MacGuffin escrita por Yuu-Chan-Br


Capítulo 8
Ato 7




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Jumin abriu os olhos e sua primeira visão fora o embaçado de seu reflexo, o cérebro levando alguns instantes até se localizar. Ergueu a cabeça aos poucos e enxergou os braços se afastando de si, visualizando melhor a imagem dos mesmos apoiados sobre a mesa de vidro. Não sabia ao certo em que altura da conversa pegara no sono ali mesmo, ojeriza tomando conta de si ao recordar-se de não ter tomado seu tão antecipado banho – o fato parecia o incomodar mais do que não dormir na própria cama, apesar de as costas doerem e as mãos formigarem. Esfregou as pálpebras e permitiu aos orbes claros se depararem com a imagem do albino adormecido na cadeira diante de si. “Ele também dormiu”, pensou ao se erguer.

A imagem do amigo adormecido sobre seu móvel lhe causava quase tanto estranhamento quanto seu semblante a chorar. Permaneceu ali, em pé e imóvel, a contemplar sua figura a perder de vista o tempo passado, mergulhando um pouco mais em confusão a cada segundo. Puxou pela memória algo que pudesse usar como referência de comportamento e teve a mente iluminada pela conversa de dois funcionários passando perto de si no corredor da empresa. Falavam sobre um terceiro amigo que, bêbado, pegara no sono na entrada da casa de um deles, precisando ser carregado ao quarto.

Permitiu aos orbes pairar sobre a figura diante de si, incapaz de evitar o desgaste mental causado pela antecipação de seu ato. Num suspiro conformado, puxou seu braço e o passou ao redor do próprio pescoço, escorando-o com a outra mão na cintura.

— Acho que a posição foi assim na noite passada – murmurou enquanto relembrava ter acontecido o oposto há pouco tempo. Achou graça.

Carregou-o até o quarto de hóspedes e, tão logo o pôs sobre a cama, puxou o cobertor à altura de seus ombros. Ouviu-o resmungar algo enquanto se virava de lado e abraçava parte da coberta, achando a cena deveras curiosa. Nunca antes vira o mais novo tão exposto diante de si, e isso por si só já era muitíssimo inesperado. Mais ainda, enquanto agachado no chão, Jumin pensou que talvez aquele poderia ser finalmente o prelúdio de uma melhora em seu relacionamento. Sorriu satisfeito, ergueu-se e caminhou rumo à suíte de seu quarto – não suportaria permanecer sujo nem por um segundo a mais.

 

***



A sensação ainda recente do vapor e da água quente sobre seu corpo lhe trazia paz de espírito, apreciando em específico o aroma de sabonete recém usado a se apoderar do banheiro inteiro. Com a toalha recém usada no cabelo úmido sobre os ombros, Jumin conseguiu ouvir pequenos barulhos contínuos provenientes de seu celular. Ergueu-o da cama ao terminar de abotoar as mangas de sua camisa social, deparando-se com um bate-papo em aberto. A primeira mensagem era de Seven, uma foto de Yoosung adormecido enquanto o outro sorria para a câmera, língua para fora e um dos olhos piscando. Jumin arqueou uma sobrancelha à abordagem inesperada, embora quase tudo vindo do ruivo fosse, afinal, inesperado.

 

707: Não parece um anjinho dormindo?

O rapaz enviou um gif seu com vários corações.

“Você o deixou em casa em segurança, eu imagino”, enviou ao grupo, tentando ao máximo não fazer perguntas desnecessárias.

707: Mas é claro! O agente 707 nunca falha em uma missão, ainda mais quando envolve um amigo! God Seven é onipotente!

“Então está bem”, escreveu e percebeu como, poucos segundos depois, Jiyeon entrada no chat.

Jiyeon: Vocês acordaram cedo hoje!

O comentário da jovem fez Jumin olhar o relógio no canto superior de sua tela pela primeira vez. O dia começava a clarear naquele momento, ele não havia reparado. “Não consegui dormir mais”, admitiu num fisgar de suas costas. Definitivamente não possuía mais idade para dormir de qualquer jeito ou em qualquer lugar.

707: Ficaram acordados até tarde ontem? Os dois pombinhos? Conversaram muito? Abriram seus corações?

Jieyon: Aaah, eles saíram juntos ontem? E eu nem passei o primeiro compromisso da agenda ainda, quanta proatividade! Lolol

707: Não é? E mais ainda, foi tudo ideia do Juju, lololol.

“Não me chame desse modo ridículo”, suspirou. “Mas, sim, conversamos bastante. Acabei de deixar Zen na cama e estava me arrumando para o trabalho quando recebi a mensagem do grupo”, enviou.

Jumin não compreendeu de imediato a enxurrada de reticências recebida pelos outros dois participantes da conversa, ao menos não até o pseudo silêncio ser quebrado pelo comentário seguinte da moça.

Jiyeon: ...Uau, isso foi mais rápido do que eu imaginava. Será que eles ainda precisam de uma agenda agora? Se chegou ao ponto de irem para cama…

Apercebendo-se da ambiguidade de sua frase, o mais velho respirou fundo e, com toda a calma do mundo, digitou um a um os caracteres de sua explicação. “Conversamos até tarde e acabamos por dormir sentados à mesa. Eu acordei primeiro e o carreguei para a cama, seria perigoso se acabasse por cair”.

707: BUUUUUUUU, SEM GRAÇA!

Jieyon: Poxa, eu já ia até escrever uma fanfic!

707: Ooh, parece interessante! Qual seria o nome?

Jiyeon: Hm… Teria que ser algo que combinasse com eles, ou com um, ou com outro e simbolizasse essa relação. Que tal MacGuffin?

707: Nah, tenho certeza que você consegue pensar em algo melhor

Jiyeon: Haha, vou me esforçar para isso! De qualquer forma, Ju-ssi, já que ele está aí, vou mudar um pouco a ordem das coisas~ Que tal você fazer um café da manhã bem gostoso pra ele? ♥ ♥ ♥

707: Lololol. Não esqueça de arrumar a mesa com flores, sempre dá um toque especial~

Óbvia como fosse a zombaria dos outros dois, Jumin estava disposto a acatar a ideia – mesmo lhe sendo em imenso estranho cozinhar para Zen. “É provável que ele não coma se souber que eu fiz”, escreveu com toda a sinceridade.

Jiyeon: Você pode dizer depois, é bom manter segredo e ver o que ele achou~

707: Ah, isso vai ser ótimo, como eu queria poder ver a cara dele quando Juju disser a verdade. MINDBLOWN~ Será que explode de verdade?

Jiyeon: BOOM!

707: BOOOOOM! Mas você sabe cozinhar?

“Sou capaz de reproduzir receitas simples com o auxílio da receita, apenas não vejo necessidade de o fazer quando posso pedir para meu chef particular”, respondeu-lhe.

707: T__T Chef particular, que inveja…

Jiyeon: Oh, oh! Normalmente Ju-ssi tem um chef particular, mas hoje ele vai SER um chef particular!

707: Minha mente que vai explodir!

Jiyeon: BOOOM!

Apesar de sem sentido, a diversão dos dois de alguma forma o contagiava e, abrindo um pequeno sorriso de canto, continuou a observar a pequena conversa paralela.

Jiyeon: Ah, sim, eu vou querer ver foto para confirmar que a agenda foi cumprida, viu? Aliás, quanto mais fotos, melhor! Vamos montar um álbum da agenda de convivência!

707: E quando terminar eu posso fazer um vídeo musical com as fotos!

Jiyeon: Isso parece ótimo!

“Parece uma forma nada produtiva de se gastar o tempo”, enviou-lhes.

707: Não seja estraga prazeres, Juju!

Jiyeon: Ssshhhh, não ligue para o que ele diz, eu adoraria ver o vídeo musical! ♥ E vou ficar esperando as fotos, Ju-ssi! Pode mandar aqui ou pelas mensagens de texto, eu fico de olho. Boas panquecas pra vocês!

Ela finalizou com seu tão conhecido emoji de flores jogadas para o alto, fazendo o homem rir baixo.

— Muito bem – murmurou –, melhor eu começar.

O moreno deixou os outros dois conversarem entre si, de quando em quando dando uma espiadela, sem se deixar distrair do objetivo principal. Foi ao quarto e procurou na estante de livros algum específico sobre receitas – recordava-se de ter ganhado um de presente tempos atrás e nunca tivera oportunidade de fazer nada além de o folhear. Encontrou-o e voltou à sala, onde se sentou à mesa e percorreu as páginas uma a uma em busca de algo que lhe apetecesse, mas tudo parecia rebuscado demais. Além de suas habilidade culinárias não serem tão especializadas, duvidava com vigor que o outro gostasse de algo daquele nível – decerto ouviria mais reclamações e a intenção do ato se perderia numa nova briga.

Fechou o livro.

Encarou o celular por alguns momentos, sentindo-se tentado a pedir sugestões à dupla – ainda conversando animada –, mas se conteve. Alguma parte de si, talvez seu orgulho, dizia-lhe para não pedir ajuda a Jiyeon, já que era ela a organizadora da ideia. Pegou o aparelho de súbito e pressionou um número em sua lista de contatos, ouvindo a linha chamar.

— Assistente Kim? – chamou-o ao completar da ligação. – O que seria um bom café da manhã?

 

***

 

— Jumin-hyung, por que você está acordado tão cedo? E por que eu preciso te ajudar com uma receita de panqueca? – soltou um longo bocejo e um pequeno grunhido. – Eu já não tinha te passado a receita?

— A tela desliga enquanto eu separo os ingredientes, é incômodo.

— Mas dá pra mudar isso nas configurações – soava sonolento e dolorido. – Ou você pode imprimir.

— O tempo que eu levaria nessas tarefas seria muito melhor aproveitado para a cozinha enquanto você diz o passo a passo.

Houve uma pequena pausa na conversa, durante a qual Yoosung ponderou sobre as noções de “proveito de tempo” do mais velho e o quão distorcidas seriam. Deu-se por vencido num pequeno suspiro:

— Tudo bem, deixa eu ir pro computador, então.

Era possível ouvir o farfalhar de roupas e ruídos de eletrônico sendo ligado, seguido de cliques e teclas pressionadas.

— Você conseguiu separar os ingredientes?

— Sim, pedi para que entregassem, mas passar um a um enquanto a tela escurecia foi muito incômodo.

— Não quer mesmo mexer nas configurações? – achou certa graça, apesar do latejar de sua cabeça.

— Depois, quem sabe, mas por ora quero focar nas panquecas.

— Peneire os ingredientes secos e reserve – finalizou a frase com outro bocejo, divertindo-se com os ruídos de gavetas abertas e utensílios remexidos. – Mas é engraçado pensar em você cozinhando para o Zen-hyung.

— Com toda a sinceridade, nunca havia me imaginado em tal situação, mas não parece de todo ruim. – Seguia seu passo a passo conforme conversavam, misturando os ingredientes conforme eram mencionados.

— Acho que ele vai gostar, ainda mais se estiver com tanta ressaca quanto eu – riu sem vontade.

— Oh, isso foi uma indireta, Assistente Kim? – brincou.

— Não, senhor – disse num tom mais murcho, divertindo o mais velho.

— De todo modo, acredito que esta agenda da Jiyeon possa mesmo nos ajudar, de alguma forma. São ideias que eu não teria por conta própria e inovação é sempre bem-vinda. – Olhou para a massa grossa e homogênea dentro de uma vasilha semi transparente e sentiu-se vitorioso. – Qual é o próximo passo?

Não houve resposta, mesmo após alguns segundos de espera.

— Assistente Kim? – insistiu, sem sucesso. – Yoosung?

Jumin observou o celular no viva-voz sobre a bancada da cozinha por infindáveis segundos antes de ouvir um repentino “ah” do rapaz, também se sobressaltando por consequência.

— Eu dormi em cima do teclado – ele admitiu num muxoxo.

— Agora é só fritar as panquecas, não? Vá para a cama – achou certa graça. – Agradeço a assistência, Assistente Kim, e peço que mantenha sua pequena ajuda só entre nós… Apesar da ressaca, espero que não se atrase para o trabalho hoje.

— S-sim, senhor – lamuriou-se e encerrou a ligação.

O moreno ainda se divertiu com a reação, desligando o próprio celular e fritando uma a uma cada panqueca. Dispôs a quantidade em dois pratos e cobriu com uma quantidade generosa de mel, terminando com frutas vermelhas ao redor de cada pequena pilha. Sentindo orgulho a lhe transbordar dos poros, fotografou sua singela obra de arte e enviou à conversa da qual os dois amigos ainda participavam, falando sobre as mais variadas anedotas. Enviou-lhes a foto sem se preocupar com o conteúdo anterior, aguardando as reações.

707: …

Jiyeon: ...

707: Os dotes artísticos do Juju continuam tão ruins quanto de costume…

Jiyeon: Bem, apesar de a foto estar bem embaçada, dá pra ver que parece bonito.

707: Agende 404 e o incrível poder de identificar estranhos borrões bege e vermelho, lololol

Jiyeon: Ssssshhh, ele se esforçou! Não ligue para ele, Ju-ssi, tenho certeza que Zen-ssi vai achar muito gostoso!

Ela voltou a enviar o gif de si mesma jogando flores para o alto.

Jiyeon: Se puder, tire uma foto dele comendo também, quero ver a reação! ♥

707: Material para a fanfic?

Jiyeon: Ya~

707: Vai ter cenas picantes? Não é uma fanfic sem cenas picantes!

Jiyeon: Oooh, não sabia que você tinha esses fetiches~

Ele enviou uma imagem animada sua levando um grande susto.

707: Fui descoberto! Mayday, mayday, abortar missão! Repito, abortar missão!

Ele saiu do aplicativo e retornou no segundo seguinte, fazendo a outra rir um bocado.

707: Quase esqueci de mostrar isso.

Enviou uma outra imagem de Yoosung adormecido, desta vez de outro ângulo. Era, contudo, impossível levar a foto a sério com a exacerbada quantidade de filtros usada pelo ruivo. Corações, brilhos, orelhas de cachorro… Jumin se perguntou quantas fotos ele havia tirado do pequeno desacordado sob o pretexto de o levar para casa – ou talvez o visse como algum tipo de taxa cobrada pelo serviço.

707: Fiquem com meu real fetiche~

Ele disse num balão cheio de corações e voltou a sair do bate-papo, deixando para trás uma Jiyeon a se acabar de rir.

Jiyeon: Bem, também preciso me arrumar para o trabalho, mas não deixe de mandar as fotos aqui quando ele provar, ok? ♥ Ju-ssi fight-o~

A jovem saiu sem dizer mais nada, enquanto ele olhava perplexo para a tela de seu celular. Quase sempre precisava se forçar a acompanhar o raciocínio dos outros dois, indo por caminhos muito diferentes dos próprios. De todo modo estava satisfeito por cumprir o combinado de sua parte, o pequeno contentamento lhe servindo de impulso para acomodar ambos os pratos sobre a mesa. Já se preparava para chamar Zen antes que a comida terminasse de esfriar quando ouviu a porta do quarto de hóspedes abrir, olhando em sua direção.

— Bom dia – tentou soar agradável, mas possuía a impressão de não o conseguir.

— Bom dia – respondeu num sorriso torto.

Os olhos rubros a percorrer o local com impaciência deixavam transparecer seu desconforto com a situação num óbvio ululante enquanto o mais velho se afastava da mesa.

— Imagino que esteja com fome. – Gesticulou às panquecas recém feitas, o aroma de massa doce ainda pairando no ar.

Tal qual um animalzinho acuado, Zen se aproximou aos grados, os passos calculados rumo à mesa sobre a qual adormecera na noite anterior, a visão alternando entre o moreno e a comida. Suas ações eram tão caricatas ao ponto de  Jumin se perguntar se as considerava engraçadas ou irritantes. Incapaz de chegar num consenso, indicou a cadeira em frente ao ator com uma mão aberta.

— Sente-se, coma. Posso pedir para um funcionário o levar para casa quando terminar.

— Seu cozinheiro que fez?  – Arqueou uma sobrancelha ao sentar-se sobre o assento macio, ainda examinando a pequena pilha decorada em seu prato. – Está bonito – completou sem esperar uma resposta, cortando o primeiro pedaço, olhando-o com desconfiança. – Mas não é uma coisa meio feminina?

— Não gosta de panquecas? – Lutou contra o ímpeto de soltar outro comentário a respeito de sua masculinidade, contentando-se em alcançar o celular dentro do bolso.

— Eu gosto, mas… – Encarou-o ainda confuso, perplexo com toda a situação. – Sei lá, parece estranho, parece… – Entreabriu os lábios e os fechou no segundo seguinte, movendo a cabeça em negativo. – Ah, deixa pra lá. – Enfiou de uma vez a garfada na boca, sorrindo após mastigar algumas vezes. Sua felicidade com o sabor agradável, porém, foi embora tão logo ouviu o característico ruído de câmera vindo do celular do outro. – Ei, o que foi isso?

— Uma foto – respondeu com ares de vitória enquanto os dedos passeavam pela tecla, digitando uma mensagem.

— Não diga! – Embebeu-se em ironia. – E por que o ilustríssimo futuro presidente Han Jumin tiraria uma foto minha comendo panquecas?!

— Jiyeon – disse ainda sorrindo, virando o visor do celular em sua direção e mostrando a festa feita por ela e Seven.

O garfo usado para levar o doce à boca quase caíra da mão de Zen a presenciar a conversa, atônito. Largou os talheres às pressas e tateou os bolsos da roupa feito louco até encontrar o próprio aparelho, entrando afoito no aplicativo.

Jiyeon: Zen-Ssi!

Ela enviou o emoji com as flores jogadas para o ar.

Jiyeon: Fico feliz que tenha gostado das panquecas!

Jumin exalou um pequeno riso pelo nariz, enfurecendo o mais novo.

Zen: Mas por que vocês querem essa foto?

Começou a escrever uma mensagem, mas no meio franziu o cenho e a apagou, suspirando.

Jiyeon: Ju-ssi não te contou? E você não leu o resto do chat?

707: JUJU, PREPARE A CÂMERA, TIRE UMA FOTO DA REAÇÃO DELE QUANDO SOUBER!

“Pare de me chamar desta forma ridícula”, Jumin enviou, embora sua expressão demonstrasse a diversão sentida no momento. Preparou a câmera.

— Eu fiz – disse, triunfante.

— Fez? – O estreitar as pálpebras de um olho indicava a confusão passa em sua mente ao ouvir a frase. – Fez o quê?

— As panquecas – completou, preparado para uma reação exacerbada do outro.

Não estava errado. Ambos os olhos carmim se arregalaram ao ponto de parecerem prestes a cair de suas órbitas, a atenção outra vez alternando entre a comida e o homem, divertindo-o.

— Você fez isso aqui? – Pegou o prato e o aproximou do outro, a frase lhe soando tão absurda ao ponto de precisar ilustrar os sentimentos da forma mais óbvia possível. – Isso – frisou – aqui? Você – frisou novamente – que fez?

— Sim – apenas reafirmou, pressionando a tela do celular e enviando o arquivo ao grupo.

Ele não havia se contentado com uma foto: em vez disso, fizera um vídeo com o pequeno chilique do amigo.

Jiyeon: LOLOLOL, A INDIGNAÇÃO DELE

707: E qual é a opinião do senhor após essa incrível revelação sobre os dotes culinários de seu arquirrival?

— Você me filmou? – perguntou, enfurecido. – E me filmou mal assim, ainda? – Foi a sua vez de levar o celular em direção ao outro, mostrando-lhe a imagem embaçada em movimento.

— Achei que daria mais emoção se fosse filmado, em vez de uma foto estática – respondeu com sinceridade, aprazindo-se de toda a situação.

707: E então, Zen-hyung, você foi fisgado pelo talentos culinários do Jumin-hyung? KYUN~

Jiyeon: Dizem que se conquista um amor pelo estômago ♥ ♥ ♥ Foi assim com você também?

Zen resmungava e grunhia ao receber as mensagens, a frustração estampada não só em seu rosto, como em toda a sua linguagem corporal. Jumin, satisfeito consigo mesmo, guardou o celular de volta no bolso e sentou-se à mesa, acompanhando-o na refeição.

— É melhor terminar de comer – acrescentou antes de levar um pedaço de panqueca à boca.

— Ugh – soltou e deixou o celular sobre a mesa, perturbado demais para continuar seu desjejum. – Como você consegue acompanhar essa loucura deles?

— Eu me comprometi a participar da ideia inicial, agora irei até o fim. Além disso, confio em seu bom senso para os compromissos da agenda, ao menos parece mais ajuizada do que Luciel.

— Não que isso seja lá muito difícil – riu de nervoso. Voltou a encarar a comida diante de si.

O prato estava, de fato, muito bonito – além de saboroso. Apesar de alguns morangos terem caído para o lado após erguer o prato, ainda apreciava o brilho caramelado da calda sobre o dourado da massa frita, em contraste com o vivo das frutas. Agradava-lhe os olhos e não pôde evitar um pequeno sorriso, apesar de quase imperceptível.

— Obrigado – disse baixo, cortando outro pedaço do doce.

A reação de Jumin fora cômica, ele tinha plena noção. Já levava um dos morangos à boca quando ouviu a fala do amigo, a boca meio aberta por alguns segundos em surpresa, como se duvidasse da própria audição. Pousou o garfo de volta sobre o prato, observando o outro em silêncio.

— O quê?! – Zen perguntou agoniado, decerto se sentindo incomodado com o olhar insistente sobre si.

— De nada – respondeu ainda atordoado.

Uma desconfortável mutez se apoderou do ambiente, fazendo Jumin rememorar a noite anterior. Enquanto mastigava o morango antes sobre o prato, enxergou o albino levar ambas as mãos à cabeça em agonia.

— Isso é estranho demais – ele disse, inconformado. – Essa coisa toda, sabe? Sei que você tá tentando ser legal, mas… Ugh!

A frustração do amigo o divertia. Zen era uma das poucas pessoas conhecidas que ficava irritado por receber ajuda, mesmo ela não passando de algumas palavras de aconselhamento.

— Não pensei que fosse me agradecer – disse, banhado em sinceridade. – Esperava uma reação mais aversiva. Quem diria que até você seria capaz de demonstrar gratidão? – Tomou um gole de seu café.

— Olha aqui, eu te agradeço e você me ofende?! – Irritou-se.

— Não foi uma ofensa, apenas uma constatação. – Arqueou uma sobrancelha. – Mas talvez você não consiga ver a diferença.

Zen se irritava um pouco mais a cada fala do moreno, a pequena cólera se apoderando aos poucos de seus traços delicados.

— Ah, sim, sinto muito ter sentido gratidão, então – grunhiu.

Por que ele estava se desculpando? Sentir-se grato não era uma emoção positiva, algo a ser estimulado? Para Jumin, o ator soava muito mais incompreensível do que os outros dois bagunçando no aplicativo do RFA. O que passava por sua cabeça para dizer aquilo? Por que se contradizia de tal forma? Permitiu às pálpebras pesarem sobre os orbes claros e conteve o ímpeto de suspirar, dizendo-lhe:

— Não se desculpe – acabou por exalar um quase riso pelo nariz. – Eu poderia me acostumar com a sua gratidão.

— Poderia, né? – indagou num sorriso torto.

Zen achou graça e Jumin também se apraziu da situação. Havia um curioso clima de amistosidade entre ambos – ele sempre existira, mas era ignorando à força e soterrado por alfinetadas desnecessárias. Todos os acontecimentos – desde a noite anterior – foram tão ridículos e absurdos que ambos já não conseguiam os levar a sério. A bronca do mais velho, o choro de ambos, o dormir sobre a mesa e, para coroar tudo, uma refeição caseira compartilhada.

Jumin quis rir, mas não o fez, abismando-se ao ouvir o riso do mais novo.

— Você é mesmo uma figura, futuro presidente – afirmou ao abocanhar mais um pedaço da panqueca. – Vai precisar fazer por merecer se quiser essa gratidão, viu?

— Eu sempre faço, mas você não aceita minha ajuda – respondeu com toda a calma do mundo, como quem se conforma com um fato imutável da vida. – Ou quem sabe você esteja disposto a aceitar daqui em diante?

Zen encolheu os ombros, um “que seja” nunca dito permeando os ouvidos do outro.

— Ultimamente tenho lido sobre o alívio de estresse causado por gatos em escritórios e penso que talvez seja uma boa ideia. – Sorveu mais um gole de seu café e retomou o assunto ao ator. – Gostaria de implantar esta filosofia na C&R.

— Pobre Yoosung-i – murmurou, continuando com sua refeição.

— Pensei em fazer alguns comerciais informativos para exibição em pontos específicos da empresa. – Fitou-o e enxergou o desgosto em suas feições pela antecipação da frase seguinte. – O que acha de ser o ator principal?

— Uma palavra. Alergia.

— Isso não seria facilmente resolvido com um antialérgico? – perguntou com sinceridade, frustrado por ser recusado outra vez.

Zen franziu os lábios em desacordo com a ideia, mas por fim soltou um suspiro resignado:

— Vou pensar no seu caso.

A expressão de Jumin foi, uma vez mais, de surpresa, embora esta logo desse espaço ao contentamento a lhe preencher o peito.

Fora, enfim, aceito.


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Notas finais do capítulo

[Yuu-Chan-Br]: Eu PRECISEI fazer o Jumin pedindo ajuda lololol~~ Sinceramente eu achei muito estranho quando joguei a rota dele e ele tinha feito as panquecas. Bonitinho como tenha sido, é muito esquisito ele ter conseguido fazer isso por conta própria, considerando seu status e o foco em sua educação. Meu headcanon é que, com a MC, ele ligou pra Jaehee e pediu ajuda, então decidi fazer isso com o Yoosung. 8D Achei a progressão do relacionamento deles muito bonitinha. ♥ As conversas, as interações, senti o coração derreter um pouquinho enquanto escrevia, espero ter conseguido transmitir a mesma sensação pra vocês.

PERDÃO PELA DEMORA PARA ATUALIZAR! Eu nem tenho desculpas, de verdade ;;; Parei para ler um livro para me inspirar, procrastinei a leitura e depois me distraí com outras coisas... orz Mas vou tentar retomar a história e manter um ritmo mais constante!



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