Seus fios louros chicoteavam contra seu rosto e o vento gelado tirava a sensibilidade de sua pele. Os pés descalços já estavam tão frios quanto sua face e possuíam alguns ralados. Seu vestido simples tivera alguns pedaços deixados em galhos das árvores que insistiam em tentar pará-la.

A garota sorriu e correu para uma alta e robusta árvore. Ela subiu hábil e desesperadamente sem se preocupar com as leves ardências que sentia em seus pés e em sua mão esquerda a qual fora cortada por algo que a mesma não era capaz de lembrar.

Por alguns minutos ela ficou ali, sentada, tranquila, controlando sua respiração enquanto ria internamente de seus perseguidores. Até ouvir ao barulho de passos vindos da sua direita, fazendo-a despertar e pular da árvore para sair correndo pela floresta novamente.
Em certo ponto, se deparou com o caminho dividido em dois, e então escolheu um lado qualquer. No meio da pequena estrada de terra, subiu em uma árvore e atravessou por entre elas até o outro caminho.

Continuou a caminhar entre as folhas e galhos até encontrar uma casa. Desceu, indo até a porta e batendo de leve, acabando por abri-la. Encontrou ali um único cômodo empoeirado e o observou, logo dando os ombros e se sentando no sofá velho e mofado que ficava de frente para uma lareira apagada.

O único barulho que podia ser ouvido era o de sua respiração pesada pela corrida e da alcateia de lobos que morava em uma montanha a alguns quilômetros dali. Quando pequena, ela ouvira muitos contos sobre esses animais, que envolviam desde lobisomens até bruxas que transformavam pessoas.

Mas para ela isso era besteira.

Tudo em sua vida era uma besteira.

Ela queria saber o porquê de ter de usar um garfo para comer bolo e outro para comer peixe. O porquê de ter de estar sempre usando vestidos e saias. O porquê de ter de aguentar tanta gente fresca e garotos a cortejando mesmo sabendo que nunca se casariam. E principalmente: o porquê de ter de se casar com Remus Lupin.

— Okay... O cara até que é legal, educado e bonitinho... Mas eu não o amo! — disse enquanto rasgava um pedaço de seu vestido velho e enrolava em sua mão cortada.

Quando puxou o pano, apertando-o para estancar o sangramento, sentiu a ardência novamente.

— Argh!

— Ora, ora... Se não é Marlene McKinnon.

Marlene virou-se rapidamente já com uma flecha no arco, apontando-o exatamente para o meio da cabeça de seu novo acompanhante. O garoto de fios longos e negros riu e abaixou a flecha.

— Não atiraria em mim.

— Teste.

— Seria traição.

— Quem liga? Sou apenas a princesinha mais nova. A inútil do castelo.

— Você não é inútil... — ela levantou uma de suas sobrancelhas loiras para ele — Mas Remus notaria. Estava falando dele, certo? — o garoto deu um sorriso de lado e ela lhe respondeu com um tapa — Ai!

— Lupin não se importa realmente, só está fazendo isso porque nossos pais estão mandando. Aliás, o que faz aqui Black? — perguntou em deboche.

— Vossa Alteza, por favor. — ele a corrigiu e ela revirou os olhos — Preciso fugir às vezes também.

— Hum.

— Hum.

Depois, o garoto chamado Sirius se sentou no sofá ao lado dela e assim eles ficaram... Quietos e sem incomodar um ao outro, por mais que a vontade do príncipe fosse essa.

Eles não eram amigos e muito menos algo a mais. Somente conhecidos e com a possibilidade de logo serem parentes. A irmã mais velha de Marlene estava passando um tempo no castelo dele para o garoto se decidir com qual primogênita dos clãs menores ele se casaria. Black estava se aproveitando de tudo, afinal, tinha três mulheres só para si em seu lar, e ele não ficaria parado somente as olhando. Mas o que o rapaz realmente achava era que não precisava disso.

Ele não queria se casar.

Marlene também não queria se casar.

E foi essa semelhança que os tornou amigos. Grandes amigos. Mas essa amizade só vem depois. Enquanto isso nós, apreciadores dessa história, podemos nos divertir com suas inúmeras discussões.

Achou que essa seria mais uma história normal? Não. O que vou lhes contar está mais para um conto de fadas.