Por mais que tivesse passado pela mesma situação há cerca de dois anos e cinco meses, Naruto não conseguia parar de olhar a esposa. Ela vivia reclamando que estava feia e gorda, contudo, a única coisa que ele enxergava era a mulher linda que ela se tornava cada vez mais com o passar dos dias.  

Hinata estava na vigésima semana e nem mesmo suas roupas largas escondiam o ventre avantajado. Muitas vezes, ele se pegava admirando a Uzumaki, achando incrível como ela parecia flutuar de tanta felicidade. Sempre sentia uma sensação acalentadora ao vê-la subitamente parar, com um sorriso no rosto, para acariciar a própria barriga. 

Os olhos da morena transbordavam amor e, nesses momentos, Naruto simplesmente não conseguia deixar de se maravilhar.  

Ao contrário do irmão, sua princesa — que Hinata nomeou como Himawari — era quietinha e quase não se mexia. Ao menos, não para o pai. Ele tinha certeza de que a menina possuía alguma habilidade especial ou sensor extra, já que só resolvia se mover ou quando ele estava longe ou quando estava ocupado.  

Isso o frustrava em proporções épicas.  

Certa noite, após colocar o filho para dormir, o shinobi deitou-se ao lado da esposa. Hinata estava encostada na cabeceira, lendo um livro grosso, aparentemente desinteressante, com uma concentração quase que desumana.  

Remexeu-se na cama, sentindo uma pontada nas costas. As dores na coluna tornaram-se mais constantes, afinal, vinha passando muito tempo com Boruto no colo já que a jovem estava proibida de pegar peso até o fim da gravidez.  

Fitou o rosto bonito da esposa, admirando o brilho nos olhos perolados. De repente, ela colocou o livro grosso de lado e passou os dedos pela barriga forrada apenas pelo tecido fino da baby doll.  

Naruto ficou alerta. As safiras azuis brilhavam.  

— Ela está bem inquieta hoje. — comentou, sorrindo bobamente, ainda acariciando a própria barriga. Ficou assim por um momento, até notar o olhar do marido sobre si. Não pôde deixar de sorrir mais. — Sinta ela, Naruto-kun. — incentivou, todavia, tudo o que recebeu foi uma expressão aborrecida. O loiro fez um biquinho adorável, chutando as cobertas enquanto se sentava. 

— Ela não se meche para mim. — revelou e a ex-Hyuuga meneou levemente a cabeça. Pegou a mão do marido e a levou até a própria barriga. 

Naruto endireitou a coluna, nervoso e passou a mão por toda a extensão da pele quente, esperando qualquer movimentação.  

Nada.  

— Converse com ela. — Hinata quebrou o silêncio. 

— Bebês não entendem. — respondeu em um sussurro, continuando a acariciar o ventre arredondado, ainda esperando por qualquer reação do bebê. 

— Mas escutam. — ela retrucou, repuxando o canto dos lábios em um sorriso, sabendo que ele não resistiria. — E a Hima adora que conversem com ela. 

Naruto não pôde deixar de sorrir com a revelação. Determinado, aproximou a face da barriga e pensou que aquela situação era muito embaraçosa. Ele não tinha ideia do que dizer. Como se começa uma conversa com um bebê que sequer veio ao mundo? Sentiu os dedos de Hinata afagando seu cabelo e ela sorria, provavelmente percebendo que ele estava sem jeito.  

— Oi, Hima. — falou baixinho e esperou; um minuto depois sentiu uma movimentação quase imperceptível.

Arregalou os olhos e os desviou para a esposa, visivelmente chocado, ainda sem acreditar que havia mesmo funcionado. Hinata retribuiu o olhar como quem dissesse 'eu avisei', porém o loiro ignorou, eufórico demais para provocá-la. 

— Acho que você será bem tagarela. — continuou a conversar com a barriga, sentindo-se mais à vontade. Em resposta, recebeu um chute vindo de encontro à sua mão. Hinata deu um pulo, assustada com a movimentação repentina e ele gargalhou. — Ainda bem que você não dá tanto trabalho para a sua mãe. Seu irmão, antes mesmo de nascer, era um pestinha. Rodopiava aí dentro.  

Hinata riu, pensando que era verdade. Em sua primeira gestação, Boruto não parava um segundo sequer; em compensação, Himawari era bem mais quieta.  

O shinobi deitou a cabeça no ventre avantajado, continuando a tagarelar com a neném, mal podendo esperar para ver sua princesinha correndo pela casa.