Socorristas escrita por BlueBlack


Capítulo 1
Pinguça


Notas iniciais do capítulo

Oii!

Acho que não tem muito o que dizer por enquanto, apenas espero honestamente que gostem!

Boa Leitura!



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Antes mesmo de abrir os olhos, a primeira coisa da qual me dei conta foi de que minha cabeça doía e meus lábios também, pareciam inchados, com o dobro do tamanho normal.

 Meu corpo deu um tranco repentino; abri os olhos e sorvi o ar com o susto. O som de correntes batendo encheu meus ouvidos, mas logo cessou. A pele do meu braço estava exposta; o chão era frio e duro. O local estava no completo breu. O mínimo movimento que eu fizesse me trazia dor. Mas era tolice ficar parada ali.

 Ainda apoiada num dos joelhos para me erguer, respirando quase desesperada para não gritar de dor, um rangido alto soou acima de mim e o lugar se encheu de uma luz tão forte que me obrigou a fechar os olhos e xingar baixinho. Senti-me tonta, minhas pernas fraquejaram. Recuei e me apoiei na parede, tornando a fechar os olhos e controlando a respiração. Perguntas começaram a encher a minha cabeça, piorando a dor nela, então me recusei a pensar a respeito ao perceber o trabalho que daria para tentar desvendá-las.

 Inesperadamente me dei conta de vozes além do buraco aberto. Não fazia ideia do que diziam e muito pouco me interessava saber. O cansaço me dominava. Tive vontade de fechar a passagem acima e voltar a deitar.

 Concentrando-me na esperança de que o mal estar passasse para deixar o plano de lado, pisquei diversas vezes e cocei os olhos na tentativa de vencer a tontura. Arfei uma última vez e olhei para cima. Duas figuras sob o sol me encaravam e logo outras se aproximaram para observar; estavam muito longe, eu não alcançava a borda.

  — O quê... — minha boca e garganta estavam secas, nenhum som saiu.

 Girei o corpo para olhar ao redor à procura de uma saída (mover a cabeça só me faria cair de tontura). Uma das figuras próximas gritou algo e a voz soou grave. Pouco depois, uma corda foi jogada lá de cima, a extremidade amarrada num laço. Adiantei-me e coloquei um dos pés sobre ele, mas ao apoiar meu peso ele escapou. Apoiei na parede para manter o equilíbrio; sequer tinha forças para me sustentar direito.

 Alguém disse alguma coisa indiscernível lá de cima.

 Voltei para a corda, respirei fundo e arfei outra vez ao tentar segurá-la com mais força; era impossível. Encarei o chão e balancei a cabeça em sinal de que não conseguiria, e logo me arrependi de estar pedindo a ajuda de desconhecidos. No instante seguinte, alguém saltou e caiu com os joelhos dobrados ao meu lado. Era um garoto da mesma altura que eu. Não consegui prestar atenção em mais detalhes.

 Ele pegou a corda e amarrou ao redor da minha cintura, e questionei mentalmente por que eu não tinha pensado naquilo antes. Depois, gritou para que me puxassem, acenando com a mão para cima.

 Senti meus pés começarem a saírem do chão e os ouvi grunhir com o esforço. Eu queria ajudar para diminuir o peso, mas não tinha como. A uma altura suficiente, apoiei meus braços na borda para me puxar e joguei a perna esquerda para cima. Rolei até deitar de costas sobre o chão, duro também, mas desta vez com calombos. Tornei a fechar os olhos e a respirar fundo.

  — Ela parece pior do que deveria. — uma voz masculina estridente comentou e percebi que tinha me acalmado o suficiente para entender o que diziam.

  — Provavelmente vai ficar na cozinha. — outro disse.

  — É, ou regando as plantas do Zart. — opinou uma voz fanhosa. — Mas talvez não vá muito longe se continuar deitada aí.

  — Ei. Está me ouvindo? — uma voz mais grave indagou muito mais próxima do meu rosto. Abri os olhos e me deparei com um garoto de pele marrom-escura, a testa brilhando de suor e a expressão séria. Pisquei mais algumas vezes com a claridade que umedeceu meus olhos. — Está me ouvindo ou não?

 Assenti com a cabeça, minha garganta ainda muito seca. Inclinei-me para o lado e me apoiei no cotovelo para sentar, fazendo uma careta com a dor no corpo. Só então me dei conta de que preferia que todos virassem os olhares para outro lado.

  — Bom, bem-vinda à Clareira. — o garoto disse, o tom muito menos receptivo e mais cínico do que a frase em si.

 Apoiei-me nos braços e nos joelhos para me levantar e cambaleei para os dois lados ao ficar de pé. O círculo de pessoas ao meu redor não entrava em foco na minha visão.

  — Parece uma pinguça. — a voz fanhosa tornou a soar e eu encararia o dono se soubesse ao menos da onde vinha.

 De repente, meu batimento cardíaco tomou conta da minha atenção e meu corpo esquentou, não sabia se de vergonha por tanta gente me observando ou por provavelmente estar febril. Alguns cochichavam entre si e um garoto me olhava com deboche. Olhei ao redor e percebi: todos eram garotos. Pareciam ter em torno da mesma idade, mas o garoto de pele escura devia ser o mais velho.

 Como previsto, mover a cabeça me deixou tonta, e novamente meu corpo cambaleou para o lado. Prestes a cair, mal sentindo minhas pernas, as duas mãos fortes e nada delicadas do garoto de pele escura agarraram meus braços.

  — Não é melhor leva-la... — outra voz grave e mais distante começou e não consegui prestar atenção no restante. Não era sensato que eu deixasse que algum daqueles garotos me levasse para algum lugar; já bastava que eu nem soubesse como chegara ali.

 Ao sentir as fortes mãos guiarem-me entre os rapazes, empurrei o garoto para longe, a respiração acelerada. Estava cercada, não me sentia forte para passar no meio deles e fugir. O medo atingiu meu estômago, mas prestar atenção nos movimentos deles era mais importante.

  — Acalme-se. — ele disse, sem parecer alterado pela minha reação. — Vamos te explicar as coisas depois.

 Eu só queria que o mal-estar passasse antes de saber de qualquer coisa.

  — Socorristas! — ele gritou e pela primeira vez algo soou bem aos meus ouvidos. Estive a ponto de eu mesma pedir ajuda, mas eram completos desconhecidos à minha volta.

 Dois rapazes mais velhos, um alto e outro mais baixo, passaram entre o amontoado de garotos e estacaram de repente ao me verem.

  — Apenas façam o trabalho de vocês, acho que ela está com febre. — ele disse ríspido sob os olhares indagadores e surpresos deles.

 O mais alto se aproximou com o cenho franzido e colocou a mão sobre a minha testa. O mais baixo pegou meu pulso e verificou a pulsação.

  — Vamos levá-la para a Sede. — o segundo disse e me encarou. — Consegue andar?

 Cheguei perto de responder, mas hesitei. Eu precisava me sentir bem ou não conseguiria me defender caso tentassem alguma coisa, mas para me sentir bem precisaria confiar neles. O desespero começou a crescer dentro de mim, principalmente quando o rapaz moreno cruzou os braços impaciente; eles me levariam à força se eu não fosse sozinha.

  — Ok, abram caminho, vocês trolhos. — ele ordenou. — Carreguem-na para a Sede. – disse aos Socorristas, que se adiantaram e ergueram as mãos para me agarrar. Empurrei o mais próximo, consciente da confusão que estava causando. Não podia ficar parada ali o resto da minha vida, mas mal conseguia me sustentar. — Escuta, ou você vai sozinha ou vamos carrega-la, e ninguém aqui tem o dia todo.

  — Anda logo, Pinguça. — a voz fanhosa disse zombeteira. Eu soube que vinha logo de trás de mim, então me virei num movimento só e agarrei a camisa do rapaz que sorria entre os outros. Puxei-o para perto e ergui a mão para desferir um tapa. Em vez disso, meu próprio peso novamente foi demais para as minhas pernas e me vi puxando o garoto para baixo, tentando manter-me erguida. Minhas pálpebras pesaram, os sentidos começaram a ir embora e isso me aliviou; até que enfim não senti nem vi mais nada.

 


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Notas finais do capítulo

Hehe'! Meio curtinho, mas a chegada é a chegada e não costumo escrever primeiros capítulos muito grandes.
Espero que tenham gostado!

Até o próximo! ;)



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