele que aumentaram. Mike deitou no chão, os olhos apertados e a garganta despejando todo o horror daquilo.

  — Calma... Calma... Você vai ficar bem... Vou fazer você ficar bem, eu prometo, Mike... – eu murmurava, penteando seu cabelo bagunçado com os dedos, as lágrimas pingando no chão. Peguei os outros panos e prendi-os ao redor dos outros para que ficassem mais firmes, e Mike gemeu roucamente outra vez. Ele soltou um soluço solitário e seu peito parou de se mover tão rápido à medida que a respiração se acalmava. O pânico começou a borbulhar insuportavelmente. Mike não podia deixar a gente. Não podia...

 Seus olhos permaneceram fechados, a careta de dor indo embora aos poucos, seu semblante se tornando inexpressivo, a cabeça pendendo para o lado.

  — Ajudem-me a levantá-lo! – gritei furiosa para os mais próximos. Não soube quem, mas três garotos além de mim ergueram Mike e começamos a correr para a Sede. Eu não sabia quantos mais de nós aguentariam tudo aquilo.  


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Quem achou que eu mataria o Mike nesse (nesse) capítulo levanta a mão u.u
Bem, o que acharam? Teresa passando a perna ainda hein... Desculpa, não me dou o trabalho de fazer essa rapariga prestar.
Comentem para eu saber de vocês, hum? Espero que tenham gostado! ♥

Bjsss! ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Socorristas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.