MacGuffin escrita por Yuu-Chan-Br


Capítulo 2
Ato 1




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Agonia, suplício, tortura… Sentia todas as sensações a se repetir e remoer em seu peito, perguntando a si mesmo se havia cometido algum tipo de atrocidade e o universo decidira colocar Han Jumin em seu caminho como forma de punição. Olhou em volta. Prestar atenção nos detalhes do local servira tão somente para o fazer sentir deslocado como nunca. O teto decorado em bege e marrom, a iluminação localizada, o lustre luxuoso sobre suas cabeças e os tons de amadeirado… Cortinas de veludo vermelho! Quem usava cortinas de veludo vermelho num restaurante? As perguntas repetitivas lhe reviraram os neurônios e lhe atrapalhavam o raciocínio, precisando ter a atenção chamada pelo moreno para se sentar à mesa conforme o garçom sugerira. Encarou o arranjo de flores no centro da mesa e pegou às cegas o cardápio oferecido pelo mesmo funcionário. Sentia os olhares de reprovação do outro, mas não conseguia se preocupar com isso: suas prioridades eram outras. Ouviu-o agradecer e avisar que chamaria o rapaz outra vez quando decidissem seus pedidos.

— Espero que saiba que suas atitudes não estão sendo exatamente cordiais – comentou ao se acomodar em seu assento.

— Por que estamos aqui? – Atropelou sua fala. Os olhos de rubi ainda percorriam o local com inquietude. Sentia-se suar frio.

Jumin, por outro lado, demonstrava-se alheio à apreensão do amigo, assim como incapaz de a compreender:

— Viemos aqui para falar sobre sua peça. É um local agradável e reservado, então não seremos interrompidos. – Abriu a carta de vinhos.

Zen se perguntou se viver em um ambiente com abundância de dinheiro e tudo proporcionado por ele também interferia em algo no senso comum – pendia a uma resposta positiva. Sorriu de nervoso.

— Muito bem, Sr. Han… E o que o senhor vê ao nosso redor?

A estranheza pela forma de tratamento incomum usada pelo ator o perturbou um tanto, mas relevou. Curioso com a constatação, olhou em volta e apercebeu-se das mesas em seu entorno, cada uma separada por biombos e tecido a fim de proporcionar mais privacidade a seus visitantes.

— Outras pessoas que não gostariam de ser incomodadas.

O espasmo na pálpebra do homem menor voltou. Sua vontade era a de pegar o moreno pelos ombros e sacudir com vigor, esperando assim o fazer desenvolver algum tino para o dito. Buscou se acalmar com todas as forças de seu âmago e disse:

— Esse tipo de coisa é provavelmente a causa da sua fama, sabia? – suspirou. – Esse é um lugar pra casais. – Puxou o ar para os pulmões com toda a calma restante em seu corpo. – Casais! – elevou o tom de voz um grado, quase se erguendo da cadeira, mas voltou a sentar sem muita insistência.

— Oh, sim, de fato, casais costumam vir aqui com frequência por ser um local mais íntimo – constatou e, como se nada fosse, abriu o cardápio, duvidoso quanto às próprias opções.

Era aquilo? Sua reação não passaria do reconhecimento de estarem lá e nada mais? Ele não reconsideraria a decisão? Ao menos ir para uma mesa comum, no centro do local? Nada? A julgar por sua concentração aos nomes nas linhas do papel impermeável encapado em couro, não demonstraria uma singela nuance de senso comum. Gritou por dentro. Podia sentir a pressão arterial subindo a cada ato do outro cuja ponderação faltava — não eram poucos.

— Não te incomoda? – por fim perguntou, angustiado.

Os olhos claros subiram das ilustrações de pratos apetitosos aos orbes carmim do menor. Pousou o objeto sobre a mesa e direcionou sua atenção ao outro por completo, reconhecendo a conversa como de suma importância para ele.

— Não – ripostou de pronto. – Sei que não somos um casal e isso me basta. Se alguém pensar o contrário só por nos ver juntos aqui, bem… com toda a sinceridade, a imaginação dos outros foge ao meu controle, por isso gastar tempo e energia tentando as fazer pensar diferente parece um grande desperdício de esforço.

Sim, o estilo de vida de Han Jumin devia, de alguma forma, ter influenciado sua forma de pensamento. Aliás, por ser uma pessoa pública, não deveria se importar mais ainda com a opinião dos outros? A linha de lógica do homem diante de si permaneceria um mistério para sempre. Já entreabria os lábios para refutar seu raciocínio sem nexo quando ele o interrompeu:

— Não vai escolher? – referiu-se ao prato.

Zen se calou de pronto, algo revirando em seu âmago ao precisar engolir as palavras prestes a sair. Tomou em si o objeto e passou os olhos sobre nomes e fotos. Tudo parecia apetitoso, mas sua vontade diminuiu pela metade ao observar os preços. Não era impossível de pagar, mas estava num valor acima de seu poder aquisitivo – em especial no mês em questão. Rememorou a noite passada com Jaehee e Jiyeon e de como se propôs a deixar que ambas pagassem mesmo parte da conta. Não se arrependia – fora um presente e gostava de presentear pessoas amadas –, mas o impacto causado em sua renda mensal era inegável. Suou frio.

— Devíamos ir pra outro lugar – comentou para si mesmo, infelizmente a voz saiu alta o bastante para ser ouvida também pelo outro.

— Não seja tolo, já estamos aqui – comentou ao arquear uma sobrancelha em sua direção. – A comida é agradável e sou cliente regular, receberemos um bom tratamento.

— Não duvido disso – grunhiu, o orgulho a lhe corroer as entranhas. Não gostaria de admitir a verdade, mas seria ainda mais vergonhoso caso não conseguisse arcar com as próprias despesas no final. – Talvez você não saiba, mas a maioria das pessoas não tem dinheiro para gastar esse tipo de dinheiro numa refeição só.

— Mas eu tenho – disse como se nada fosse, irritando ainda mais o amigo. Ouviu-o resmonear algo a respeito de ele não possuir consideração pelos outros e interrompeu antes de piorar a situação. – Deixe-me reformular a frase… – Acomodou-se na cadeira e pôs as mãos com dedos entrelaçados sobre o cardápio. – Eu me proponho a pagar a conta. Eu o convidei, sequer havia considerado a possibilidade de você pagar. Sei que não teria condições de arcar com as despesas de um restaurante deste nível. – Não lhe deu tempo para responder, pois já esperava grosserias. Chamou o garçom e de pronto pediu uma garrafa de vinho, assim como perguntou pela sugestão do chef.

Zen não conseguiu dizer todo o passado por sua cabeça, contentando-se em permanecer emburrado em seu assento. Não conseguiu – ou não quis – prestar atenção na descrição do funcionário, preferindo voltar a suas opções listadas, encontrando uma mais em conta. Sabia que a quantidade gasta em sua pequena extravagância seria ínfima quando comparada à imensidão do poder aquisitivo do moreno, mas detestava com cada célula de seu corpo a ideia de lhe dever algo. Ouviu-o acatar ao sugerido e entreabriu os lábios para fazer seu pedido, quando foi interrompido por um “Traga o mesmo para ele”, atordoando-o. Conseguiu apenas observar o rapaz se afastar, custando a processar a informação. Podia quase sentir as informações sobre sua cabeça quando perfurou o “amigo” com os olhos.

— Foi uma boa sugestão, você vai gostar.

Não disse nada mais, como se escolher a refeição de uma pessoa adulta sem pedir sua opinião antes fosse um ato extremamente comum.

Zen franziu as sobrancelhas ao ponto de temer desenvolver rugas num futuro próximo. Respirou fundo e recostou toda a extensão das costas contra o estofado da cadeira. Grunhiu.

— Acabei de lembrar por que não gosto de sair com você.

— Se te incomoda tanto assim, pode considerar uma comemoração por sua peça, um presente – disse, embora não considerasse tal atuação digna de louvores.

— Pensei que não tivesse gostado dela – era possível sentir o amargor em sua voz.

— Então considere uma comemoração de seu crescimento como ator com minha crítica.

Zen começava a se perguntar como podiam o chamar de narcisista enquanto alguém como Han Jumin era visto como uma pessoa normal quando o mesmo garçom de antes voltou. Carregava consigo uma bandeja de prata contendo duas taças, uma garrafa de vinho e um estranho apetrecho cuja função o ator foi incapaz de desvendar. Ele pediu licença e posicionou uma taça em frente a cada homem, desarrolhou o vinho e encaixou o estranho utensílio no gargalo. Era possível ver o líquido escuro passando pelo tubo transparente, contornando o centro redondo e saindo na ponta, deixando-o perplexo. Em determinado ponto havia se debruçado contra a mesa, voltando à posição anterior tão logo ouviu o leve pigarrear do outro a lhe chamar a atenção. Sentiu-se uma criança outra vez. Observou em silêncio sua taça ser enchida, frustrado e um tanto envergonhado também.

— É um aerador de vinho – explicou Jumin após a saída do funcionário. – Ele oxigena  a bebida, deixando-a mais saborosa.

Havia satisfação na voz do maior e a palpabilidade da mesma se intensificou ao sorver um gole do líquido. Jamais compreenderia como pessoas ricas funcionavam. Provou também um pequeno bocado e concordou com a agradabilidade do sabor – embora ainda preferisse a boa e velha cerveja. Por um segundo sentiu o olhar do outro sobre si, embora suas pálpebras estivessem fechadas quando o encarou. Tinha certeza de ser observado: o que ele estava tramando, afinal? A situação toda era deveras inconfortável, não fazia ideia de como o outro suportava – ou talvez o ato não lhe fosse assim tão desagradável –, estava à beira de um ataque de nervos. Não só se sentia deslocado por completo, como o estranho silêncio a pairar sobre ambos exercia uma estranha pressão sobre si, como se houvesse a necessidade de o irromper de alguma forma, mesmo não havendo assunto nenhum a ser tratado. Nunca fora bom em manter conversas agradáveis e descompromissadas com Han Jumin, nem pretendia ser: primeiro por sentir viverem em universos avessos um ao outro e segundo por ser, bem… Han Jumin. Voltou a sentir olhos sobre si, embora eles não tivessem se desviado desta vez.

— O que foi? – Zen perguntou, incontido.

— Oh, nada, apenas estou surpreso – fez uma pequena pausa e observou o bordô aveludado no recipiente translúcido, satisfeito consigo mesmo. – Toda essa nossa situação aqui é muito inusitada – divertia-se.

Então era aquele o motivo de seus olhares furtivos. Conquanto o ator não compartilhasse de seu contentamento diante da cena, admitia ser, de fato, inesperada. Sentiu-se preenchido por uma onda de calma pela primeira vez desde a percepção do moreno na plateia, culminando num riso.

— Se contar, ninguém acredita.

De certa forma, o fato de ambos compartilharem aquela mesma mentalidade em tal situação os havia trazido mais próximos, impedindo um novo conflito – ao menos por ora. Não tardou para o garçom trazer ambos os pratos, posicionando-os em frente a cada um, sobre a mesa. Desejou-lhes bom apetite e se retirou do local.

Diante de si havia uma escultura de grossos bifes de carne sobre uma cama de molho, com uma pequena porção de batatas fatiadas grelhadas e um enrolado de aspargos numa fina tira de carne.

— Sempre pensei que comida de gente rica viesse em porções pequenas.

— Isso varia muito de restaurante para restaurante – respondeu-o ao cortar o primeiro pedaço de seu bife, levando-o à boca.

Zen o acompanhou e provou um pedaço do mesmo, embora sua fatia fosse um tanto maior, causando certa estranheza ao mais velho, cujas pequenas porções não deviam ocupar um quarto da boca. Ignorou-o e olhou para a grande janela ao lado. Tinha a sensação de poder enxergar toda a cidade de onde estavam – e sem dúvida alguma era uma bela vista. Por vezes sentia o mesmo incômodo dos primeiros minutos voltar a lhe ferroar o orgulho “é um lugar pra casais, seu trouxa”, mas Jumin permanecia calmo e composto quando o espiava pelos cantos dos olhos, então se forçou a fazer o mesmo. Pousou a taça sobre a mesa e virou o rosto em sua direção, resistindo à vontade de limpar a garganta antes de iniciar a fala:

— E as preparações para a festa, como vão?

A surpresa no rosto do moreno ao ser indagado sobre um tópico amigável era inegável. Acomodou os talheres sobre a mesa e pressionou de leve o guardanapo contra os lábios, respondendo:

— Já está quase tudo encaminhado. O local foi alugado, os fornecedores já confirmaram e está tudo agendado para a data que todos já sabem. Na prática não é muito diferente de como fizemos das outras vezes. – Tomou um gole de seu vinho e encarou a superfície nivelada do líquido. Pressionou os lábios sutilmente antes de repetir o ato anterior.

Um estranho silêncio pairou sobre o ar, durante o qual Zen não soube ao certo como prosseguir com a conversa. Era aquilo? Não conseguiria manter um diálogo sem acusações e xingamentos por mais de dois minutos? Frustrou-se. Já começava a refletir sobre um outro assunto quando o maior retomou o precedente:

— Oh, mas vamos ter uma surpresa desta vez. – Balançou de leve a taça em mãos, fazendo o líquido circundar seu interior.

— Surpresa? – Arqueou uma sobrancelha, curioso.

— Sim, surpresa.

Satisfação transbordava de sua fala, como se naquele momento fosse o senhor detentor de todas as respostas do universo.

— E que surpresa é essa, afinal? – o menor insistiu.

— Oh, Zen, você não conhece a definição de surpresa? Se eu contar, ela perde a graça.

O ator franziu o cenho, embora aquele tipo de atitude não fosse inesperada, vindo de Han Jumin. Evitou fazer comentários mais agressivos, no entanto, pois ele parecia de fato satisfeito, divertindo-se com a curiosidade alheia. Chegou a achar graça de seu contentamento quase infantil. Não haveria problemas conquanto fosse uma surpresa inofensiva, certo? Com tais pensamentos em si, ouviu-o retomar a fala:

— Mas talvez você não goste tanto assim da surpresa.

Emburrou-se. Ele queria brigar?

— Por que não? – Tentou não modificar o tom de voz, embora fosse difícil. – Assim dá até medo do que você vai fazer.

— Oh, não – riu baixo, fechando os olhos em agrado. – Não é nada ofensivo nem prejudicial, apenas penso que talvez não te deixe assim tão feliz. Bem, de todo modo a surpresa não é para você. Mas agora é melhor não contar mais detalhes, ou logo deixará de ser surpresa.

Não estava de todo convencido sobre as futuras ações do CEO, mas se deu por vencido. Sabia bem como ele conseguia ser teimoso quando embirrava com algo – nunca cansava de lhe oferecer os mais absurdos trabalhos relacionados a gatos, por exemplo, mesmo após anos de negativas –, então se conformou.

Prosseguiram o jantar tranquilamente, de quando em quando comentando sobre a vista, ou a comida, ou sobre como Yoosung havia se ambientado na empresa – com algumas alfinetadas de Zen,  embora também achasse certa graça de certas situações. Quando terminaram, Jumin tomou o último bocado de seu vinho, enxugou a boca, deixou o guardanapo dobrado sobre a mesa e indagou:

— Ainda está disposto a ouvir minha crítica?

Oh, a crítica… O albino havia quase se esquecido, pois passar tanto tempo ao lado do outro sem nenhum tipo de atrito maior era memorável. Talvez até mesmo um recorde? Acomodou-se melhor na cadeira como reação, como se fosse um criminoso prestes a ouvir sua sentença.

— Sim, estou.

— Muito bem.

Houve um momento de tensão enquanto o mais velho se acomodava em seu assento: voltou a posicionar as mãos entrelaçadas sobre a mesa após um funcionário recolher a louça usada. Cruzou também as pernas. Zen se sentiu em uma de suas audições, mas Han Jumin ser seu julgador deixava tudo ainda mais dramático e preocupante: conseguiu, por breves instantes, compreender uma parcela do horror passado por Jaehee em seu emprego anterior.

— Primeiramente fiquei um pouco desapontado com a falta de pontualidade, não me parece educado deixar os espectadores esperando além da hora que lhes foi indicada.  – Sentiu um olhar julgador sobre si, ignorando-o de pronto. – Mas o mais preocupante de tudo foi, sem dúvidas, sua interação com o par romântico. – Arqueou uma sobrancelha. – Deve mesmo ser um ataque muito feroz à sua masculinidade precisar interagir de tal forma com outro homem e imagino como deve afrontar sua sexualidade, mas um trabalho é um trabalho. Não conseguir o cumprir com sucesso é vergonhoso. – Olhou-o direto nos olhos, sincero. – É assim que eu classificaria sua atuação hoje. Mas era de se esperar, considerando como ficou incomodado pelo simples fato de estar em um local frequentado por casais.

Zen cerrou os dentes. Podia sentir o sangue ferver em suas veias a cada palavra proferida pelo outro. Sua vontade naquele momento era se debruçar sobre a mesa, agarrá-lo pelo colarinho e lhe esmurrar a cara até ficar satisfeito, mas não o fez. Não o fez por, apesar da raiva, da frustração e – como citado pelo maior – da vergonha, não se considerava uma pessoa violenta, ao menos não mais, sua última briga datava da adolescência. O fator mais importante para não o fazer era, no entanto o mais dolorido de se admitir: ele estava certo. Sabia desde o início não ter se empenhado tanto quanto deveria, fosse pelo incômodo de interagir de modo romântico com outro homem ou por ver seu arquirrival na plateia, ele estava certo. Como ator, deveria pôr o profissionalismo acima de todos estes obstáculos, aos menos enquanto estivesse no palco. Grunhiu e desviou os olhos.

— É só isso que você tem pra dizer? – o ator perguntou entredentes.

Jumin pareceu perdido, era quase possível enxergar interrogações no topo de sua cabeça.

— Argh, é impressionante – Zen resmungou e apoiou as mãos também na mesa, debruçando-se nela. – Você sabe quantas horas a peça teve? E a única coisa que você comenta é um deslize meu, ignorando todo o resto? E o início? Todos ficaram presos na cena do assassinato, acho incrível que você não tenha nenhuma opinião sobre isso.

Pela expressão no rosto do mais velho, ele não se recordava da cena, fato este servindo de combustível para a ira do ator.

—  Então das partes ruins você lembra, mas das boas não? –  Sua voz se tornara aguda pela alteração, embora a abaixasse logo em seguida. Estava num local público, afinal.

Jumin levou o indicador ao queixo e franziu as sobrancelhas num esforço de puxar a recordação da cena citada, sem sucesso. Soltou um “ah” grave e abriu os olhos logo depois, levando um bocado de esperança ao mais novo. “Ele lembrou da cena”, pensou.

— Deve ter sido a parte em que eu me distraí e não prestei atenção. Peço desculpas, mas não posso opinar a respeito de algo se não o vi.

— Você não – precisou fazer uma pausa para respirar fundo, as mãos trêmulas de ira. – Você não prestou atenção?! Qual é o seu problema?! Você vai assistir a peça de outra pessoa e numa das melhores partes não presta atenção?!

— Por isso me desculpei – disse, sucinto.

— Mas da parte ruim você fala!

— Sim, eu a vi.

— Qual é o seu problema?!

Com a linguagem corporal gritando exaustão, Jumin suspirou e disse, com toda a calma característica de si:

— Zen, eu só posso criticar o que vi. Talvez sua atuação tenha de fato sido excepcional neste momento do início, mas infelizmente estava pensando em outros assuntos e não vi. Pedir que eu avalie algo desconhecido é irracional e ilógico, mesmo você deveria saber.

O empresário parecia prestes a continuar sua linha de raciocínio, mas foi interrompido por um estrondo repentino, sobressaltando-o. Demorou a reconhecer o barulho como proveniente da mão do amigo contra a mesa. Não fora tão forte, ou decerto teria quebrado o mobiliário, mas o bastante para lhe chamar a atenção de extravasar um bocado da frustração sentida. Ambos se encararam por instantes desconfortáveis até Zen erguer uma das mãos para chamar o garçom e pedir a conta. Esperou-o sair antes de retirar a carteira do bolso e contar as notas em seu interior.

— O que está fazendo?

Uma das coisas mais odiosas ao mais velho era precisar fazer uma pergunta para a qual já possuía a resposta, mas infelizmente tais convenções sociais se tornavam inevitáveis em situações como aquela.

— Separando dinheiro.

A exaustão do CEO ultrapassou o limite ao receber a resposta. Não haviam chegado a um acordo sobre a conta? Alcançou o celular no bolso e fez uma ligação. Foi sucinto: pediu que a conta fosse paga com o cartão da empresa e depois acertaria. Pediu uma via da nota fiscal. Ao desligar, deparou-se com um Zen furioso como nunca.

— Por  que fez isso?!

— Porque foi o acordado. – Guardou o celular de volta onde estava. – Eu pagaria a conta como comemoração. Por que isso mudaria agora?

— Comemorar o quê? Você detestou a peça!

— Não disse que detestei. – Atordoou-se com a afirmação errônea. – Apenas apontei pontos a serem trabalhados. Aliás, poderia ser uma comemoração ao seu crescimento artístico com minha crítica.

Enraivecido, o ator se levantou da mesa e agarrou a própria bolsa, mas não sem antes direcionar a seu anfitrião um olhar gélido:

— Você pode engolir seu dinheiro. – Deu as costas e foi embora.

Para trás ficara um Jumin atordoado e ressentido, embora se contentasse a apertar as mãos em punhos e pedir para o garçom lhe trazer uma outra garrafa de vinho. Voltou a acessar o celular, fazendo uma nova ligação.

— Motorista Kim? Sim, leve ele para casa. Sei que está bravo, mas leve. Sim, peça para alguém levar a moto também. Certo, obrigado. – Desligou.

Jumin olhou a tela preta e enxergou nela seu reflexo parcial. Colocou-o com o visor contra a mesa. Suspirou. Quantas vezes suspirara durante a noite? Mordeu o interior do próprio lábio. “Droga” resmungou ao pesar das pálpebras sobre seus olhos.


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Notas finais do capítulo

[Yuu-Chan-Br]: O SEGUNDO CAPÍTULO, GENTE~~ Sinceramente, eu ri MUITO escrevendo a interação deles, é sempre precioso. ♥ Também fiquei feliz por ter alguns amigos com poder aquisitivo maior, pois acabou servindo de laboratório para algumas coisas que o Jumin faz e eu não saberia de outra forma lololol. A reação do Zen com um aerador de vinho, por exemplo, foi bem parecida com a minha, tirando que eu enchi a pessoa de perguntas sobre o que infernos era aquilo e pra que servia. 8D A resposta ainda foi o melhor de tudo, porque ele disse “é frescura de gente rica”. WELP-- Espero que tenham rido lendo tanto quanto eu escrevendo, porque, olha… Também não vai ser fácil fazer isso dar certo, mds… E quem concorda com o Zen? E quem ficou com dó do Jumin? ♥ Ahahaha~



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