Aquele dia vinha sendo particularmente tranquilo. Hinata saiu para resolver alguns problemas no escritório do Hokage e Naruto, novamente, ficou em casa cuidando do filho.

Aos nove meses de idade, Boruto exigia toda atenção do mundo. Ainda não havia abrido mão — e não abriria tão cedo — do colo dos pais. Era um garotinho carinhoso, excessivamente manhoso e adorava ser o centro das atenções. Mais uma característica herdada de Naruto.

O pequeno já se arriscava a tentar ficar em pé apoiando em alguns dos móveis da casa, mas assim que o fazia não tardava para cair de bunda no chão. Além disso, Hinata vinha tentando estimular o menino, tagarelando aos quatro ventos e cantarolando sempre que possível, alegando ao marido que o bebê já era grandinho o suficiente para entender ao menos alguma coisa. É claro que Naruto não acreditava muito nas palavras da esposa.

Contudo, naquela tarde, não se controlou. A ideia de escutar o filho pronunciar adequadamente as primeiras palavras era tentadora demais. Por isso, após dar um banho nele, sentou-se no sofá com o pequeno em seu colo e o virou de frente para si.

— Vamos, Boruto — estimulou pela milésima vez — diga papai. Pa-pai.

O loirinho permaneceu imóvel, emudecido e, como sempre, entorpecido com o timbre da voz do pai. O Uzumaki soltou um suspiro cansado, escutando sons vindos da cozinha. Não tardou muito para a figura masculina surgir na sala enfiando um pedaço de torta enorme na boca.

Ah, quase se esqueceu de sua agradável visita.

— Talvez ele também tenha herdado sua idiotice. — Sasuke pronunciou de boca cheia, escorando na batente da porta.

Naruto rolou os olhos.

— E você tem que tomar vergonha na cara. — revidou — Hinata não pode nem sair de casa que você vem atacar a geladeira.

— Não tenho culpa se a Sakura é uma péssima cozinheira.

— Péssima? — arqueou uma sobrancelha loura.

— Terrível. — confessou, sentando-se no outro sofá.

Os dois sorriram de canto e a conversa foi interrompida no momento em que Boruto soltou sons desconexos, como se esforçasse para conversar. Naruto voltou toda a atenção para o filho, extasiado.

— Isso, Boruto.— praticamente gritou, eufórico, fazendo o moreno rolar os olhos — Fala papai. Papai. É muito fácil. PA-PAI. Papa.

— Se nem a Hinata conseguiu fazer esse menino falar duvido que você consiga. — provocou. Naruto mexeu no lugar, sentindo a irritação subir até a cabeça. — Até a Sarada, que é mais nova, fala papa. — loiro crispou os lábios, desgostoso.

— Sua filha é anormal. — revidou, desistindo de estimular o filho. Apenas o virou e o colocou entre as pernas. — Não é atoa que Boruto detesta ela.

Os dois viviam se alfinetando a respeito dos pequenos, contudo, secretamente, eram apaixonados por seus respectivos afilhados. Porém, certas coisas nunca mudam, incluindo as brigas infantis entre os dois.

— Minha Sarada é perfeita. — cruzou os braços, irritado. — O seu que é um minidobe. Quero ele bem longe da hime.

— Nem mesmo o Boruto quer ela por perto, dattebayo.

O Uchiha trincou os dentes, desgostoso e pronto para pular no pescoço do amigo. Naruto também não estava lá muito contente. A briga só chegou ao fim quando o inesperado — e coloca inesperado nisso — ocorreu. Uma voz doce ecoou pelo cômodo, deixando os ninjas boquiabertos.

— Dattebasa!

Os dois desceram o olhar até o garotinho. Ele ria, mostrando os dentinhos que ainda despontavam da gengiva, balançando os braços e as perninhas gorduchas em toda sua doçura e inocência.

Imediatamente, Sasuke levou as mãos até a boca, balançando os ombros e encolhendo-se no sofá. Já Naruto ficou mais branco que a parede, encarando o filho como se assistisse um filme de terror. O moreno não aguentou e, por mais impossível que pareça, demonstrou emoções além de sua típica carranca; soltou uma gargalhada alta que reverberou pelo cômodo.

— Esse pirralho é mesmo seu filho. — falou entre as gargalhadas. — Deixa só a Hinata descobrir que a primeira palavra dele foi dattebasa. — e riu ainda mais — Ela vai te matar, você sabe disso, né?

Naruto acenou com a cabeça, engolindo o seco.