Unchained escrita por LouisPhellyppe


Capítulo 34
Nothing but the Truth (Part 1)




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Três dias se passaram desde que fiquei em recuperação. As coisas passaram longe de sair como planejamos. Pelo lado positivo, tivemos um bom tempo para respirar longe dos planos de Ash. Já pelo negativo, ficava cada vez mais difícil e preocupante o qual seria seu plano ou o de Mal'Damba que desde então desapareceu com Amy.

Emily conseguiu descobrir pelo sangue de Cassie que o que a deixou no estado de loucura de quando nos enfrentamos, foi uma substância usada em seu corpo, criada pela mistura do soro com o sangue de Evie, revelando para nós o qual seria o motivo dele ter drenado parte de sua energia e sangue. Enquanto Cassie estava em coma, Emily e Jess passaram a pesquisar juntas sobre um antídoto, não tendo chegado a nenhum resultado até o momento.

O clima entre todos era tenso, era difícil lidar com tantos contratempos de uma vez. Cassie ainda estava em coma enquanto não sabíamos como desenvolver um antídoto, Amy não deu sinal de vida após sumir enquanto lutava contra Mal'Damba, Tony estava ficando paranóico com o desaparecimento da irmã gêmea e eu ainda tinha certa dificuldade para andar.

Com esses dias eu notei que meus poderes diminuíram, eu não conseguia mais enxergar no escuro e meus reflexos estavam muito mais baixos do que eu estava acostumada. Emily disse que pode ser por conta do soro que estava no sangue que perdi.

De alguma forma, o que sobrou do soro no meu corpo, ainda é capaz de acelerar minha regeneração, mesmo que bem devagar. O ferimento já havia se fechado e parado de sangrar, mesmo que ainda não tivesse cicatrizado, enquanto o ferimento na mão esquerda já estava em processo de cicatrização.

Eu conseguia notar o como a azulada estava ansiosa e preocupada em relação a sua irmã. Ela estava ficando cada vez mais apegada a mim, por sentir falta da presença da mais velha, o que me deixava mais preocupada. Percebi que ela parecia bem segura quando do meu lado e isso também fazia eu me sentir segura. Para me auxiliar durante as noites e os dias, Evie sempre queria estar perto de mim. Desde então passamos a dividir uma cama e Ying deixou um quarto para nós duas, enquanto Jess decidiu ficar no quarto de Emily, por estarem se tornando cada vez mais íntimas.

Não ter meus poderes estava me fazendo ficar cada vez mais desanimada enquanto os dias iam passando, mesmo não querendo deixar isso claro para Evie, que continuava se esforçando para manter a esperança que conseguiríamos sair desse problema.

Suiça - 8 de Janeiro de 2023

Acordo cedo e fico sentada na cama sem sono até ouvir alguém batendo a porta.

— Maeve, tá acordada? - Sussurra Karol entrando no quarto ainda escuro por conta da janela fechada.

— Sim, pode entrar. - Falo calmamente enquanto me encosto no travesseiro e cruzo as pernas.

— Evie ainda dorme né? Se quiser posso voltar mais tarde. - Ela aparenta estar preocupada, havia horas que eu não saía do quarto para nada.

— Não tem problema, pode vir. - Continuo calma.

A mais velha entra, fecha a porta e se senta na ponta de minha cama, onde eu liberei espaço. Evie ainda dormia em um sono não pesado, mas cansado por não ter conseguido descansar bem a noite.

— Maeve, você não come a quase dois dias! Isso pode atrapalhar sua recuperação. - Ela comenta baixo.

— É, acabei ficando perdida em meus pensamentos por muito tempo. Mesmo que o tempo nesse estado passe bem devagar. - Me refiro a recuperação.

— Você não vê a luz a dois dias. Isso é por conta dos seus olhos, não é? - Ela pergunta tendo noção que estava tocando em uma ferida.

— Eu não queria falar sobre isso. - Tento desconversar.

— Eu não vim para dizer coisas que você já sabe. Eu só quero que saiba que eu sei como você se sente. - Quando ela para de falar eu me lembro que ela é cega. - Não vejo mais luz, não vejo mais cores, não vejo mais os rostos das pessoas que amo e que luto para proteger.

Eu começo a refletir sobre o como ela se sente. - Eu sou...muito egoísta. - Coloco a mão no rosto em reprovação.

— Não é isso o que eu quero dizer. - Ela diz se aproximando. - Eu não desisti Maeve! Mesmo com essa deficiência, eu aprendi a viver com isso. Não são seus poderes que te definem, são suas atitudes quando mostrar para todos que isso não te faz mais fraca. - Ela diz fechando meus olhos com as pontas dos dedos.

Ela tinha toda razão. Ao invés de lamentar estar perdendo meus poderes, eu deveria mostrar que posso ser forte sem eles.

— Obrigado Karol. - Digo a abraçando.

— Não precisa agradecer, pequena. Eu só quero que esteja bem. E mesmo que eu não possa ver, quero saber que nesse rosto, tem um lindo sorriso. - Ela diz e puxa meus lábios com a ponta dos dedos fazendo um sorriso em meu rosto.

— Eu prometo que vou sorrir. - Digo a abraçando mais uma vez e sorrindo.

— Tudo bem. Vou estar lá embaixo com os outros. Quando se sentir melhor, nos encontre lá. - Ela sorri enquanto sai e fecha a porta novamente.

Karol realmente conseguiu fazer eu me sentir melhor essa manhã. Agora cabe a mim colocar em prática.

— Tá tudo bem? Você acordou cedo. - Diz Evie bocejando e se espreguiçando na cama.

— Sim, estava assistindo você dormir. - Digo a fazendo corar.

— Eu ouvi você conversando com alguém. - Ela comenta se levantando e indo em direção ao banheiro do quarto.

— Karol veio me chamar pra comer! Não notei que estava quase 2 dias sem comer. - Digo deitando na cama novamente. Eu realmente deveria estar preocupada comigo.

— Eu estou preocupada com você quanto a isso e quanto ao escuro. Uma hora você tem que sair e ver o claro novamente. - Ela fala chateada.

— Você está certa, vou me arrumar então. - Digo me levantando da cama.

— Mesmo? Tipo, sem tentar me convencer que não precisa? - Ela estica a cabeça pela porta do banheiro.

— Claro senhorita Evelynn. - Digo entrando no banheiro e a deixando de queixo no chão.

— Como...como você sabe meu... - Ela parou de falar de repente e percebeu algo. Serrou o olhar em direção ao espelho e ficou se encarando.

— Emily! - Nós duas falamos em uníssono.

Ela me encarou e começamos a rir.

— Você é demais. - Ela diz olhando para baixo, aparentemente com vergonha.

— Não é pra tanto, eu acho Evelynn um nome muito bonito. Por que nunca me contou? - Pergunto de curiosa.

— Minha mãe me contou que meu pai escolheu meu nome antes de morrer, mas só me chamava de Evie. Ele achava um apelido fofo e que parecia comigo, tipo, uma bolinha branca com cabelos azuis. - Ela conta sorrindo.

— Que história linda. - Vou atrás dela e a olho nos olhos pelo espelho. - Vou te chamar como você quiser! - Digo dando um beijo em sua bochecha.

Ela fica corada e vira abraçando meu corpo e olhando nos meus olhos. - Você pode me chamar até de seu amor. - Ela fala rindo e em seguida me da um beijo, mais curto que os outros mas sempre a mesma sensação.

— Vamos nos aprontar logo, temos que ver o pessoal. - Digo me animando e voltando para o quarto.

Eu me visto com mais uma regata branca, uma calça idêntica a minha, que Evie me emprestou e as botas de sempre. Ela apenas colocou uma camisa preta de mangas longas azuis, prendeu seu cabelo em pigtails novamente, uma calça jeans azul e as botas pretas que iam até o joelho.

Ao descermos as escadas já nos encontramos com Tony e Jess conversando no sofá. Não parecia estar um clima muito bom, mas estavam se esforçando.

— Maeve! - Tony fica surpreso a me ver.

— Falei que ela viria. - Disse Jess rindo ao ver a surpresa dele.

— Oi pessoal, parece que viram um fantasma. - Eu brinco.

— Tava na hora! - Diz Emily entrando na sala segurando um pote cheio de biscoitos.

— CHOCOLATE! - Diz Evie pulando da escada em uma tentativa fracassada de pegar o pote da mão de Emily.

— Quando você fala assim, me lembra muito um robô amigo meu! - Digo para Emily, me referindo a Bolt.

— Bom dia Maeve. Como se sente? - Pergunta Ying entrando na sala. Com um avental de cozinheira, ela ficou mais fofa do que já era de costume.

— Bom dia. Estou um melhor que nos outros dias. - Digo sorrindo e me sentando ao lado de Jess.

— Emily, só um pouco? - Diz Evie ainda caída no chão depois de seu pulo, fazendo cara de quem iria chorar.

— Eu sou uma criança em fase de crescimento! Açúcar me da energia para pensar melhor. - Completa a baixinha enfiando 3 biscoitos de uma única vez na boca.

— Emily, não seja rude. Divida com ela. - Diz Ying cruzando os braços em desaprovação.

— Devia dividir. Todo esse açúcar pode te dar cárie sabia? - Evie tentou convencer a garotinha.

— Do mesmo jeito que o chocolate pode te deixar gorda. Você acha que ela vai te querer se você rolar ao invés de andar. - Ela reclama com a boca ainda cheia de biscoitos, encarando Evie e apontando para mim.

Não pude conter a risada ao ouvir isso, enquanto todos estavam com medo de Evie congelar o prédio inteiro para ter os biscoitos.

— Como ousa sua... - Evie começa a falar e é interrompida.

— FOOOOGO! - Ouço o grito de Karol vindo da cozinha.

— Você não deixou logo a garota cega cuidando do fogão sozinha denovo. Deixou? - Emily olha com desaprovação para Ying.

— Ops. - Ying diz engolindo em seco e correndo em direção a cozinha.

Demos uma pequena risada juntos mas o silêncio e o clima tenso se instalou novamente por alguns segundos.

— Alguma notícia de Cassie ou de Amy? - Pergunto preocupada quebrando o silêncio.

— Nada sobre Amy. - Diz Tony de cabeça baixa.

— Mas Cassie não está mais com febre pelo menos. - Completa Jess.

Ao falarmos sobre sua irmã, Evie apenas cruza as pernas sentada no chão e fica de cabeça baixa. Ao ver isso, Emily estica o pote de biscoitos para ela, na intensão de a deixar melhor. Evie olha para ela e as duas trocam sorrisos sinceros.

— Hoje a noite eu vou procurar por Amy denovo. Quer ir comigo Maeve? - Diz Tony olhando pela janela atrás do sofá que estávamos.

— De...de noite? - Pergunto engolindo em seco e olhando pela janela. Ainda não estava pensando na idéia de me "acostumar" com o escuro.

— Eu adoraria ir! - Diz Evie colocando um biscoito na boca e serrando o olhar na direção de Tony, o fazendo engolir em seco.

— Maeve não está autorizada a sair ainda. Pelo menos não antes de eu a avaliar. - Diz Ying voltando a sala.

— Você não... - Começou Emily.

— Não! Eu estou lá. - Ying responde querendo dizer que ali era um clone.

— É uma pena, não é Toninho. - Diz Evie o caçoando. - Vai ter que ir com Jess. - Ela joga para a esverdeada.

— Eu? - Jess corou.

— Eu sei que adoraria ir com ele, não precisa insistir. Podem aproveitar pra se conhecer melhor, todos já notamos que ele gosta de você mesmo. - Evie completa fazendo cara de inocente e sendo fuzilada pelo olhar dos 2.

— Acho que já está pronto. O cheiro está ótimo. - Grita Karol ainda na cozinha.

— Mas você... - Começou Emily.

— Eu estou lá, acho que ela ainda não notou. - Ying diz virando os olhos. - Venham. Vocês precisam comer algo descente, então com uns ingredientes que consegui de forma totalmente honesta...

— Mercado negro. - Sussurra Emily tapando a boca para que Ying não a desaprove novamente.

— ...consegui preparar alguns pratos típicos de onde venho. - Ela finaliza sorrindo e indo em direção a cozinha sendo seguida por todas nós.

A verdadeira Ying terminava de arrumar a mesa enquanto Karol apenas segurava as coisas que ela pedia e tentava não deixar cair.

Era um banquete não tão grande, mas parecia o suficiente para nós todos. Sentamos sob a grande mesa retangular. Eu, Evie e Jess de um lado, Tony, Karol e Emily do outro e Ying ficou em uma das pontas.

Assim que ela destampa a primeira caçarola, sentimos um delicioso aroma subindo.

— Esse é um Kimchi. É um dos mais conhecidos pratos coreanos. Ele é feito de acelga, repolho, rabanete ou nabo em uma conserva apimentada. - Ela explica o prato principal.

Nossos olhos brilharam ao ver o kimchi e notamos que realmente estávamos com fome, quando todos nossos estômagos roncaram em um coral.

Em seguida ela destampa a segunda caçarola e o cheiro nos encanta novamente.

— Esse é um Sulleongtang. Ele vai perfeitamente com kimchi. É um caldo feito com rabo de boi estufado, macarrão de vidro e cebolinha. - Explica o acompanhamento.

— Uaaau. - Todos nós falamos boquiabertos.

— Eu lembro disso. - Diz Evie com um pequeno pesar em seu olhar sobre a comida.

— Do que lembra? - Pergunto e todos a olhamos esperando a resposta.

— Minha mãe costumava fazer isso pra mim quando morávamos no Japão, ela sabia que eu adorava esses dois pratos. - Ela abre um sorriso, mesmo ainda com o pesar no olhar.

— Nos tornamos uma família quando nos conhecemos. - Disse Tony.

— Agora vocês também fazem parte dela. - Completa Karol passando as mãos devagar pela mesa enquanto procura os talheres. Emily empurra os talheres para perto de sua mão e ao encontrar, ela sorri.

— Obrigado pessoal. - Diz Evie abaixando a cabeça em reverência.

— Agora vamos comer. Se a comida esfriar pode ficar parecendo borracha. - Emily diz tentando se esticar na mesa para colocar a comida em seu prato.

— Como é? - Ying a lança um olhar mortal.

— Na...nada. - Responde a garotinha ficando pálida de medo.

— Sem mais biscoitos hoje! - Ying serra o olhar em sua direção e cruza os braços.

— Você não pode fazer isso comigo! Eu vou morrer. - Lamenta a pequena e em seguida todos nós começamos a rir.


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