Os amores de Naná escrita por Renata Prestes


Capítulo 3
Clarice


Notas iniciais do capítulo

Faz quase um ano que eu não posto rs
Esse não é tão cheio de romance, talvez tenha mais comédia mesmo, me diverti muito escrevendo, espero que seja do agrado de vocês ♡ Aqui vocês conhecem uma Naná mais jovem e um pouquinho mais inocente, quase uma Marta, ou não!
E obrigada Wendy pelos comentários mais lindos do mundo ♡

https://www.youtube.com/watch?v=7vL9VqWSloo



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Região metropolitana de Salvador, 2091

Eu estava com meus quinze anos e estava determinada a ser artista, das boas. Uma daquelas promessas que fazemos dentro de nossas cabeças e sabemos no fundo que não levaremos pra frente. Tia Célia ganhava um bom dinheiro com as costuras, dinheiro o bastante pra me pagar aulas de pintura.

As tais aulas começariam no fim de fevereiro e eu esperava ansiosa o carnaval passar pra aprender sobre as tintas e os pincéis, incrível não é? Eu, Nalbina, querendo que o carnaval passasse logo! Não me importavam as fantasias, os confetes, as marchinhas, eu só desejava o fim de fevereiro, queria março logo, nunca desejei tanto algo na vida. Só fui desejar depois que as aulas começaram. Quando me dei conta já estava na soleira da porta esperando, ansiosa a tal professora me receber, tia Célia havia me colocado num vestido azul de brim que me deixava com um ar mais sério e mais maduro do que eu carregava, oxe, eu madura? Nunca fui, de criança tenho tudo, menos os pensamentos.

Uma senhora de idade abriu a porta pra mim, devia beirar os setenta anos e usava um lenço na cabeça:

—Entre minha filha- ela disse fazendo um gesto para que eu adentrasse a casa, que visão magnifica eu pude ter, pelas paredes da casa diversas pinturas, ora paisagens ora retratos, todos do mesmo traço fino e doce como se uma mão angelical os tivesse traçado e colorido. Tal mão me foi apresentada logo em seguida, depois de ficar sentada no sofá da sala por alguns minutos observando aquelas obras eu vi, a dona das mãos de anjo.

Talvez eu precisasse de vários capítulos pra descrever tamanha formosura, o que eu vi se assemelhava a uma deusa e sempre que lhe falei isso ela me dizia a mesma coisa “bobinha essa Naná” boba, boba sim, boba de amor! Vindo de uma porta que dava não sei aonde me apareceu a dona das mãos divinas, ela era alta e magra parecia que deslizava no carpete, seu vestido arrastava a calda rosada no chão e seus ombros se mexiam de maneira graciosa tal qual a brisa de outono levantando as folhas das árvores pelo chão:

—Nalbina, é tu querrida? – ela disse com um sotaque francês, ah meu deus aquele sotaquezinho me pegou de jeito, agora sim eu fiquei perdida, não sei ao certo quanto tempo fiquei boquiaberta, ela me deixou assim, eu não sabia mais respirar... Ela lembrava o pessoal cult e underground do Rio. A professora levantou as duas sobrancelhas esperando uma resposta que viesse de mim:

—Sou eu sim, é, sou Naná- respondi ainda confusa tentando assimilar a altura e beleza dela que me estendeu a mão para cumprimenta-la, eu por instinto beijei a mão de escultora de planetas que soltou um riso abafado e agudo e me lançou um olhar de curiosidade, uma mulher que beijava a mão de outra...

—Suis-moi chérie- ela disse seguindo pelo longo corredor enquanto eu continuava estática e a senhorinha de idade me explicava “é pra seguir ela minha filha”, segui.

Chegamos em um quarto-ateliê grande de teto abobadado, as paredes pareciam ser mais caras do que minhas roupas e estavam todas atulhadas de quadros feitos provavelmente pela bela dama que estava a minha frente:

—Meu nãããme, nome- ela disse se corrigindo- é Clarice Lafaiette, sou forrmada na Academia de Artes de Parris e pelo o que sua tia disse a senhorrita é bem interessada em arte não é mesmo?- sua boca mexia, mas parecia que ela não dizia palavra,  aquela boca rosada ia e vinha me falando sobre os grandes pintores, sobre pincéis, sobre cavaletes, e eu não ouvia, foi assim nesse dia, e no segundo e no terceiro também. Na quarta aula eu já estava hipnotizada e cada palavra da francesinha era uma derretida em mim, no fim da quarta aula a noite já subia, umas nove horas da noite pra ser exato e Clarice me chamou pra ficar mais um pouco em sua casa e beber alguma coisa. Seguimos para seu quarto, ora, era onde tinha sua mesa de bebidas, ela me serviu um vinho, eu nunca havia tomado aquilo, sempre fui menina de cachaça. Parei para observa-la, como o coque de seus cabelos negros com algumas mechas onduladas caindo em seu rosto lhe concediam um ar tão serio, sua pele tão branca contrastava com o tom do cabelo, seu rosto traçado finamente como suas pinturas, um rosto de nanquim; Ela devia medir lá pelos 1,80 de altura e eu era aquela coisinha mediana, ela toda longilínea e eu ainda saindo dos meus ares de criança, ela usava um vestido coral que parecia não combinar com a aura escura que a envolvia mas delineava seu corpo longo e a fazia parecer uma ninfa, ela me serviu vinho e nos sentamos em sua cama a conversar, minhas mãos pousadas nas coxas segurando a taça, acharam que sempre fui marota daquele jeito? Sinto que quem me ensinou a gostar das coisas boas foi Clarice, tantos corações quebrados, lição de casa que ela me passou:

—Tua tentativa de reproduzirrr um Klimt foi muito boa Naná!- disse ela bebendo de um gole da taça

Agradeci- eu estava pensando em “pintá” a senhora dona Clarice- eu disse com receio

—Senhora non! Me chame Clarice, querrida!- disse pousando a mão em minha mão

—Desculpe Clarice, mas gostaria muito de “pintá” um quadro teu, tu parece uma deusa né- eu já estava sem vergonha na cara, era pra endeusar aquela “mulhé” mesmo, tão linda!

—Deusa? Eu?- ela riu- Bobinha essa Naná.

—Boba sim, perto de uma musa dessa oxe, todo mundo fica- notei que meu rosto havia corado mas a palavras escorriam de mim assim como o suor em minha testa, eu nunca havia “coisado”, coisado sabe? Não coisei, mas dona Clarice me fazia querer coisar. Coisar-me toda.

Ela levantou e pousou a taça na mesinha cabeceira, andou até o canto do quarto aonde havia mais um cavalete perto da janela, abriu as cortinas e a noite invadiu o quarto, a escuridão chegou a pele alva de Clarice como se quisesse rouba-la. Clarice abriu o zíper lateral do vestido coral e se despiu, eu estava novamente paralisada como quando a vi e ela? Estava seria e nua em minha frente a luz da lua banhava seu corpo que reluzia a luz da noite:

—Pinte-me- ela ordenou, me dirigi ao cavalete e comecei a traçar Clarice na folha em branco, não demorei a traçar as linhas nela, em seus seios e quadris. Aprendi a “coisar”.

Na manhã seguinte levantei de um salto dizendo- Tia Célia vai me matar- ao mesmo tempo que entrava no quarto a senhorinha de idade que parecia ser a velha governanta da família de Clarice, entrou aos berros- Lurdinha menina, a tia de tua aluna tá é doida aqui na frente procurando a menina!!!

A resposta foi imediata de uma Clarice seminua na cama, ou melhor, de uma Lurdinha seminua- Oxe, que ela dormiu aqui foi? Mas que “muléstia”!- parou por um momento e disse entre dentes- Querrida, vá falar com sua tia. Eu já não entendi mais nada e meu rosto zangado mostrou a Clarice, opa, Lourdes que eu não estava feliz com a mentirada, me vesti e depois de um grande grito de “QUE QUALIDADE DE MULHÉ MENTIROSA É ESSA? SUA FRANCESA DE MENTIRA! VAI É VER OS ESCULACHO QUE VOU LHE DAR!” sai batendo pés e portas praguejando a falsa francesa que conseguiu me conquistar, senti minha malandragem enganada por aquele corpo lindo. E minha braveza toda se desfez na carranca de tia Célia, que me levou pra casa pelas orelhas que estavam mais quentes do que meu coração porque era disso que no fundo eu gostava “mulhé mentirosa”.


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Notas finais do capítulo

Eu realmente achei esse capítulo bem difícil de escrever pois não estou em uma vibe muito romântica e acabou saindo uma grande comédia! Mas eu espero de coração que vocês tenham gostado ♡



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